QUEM CRIOU E POPULARIZOU A FRASE
"LEMBRAI-VOS DE 37", FOI O DEPUTADO CAFÉ FILHO
HELIO FERNANDES
Jovem comunista militante participou em 1935,
no Rio Grande do Norte, da "Revolução Vermelha", comandada por Luiz
Carlos Prestes. (Destinada ao fracasso, no Brasil os comunistas não chegaram e
jamais chegarão ao Poder, pelo VOTO ou pela FORÇA). Em 35, foram dizimados pela
força, em 45 elegeram 12 deputados e 1 senador, o próprio Prestes. Fecharam o
PCB, (Partido Comunista Brasileiro) expulsaram Prestes, muito mais tarde
fundaram o PC do B (Partido Comunista do Brasil).
Continuam com 12 deputados. Em vez de senador,
elegeram e reelegeram um governador, que antes foi juiz federal. E não
está eleitoralmente realizado e satisfeito, com a falta de espaço
do PC do B.
(A DIREITA, assumida, mas desorientada, desgovernada,
desmemoriada, está no poder, mas exerce a contradição e não a ação. Depois de
mais de 30 anos, ENCHEU o Palácio de generais. Não se sabe se é
SAUDADE do PASSADO da caserna. Ou ESPERANÇA para um FUTURO que
persegue até 2022).
Voltando a Café Filho, que fez carreira
eleitoral e política fantástica. Deputado federal em 1945 na
constituinte que COBRI toda, para a revista O Cruzeiro. Quase diariamente
o mesmo alerta, para que não esquecessem a ditadura. Obteve grande
projeção. Mas ninguém esperava ou imaginava, que para a eleição
presidencial de 1950, surgisse a chapa, Vargas-Café Filho.
Vice, conspirou o tempo todo. O resto é
publico e notório, fora episódios de bastidores. Em 1954, Vargas decidiu "sair
da vida para entrar na Historia", (que chamei na época, ha 65 anos, quando
dirigia a revista Manchete, de "suicídio politicamente genial")
através de uma carta que emocionou o país. E que nem foi escrita por ele. E sim
pelo seu amigo, jornalista J.E. Maciel Filho, diretor do Imparcial, jornal
importante. E independente.
Muitos devem saber ou lembrar, que ele deixou a
reunião ministerial que durou a noite toda, "subiu para o quarto, logo se
ouviu um tiro, correram, estava morto". E a carta em cima da cama, e não
manuscrita.
Começou então o ultimo episodio da sua carreira
política, a presidência da Republica. Inimaginável. Mas real, (apesar de
tumultuada e perigosa ) de 24 de agosto de 54, (posse) até 23 de novembro
de 1955, quando o STF, (no Rio) impediu por UNANIMIDADE, que Café
Filho retomasse o poder.
Ainda presidente, se recolheu ao Hospital,
(maravilhoso) dos Servidores do Estado. Alegava problemas do coração, não
recebeu autorização para deixar o hospital. Um dos seus advogados entrou com HC
no STF. No mesmo dia foi sorteado relator, o ministro Nelson Hungria. (Eu
estava na primeira fila, sentado entre duas figuras admiráveis. O senador
Milton Campos e o líder Daniel Kriegger).
PS- O ministro levantou alto, impávido, voz
de barito, sem nada escrito, transformou o VOTO num LIBELO. Sem medo das
palavras, afirmou: "O STF não pode REFERENDAR o senhor Café Filho,
notório conspirador. E como não existem vice nem presidente da Câmara, a vez é
do presidente do Senado, que deve assumir a presidência até a eleição do novo
presidente".
“PS2- E concluiu:” Com Nereu Ramos na presidência,
o país terá calma e tranqüilidade, o que não aconteceria se o STF autorizasse a
volta do senhor Café Filho".
PS3- Com aplausos, todos os ministros de pé, o voto
de Nelson Hungria foi consagrado, Nereu comunicado e empossado. Ponto a
favor do presidente renegado. Ele não roubava, vivia com total
dificuldade.
PS4- Carlos Lacerda, empossado governador da
Guanabara em 5 de dezembro de 1960, nomeou o ex-presidente para a primeira vaga
no Tribunal de Contas do estado. Que naquela época era Ministro. Logo depois
até hoje, Ministros só os da União.
O SAMBÓDROMO,
VITORIA E
CONQUISTA DO POVO
O governador Brizola me convidou para a
inauguração. Fomos. Perto da Sapucaí, multidão de seguranças, ninguém
passava, nem o governador. Acontecera um acidente interno, tudo mobilizado não
queriam adiar. Guiaram-nos para uma espécie de parque, cheio de arvores,
não muito longe. Sol tremendo, ficamos quase 3 horas conversando protegidos por
uma mangueira enorme.
O importante é a confissão constatação do
governador. Textual mas triste: "Fiquei 15 anos no exílio, voltei para o
Brasil, certo de que seria Presidente da Republica. Não consigo inaugurar
um Sambódromo". Não senti frustração, aborrecimento, raiva ou
ressentimento. Mas as coisas mudaram muito.
Em 1984, a memorável campanha das "Diretas já",
foi derrotada por duas ou três dezenas de traidores da democracia, insuflados
por órgãos de comunicação, vários. Marcaram então "eleição" para
1985, longe do povo. Seu mandato estava quase no fim, queriam que renunciasse
para ser candidato.
Taxativo, negou e respondeu com convicção: "Não
disputo eleição INDIRETA, nem para ser presidente". Então ficou tudo pra
1989, a primeira DIRETA depois da tenebrosa ditadura de "64".
PS- 12 candidatos. Entre esses, Brizola, Ulisses Guimarães,
Lula, (que disputava a primeira eleição presidencial), Mario Covas. (que no ano
seguinte seria governador de São Paulo). E Fernando Collor, o candidato-
contradição. Desconhecido e favorito.
PS2- Brizola me contou: "Eu sabia que com
tantos candidatos, haveria segundo turno. Eu e talvez esse Collor, mas eu
ganharia de qualquer um". Não foi para o segundo turno por causa de meio
ponto. Chamou Lula de "sapo barbudo", teve que apoiá-lo, perderam.
PS3- Termino aqui, não é a biografia do Brizola e
sim lembrança de uma conversa.
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