Titular: Helio Fernandes

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

CARLOS LACERDA COMPLETARIA 100 ANOS HOJE. AMADO E ODIADO, PERSONAGEM DE UMA ÉPOCA, COMPLETAMENTE ESQUECIDO. MORREU MUITO MOÇO    

HELIO FERNANDES

*Publicações históricas no Centenário do jornalista

PARTE - II

Em 1945, “cobre” a Constituinte para o Correio da Manhã

Foi quando o conheci e a Juscelino. Lacerda escrevia na segunda página do jornal, com o título: “DA tribuna da imprensa”. Enchia praticamente a página inteira, às vezes sobre política internacional, era uma das suas predileções. Logo depois de promulgada a Constituição deixou o jornal, passou a escrever no Diário Carioca. Não era a primeira vez.

A entrevista com José Américo, derrubou a censura e a ditadura

Em 1943 surgiu o “Manifesto dos Mineiros”, a ditadura embalançou. Mas Vargas reforçou a censura. Em 1944, já criada, (não oficialmente) a UDN, decidiram publicar entrevista com José Américo, homem de grande repercussão, chamado de “vice Rei do Nordeste”. Por que José Américo? É que em 1936, usando Benedito Valadares, Vargas abriu “sua sucessão”, uma farsa, como sempre.

José Américo foi lançado candidato da situação, e Armando Salles de Oliveira, genro do doutor Julio Mesquita e interventor em São Paulo, candidato da oposição. Não houve eleição, claro, surgia a ditadura ostensiva do Estado Novo.

 A entrevista, sensacional

Lacerda estava com 30 anos exatos, foi incumbido de fazer a entrevista, que sairia no Diário Carioca. Como é impossível manter segredo, Vargas soube, começou pressão e perseguição colossal contra o jornal. 

Horácio de Carvalho não tinha condições, mas Paulo Bittencourt se apresentou para publicar a entrevista. Foi um estrondo. Vargas sentiu o golpe, mas não “sentiu” que estava no fim. Tentou reagir mas não demorou muito.

Vargas chamou seu Chefe da Casa Civil, Lourival Fontes, um dos homens mais cultos e mais bem preparados intelectualmente, mas sem nenhum caráter, deu a ordem: “Tire os censores das redações e convoque todos os donos de jornais para uma reunião aqui no Catete. Não quero falar com eles, você mesmo, informe: não haverá mais censura, os donos dos jornais serão responsáveis por tudo o que sair. “Essa autocensura”, pior do que a ação do lápis vermelho dos censores.

Começa a carreira política fulminante

Em 1947 se candidata a vereador pelo Distrito Federal. Eram 50. O Partido Comunista elegeu 19, o PTB 12 a UDN 11. Os outros 8 divididos entre partidos pequenos. Foi uma Câmara Municipal extraordinária, eu ia lá todos os dias. Que debates, que divergências, nenhuma hostilidade nem acusações, eram alguns dos melhores oradores e uma época do Partido Comunista inteligente.

A cassação do Partidão

Em 1948 o Partido Comunista deixou de existir oficialmente, todos perderam os mandatos. Mas ninguém foi preso. O grande Sobral Pinto, advogado de Prestes em 1936, e depois grande amigo dele, avisou-o com antecedência, foram para a clandestinidade, era o que faziam de melhor.

Lacerda e Adauto Cardoso renunciaram. E confessaram: “Sem os comunistas a Câmara Municipal não tem o menor interesse ou atração”. Um ano depois lançava seu jornal com o título que usava no Correio da Manhã. Começava fase diferente na sua vida.

Lançado nos últimos dias de dezembro de 1949, Lacerda já combatia a volta de Vargas, em outubro de 1950. Um erro total, como os fatos confirmaram. Lacerda e Golbery, grandes amigos até 64, tentaram evitar a posse de Vargas. Este chamou o general Stilac Leal, que presidia o Clube Militar, nomeou-o Ministro da Guerra, foi empossado.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

CARLOS LACERDA AMADO E ODIADO, PERSONAGEM DE UMA ÉPOCA, COMPLETAMENTE ESQUECIDO, MORREU MOÇO  

HELIO FERNANDES

*Publicações históricas no Centenário do jornalista

PARTE – I

Foi um combatente nato. Podem dizer dele o que quiserem, contra ou a favor, mas não podem negar a palavra. Podem até interpretá-la, para o bem ou para o mal, só não podem negá-la. Mas apesar de ter sido o personagem de uma época, não saiu, pelo menos até agora o registro do nascimento e morte. E o centenário, data mais do que razoável para lembrar. Nem é necessário ressuscitá-lo, apenas fazer jornalismo.

Em 1931, Pedro Ernesto foi o primeiro prefeito eleito do então Distrito Federal. Grande personagem, administrador notável, foi injustiçadíssimo por Getúlio Vargas. O prefeito era tido e havido como candidato a presidente, se houvesse sucessão nos tempos de Vargas.

Este, como sempre, burlou a Constituição, enganou o povo, devia convocar eleição direta, logo depois da Constituição de 1934. Frustrou o povo brasileiro, se “elegeu” indiretamente, marcou a direta, que também não faria, para 1938. E perseguiu Pedro Ernesto. Acusando-o de “comunista e de ter participado da intentona de 1935”.

Lacerda outro “presidenciável” também injustiçado, sem eleição

30 anos depois, em 1961, Lacerda se elegeu governador do então Distrito Federal transformado em Estado da Guanabara. Foi e é até hoje o mais importante governador eleito. Mas como Pedro Ernesto, não chegou a presidenciável, pela razão muito simples de que para eles não houve sucessão.

 

Antes dos 18 anos a polícia perseguia Lacerda

 

Estava no primeiro ano da Faculdade de Direito, não passou daí. Por dois motivos. Não tinha muito interesse em se formar, e precisava ir para Valença, onde a polícia não chegava. Era a casa do Ministro do Supremo, Sebastião Lacerda, avô dele e grande influencia na sua vida.

Lacerda ficava meses lá, devorando a magnífica biblioteca. Vinha raramente ao Rio, voltava para Valença e a cidade de Comércio, hoje Sebastião Lacerda. Um dos melhores livros de Lacerda, tem precisamente esse título: “A casa do meu avô”. Maravilhoso. Impresso em tamanho grande, mil exemplares, distribuídos para amigos.

Tal o sucesso, que lançou em tamanho normal, repercussão total e absoluta.

O ativista, o político, o intelectual, o jornalista, 63 anos de lutas

Não coloquei em ordem, mas o ativista surgiu em primeiro lugar na sua vida. Antes dos 18 anos já polêmico, se envolvia numa discussão pública, “se era ou se não era comunista”. Muitos diziam que era, outros que não. Quando fui diretor da Manchete, ao contrário da revista O Cruzeiro, fazia muitas reportagens com duas ou três páginas. No Cruzeiro, preferiam reportagens com 12 e até 14 páginas.

Os generais da imprensa

Fiz reportagem com esse título, traçando o perfil de todos os importantes donos de jornais. Sobre Lacerda, entre outras coisas, escrevi: “Começou como membro da Juventude Comunista, não se sabe se chegou a entrar para o partidão”. 

Me mandou carta: “Tinha ligações de amizade com membros da Juventude, mas nunca me filiei. Quanto ao partidão, jamais pensei em participar dos seus quadros”. Publiquei, claro, pode ser facilmente encontrada na Biblioteca Nacional.

*Publicações históricas no Centenário do jornalista


quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

A FEB, O GENERAL AFONSO ALBUQUERQUE LIMA, O ENCONTRO VARGAS - ROOSEVELT

HELIO FERNANDES

*Publicações históricas no Centenário do jornalista

Incrível que alguns defendam Castelo Branco, com opinião, mas contrariando os fatos. Não leram nem os dois livros do general depois marechal Lima Brayner, que esteve sempre no centro dos acontecimentos. Podiam pelo menos ler os livros e fazer restrições aos fatos contados por ele.

O V Exército americano (muito citado aqui), uma piada, comandado pelo  general Mark Clark. Não era militar de carreira, quando foi convocado presidia a Sears Roebuck, uma espécie de mercado (ainda não havia shopping). Como levar a sério um “general” como esse?

O COMPETENTE E PRETERIDO AFONSO ALBUQUERQUE LIMA

Falando nos militares que não foram à Itália, queria me referir a generais. Mas como pessoas queridas me pedem, faço esclarecimento, não retificação. Como major ele foi para a Itália no primeiro escalão e voltou no último. Comandou o Batalhão de Operações. Fez carreira brilhante, nacionalista importantíssimo.

NÃO FOI “PRESIDENTE”, VINGANÇA DE ORLANDO GEISEL

A volta da FEB, acontecimento extraordinário. O Rio, então capital, foi todo para o centro da cidade. Não se podia andar da Praça Mauá à Cinelândia, engarrafando toda a Avenida Rio Branco e as transversais. Segundos cálculos, eram 2 milhões de brasileiros (não apenas cariocas) entusiasmados.

Albuquerque Lima foi logo a general de Brigada, em 1967 a Divisão. Em 1969, quando Costa e Silva teve o AVC e foi considerado “incapacitado”, assumiu a Junta Militar (os “Três Patetas”). Foi feita eleição indireta. Pela primeira vez colocaram urnas em diversos órgãos do Exército, Marinha e Aeronáutica. Orlando Geisel, candidato do governo, Afonso, da oposição, ganhou em todos os lugares.

Geisel, que chefiava o nascente Doi-Codi, ficou irritado (leia-se, revoltado): “Albuquerque Lima não pode ser ‘presidente’, é general de 3 estrelas, como é que eu, de 4 estrelas, vou fazer continência a ele?”. Isso foi em dezembro de 1969. Em março de 1970, duas vagas para general de Exército (quatro estrelas). Albuquerque Lima era o número um para promoção. Foi “caroneado”, teve que passar para a reserva. Era a vingança de Geisel.

O ENCONTRO VARGAS-ROOSEVELT EM NATAL

Não houve nenhuma intimação ou intimidação, e sim um encontro amigável entre dois chefes de Estado, que depois se transformou num acordo entre dois países. No início de 1942 (logo depois do massacre do Japão a Pearl Harbour, em 7 de dezembro de 1941), os americanos tiveram que entrar na guerra.

Precisavam então de uma base no Norte/Nordeste. Depois de contato com assessores de Vargas, oficiais americanos vieram conhecer os locais. Não quiseram Fernando de Noronha, muito exposto, estreito, sem aeroporto. Ficaram entusiasmados com Natal (Rio Grande do Norte), que, segundo eles, “preenchia todas as condições e requisitos”.

O DRAMA PESSOAL DE VARGAS

Comunicaram ao presidente Roosevelt, que telefonou pessoalmente para o presidente Vargas. Conversaram, marcaram um encontro, que se realizou 15 dias depois, em Natal. O drama de Vargas: na véspera da viagem, morreu seu filho mais moço, Getulinho. Vargas ficou a noite toda no velório, quando o corpo foi para São Borja, viajou para Natal, chegou rigorosamente no tempo marcado.

A CONVERSA DOS PRESIDENTES

Cordialíssima, como se esperava de dois homens como Vargas e Roosevelt. O presidente americano agradeceu, falou: “O senhor ajudou muito os EUA, essa base é importantíssima. Gostaria de saber o que o Brasil mais precisa no momento. E Vargas, sem hesitação: “Uma siderúrgica, presidente”. E Roosevelt: “O senhor terá, o mais rapidamente possível”.

SURGE VOLTA REDONDA

Roosevelt imediatamente formou um grupo de técnicos respeitadíssimos, colocou um chefe de sua total confiança, mandou-os para o Brasil, montar as bases da siderúrgica. Ficaram aqui uma semana, não estiveram pessoalmente com Vargas. Mas compreenderam logo: “Tem que ser em Santa Catarina ou Paraná”.

Havia até um porto, Paranaguá, modernizado por Vargas para atender a produção e os interesses do seu companheiro de golfe, Wolf Klabin. Mas Vargas assustou os técnicos, fechando a questão: “Tem que ser em Volta Redonda”.

ROOSEVELT CUMPRE A PALAVRA

Os técnicos voltaram, foram recebidos logo por Roosevelt, disseram: “Presidente, é, impossível atender ao presidente do Brasil, ele quer a siderúrgica longe da matéria-prima, da mão de obra e de qualquer forma de exportação”. Roosevelt, imperturbável: “Voltem lá e façam tudo o que o presidente determinar. Está em jogo a minha palavra”

PS – Vargas se fixou definitivamente em Volta Redonda. Surgiu lá a primeira siderúrgica, não técnica, mas política. Volta Redonda, no Estado do Rio, cujo interventor era seu genro, Amaral Peixoto.

PS2 – Sem dúvida que os EUA mandaram (e dominaram) muito no Brasil. Mas nesse episódio, apenas circunstâncias importantes para os dois países. Na mesma guerra contra o que se chama de nazi-nipo-fascismo (Alemanha, Japão, Itália).

.

 

 

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

 

TRÊS CARGOS DISPUTADÍSSIMOS: BANCO CENTRAL, PETROBRAS, MINISTÉRIO DA FAZENDA. DILMA E O PAÍS, PERDEM TEMPO.

HELIO FERNANDES 

Publicações históricas no Centenário do jornalista

Um dia, jornalistas pediram ao presidente Roosevelt para definir a extensão dos Três Poderes. De forma simples e elucidativa, respondeu. “O legislativo legisla, o Executivo executa e o Judiciário diz aquilo que o Legislativo legislou e o Executivo executou, é constitucional”.

Foi eleito quatro vezes, todos acreditavam que obteria mais um mandato, o quinto, morreu no início do quarto, com 61 anos.

Falastrona, atrapalhada, sem charme e sem liderança, apenas mal humorada, recorre sempre ao lugar comum, repete as mesmas tolices, deforma as palavras, deturpa até o sentido que elas devem ter. E volta com idiotices de antes, como essa proposta de reforma política através de plebiscito. 

Ontem fulminei essa ideia (?), que já fora derrotada em junho de 2013, quando queria “constituinte exclusiva”, “plebiscito”, “referendo”. Em menos de 24 horas recuou derrotada, volta o assunto 1 ano e meio depois.

Insiste desbragadamente na vontade de “dialogar”, lança a palavra de ordem primaria e inconstitucional, “vou governar com a sociedade”, E reforça a ideia de “conselhos populares”, como se isso fosse democrático. 

Tem que governar com a sociedade, nem precisava se expor. Mas não vai ás ruas, de casa em casa pelo país todo, perguntando aos moradores: “o senhor está satisfeito?”.

48 horas depois de uma eleição que escolheu deputados, senadores, governadores e o próprio presidente, o Congresso conquistou o direito de ser a REPRESENTATIVIDADE, é com o Congresso que tem que exercer o mandato.

Como venho propondo há mais de 30 anos, essa reforma político-partidária é imprescindível. Mas proposta pelo Executivo e aprovada pelo Congresso ou vice-versa. Mesmo que não preencham todas as reformas, pois só falam no financiamento de campanhas.

Mas a primeira e a mais importante dessas modificações políticas para regular o eleitoral, é a existência dos partidos, a sobrevivência de legendas puramente de aluguel. É impossível conviver e governar com 28 partidos, muitos, a maioria absoluta com o bolso aberto para o Fundo Partidário e a voracidade desigual do “horário gratuito”.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

"O EXÉRCITO NUNCA FOI UM INTRUSO NA HISTÓRIA DO BRASIL", DIS O GENERAL LEÔNIDAS, MINISTRO DA GUERRA DA TRANSIÇÃO DA DITADURA PARA O QUE CHAMAM DE DEMOCRACIA

HELIO FERNANDES

Publicações históricas no Centenário do jornalista

PARTE II

O Estado Novo, garantido pelos generais

Em 1937, Vargas “implantou” ditadura, que chamou de “Estado Novo”. Garantido pelo general Dutra, que nos oito anos, foi chamado de “condestável do Estado Novo”. Derrubada a ditadura, lógico foi presidente, garantindo a volta de Vargas.

O golpe de 64, teve remanescente 

Alguns mais longevos, que palavra, garantiram o Estado Novo, voltaram em 64. Que capacidade.  Concluiu, dizendo: “Vamos olhar para o futuro, esquecendo o passado”. Que farsa, Ministro. Era melhor ficar em silêncio. A Comissão da Verdade deveria ter sido criada 33 anos antes e não agora.

Mas sem interpretar e examinar o passado, não podemos acreditar no futuro. O passado, qualquer que seja ele, tem que ser lembrado, mesmo para ser contestado. Quando assinaram em 1979 à extravagante “anistia ampla, geral e irrestrita”, estavam tentando sepultar esse passado.

Os próprios militares que deram o golpe de hoje, estavam apavorados e achavam que com esse “ato” que só beneficiou os vencedores, não valia nada, sendo assinado apenas pelos representantes de um lado. E que estavam absolvendo a eles mesmos.

PS – Fatos desse 31 que completa 50 anos e não mais interpretação. A indecisão e a certeza eram totais. Carlos Lacerda, “ilhado” no Guanabara, com centenas de pessoas, recebeu a informação ou informe. 

PS2 – O Almirante Aragão “iria invadir o palácio”. Não sabia o que fazer. Tentou falar com Castelo Branco, dos chefes golpistas, o único que estava no Rio, mas não tinha a menor idéia de onde.

PS3 – Deu uma sorte. Um amigo médico, soube do seu problema, telefonou para o governador: “O general está na minha casa em Copacabana, emprestei para ele. Está com o general Ademar de Queiroz, teu amigo. O telefone da minha casa é 42-6178”. (Na época só seis números). 

PS4 – Lacerda ligou, o general Ademar ficou perplexo do governador ter localizado Castelo. Mas não podia deixar de passar o telefone para o chefe do golpe. 

PS5 – Lacerda contou o que temia, a invasão do Almirante, recebeu a seguinte resposta: “Governador, não posso fazer nada pelo senhor. A tropa que veio de Minas e a do Rio estão a um ponto do confronto, quero evitar isso” e desligou. 

PS6 – Lacerda telefonou imediatamente para o presidente da Comlurb: “Mande os maiores caminhões da empresa, bloqueiem todas as ruas que chegam ao Guanabara. Não pode passar nenhum veículo, civil ou militar”. 

PS7 – Apesar de ser o civil de maior penetração nos círculos militares, Lacerda não sabia de coisa alguma. O movimento golpista foi organizado, comandado e empossado por militares, perdão, generais.

PS8 – Abertamente não houve mais nada nesse 31 de março. A ocupação final do poder ficou para o dia seguinte, 1º de abril. Mas como é o chamado “Dia da mentira”, comemorado popularmente, proibiram de forma terminante, qualquer que seja a citação nesse dia. 

PS9 – Para os generais, o golpe, desculpem, farsantes até o fim, falavam em Revolução. E comemoravam, como agora, no dia 31.

 

domingo, 24 de janeiro de 2021

 

JT possui a pior qualidade entre as justiças

(...) No universo dos tribunais a administração da justiça trabalhista é a o pior de todas. Suas decisões são controvertidas, e propiciam a 98% dos empregadores interporem recursos, que acabam levando à demanda para a eternidade. Neste grupo inclui 44% de ações públicas e 15% de bancos privados”.

ROBERTO MONTEIRO PINHO                             

O diagnóstico do programa Justiça em Números do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) elabora anualmente pelo Departamento de Pesquisas Judiciárias (DPJ), com a supervisão da Secretaria Especial de Programas, Pesquisas e Gestão Estratégica (SEP) do CNJ, um elenco de informações detalhadas por tribunal e segmento de justiça.

Na última publicação em 2019 a 16º edição do Relatório Justiça em Números reuniu informações dos 90 órgãos do Poder Judiciário, elencados no art. 92 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, excluídos o Supremo Tribunal Federal e o Conselho Nacional de Justiça.

Os números incluem: os 27 Tribunais de Justiça Estaduais (TJs); os cinco Tribunais Regionais Federais (TRFs); os 24 Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs); os 27 Tribunais Regionais Eleitorais (TREs); os três Tribunais de Justiça Militar Estaduais (TJMs); o Superior Tribunal de Justiça (STJ); o Tribunal Superior do Trabalho (TST); o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Superior Tribunal Militar (STM).

Agora vamos usar a ótica nos aspectos práticos. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) foi criado pela EC nº 45/2004 e instalado em 14 de junho de 2005, (art. 103-B da Constituição Federal). Trata-se de um órgão do Poder Judiciário com sede em Brasília (DF) e atuação em todo o território nacional. Longe de ser um órgão moralizador das ações do judiciário, ele se tornou o mais corporativo de todos os órgãos da União. O primeiro passo foi instituir a numeração única de todos os processos existentes no judiciário brasileiro.

Em termos oficiosos em 2008, o CNJ promoveu o I-Encontro Nacional do Judiciário, onde magistrados, presidentes dos tribunais de todo o país debateram o que poderia ser feito para aperfeiçoar a gestão dos tribunais e dos serviços prestados à Justiça. A ideia era unir em torno de propostas comuns da Justiça diretrizes estratégicas de atuação. O 2ª Encontro ocorreu seis meses depois, em 2009. Nele, as lideranças do Judiciário discutiram temas como Eficiência Operacional; Acesso à Justiça; Gestão de Pessoas e Atuação Institucional.

Segundo dados oficiais a média de um processo nessa justiça tem a duração de 12 anos, sendo que 62% desses são insolúveis por absoluta falta de patrimônio dos empregadores. No meio dessa tormenta, derivada dos desmandos judiciais, o trabalhador padece, sem sequer ter acesso a Fundo de Garantia e Previdência Social, como conseqüência, as aposentadorias travam por falta de contribuições patronais.

O que se constituiria numa instituição pública com objetivo de aperfeiçoar o trabalho do sistema judiciário brasileiro, principalmente no que diz respeito ao controle e à transparência administrativa e processual, o órgão nacional esbarrou na forte muralha de resistência dos atores do judiciário, que enxergam o CNJ como Corte homologatória de informações maquiadas, inconsistentes e mentirosas. Então a sociedade indignada quer saber, afinal de que serve esse tribunal, caro, e insólito?

No universo dos tribunais a administração da justiça trabalhista é a o pior de todas. Suas decisões são controvertidas, e propiciam a 98% dos empregadores interporem recursos, e acabam levando à demanda para a eternidade. Neste grupo inclui 44% de ações públicas e 15% de bancos privados.

Perguntamos a razão dos membros deste judiciário não discutirem com franqueza e pudor essas questões. A resposta imediata e cultural é a de que o aperfeiçoamento do sistema de execução nesta justiça avance no sentido de ser mais rigoroso. Rigor para os demandantes, e benevolência para seus juízes e jurássicos servidores. Existe uma explicação que nunca foi dada a esse colunista. Por que a Justiça do Trabalho foi à última a entregar a informação dos processos em tramitação? Ademais, Qual a verdadeira razão para essa justiça trocar de provedores de internet a cada ano? O pudor desses senhores está no banco dos réus.

 

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

 "O EXÉRCITO NUNCA FOI UM INTRUSO NA HISTÓRIA DO BRASIL", DIZ GENERAL LEÔNIDAS, MINISTRO DA GUERRA DA TRANSIÇÃO DA DITADURA PARA O QUE CHAMAM DE DEMOCRACIA

HELIO FERNANDES

(Publicações históricas no Centenário do jornalista)

Hoje e amanhã, 31 de março e 1º de abril, trato do golpe de 64 com lembranças do passado, e análises lúcidas de personagens de hoje. Começo citando como está no título, a afirmação do general Leônidas. Quando ele diz que o “Exército nunca foi INTRUSO”, quer dizer que sempre esteve no primeiro plano de tudo, raramente deixou de ser participante e dominante.

Acontece que escrevo isso há mais de 30 ou 40 anos, citando a participação do Exército na República. Sempre estabeleci a diferença entre duas palavras: PROMULGAÇÃO e IMPLANTAÇÃO da República. A primeira palavra define ou definiria o movimento histórico dos “ABOLICIONISTAS”, e os “PROPAGANDISTAS da República”.

A segunda, intromissão de dois marechais, que entraram na História através de um golpe, (o primeiro da República), e tomaram o Poder. Cambaleando e quase sem conseguir subir num cavalo.

Não vou relembrar a História do Brasil, apenas confirmar o general

Deodoro e Floriano, dois coronéis que vieram brigados da estranha guerra do Paraguai, na madrugada de 15 de novembro, já marechais, se reconciliaram e “expulsaram” os civis da conquista da República. República que com esses dois Marechais, se transformou numa quartelada. Eu sei, o general Leônidas não havia nascido. 

E também não era torturador. Mas numa entrevista ao repórter Geneton Moraes Neto, tentou convencê-lo de que “comandou o DOI-CODI”. Ora, o general Leônidas nem sabia onde ficava a Rua Barão de Mesquita. Adido Militar na Colômbia, se perdia no Rio.

O Exército ou generais sempre arrogantes  

Logo depois da República, massacraram e assassinaram toda a população de Canudos. Em 1896 usaram três quartas partes do efetivo militar, usando até canhões. Assassinaram toda a população, não escapou nem o “santo” Antônio Conselheiro. 

Como “Tenentes” tumultuaram o país desde 1922, tomaram o poder em 1930. Garantiram a tremenda ditadura do Estado Novo. Ainda tiveram “fôlego” para derrubar João Goulart, que como eu já disse há anos, não tinha nada a ver com os comunistas. Queria o “poder total” e mais nada.

Tenho todo o direito de situar Jango na sua exata posição, pois em 1963, fui o único preso por ordem direta dele. Pediram 15 anos de prisão para mim, estavam certos de que me condenariam. Pois foi na minha casa que nasceu a “Frente Ampla”. Na minha casa e da minha cabeça.

Depoimentos históricos

Anteontem, na mesma página, matérias de agora, altamente elucidativas, competentes inesquecíveis. Numa entrevista ao repórter Bernardo Mello Franco, Daniel Aarão Reis, lúcido e participante, com a visão do torturado agora Historiador, interpreta o golpe dos dois lados. E em com total isenção ou não poderia ser chamado de Historiador.

Aarão Reis, que começou na guerrilha com 23 anos, freqüentou os subterrâneos da ditadura. Foi torturadíssimo até ser trocado pelo embaixador alemão, seqüestrado precisamente para haver a negociação. E a ditadura dos generais torturadores, mostrou mais uma vez a covardia inata e assumida.

Cumpriram as ordens dos EUA

Assim que o embaixador americano foi seqüestrado, (decisão, planejamento e execução perfeita), começaram as conversas. Primeiro exigiram a leitura, nas televisões, do manifesto dos seqüestradores. Veio a ordem: “Publiquem imediatamente”. Publicaram, lógico.

A seguir a exigência da troca do embaixador por alguns presos. Os combatentes ainda não tinham consciência da própria força, “trocaram” por poucos. Mais tarde, com o seqüestro do insignificante embaixador alemão. 39 presos foram soltos ou embarcados para o exterior.

O final da entrevista de Aarão Reis, dois pontos magistrais. 1 – “Faltou povo na guerrilha”. É verdade. Mas como 60 guerrilheiros poderiam passar por cima de 60 mil militares? Que recebiam ordens de alguns generais ambiciosos?

2 – Deixa à mostra a “contradição” de alguns generais e não do Exército: “Até hoje esses generais se omitem, condenam e falsificam a história”.

E de forma irresponsável: “Fui preso, torturado, anistiado pelo Ministério da Justiça. E quem me torturou diz que não houve tortura no Brasil”. E ele mesmo termina: “É uma coisa esquizofrênica”.

Demétrio Magnoli não tinha idade para combater, tem para analisar

Sociólogo, Geógrafo, com vocação de historiador, conta e interpreta fatos importantes. Contesta os “memorialistas das conveniências”, e corajosamente penetra num círculo que tantos querem esquecer. Círculo da contradição, digo eu.

“O golpe de 64 não nos salvou da ameaça comunista que não existia”. E depois: “Isso foi urdido por um fascismo puramente imaginário”. O artigo de Demétrio vai assim até o final, é um dos dois pontos mais completos e para ser aplaudido.

O segundo é a coragem e o discernimento de entrar na interpretação de um dos fatos mais importantes do golpe. Os dois editoriais do Correio da Manhã, intitulados “Basta” e “Fora”. Até hoje se discute, se nega e se confirma a autoria dos manifestos.

Demétrio dá o nome de sete autores, desculpe, foram oito. Hoje todos negando a autoria, com exceção de quatro que já morreram. Esses dois artigos explicitam e elucidam um período torpe, covarde e farsante da História do Brasil.

O primeiro golpe militar foi o da República. Dois marechais que eram inimigos, se reconciliaram, derrotaram a brilhante geração dos “abolicionistas” e dos “propagandistas da República”. Os charmosos “Tenentes de 1922”, combateram até 1930, quando se beneficiaram de tudo.

Na próxima publicação a parte II

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

 A República que não é a dos nossos sonhos, de 1889 a 2015.

HELIO FERNANDES

Reprise:

“CENTENÁRIO DE HELIO FERNANDES”

Jamais conquistamos, conseguimos, usufruímos a republica. Durante 41 anos, dominaram os mesmos políticos que dominam hoje, reproduzida por uma genética cruel e amaldiçoada. De 1889 a 1930, os presidentes escolhiam seus sucessores sem voto, sem urna, sem povo, sem consulta a ninguém. Num país de analfabetos, os analfabetos não votavam. Num pais de miseráveis e pobretões, só os ricos tinham direitos, mas nem eles votavam.

Esses 41 anos, chamados de "república velha", acabaram em 1930, começou então o que os mesmos aproveitadores, intitularam de "república nova", uma ditadura que durou 15 anos, também sem voto e pela primeira vez sem vice. Vargas era um ditador sábio, tinha horror a esse segundo, fechou o Congresso, mas deixou o Supremo aberto. Fazia o que ele queria ou mandava. 

Hoje, quarta, o Supremo se reúne, numa sessão longuíssima, tenho que esperar. Só que depois do aparato policial assustador, políticos, principalmente do PMDB, aguardam apavorados. Gostaria que a sessão fosse do TSE, não por desprezo ao STF, e sim porque o Tribunal Eleitoral tem a solução direta e imediata. Cassaria a chapa Dilma-Temer, Cunha já teria ido para o espaço, exatamente igual a Renan, sobraria na linha constitucional sucessora, o presidente do Supremo.

Como aconteceu em l945. Assumiu o Ministro José Linhares, presidiu a eleição, passou o cargo ao eleito, Dutra, que durante 8 anos garantiu Getulio no poder. Está escrito, o general garante o civil no poder, mas o sucede obrigatoriamente. Os vices, como Temer, querem o poder através de conspiração. A ilusão construída com a carta, foi rasgada pela "busca e apreensão" de terça feira. Esperamos a conclusão e opinião do Supremo. Enquanto isso, tratemos de outros assuntos, também importantes. 

Lula tenta se recuperar 

Depois de fazer media com outros ditadores da America do Sul e Central, defendendo abertamente Maduro da Venezuela, mudou de lado. E foi duro com o antigo parceiro. Primeiro: “O resultado da eleição foi um sinal muito importante para a alternância do poder”. Maduro não entendeu nem respondeu, insistiu: "Maduro precisa aprender, democracia é assim mesmo, não é eternidade". A alternância de Lula, imprudência ou incompetência?


O fundador do revolucionário Weeklik, está há 3 anos asilado num quarto da embaixada do Equador em Londres. Não pode sair, seria preso e entregue á Suécia, onde existe uma suposta acusação contra ele. Agora, o governo da Suécia pediu autorização ao do Equador para Procuradores conversarem com ele.

Liberdade para Lassange 

O fundador do revolucionário Weeklik, está há 3 anos asilado num quarto da embaixada do Equador em Londres. Não pode sair, seria preso e entregue á Suécia, onde existe uma suposta acusação contra ele. Agora, o governo da Suécia pediu autorização ao do Equador para Procuradores conversarem com ele.

Vão. Como a opinião publica do mundo, está contra a Suécia, à conclusão não se parece com especulação, e sim constatação. Por que  a súbita vontade de encontrar e conversar com ele?  

Renan coloca Temer no seu devido lugar

Ontem á tarde, antes da sessão do Supremo, o presidente do Senado deu entrevista, única e exclusivamente sobre o PMDB. Estou á vontade, pois antes mesmo da carta vazia, eu já revelava a conspiração do vice, e sua vontade de obter uma promoção, chegar a presidente sem voto. 

Aliás, toda a sua carreira foi feita assim. Três vezes deputado sem se eleger, ficando como suplente. Na primeira eleição depois da ditadura, o PMDB em São Paulo elegeu 28 deputados. Temer foi o numero 30, assumiu logo, colocavam isso na conta do seu comportamento aristocrático.

Vou numerar o que Renan falou, ficará mais fácil. 1-Como presidente do partido, Temer é o responsável por tudo 2- Nunca vi um presidente de partido, proibir a filiação de deputados. 3- Toda a crise interna do PMDB é obra de Temer. 4-Já disse e vou repetir: a carta que ele mandou  para a presidente, é um desabafo pessoal, o PMDB não tem nada a ver com isso.

O presidente do Senado acaba de soterrar a conspiração do vice. Se o Supremo ainda, hoje (quarta) determinar que o voto tenha que ser aberto, a votação anterior, será totalmente modificada. O próprio Temer votará contra o impeachment. Fazer o que?

O rito do impeachment no Supremo

Chegamos finalmente ao único fato do dia, com a palavra do relator, Ministro Fachin. Como falou por quase 2 horas, ele mesmo fez a proposta de não começar e terminar hoje (quarta) a votação dos outros 10 Ministros. Ficaria, como ficou, para quinta (hoje) ou amanhã, (sexta) ultimo dia antes do recesso. 

O voto do Ministro é profundo, minucioso, erudito, mas altamente polemico e até contraditório. Ele mesmo mudou de convicção na importantíssima questão, se deveria ser voto aberto ou secreto. Na semana passada, apressado, anulou ou paralisou tudo, determinou que o voto deveria ser aberto. Agora, restabelece o voto secreto, uma excrescência, que provocará enormes debates. 

Pontos que não sofriam e nem sofreriam contestação, irão dividir o plenário. O artigo 86 que é claríssimo, foi praticamente inutilizado. Por ele, o presidente deixaria o cargo caso o plenário da Câmara conseguisse dois terços, 342 votos. Agora, se o voto de Fachin for aprovado (não será), o presidente só deixará o cargo, depois de começado o julgamento. O relator pode perder por ampla margem  de votos.  

Outro ponto que não sofria duvida ou contestação, agora colocada.  A abertura do processo autorizada  pela Câmara, com o numero de votos necessários, pode ser anulada pelo Senado.Não pode. O Senado pode condenar ou absolver o presidente e mais nada.

Pelo visto, o grande julgamento do voto do relator, começa hoje, quinta. Os Ministros aceitaram o adiamento com tanta satisfação, que fica visível a vontade da contestação, que é democrática.

Democrática também, a afirmação do relator: "A parcialidade do presidente da Câmara não contamina o processo". Pode ser genérica e não especifica ou circunstancial.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

CORONÉIS DA RESERVA APENAS COADJUVANTES, AGORA FALAM ABERTAMENTE COMO "PAPAGAIOS DA TORTURA". VOU CITAR GENERAIS IMPORTANTES, COM NOME E SOBRENOME, QUE MANDAVAM DE VERDADE, DAVAM ORDENS.

HELIO FERNANDES

*Reprise

“ HOMENAGEM NO ANO DO CENTENÁRIO DO JORNALISTA HELIO FERNANDES”.

O excelente repórter, Chico Otávio entrevistou o coronel Riscala Corbage, que disse textualmente: “Torturei mais de 500 presos”. E como os outros, principalmente o coronel Paulo Belham, (que foi logo silenciado), se despediu com a afirmação: “Não tenho o menor peso na consciência”.

Chico Otávio encerrou com essa confissão, mas começou de maneira ainda mais jornalística: “O cara urra de dor”. Belham também tinha sua frase de bolso: “Não tenho remorso ou arrependimento”.

 

(...) Esse local não era tão grande quanto parece. Éramos obrigados a ouvir gritos de tortura, incessantes, assustadores, mortais.

Só que os dois mentiam avidamente, por simples exibicionismo. Acreditavam que confessando e exagerando, voltavam ao apogeu. Acima dos 70 anos, quase chegando aos 80, imaginavam (e Corbage ainda imagina) que nada aconteceria a eles. Como todos os generais principalmente os que chegaram a “presidentes”, morreram, não pensavam que surgisse essa expressão de duas palavras: “crimes imprescritíveis”. 

Confissões de mim mesmo  

Esse capitão da Polícia Militar, Tenente coronel na reserva, torturou muito e não se pode desmenti-lo: com o maior prazer. Só que mente em alta velocidade, desabaladamente. O Exército sempre teve desprezo e desapreço pela Polícia Militar. E esta, total ressentimento, por causa da hierarquia.

Os oficiais da Polícia Militar só chegavam a coronel, paravam por aí. E os comandantes eram sempre Generais, lógico, do Exército. Lutaram dezenas e dezenas de anos para mudar a situação. Foram conseguir quando se revoltaram contra o general Fiuza de Castro. (O filho, o filho, o pai era ótima figura, a genética não exerceu o seu poder).

E esse Fiuza de Castro foi um dos mais displicentes comandantes do DOI-Codi. Não torturava pessoalmente e provavelmente não sabia de tudo o que acontecia. Mas existiam centenas de oficiais do Exército servindo no DOI-Codi e não deixariam que um Capitão PM exercesse tanto Poder para a tortura de “500 presos”.

Minha primeira ida ao DOI-Codi, seu comandante era precisamente Fiuza de Castro. Saltei lá naquela entrada enorme, com cartazes do PIC, (Pelotão de Investigação Criminal), uma figura fardada apontando um dedo para a frente, como se fosse uma ameaça, devia ser mesmo.

Mais ou menos 11 da noite. O Exército não transportava presos, aqui no Rio isso era feito pela polícia. Eles me diziam: “Ficamos assustados em trazer alguém, sabemos o que acontece”. Me levaram para uma sala, um Major explicou: “O general Fiuza já foi comunicado, está chegando”.

Esse local não era tão grande quanto parece. Éramos obrigados a ouvir gritos de tortura, incessantes, assustadores, mortais. Um capitão até de boa aparência, sussurrou: “São todos muito jovens, choram por qualquer coisa”. Não sabia se ele era contra a tortura ou se depreciava a reação dos torturados.

O general Fiuza levou quase duas horas para chegar, não cumprimentou ninguém, sentou numa cadeira distante. Vestia calça cinza e paletó de xadrez, nenhum jogo de palavras. Inesperadamente olhou para mim, falou: “Gosto muito quando o senhor escreve sobre futebol, por que tem que se meter na nossa vida?”. 

 

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

 

ANISTIA AMPLA, GERAL E IRRESTRITA. GENERAIS TORTURADOS. DEMOLIRAM A TRIBUNA DA IMPRENSA                   

HELIO FERNANDES

*Reprise

“ HOMENAGEM NO ANO DO CENTENÁRIO DO JORNALISTA HELIO FERNANDES”.

A "anistia ampla, geral e irrestrita" foi uma blasfêmia totalitária. Isso e muito mais, na verdade muitíssimo. Inicialmente foi a tentativa de livrar ou absolver Médici e Geisel os dois "presidentes" que ainda estavam vivos. E mostrar ou demonstrar generosidade.

Não consultaram ninguém, apenas alguns coronéis também torturadores, muito civis que colaboraram com a ditadura, e principalmente o General Otávio Medeiros, Chefe do SNI, e que aparece igualmente o 1º de maio de 1981. Fato que comentarei, a seguir, respondendo a outro leitor, que esqueceu de assinar, (ou não quis, se quiser pode fazê-lo agora, o assunto é importantíssimo).

Os que combateram a ditadura de armas nas mãos (apenas 60, chamados de "guerrilheiros" e muitos outros assassinados nos subterrâneos da ditadura) não podiam se beneficiar. Os que estavam no exterior, asilados ou exilados, puderam voltar, "grande benefício".

Os generais (e coronéis ainda não promovidos) queriam se livrar de punições, tinham pânico de morrer na cadeia como aconteceu na Argentina e no Chile. Conseguiram a auto-absolvição e a proclamação da inocência avaliada pelos civis, tão culpados quanto eles.

Bastam dois exemplos para mostrar qual a intenção deles. Dois anos depois dessa "anistia" demoliram a Tribuna da Imprensa. Pura vingança por tudo o que o jornal representou na luta contra eles. E o fato do repórter não ter saído do país nos 21 anos em que torturaram, assassinaram, perseguiram, fiquei agressivamente combatendo.

E um episódio que não esqueceram: o fato de logo em 1979, vários advogados famosos entrarem com pedido de indenização (com minha autorização) não contra a União, mas pessoalmente responsabilizando Médici e Geisel. Tiveram contratempos, foram incomodados, precisaram se defender no então Tribunal Federal de Recursos (que acabou com a Constituição de 88) e no Supremo Tribunal Federal. Este teve a covardia de declarar: "Geisel e Médici não tem nada com isso, responsável é a União".

Ainda bem que nenhum dos ministros de hoje integrava a tribunal de 1979/80. Os ministros de 1979/80, se comparam aos ministros do Supremo da Era Vargas, Estado Novo, mas com o Supremo funcionando que autorizaram o ditador a entregar Olga Benário aos nazistas. (Ela nunca foi Prestes).

Esse general Chefe do SNI, poderosos, pedia a prorrogação da ditadura, pois era candidatíssimo a "presidente" em 1985. Foi o autor e realizador em comando de tudo o que aconteceu cm a Tribuna em 1981. Fui então depor na CPI do Terror que funcionava no Congresso. O relator Franco Montoro (depois seria governador de São Paulo) veio ao Rio me convidar, fui depor, construí um libelo nominal que durou 6 horas.

Esse libelo desapareceu completamente. Tempos depois precisei consulta-lo, (falo sempre de improviso), não conseguiram encontra-lo. Ninguém sabia do 1º de Maio, desse mesmo 1981, nova tentativa de prorrogação da permanência dos generais, no caso o mesmo Otávio Medeiros.

Foram incompetentes, a bomba era para explodir em outro lugar e não no carro, matando militares. Para os autores, um desastre. Era preciso fazer inquérito, a repercussão foi enorme. Garantiram a transição com a "eleição indireta" de 1985, monitorada por eles, chamada de "transição". E o inquérito?

O chefe do SNI providenciou tudo. Conhecia um coronel negro (já morto) que não seria promovido a general, chamou-o e determinou: "Você vai assinar o inquérito sobre o "Atentado do Rio Centro". Não terá nenhum trabalho, é só assinar. E será promovido a general" 

Não podia recusar, se o fizesse seria preso, teria um fim de carreira injusto. O inquérito foi o mais incompreensível, logo arquivado. Mas os generais torturadores continuaram mandando. Eleição direta só em 1989. Com tanto tempo sem povo, sem voto, sem urnas, surgiram oito candidatos.

O general Otávio Medeiros morreu 5 anos depois completamente desconhecido. Continuou morando em Brasília, ia ao supermercado sem segurança alguma, não era incomodado, ninguém sabia quem era. 

Fardado, parecia gigante. A paisana era um pigmeu.