O dia seguinte para
Cunha. A antevéspera de Temer. Antecipação da saída de Dilma, ela fica até
quarta feira.
HELIO FERNANDES
Ontem, quinta, comecei a escrever e
relatar o que acontecia de 8 da manhã ás 8 da noite. Foi um dia surpreendente
para todo o país, incluindo os meios de comunicação. Impressos ou da
nova e revolucionária forma de expressão. Todos os mais atentos, informados
e preocupados repórteres,foram dormir sem saber de nada e
acordaram com a mesma desinformação. (Naturalmente este repórter incluído. Mas
comecei a trabalhar imediatamente, (exigindo mais de mim e de informantes).
Para dar um exemplo da falta de informação,
vou contar com exclusividade completa, episodio que envolveu Temer e
Cunha, com uma diferença de 12 horas
Na quarta feira, anteontem, Cunha,
presidente da Câmara, chegava ao Jaburu por volta das 9 da noite, saudado como
habitualmente. Articulou com a falta de respeito de sempre. Levava o nome de 6
deputados de 4 partidos, todos pertencentes á antiga base parlamentar da
presidente Dilma. Pretendia "emplacar" três como Ministros. Saiu
exatamente á meia noite, deixou a lista com Temer, com a recomendação,
"todos de total confiança e lealdade".
Normalmente acorda cedo, mas ontem
praticamente tirado da cama pelo oficial de Justiça, que trabalha no Supremo.
Antes das 8 da manhã, soube pelo documento, que estava afastado da
presidência da Câmara, e suspenso da condição de deputado. Pela primeira vez
apavorado, chamou os advogados. Complicações as mais diversas.
Só ao meio dia, teve tempo de ligar
para Temer no Jaburu. Quem atendeu foi o senador Jucá já sabia de
tudo. Voltou com o recado: "O Temer não quer falar no telefone". E
desligou. Isso mostra a desconsideração geral, e a velocidade dos
acontecimentos.
Cunha, mesmo isolado e
"desprocurado" por quase todos, não perdeu a arrogância, a petulância
e até a imprudência, deu entrevista coletiva estabanada. Deixou a impressão que
acreditava que nada mudara. E a primeira afirmação. Mesmo seus advogados
dizendo, "o senhor só pode recorrer para o Supremo", confirmava:
"È obvio que vou recorrer".
Textual: "Fui denunciado pelo
Procurador Janot, que tem uma desavença comigo". Não é desavença, e sim a
diferença que separa um calhorda corrupto e sem caráter, e outro que tem 33
anos de serviço publico. E uma carreira construída com trabalho, competência e
respeito. Respondendo a uma pergunta: "Não vou renunciar de jeito
algum".
Não é verdade. Trabalha e negocia para
voltar á presidência. Mas é só fachada. O que pretende mesmo é repetir Renan
Calheiros de 2007. Deixa a presidência, mas não perde o mandato. Não quero
defender o senador, mas seu caso era inteiramente diferente.
Temer se considera vitorioso no
episodio
E não deixa de ser. Tinha compromissos
com Cunha, que ele se mantendo na presidência da Câmara, precisava cumprir. Agora se sente completamente livre. E considera que não
vai encontrá-lo em lugar algum. Falaram que Cunha é "bem homem de ir á
posse", deu uma gargalhada de desprezo, se o seu habitual. Preocupação do
momento, que era uma, aumentou.
Estava assustado com o
"resto" do ministério. É assim que se refere aos ministros que ainda
tem que negociar para nomear. São 10 ou 12 ministros, quase todos do segundo
time e até do terceiro. Ontem e marcou encontros para hoje, precisa resolver o
novo problema: a eleição do presidente da Câmara.
Não tem a menor confiança no vice de
Cunha Essa falta de confiança num vice, é antropofágica. A Câmara não pode ser
presidida por um interino. Esquece que é vice e vai presidir a República, também
interinamente.
Mas quem escolher para o lugar de Cunha? Na campanha para o
impeachment, conheceu quase a Câmara inteira. Mas o que irritou profundamente o
vice na ascensão da traição, foi à resposta de Cunha a Dilma: “Ela vai conhecer
o país que vai surgir a partir de quarta feira". Preocupação no Jaburu.
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