Titular: Helio Fernandes

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Desorientado, desconcertado, desalentado, Meirelles desacredita no futuro tão almejado, erra até nas prioridades

HELIO FERNANDES

Sem poder algum, no quase inexistente governo provisório ou interino, Temer transferiu todos os poderes para Meirelles. Já circula no Jaburu, pelo menos quando Temer não está, um bordão-brincadeira: "Fala com o Meirelles". O Ministro da Fazenda acreditou, começou a agir como se fosse mesmo. Tendo levado uma semana para anunciar a equipe econômica formada á sua revelia ou até conhecimento, esbarrou com a realidade.

O presidente do Banco Central tinha que ser do Itaú. Temer deixou escapar, "que poderia ser dos seus quadros", se agarraram a essa fatalidade felicidade.O fato foi consumado para desespero silencioso do próprio Meirelles. Este só conseguiu retardar a indicação, não eliminá-la.

Ia acontecendo à mesma coisa no segundo governo Dilma. A presidente queria para Ministro da Fazenda, o Trabuco do Bradesco. Ele também estava ansioso para dar o SIM, como nos casamentos antigos. Surpreendentemente, a cúpula chamou Trabuco, e sem hostilidade, colocou o dilema: "O banco ou o Ministério da Fazenda. Os dois, não é possível".

Publiquei na época e como agora, não encontrei explicação para o veto do Bradesco. A decisão do candidato, altamente compreensível. Com juros de 400 por cento, a felicidade do Bradesco é para sempre, o ministério todos viram quanto durou. O caso do Itaú, vice-versa.

Aparentemente, o Ministro da Fazenda "com todos os poderes", se descontrolou. Vem cometendo erros primários, comprometendo o governo interino de Temer, e obstruindo o seu, que como carreirista compenetrado, pretende permanente. Logo no primeiro discurso, anunciou duas medidas, correlatas e repudiadas pelo país inteiro: aumento de impostos e criação ou recriação da famigerada CPMF. Ontem publiquei com exclusividade a reação do Presidente da FIESP, que financiou generosamente o afastamento de Dilma e a ascensão de Temer.

Como "não queria pagar o pato", gastou e financiou. A CPMF está morta e será enterrada da mesma forma como aconteceu no governo Dilma. O Legislativo (?) satisfeitíssimo, teria que vetar ou recusar essa sigla amaldiçoada. O dilema do interino na presidência: não mandar a mensagem para a Câmara ou mandá-la, ser derrotado e obrigado a reforma ministerial. Não adianta ter constituído como no parlamentarismo, os presidentes de partidos, "indicando" os nomes. Com impostos de 35 por cento por pessoa, quem quer votar mais impostos e para complicar, na véspera de eleição municipal.

Mais equívocos de Meirelles, na televisão, não sai de lá. Anunciou as prioridades do governo: "Redução do desemprego, aumento da arrecadação, elevação do consumo". Tudo errado, dos pontos principais, importantes e inadiáveis, "esqueceu" os que são rigorosamente obrigatórios e verdadeiramente prioritários: investimento, investimento, investimento. Isso trará desenvolvimento, crescimento, voltará à desaparecida confiança. A partir daí é que reaparece o emprego e o consumo, crescerão os serviços, a indústria atingirá novamente o auge.

Ninguém fala em investimento, os industriais reclamam mas não cumprem a sua parte. “Voltamos aos tempos de Rui Barbosa tomando posse no Ministério da Fazenda, na Republica, em 1889: ”A Revolução Industrial da Inglaterra já completou 100 anos e estamos longe da industrialização". Seus protestos tinham outras justificativas, mas valem para hoje. Ou mudam a mentalidade e os objetivos, ou não adianta Meirelles ir para a televisão e mistificar: "A economia começa devagar e não custa a acelerar". Com esse ministério de inutilidades, a economia em baixa, continua a retroceder.

Conversando

Onofre Tardino e Soares, minha energia foi recolhida desde sempre, a partir dos 11 anos, órfão de pai e mãe. Acabava a escola primaria, passei a trabalhar durante o dia e estudar á noite. Nunca me queixei nem reclamei. Olhando minha carteira de identidade me dá vontade de dizer como Pablo Neruda na sua biografia: "Confesso 
que vivi".

Almir Velasquez,  agradeço a tua sensibilidade. Mas concordamos: nenhum personagem desse impeachment, vale o desperdício de um cartão verde. Talvez  pudesse repetir Bernard Shaw, quando foi a primeira vez a Nova Iorque. Levado a visitar a Estatua da Liberdade, perguntaram o que achara. Resposta: "Meu gosto pela ironia não vai tão longe".

Romualdo Pires Phill de Brito-Quero ressaltar o teu valor, Helio. Tenho clientes e repasso para eles,diariamente,o que você escreve. Uma vez, com problemas na Internet, ficaram sem receber. O meu telefone não parou de tocar o dia todo. Um abraço para os teus atentos clientes.

Samuel Victorino, fico emocionado, comovido e revoltado, só em lembrar da gloriosa Panair.Torturada e assassinada pelos generais ditadores, destruíram parte importante da generosa brasilidade. Como você lembra com grandeza, era um prazer assistir aqueles aviões transitarem pelos céus (e não apenas do Brasil) provocando enorme e grandiosa admiração.

Agora o lado dramático e ainda mais desprezível e condenável: centenas ou milhares de funcionários, esperam ha mais de 30 anos que o governo lhes pague o que deve. A ação está no Supremo, um Ministro pediu vista e não devolve o processo. Ha dias, na televisão, vi uma reunião desses outrora elegantíssimos pilotos, comissários de bordo, todos que serviam os aviões sempre lotados da Panair. Envelhecidos, tristes, alquebrados, sem poder usufruir do que descontaram a vida inteira. Roubados e condenados pelos generais-assassinos-torturadores.

Suposições, considerações, decepções

Os conspiradores que "tomaram" o poder e ficaram com ele de forma ilegítima, apregoavam: "O mercado está apoiando integralmente a mudança de governo". Até agora, nenhum sinal favorável, nem externo nem interno. Sejamos justos: acreditavam no "ministério de notáveis", apareceu esse bando sem denominação. Sexta, segunda e ontem, terça, a Bovespa, impiedosa, três quedas seguidas. Petrobras também, apesar da alta do barril. Nova Iorque, 49, Londres 50.

As agencias de risco, receosas. Moodys: "Só com medidas praticas e resultados positivos, haverá esperança de recuperação". Goldman: "O novo presidente do Banco Central, talvez não tenha a experiência suficiente". Meirelles, por volta de seis da tarde, entre indeciso e depressivo: "Ainda não decidimos se iremos lançar a CPMF, embora seja necessário". Estaria desacreditando do presente ou desesperançado 
do futuro?

PS-O presidente interino deu entrevista ontem, entre 23,30 e meia noite. Só ele e a entrevistadora, nenhum intervalo.E não foi em TV por assinatura, potencialmente, de 3 a 4 milhões de assinantes. Foi na própria TV-Globo, aberta, sem pagamento. Também potencialmente,110 milhões de telespectadores, lógico,dividido entre todas.

PS2- A entrevistadora, Sonia Bridi, concisa, direta, discreta, elegante, fez todas as perguntas que estava obrigada a fazer. È possível que alguém, em casa, tenha considerado exagero.Nada disso. Entrevistador jornalista profissional,pergunta,ouve a resposta, continua.

PS3-Michel Temer respondeu a todas as perguntas, não deixou nenhuma sem resposta. Mas não disse nada, em qualquer momento. Quando a questão parecia irrespondível, fazia o comentário antecipado, "foi ótimo você tratar disso". E divagava, como em todas as outras interrogações. Irrepreensível.

Falta de decoro na Câmara

O deputado Pauverney Avelino, do DEM, discursa todos os dias, agressiva, violenta e desabridamente. Pede que o presidente em exercício, Waldir Maranhão renuncie. E sempre acrescenta um adjetivo pejorativo. É contestado também duramente, se retira, já cumpriu o roteiro que recebeu para cumprir. Ontem, ás 8 da noite encenou mais um episódio dessa novela, proibida para determinados deputados.

Durante mais de 6 meses, Pauverney e outros 300 deputados, protegeram Eduardo Cunha, corrupto, sem caráter e sem escrúpulos, réu do Supremo. E afastado não só da presidência da Câmara, mas suspenso do mandato. Apesar disso, Avelino e os outros, não tomam nenhuma providencia para retirá-lo da vida pública. Perdão, retira-lo não, expulsa-lo. Em vez disso, se unem e se reúnem para escandalosamente manter seus privilégios. Que Republica.
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Senhor Helio

Já mandei e-mails agradecendo o apoio que o jornalista deu no caso da quebradeira da Petrobrás, Insisto que o tema é relevante e por isso mesmo, peço que não se esqueça dessa importante estatal brasileira, que é o símbolo que nossa riqueza e nacionalismo.


Eduardo Magno Santos

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