Um presidente provisório, ministro
licenciado-exonerado, o presidente da Câmara afastado e "morto", o líder
do governo acusado de tentativa de homicídio. Que Republica
HELIO FERNANDES
24 horas
depois da maior e mais previsível crise que atingiu o governo, Michel Temer
veio a publico. Falou muito e disse pouco. Promessas, compromissos, divagações,
a certeza de que depende muito do congresso e da opinião publica. È o próprio
Prometeu Acorrentado, sem convicção, sem meta, sem destino, sem paradeiro, sem
rumo, sem plano, projeto.
Muito
queixoso, não escondeu o ressentimento falso, que resumiu numa frase amarga mas
de base inexistente. "Quando um governo assume, todos devem apoiá-lo. Mas
no Brasil não existe essa cultura". È muito fácil jogar a culpa no país e
no povo. Principalmente para eles.
Isso que
ele lança ao vento, se dissipa imediatamente. Governos verdadeiros que podem
pedir e até exigir apoio para que cumpram ou cheguem a um destino positivo
e proveitoso, são os que saem das urnas. Ungidos, sagrados e sacramentados pelo
voto, devem ter independência e autonomia, até mesmo para inovar, e quem sabe,
talvez para errar. Ninguém tem a chave milagrosa ou miraculosa do sucesso, deve
dispor de liberdade para fazer. Ou de tentar. De procurar. Na tentativa
gloriosa de recompensar os votos que recebeu nas eleições.
Não é,
nem de longe, a situação de Michel Temer. Chegou ao poder, apenas pelo malabarismo
da traição, pelo "pacto do golpe". Ninguém está interessado em
desmentir Romero Jucá. Ele deixou no gravador de Sergio Machado, suas digitais
verbais e a comovente convicção de que era "imperioso aprovar o
impeachment da presidente eleita, substituí-la por Michel".
Assim
mesmo, a intimidade unicamente do primeiro nome, sabia de tudo. E não apenas
sabia, mas também compactuava. (Quem participa de um pacto, compactua). Nesse
pacto vitorioso, alem da substituição de um presidente eleito por um vice não
eleito, apenas acoplado, outro grande, insubstituível e irreversível objetivo:
a destruição da LAVA-JATO
Conseguiram
o que perseguiram durante 1 ano: empossar Michel Temer, jamais eleito, colocá-lo
no lugar de outro, eleito e reeleito. Consumada a primeira parte, eufóricos e
se julgando poderosos e vitoriosos, partiram para a segunda: a desmoralização
da Lava-Jato. Essa ação complementar, que vinha sendo articulada junto com a
tomada do poder, fundamental.
Com a
Lava-Jato no auge da atuação, o poder valeria pouco. Temer sempre soube disso.
Tanto que numa entrevista com o golpe ainda não concretizado, afirmou:
"Não nomearei ninguém envolvido na Lava-Jato". Pressionado pelos próprios, fez o de sempre: recuou, nomeou todos. O maior
poder para Jucá, sem nenhuma duvida a quem devia tudo. (Naturalmente depois do
corrupto Eduardo Cunha. Este não podia nomear, mas conceder. Entregou a ele a
liderança do governo na Câmara. Sabe que não pode mantê-lo, espera o momento).
Esse capítulo
definiu Temer e seus comparsas. São incompetentes e péssimos analistas. A investigação
e as condenações de Curitiba, nunca estiveram ameaçadas. E se fosse necessário,
teria se consolidado com a maquinação Jucá-Sergio Machado. A Lava-Jato é hoje
um bem publico inalienável, foi TOMBADA pela comunidade. Exatamente o contrario
do que acontece com o governo provisório de Michel Temer, agora sem Jucá.
Falta retira-lo da presidência do PMDB.
Michel e
Jucá tentam transformar a Procuradoria Geral, num órgão de consulta.
Ontem, o ex-ministro do Planejamento fez outra declaração estapafúrdia:
"Enquanto o Procurador não responder minha consulta, continuo
Ministro". Para o governo ele já foi afastado. Falta encontrar alguém que
não tenha nada a ver com a Lava-Jato. Está difícil de encontrar.
Deserto de homens e ideias
Enquanto
Jucá insiste que continua Ministro, vários nomes são lembrados. Uns descartados
por sofrerem restrições. Outros por serem insubstituíveis onde estão. Henrique
Eduardo Alves citado varias vezes é intimo do provisório. Foi o único Ministro
do PMDB que pediu demissão, assim que Temer abriu fogo contra Dilma. Mas a
citação da Lava-Jato invalidou a nomeação. E se ele mudasse do Turismo, a vaga
iria para um amigo de Renan.
Um dos
favoritos era e continua sendo Moreira Franco. Só que nem ele nem o próprio Temer,
sequer admitem conversar sobre o assunto. O ex-governador abriu mão de ser
Ministro para ocupar essa secretaria. De qualquer maneira, apesar do desgaste
e desprestigio do governo provisório, aparecerá alguém. Mesmo Jucá insistindo: "Continuo
Ministro".
O governo exige 10 BILHOES do
BNDES
Depois de
retumbar, "o governo Dilma falou em déficit de 86 bi, mas deixou um rombo
de 170 bi" veio com a novidade. Está querendo que o banco devolva 100 bilhões
ao Tesouro. Mesmo podendo ser considerado receita primaria, é dinheiro de
verdade, ou o governo não estaria pressionando o BNDES. Dessa forma, esses
recursos vieram do governo Dilma. Contabilizado, o déficit não seria de 86 bi, e
sim um saldo de 14 bi. Fazem tudo para fingir que estão trabalhando e
produzindo. Não mostram constrangimento.
A vergonha e o escândalo de
Cunha na presidência da Câmara
Está em
tramitação no Congresso, um projeto que parece miragem. Proíbe que réus entrem
na linha de sucessão presidencial. Explicando e resumindo. Aprovado, a proibição
atinge os presidentes da Câmara e do Senado. Na verdade o projeto nem vai
caminhar, pois visa retirar dessa hierarquia presidencial, o deputado afastado,
Eduardo Cunha. Afastado mas cada vez mais poderoso. E ainda por cima conta
com a proteção, o beneplácito e a admiração do presidente provisório.
A
situação não pode continuar como está. Com dignidade e respeito á opinião
publica, a presidência da Câmara pode ser preenchida digna e imediatamente.
A Câmara
deve ter um presidente proporcionalmente indicado pelo maior partido. No
momento é o PMDB. A Comissão de Constituição e Justiça é presidida pelo
deputado Osmar Serraglio, também do PMDB. Essa Comissão em 24 ou 48 horas pode
declarar vaga a presidência da Câmara. (Na verdade, vaga ela ficou quando Cunha
foi
interditado
pelo Supremo. E vaga continuou quando o vice assumiu, empurrado e garantido
pelo próprio corrupto destituído).
Vaga de
direito e de verdade, a Câmara pode eleger sem demora, sem ressalva e sem
restrição, o próprio Osmar Serraglio. È uma das melhores figuras, serio, (presidiu
a CPI dos Correios com enorme competência), prestigiado e respeitado por todos.
Assim a Câmara não ficaria á disposição de aventureiros. E o presidente da
Republica poderia viajar á vontade, sem qualquer preocupação.
Eduardo
Cunha tem espalhado: não demora e estarei voltando a ser presidente da Câmara. Outros
ligados a ele informam que negociam e conversam sobre uma proposta. Renunciaria
e sofreria apenas advertência escrita. Tenho uma sugestão intermediaria. Cunha renunciaria,
e seria nomeado embaixador na Tanzânia. O ex-presidente enfrentaria apenas um
problema. Esse país recusar a indicação.
Pedida a cassação de Jucá
O PDT
apresentou pedido, que mereceria o aplauso do próprio Brizola. Pedido de
cassação do mandato do ex-ministro do Planejamento. Falta de decoro
parlamentar. Muitos senadores já estão inteiramente a favor. O grande problema
ou obstáculo: Michel Temer vai proteger Jucá, como tem protegido Eduardo Cunha.
PS- O
Senado está votando a medida fiscal preparada por Meirelles e entregue por
Temer a Renan. Já houve muita confusão desde que a sessão foi aberta ás 11 da
manhã. Precisaram antes, "limpar" a pauta, votando 24 medidas provisórias
acumuladas. Essa "limpeza"deve acabar por volta de meia noite.
Começará então a discussão propriamente dita, da matéria.
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