Judiciário se tornou
o espectro do direito
(...) “Existe hoje, segundo estimativas de juristas, mais
de 5 milhões de ações na especializada que está totalmente fora dos padrões do
universo salarial do país, “são ações conflitantes, lides temerárias que se tornaram
uma “mina de dinheiro”, verdadeira “loteria”, apontou conceituado advogado
patronal”.
ROBERTO MONTEIRO PINHO
O acesso à justiça, assegurado constitucionalmente, não se constitui na
prática dos tribunais por algumas razões. Inicialmente vem sendo aplicado de
modo irrestrito a todos os cidadãos. A desigualdade econômica possui graves
conseqüências no âmbito do processo criminal e também no processo civil.
Assim, ainda que o novo CPC tenha trazido significativos avanços
buscando maior efetividade e celeridade processual, como é o caso da arbitragem
e mediação, verifica-se que tais hipóteses são de aplicabilidade mitigada, já
que uma camada da população não possui recursos financeiros aptos a tais
medidas.
O
acesso à Justiça é um dos direito fundamentais e está expresso
no artigo 5º, Inciso XXXV, da Constituição da República Federativa do Brasil de
1988: "a lei não excluirá
da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito".
Tratamento inadequado dos advogados - Quando derivamos
nossos conceitos sobre funcionamento da justiça, para o judiciário laboral, é
dilacerante ver milhões de trabalhadores e empregadores reféns de um serviço A falta de cultura faz com que a justiça se afaste
cada vez mais do cidadão comum, causando impunidade e o desrespeito, que atinge
as classes menos desfavorecidas.
Existe em parte a desconfiança
dos advogados e medo dos atores da justiça, ou seja, medo dos juízes,
promotores e servidores judiciários. Esse receio vem muitas vezes pelo fato de
que muitos desses servidores tratam de forma inadequada essas pessoas leigas.
Na pratica são hostis e irônicos em suas respostas.
Concluo que estamos diante de uma
farsa, onde os que litigam são usados para manter e alimentar uma casta de
privilegiados que recebem os mais altos salários do planeta.
Hans Kelsen na obra (O Problema
da Justiça), fala que o princípio de justiça da igualdade, de nenhuma forma
pressupõe que todos os homens são iguais, pelo contrário, esta norma pressupõe
a desigualdade, pois do ponto de vista da lei um homem que não cometeu um
delito não deve receber a mesma punição de outro que praticou o delito, ou
seja, o jus puniendi deve ser executado na medida da
culpabilidade do indivíduo.
Verdadeira loteria - A especializada se tornou desfocada, distante de
seu âmago de justiça de pacificação, e se tornou um balcão de grandes
oportunidades. O trabalhador que tenta a loteria mentindo, e o empregador que
se esquiva de pagar direitos inegáveis na relação laboral, formam essa
metamorfose criminosa de uma justiça do faz-de-conta.
Existem hoje, segundo estimativas
de juristas, mais de 5 milhões de ações na especializada que está totalmente
fora dos padrões do universo salarial do país, “são ações conflitantes, lides
temerárias que se tornaram uma “mina de dinheiro”, verdadeira “loteria”,
apontou conceituado advogado patronal.
Na realidade segundo fontes do
Conselho Nacional de Justiça (CNJ), com base no “Justiça em Números”, 63% das
ações existentes na especializada, são inexecutáveis. Isso deriva das lidas mal
resolvidas. Acordos podem ser feitos entre as partes, mesmo nas ações já
decididas.
Mediação - O
debate continua no âmbito da justiça, discutindo a valorização dos meios
alternativos de solução de conflitos. Neste sentido, temos observado um pequeno
avanço, mas ainda tímido.
A razão principal desse
modelo pacificador de mediação é a tutela estatal, que se agarra ao instituto,
em flagrante prova de que os atores do judiciário estatal não aceitam decisões
extrajudiciais de litigantes, mesmo quando assistidos por advogados.
Dados de institutos de
mediação internacionais revelam que 25% das demandas são solucionadas através
da mediação.
No Brasil este número não
chega a 1%. O assunto é preocupante e mereceu atenção especial da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB), que realizou no dia 26 de setembro um seminário para
discutir como a cultura da mediação judicial pode fazer frente ao excesso de
ações que sobrecarregam os tribunais. Um dos pontos relevantes foi o número de
conflitos que poderiam estar sendo solucionados através da mediação nos
escritórios de advocacia.