A Tragédia da Chapecoense (e da
Fox Esporte),
e o jornalismo que não pode parar
HELIO
FERNANDES
Ontem pela
manhã, como faço habitualmente, sentei no computador, comecei a selecionar os
assuntos que devia comentar, outros que precisava aprofundar. E esperar
os telefonemas que surgiriam incessantemente. E precisamente ás 9 horas atendo
um deles, de um amigo querido: "Helio, você viu a tragédia com o avião da
equipe da Chapecoense na Colômbia?". Ligo imediatamente a televisão, fico
surpreendido, assombrado, estarrecido.
Começo a
tomar conhecimento desse fato espantoso. A primeira constatação vem dos números:
o avião transportava 81 passageiros, 75 estavam mortos. Como eram 22 os
jogadores da Chapecoense e 20 os jornalistas e técnicos da Fox Esporte, não
podia haver dado mais lancinante.
Os que se
salvaram eram pouquíssimos. A Fox Esporte que com excelente trabalho,
conquistara lugar de destaque na televisão esportiva, perdera uma equipe
inteira. Narradores, comentaristas, repórteres, técnicos. Pessoal e
profissionalmente, como substituí-los? Alguns, amigos do repórter. Outros, que
assistia com o maior prazer, em diversos momentos.
A
Chapecoense, pela primeira vez disputava uma final internacional. A cidade de
Chapecó, Santa Catarina, vibrava com o fato, e com a final que seria disputada
hoje, quarta feira. O prefeito da cidade iria viajar no avião fretado, teve que
desistir no último momento. E a tragédia aconteceu por causa de outro fato
rigorosamente inesperado.
O avião
foi diretamente para a Bolívia. Lá, constataram que o avião fretado não poderia
continuar a viagem. Como era pequeno o trajeto entre a Bolívia e o aeroporto da
Colômbia, e havia um avião saindo, quase vazio, mudaram, sem nenhuma
dificuldade. Pelo menos acreditavam. Quase descendo, o avião desapareceu no
espaço. No momento em que escrevo, não se sabe exatamente o que aconteceu. Durante
toda a terça, as televisões irão informando e dissecando os fatos. A internet
completará.
Quanto ao
repórter, alem da saudade, completamente traumatizado. Mas tendo que continuar
a "cobrir" os assuntos nacionais e internacionais. Imprescindíveis e irrefutáveis.
A cremação de Fidel
Minha
ultima nota, ontem, sobre o domingo dia 4, com a cremação do homem que dominou
Cuba por 50 anos, foi sobre a possibilidade do não comparecimento de grandes
personalidades. E mais a ausência de Putin e de Obama. Agora, já foram
oficializados outros nomes, todos da Europa. Angela Merkel, o Presidente da França,
o Primeiro Ministro da Itália, e mais e mais.
O único
que confirmou a ida, foi o Rei da Espanha. Não faz parte do que Fidel costumava
identificar, "como a consagração da minha despedida da vida". Em
1935, Proclamada a Republica e eleito o primeiro, presidente, em 1936 começou a
mais terrível guerra civil dos tempos modernos. E o cruel carrasco general
Franco implantou a ditadura, que durou mais de 30 anos de carnificina.
No final
já praticamente fragilizado, Franco restabeleceu a monarquia. E o atual Rei,
que apoiou a ditadura de extrema direita, agora vai á cremação de um ditador
comunista. Isso se obtiver licença para viajar. Ele, a filha e o genro, respondem
perante a justiça por irregularidades financeiras.
Trump e Cuba
O
presidente eleito, não escondia durante a campanha, que revogaria muitos dos
atos praticados por Obama. Um deles: acabaria com o restabelecimento das
relações diplomáticas e comerciais, entre Cuba e Estados Unidos. Assim que
Trump foi considerado eleito, revelei aqui. Ele pretende voltar atrás na
decisão de Obama, até para agradar uma parte do Partido Republicano.
Que não
aprovou o que foi feito pelo Presidente Obama. E acrescentei: "Receio de
Trump é enfrentar o Papa, conciliador e avalista do acordo". Chegou a ir a
Cuba, para reforçar a posição de Raul Castro, no Poder. E precisando muito
dessa reconciliação com os Estados unidos.
Trump
enfrentará problemas e pressões empresariais. A reconciliação está em pleno
desenvolvimento. Ontem pousou em Cuba, pela primeira vez em 50 anos, um avião
vindo de Miami. Trump falou sobre o assunto, mais cauteloso. Pregou
modificações e não o fim do relacionamento. É possível conversar. Mas o difícil
quase impossível, é conversar ou confiar num racista, extremista, traste humano
como é o presidente eleito.
Moro veta perguntas de Cunha a Temer
O
ex-presidente da Câmara apresentou o presidente da Republica, como uma de suas
testemunhas de defesa. Como Temer tem direitos privilegiados, o juiz
comunicou o fato a ele. E informou perguntando: "Se aceitar pode escolher
como quer depor". Como se esperava, Temer respondeu, "por
escrito".
Quando
soube pelo juiz, da resposta de Temer, Cunha ficou furioso. Era o único que
acreditava que Temer fosse pessoalmente se encontrar com ele. Cunha levou 12
dias para redigir 41 perguntas para serem encaminhadas ao presidente Temer. Não
esperava que fossem lidas antes, pelo próprio Moro.
Ainda não
foram enviadas ao destinatário. Delicadamente, Moro cortou 21 das 41 perguntas.
Acusado de ter feito censura, explicou simplesmente: "Essas 21 perguntas
não tinham nada a ver com os processos a que Eduardo Cunha responde". Na
verdade Cunha acusava Temer, perdeu uma testemunha que poderia ser importante.
Para
Cunha, nenhuma testemunha pode salva-lo. Ele é um dos muitos personagens, que
todo tempo que ficou em liberdade já é lucro.
Calero: gravações e carreira diplomática
Ele não
cometeu nenhum crime, nem premeditou a gravação. Como eu disse no
mesmo
dia, Calero fazia um seguro profissional. Se a conversa com o presidente fosse
normal, tudo continuaria normal. Mas diante da tremenda indignidade verbal do
presidente, Calero não teve saída ou opção.
O próprio
presidente indireto, voluntariamente colocado na posição de cúmplice de Geddel,
percebeu logo que tinha havido gravação. Isso depois de Calero ter se
retirado.
Chamou o "chefete de policia "(royalties para Renan Calheiros),
mandou "verificar se a conversa havia sido gravada". Só descobriram
,quando já ex-ministro, Calero foi á policia.
A
situação profissional de Calero é insustentável. Já existem rumores de que
receberá um posto no exterior. Diante da falta de grandeza de Temer. E da
nenhuma independência do Ministro do Exterior, Calero estaria mais perto da Tanzânia
do que de Paris.
E sua
carreira, com pouca chance de sobrevivência. O corporativismo dos que ocupam o
Poder, realidade indestrutível. O Ministro Chefe da Casa Civil, foi o primeiro
a fazer pressão sobre Calero, por "sugestão" de Temer. Ontem teve que
chamar um médico. Motivo: inesperado pico de pressão alta.
A votação das medidas contra a corrupção
Ás 17
horas, na Comissão Especial, praticamente ninguém. Alguns justificavam com o
trauma da queda do avião, que matou o time do Chapecoense. E 20 jornalistas da
Fox Esporte e de outros órgãos de comunicação. È possível, o trauma foi
inimaginável. Mas uma realidade inacreditável.
Ás 18,15
no plenário, 19 deputados. A sessão presidida pelo segundo suplente da Mesa.
Ficavam procurando oradores para não encerrar os trabalhos. Também não podiam
abrir a "Ordem do Dia", por 2 motivos. 1- Não havia numero. 2- Se
abrissem a "ordem do dia", a Comissão Especial não poderia funcionar.
È o momento mais degradante do Legislativo.
O POVO NA RUA
Durante
horas, milhares de pessoas, protestavam em frente ao Congresso Nacional.
Repelidos violentamente pela policia, multidões gritavam: "Queremos
votação". Referiam-se á Comissão
Especial contra a corrupção, que não se manifestava. Ninguém sabia a que horas
ia começar ou terminar a votação.
A PEC DO DESGASTE
Diretamente
contra o Senado, protestavam contra a PEC dos gastos. Também conhecida como
"PEC do desgaste". Era a primeira votação no Senado. Arrogante, o
senador Romero Jucá blasfemava: "Teremos no mínimo 65 votos". Devem
ter mesmo. Coordenaram e compartilharam 65 senadores, é esse numero que tem que
aparecer no placar.
PS- O
Movimento Brasil Livre, que obteve grande repercussão em 2013, voltou ás ruas.
E publicou ontem, entre aspas, o seguinte: "Que nojo, Aécio Neves! FH foi
outro que se esmerou em nos fazer vomitar. (Ao dar declarações positivas sobre
Fidel Castro)".
PS2- Mas
ainda existe grandeza e esportividade. O Atlético da Colômbia, que disputaria
hoje, quarta, a final contra o Chapecoense, mandou oficio á Commebol: "Não
tem nada de marcar outra data, o Chapecoense é o campeão, de fato e de
direito".
PS3-
Clubes cariocas e paulistas, coordenam movimento de solidariedade ao
Chapecoense. Cederiam de graça, jogadores, para que o clube continuasse disputando
o campeonato. Já com adesão de outros estados.
PS4- A
votação do projeto contra a corrupção, terminará perto da madrugada. Se
terminar. Os obstáculos, as manobras, as tentativas pelo menos de retardamento,
incontáveis.