Titular: Helio Fernandes

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Temer: presidente interino, sem povo, sem convicção, sem eleição. Não é de esquerda, centro ou direita. Não tem plano, projeto, roteiro, montou equipe de ultima categoria

HELIO FERNANDES

Atendendo a pedidos de todos os lados e não gostando de me omitir, vou examinar o ministério que Temer apresentou ao país. Todo o espaço de hoje,servirá  para esclarecimento rigorosamente irrefutável, nome por nome, ministério por ministério. Como esse é um ministério Titanic, começo pelo que naufragou antes de ser lançado ao mar.

Cultura-Historicamente é confundido com Educação. Periodicamente é incorporado, o que equivale á destruição. Opinião corajosa, competente irrefutável. Cacá Diegues, um dos mais importantes cineastas "A educação prepara as pessoas para o mundo real. A cultura as estimula a inventar mundos. Junta-las é um retrocesso". Protestos de mais de 100 intelectuais respeitados.

Educação - Desde Gustavo Capanema que teve como chefe de gabinete Carlos Drumond de Andrade, e construiu aquele edifício maravilhoso, lançando jovens arquitetos como Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Afonso Ready e tantos outros, desprezaram a pátria educadora. Agora o titular é um deputado que chamam sempre de governador. Jamais foi eleito. Vice de Jarbas Vasconcellos, ficou 6 meses quando o titular se desincompatibilizou. Nominalmente disputou o cargo duas vezes, derrotado.

O que aconteceu também quando tentou ser prefeito do Recife. Foi secretario de Agricultura de Pernambuco, deve ser a credencial. Relator e coordenador da reeleição comprada por FHC e paga por empresários. Seu nome, Mendonça Filho, e para piorar, é do DEM.  

Meio Ambiente- Dos raros a ter vôo próprio, apesar de ser filho de ex-presidente da Republica. Sarney filho já foi Ministro da mesma pasta. Correto, discreto, convicto, confiável na matéria.

Justiça - Alexandre de Moraes. O mais nota zero entre os Ministros. Violento como Secretario de Segurança de SP, adora holofotes. Em poucos dias já apareceu em varias entrevistas. Todas falsas. Mistificador, fingiu e mentiu: "Serei o grande defensor da Lava-Jato". A meta que não alcançará: "Quero ir para o Supremo Tribunal".

Defesa-Raul Jungmann-Suplente de deputado, não votou a favor do impeachment, o efetivo assumiu. Ganhou o ministério por acaso. O escolhido por Temer foi vetado, lembraram dele. Ministério fardado com um Ministro a paisano. Cargo inútil, vários já derrubados.

Cidades-Bruno Araujo. Ministro aritmético, ganhou o cargo por ter sido o numero 342 a votar a favor do impeachment. Pode montar seu gabinete numa Casa Lotérica.

Ciência e Tecnologia-Gilberto Kassab. Ia ser Ministro de qualquer maneira, mas recebeu esse por causa do assombro das fotos de Temer, orando com o pastor que ia ganhar esse cargo. Temer pretendia nomear Silas Malafaia, recebeu-o em Audiência privada, ficou com receio de veto da TV - Bandeirantes e do jornalista Ricardo Boechat. Recuou. Por causa de tudo isso, seu governo interino é identificado como "desordem e retrocesso”.

Turismo- Henrique Eduardo Alves. Esteve sempre para ser governador do RGN, perdia a vez para o pai ou por acordos que ele precisava fazer para manter a força política e eleitoral. Aluizio Alves morreu, houve a devastadora guerra familiar pela herança, candidatissimo e favorito, perdeu de forma surpreendente. Foi Ministro de Dilma a pedido de Temer. Começada a maratona da traição pela promoção, foi o primeiro a deixar o ministério. Na confusão das escolhas, ia sendo preterido.

Integração Nacional - Helder Barbalho. Perdeu a eleição para governador, passou do plano estadual para o nacional. Começou pelos portos, foi usufruindo os cargos que o pai tem prestigio para conseguir, mas não para ocupar. Teve que renunciar no  Senado para não ser cassado, voltou, o povo não tem memória. "Ficha suja" por 5 a 5 no Supremo, "conquistou" o voto de numero 6, de madrugada. Num gabinete escurecido, se transformou em "ficha limpa". Que Republica.

Minas e Energia- Fernando Filho. Aos 32 anos, é outro herdeiro das incompatibilidades do pai, Ministro da Integração Nacional de Dilma. Fortemente envolvido na Lava-Jato, não pôde ser nomeado. Continua como senador que não se reelege bem 2018, mas garantiu o ministério. È do PSD, a outra vaga já tinha dono.

Segurança Institucional - Sergio Etchegoyen. Ninguém consegue explicar sua indicação, a não ser por um fato: é considerado "linha dura". Valia muito durante a ditadura. Mas um governo sem eleição, é diferente?

Infraestrutura - Moreira Franco. Não recebeu o titulo de Ministro, mas é dos mais importantes. Alem de redigir os textos "sintomáticos "de Temer, tem a missão de tomar providencias para "reduzir o estado". Leia-se: privatizar. Praticou esse exercício quando foi Assessor Especial de FHC. Depois de ser governador eleito e antes de ser Ministro de Dilma. É competente mas sem convicção. Nenhum constrangimento para tomar a forma do vazo que o contem. Mesmo que seja o disforme Michel Temer.

Agricultura - Blairo Maggi. Sofre resistência e oposição aberta, não só dos ambientalistas, mas de todos que lutam contra a concentração exagerada de riqueza. Será Ministro dele mesmo e de suas fazendas exploradoras. Lutou intensamente para ser Ministro. Precisou mudar de partido, o próprio Temer sugeriu o PP, grande favorecido pela corrupção da Lava-Jato. Não podia nem devia ter sido nomeado.

Planejamento e Casa Civil, Romero Jucá e Eliseu Padilha. O senador não sai do centro dos acontecimentos, nos mais diversos governos, de FHC a Dilma, e agora de Temer. Foi Ministro, acusado de irregularidades. Assumiu envolvido com a Lava-Jato. Falastrão, é especialista em nulidades e silencio sobre impropriedades. Eliseu Padilha deu entrevista, blasonou: "Se não tivéssemos assumido, não haveria dinheiro para o pagamento de salários". Ainda não fizeram nada, não perderei tempo com isso e com esse.

Relações Exteriores -José Serra. Num ministério de concessões e nulidades, não entra em nenhuma das duas identificações. Está longe de ser uma inutilidade. E desde o inicio fixou uma posição: "Serei Ministro, independente dos rumos do meu partido, o PSDB". Inflexível, não concedeu, negociou lúcida e politicamente. Deixou entrever que poderia ser Ministro da Fazenda. Mas não exigiu, sabia que surgiriam resistências. Quando acenaram com a Educação e a Saúde, que já ocupou não se pronunciou. Mas seu roteiro indicava o rumo do Ministério do Exterior, que conquistou sem interferência ou conversas extras. Garante sucesso no cargo e lutar pelo objetivo visível: a terceira candidatura presidencial. Se chegarmos até 2018, estará com 76 anos.

Fazenda-Henrique Meirelles. Gostando ou não gostando dele, manobrou de forma competente para obter seus objetivos futuros. Ambicioso, sinuoso, carreirista, ficou no exterior até o ano 2000, construindo uma solida e indestrutível posição financeira. Resolveu então que estava na hora de vir para o Brasil. Começar uma carreira política, que para ele não tinha e continua não tendo limite. Comprou um mandato de deputado Federal pelo seu estado, 183 mil votos, razoável. Isso em 2002. Quando ia tomar posse, Lula se elegeu presidente, convidou-o para presidente do Banco Central. Não podia acumular, precisava renunciar, nenhum problema. Só que não teve sucesso, deixou o governo, sobrou apenas à ambição.

Revigorada agora, com Temer atendendo todas as suas exigências. Meirelles sabe que é sua oportunidade se conseguir a salvação nacional. Os dois, Temer e Meirelles, lutam por datas que não os separa, até os reúne: 2018. Temer quer CHEGAR até lá. Meireles quer COMEÇAR por esse calendário. Para o inicio dessa marcha para o futuro, já domaram e dominaram o Congresso.

Meirelles ainda não garantiu nada, "estou estudando a situação e o que precisamos fazer inicialmente". Mas deixou bem claro: "Se for necessário criaremos imposto, temporário". È a CPMF, satanizada, amaldiçoada e escorraçada no governo Dilma. Por esse mesmo Congresso, que aprovará o que Meirelles entregará a Temer, que enviará sem ler.

Secretaria de Cultura-Preocupado com a Previdência, cuidou da cultura com imprevidência.  A repercussão foi tão grande, os protestos em tal quantidade e qualidade, que não resistiu. Recuou, usando o slogan que define seu governo: "desordem e retrocesso". Mas considerou que a Cultura como ministério e comandado por uma mulher, exagero. Preferiu, como roteiro, seguir a frase famosa: "Quando ouço falar em cultura, me dá vontade de puxar o revolver".

Respondendo

Marcio Telles, obrigado pelos adjetivos. Umberto Eco gostava de dizer: "A falsa modéstia é tão negativa quanto a arrogância e a presunção". Você mesmo respondeu, dizendo que sou impiedoso mas sem partidarismo.

Cristiane Borba, seu reconhecimento é importante, pelo estimulo e pela obrigatoriedade da luta. Escrevi diariamente artigo e coluna, por mais de 50 anos. O Millor foi o primeiro a dizer: "Escrever artigo e coluna diário, é maluquice, mas imperdível". No jornal impresso que perdi para a ditadura, registrei: "Meu ultimo artigo quase póstumo será escrito entre a rua do Lavradio e o cemitério".  Agora, aos 95 anos, continuo com a mesma convicção, provavelmente com outro trajeto.


Manoel Carvalho e Ribas, temos a mesma preocupação: o silencio dos militares. A Republica, idealizada por uma geração de notáveis civis, nasceu militar, militarista e militarizada. O general Góes Monteiro, que era um falador, deixou a frase: "O Exercito é o grande mudo". Não sei o que é mais intranquilizante: o general que cala ou o que fala. Prefiro o general no quartel.

Um comentário:

  1. Somos gratos pela sua generosa contribuição diária com lucidez, independência e experiência.
    Seu trabalho é relevante e indispensável para o jornalismo brasileiro, principalmente diante do quadro atual.
    Apesar de o organismo somático sucumbir naturalmente diante da programação evolucionária e funcionar como instrumento ao germinativo, tanto sob o ponto de vista genético, quanto sob o enfoque das ideias, dos incentivos e dos exemplos, recomendaria a preservação criogênica e criônica (tanto no sentido conotativo quanto no denotativo: cryonics e alcor institute, por exemplo) e sob as mais diversas formas para que seja conservado esse combatente ímpar em todas as dimensões (intelectual, espiritual, genotípica, fenotípica).

    Quanto às construtoras corruptoras desse capitalismo de quadrilha que é uma das causas-consequências do nosso atraso, sugiro que a melhor das contribuições para o país, além das delações, seria que essas empreiteiras de reconhecida competência em obras diferenciadas que fizeram em países desenvolvidos, fossem condenadas a executar as obras indispensáveis à eliminação dos nossos gargalos de infraestrutura, transporte, logística, para nos retirar da inércia e do atraso na competitividade internacional.

    Deixar todas as estradas em excelente condição. Reformar portos, aeroportos, devolver as centenas de bilhões que desviaram em forma de obras suficientes para acabar com o subdesenvolvimento que nos sufoca em estradas perigosas e infraestrutura dolosamente abandonada com o fim programado de nos manter em perene desvantagem.

    Ao invés de apenas contar e devolver uma bolinha de gude de bilhão, das centenas de bilhas douradas surrupiadas, poderiam consertar a estrutura logística desse país quebrado por aqueles que causam sempre os mesmos problemas com o intuito de vender a solução.

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