Titular: Helio Fernandes

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Um presidente provisório, ministro licenciado-exonerado, o presidente da Câmara afastado e "morto", o líder do governo acusado de tentativa de homicídio. Que Republica

HELIO FERNANDES

24 horas depois da maior e mais previsível crise que atingiu o governo, Michel Temer veio a publico. Falou muito e disse pouco. Promessas, compromissos, divagações, a certeza de que depende muito do congresso e da opinião publica. È o próprio Prometeu Acorrentado, sem convicção, sem meta, sem destino, sem paradeiro, sem rumo, sem plano, projeto.

Muito queixoso, não escondeu o ressentimento falso, que resumiu numa frase amarga mas de base inexistente. "Quando um governo assume, todos devem apoiá-lo. Mas no Brasil não existe essa cultura". È muito fácil jogar a culpa no país e no povo. Principalmente para eles.

Isso que ele lança ao vento, se dissipa imediatamente. Governos verdadeiros que podem pedir e até exigir apoio para que cumpram ou cheguem a um destino positivo e proveitoso, são os que saem das urnas. Ungidos, sagrados e sacramentados pelo voto, devem ter independência e autonomia, até mesmo para inovar, e quem sabe, talvez para errar. Ninguém tem a chave milagrosa ou miraculosa do sucesso, deve dispor de liberdade para fazer. Ou de tentar. De procurar. Na tentativa gloriosa de recompensar os votos que recebeu nas eleições.

Não é, nem de longe, a situação de Michel Temer. Chegou ao poder, apenas pelo malabarismo da traição, pelo "pacto do golpe". Ninguém está interessado em desmentir Romero Jucá. Ele deixou no gravador de Sergio Machado, suas digitais verbais e a comovente convicção de que era "imperioso aprovar o impeachment da presidente eleita, substituí-la por Michel".

Assim mesmo, a intimidade unicamente do primeiro nome, sabia de tudo. E não apenas sabia, mas também compactuava. (Quem participa de um pacto, compactua). Nesse pacto vitorioso, alem da substituição de um presidente eleito por um vice não eleito, apenas acoplado, outro grande, insubstituível e irreversível objetivo: a destruição da LAVA-JATO

Conseguiram o que perseguiram durante 1 ano: empossar Michel Temer, jamais eleito, colocá-lo no lugar de outro, eleito e reeleito. Consumada a primeira parte, eufóricos e se julgando poderosos e vitoriosos, partiram para a segunda: a desmoralização da Lava-Jato. Essa ação complementar, que vinha sendo articulada junto com a tomada do poder, fundamental.

Com a Lava-Jato no auge da atuação, o poder valeria pouco. Temer sempre soube disso. Tanto que numa entrevista com o golpe ainda não concretizado, afirmou: "Não nomearei ninguém envolvido na Lava-Jato". Pressionado pelos próprios, fez o de sempre: recuou, nomeou todos. O maior poder para Jucá, sem nenhuma duvida a quem devia tudo. (Naturalmente depois do corrupto Eduardo Cunha. Este não podia nomear, mas conceder. Entregou a ele a liderança do governo na Câmara. Sabe que não pode mantê-lo, espera o momento).

Esse capítulo definiu Temer e seus comparsas. São incompetentes e péssimos analistas. A investigação e as condenações de Curitiba, nunca estiveram ameaçadas. E se fosse necessário, teria se consolidado com a maquinação Jucá-Sergio Machado. A Lava-Jato é hoje um bem publico inalienável, foi TOMBADA pela comunidade. Exatamente o contrario do que acontece com o governo provisório de Michel Temer, agora sem Jucá. Falta retira-lo da presidência do PMDB.

Michel e Jucá tentam transformar a Procuradoria Geral, num órgão de consulta. Ontem, o ex-ministro do Planejamento fez outra declaração estapafúrdia: "Enquanto o Procurador não responder minha consulta, continuo Ministro". Para o governo ele já foi afastado. Falta encontrar alguém que não tenha nada a ver com a Lava-Jato. Está difícil de encontrar.

Deserto de homens e ideias

Enquanto Jucá insiste que continua Ministro, vários nomes são lembrados. Uns descartados por sofrerem restrições. Outros por serem insubstituíveis onde estão. Henrique Eduardo Alves citado varias vezes é intimo do provisório. Foi o único Ministro do PMDB que pediu demissão, assim que Temer abriu fogo contra Dilma. Mas a citação da Lava-Jato invalidou a nomeação. E se ele mudasse do Turismo, a vaga iria para um amigo de Renan.

Um dos favoritos era e continua sendo Moreira Franco. Só que nem ele nem o próprio Temer, sequer admitem conversar sobre o assunto. O ex-governador abriu mão de ser Ministro para ocupar essa secretaria. De qualquer maneira, apesar do desgaste e desprestigio do governo provisório, aparecerá alguém. Mesmo Jucá insistindo: "Continuo Ministro".

O governo exige 10 BILHOES do BNDES

Depois de retumbar, "o governo Dilma falou em déficit de 86 bi, mas deixou um rombo de 170 bi" veio com a novidade. Está querendo que o banco devolva 100 bilhões ao Tesouro. Mesmo podendo ser considerado receita primaria, é dinheiro de verdade, ou o governo não estaria pressionando o BNDES. Dessa forma, esses recursos vieram do governo Dilma. Contabilizado, o déficit não seria de 86 bi, e sim um saldo de 14 bi. Fazem tudo para fingir que estão trabalhando e produzindo. Não mostram constrangimento.                                                                                                      

 A vergonha e o escândalo de Cunha na presidência da Câmara

Está em tramitação no Congresso, um projeto que parece miragem. Proíbe que réus entrem na linha de sucessão presidencial. Explicando e resumindo. Aprovado, a proibição atinge os presidentes da Câmara e do Senado. Na verdade o projeto nem vai caminhar, pois visa retirar dessa hierarquia presidencial, o deputado afastado, Eduardo Cunha. Afastado mas cada vez mais poderoso. E ainda por cima conta com a proteção, o beneplácito e a admiração do presidente provisório.

A situação não pode continuar como está. Com dignidade e respeito á opinião publica, a presidência da Câmara pode ser preenchida digna e imediatamente.

A Câmara deve ter um presidente proporcionalmente indicado pelo maior partido. No momento é o PMDB. A Comissão de Constituição e Justiça é presidida pelo deputado Osmar Serraglio, também do PMDB. Essa Comissão em 24 ou 48 horas pode declarar vaga a presidência da Câmara. (Na verdade, vaga ela ficou quando Cunha foi
interditado pelo Supremo. E vaga continuou quando o vice assumiu, empurrado e garantido pelo próprio corrupto destituído).

Vaga de direito e de verdade, a Câmara pode eleger sem demora, sem ressalva e sem restrição, o próprio Osmar Serraglio. È uma das melhores figuras, serio, (presidiu a CPI dos Correios com enorme competência), prestigiado e respeitado por todos. Assim a Câmara não ficaria á disposição de aventureiros. E o presidente da Republica poderia viajar á vontade, sem qualquer preocupação.

Eduardo Cunha tem espalhado: não demora e estarei voltando a ser presidente da Câmara. Outros ligados a ele informam que negociam e conversam sobre uma proposta. Renunciaria e sofreria apenas advertência escrita. Tenho uma sugestão intermediaria. Cunha renunciaria, e seria nomeado embaixador na Tanzânia. O ex-presidente enfrentaria apenas um problema. Esse país recusar a indicação.

Pedida a cassação de Jucá

O PDT apresentou pedido, que mereceria o aplauso do próprio Brizola. Pedido de cassação do mandato do ex-ministro do Planejamento. Falta de decoro parlamentar. Muitos senadores já estão inteiramente a favor. O grande problema ou obstáculo: Michel Temer vai proteger Jucá, como tem protegido Eduardo Cunha.


PS- O Senado está votando a medida fiscal preparada por Meirelles e entregue por Temer a Renan. Já houve muita confusão desde que a sessão foi aberta ás 11 da manhã. Precisaram antes, "limpar" a pauta, votando 24 medidas provisórias acumuladas. Essa "limpeza"deve acabar por volta de meia noite. Começará então a discussão propriamente dita, da matéria. 

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