A chapa Temer-Cunha beneficia os
acusadores, que passam a julgadores
HELIO FERNANDES
Pode mudar a
denominação, de PresidentA para presidente. De nome, Dilma Rousseff para Michel
Temer. Mas como o estilo é o homem, o
modo de governar será o mesmo, em vez de realização, interrogação. Quantos
deputados têm o seu partido, 367? Desculpe,
esse é o total da votação gloriosa do impeachment na Câmara.
O dialogo
continuará duvidoso de parte a parte, ninguém confia em ninguém. Ave, Cezar os
que vão morrer te saúdam. Apesar da
citação histórica, o troca-troca será o mesmo. Não mudam nem os partidos, as exigências,
a falta de credibilidade, e a volúpia
por cargos. Muitos voltarão, talvez alguns precisem de uma
"quarentena" para mudarem de "ficha suja" para "ficha
limpa".
Não que o
novo (?) donatário tenha grandes preocupações com a moralidade. A dele também é
conspurcada, esgarçada, contestada. Apesar de não saber muita coisa, acredita
que o esquecimento não significa recuperação. Mas ás vezes lava mais branco, o
que não tem a menor importância para o governo interino. No entanto serve para
aplacar a contundência das ruas. Que sempre ouvida ou consultada, praticamente
por unanimidade, pede a cassação do seu parceiro, companheiro e intimíssimo, o
corrupto Eduardo Cunha.
Não é
necessário o menor esforço para comprovar: a chapa Temer e Cunha, (o primeiro a
assumir numa eventualidade) estará no Planalto no dia 11 ou 12 de maio. Cunha
irá como convidado de honra (Deus me perdoe a calunia), continuará morando no
palácio destinado ao presidente da Câmara. A Comissão do Senado esgotará o
tempo reservado, e fará a segunda votação, com o placar da primeira: 16 a 5.
Alguém me diz: "Será 15 a 6, um senador que estava indeciso, se
definiu"
Não
discuto, não me interessa, não é o mais importante. O relevante é a repetição
do que aconteceu na Câmara. Acusadores, por imposição deles mesmos, se
transformaram em julgadores. Dos 367 que apoiaram o impeachment, quase a metade
respondia a processo e até processos. Gramaticalmente tem que ser no plural, o
que na realidade não deixa de ser singular. E a transformação foi referendada
pelo corrupto que comandava tudo. Negando a palavra ao Advogado de Defesa, que
pretendia responder ao relator, afirmou: "Ele não é mais relator, agora
passou a julgador".
No Senado
a mesma vergonha, atentado ao direito, afronta e desafio pelo menos ao bom
senso e á sensibilidade coletiva. Receberam o relatório da Câmara, aprovado por
maioria acumulada pelos meios e modos os mais turvos e turbulentos.
Principalmente por causa da transformação de votos em dinheiro vivo. Revelei
com nomes e tudo, na hora exata. Na quarta feira antes da votação, 14 deputados
receberam 50 milhões. Acordo perfeito, divisão sem qualquer atrito.
Ninguém quer pagar o pato, mas contribuíram para formar a maioria vitoriosa. A recompensa,
garantida.
Faltam 8 ou 9 dias para a chapa Temer-Cunha assumir
Nenhuma
possibilidade de contratempo. Pelo menos no Senado. Como lá, nenhum problema, o
vice se concentra na formação do governo. Usa os mesmos atalhos e descaminhos, marginalizados
pela quase antecessora. E não se livra nem dos nomes de sempre, repetidos e
retalhados. Precisa reformular as escolhas, não agradaram. O próprio Temer não imaginava
que fosse encontrar tantos obstáculos no preenchimento do Ministério da
Justiça. Não pelo ministério, mas por causa da ligação com a Lava-Jato. Por ele
mesmo e pelos amigos e os compromissos de salva-los.
O primeiro
lembrado para esse ministério, o advogado Mariz de Oliveira, foi logo
afastado. Desenterraram um manifesto em que ele comparava a Lava - Jato, com a
ditadura e o criminoso AI-5. Surpreendentemente surgiram dois personagens
extraordinários, que maravilha para a Justiça. Seus Nomes, Carlos Veloso e
Ayres Brito, ex-presidentes do Supremo. Diante do passado, do presente e
certamente do futuro de Michel Temer, não admitiram conversar. Voltou então o
extravagante e esdrúxulo Secretario de Segurança de SP, que havia sido escaneado
para a Advocacia da União.
Tem feito
muita concessão a nomes e também a promessas. Garante a Aécio e Serra:
"Não serei candidato á reeleição". Gostaram, mas não confiam muito. O
PSDB tem 3 presidenciáveis, preferem emenda á Constituição, as duvidas são
enormes. Serra, Alckmin e Aécio, já foram derrotados em 4 disputas
presidenciais. E pretendem disputar novamente em 2018. Aécio é o presidente do
partido e o mais moço, considera que está garantido. Alckmin está desde 1994 no
Palácio dos Bandeirantes. Começou como vice de Covas que morreu em 2001. Ele
ficou, foi ficando, saiu apenas como candidato à presidente da Republica.
Serra
quer ser presidenciável pela terceira vez. Em 2018 estará com 77 anos. Mas foi
quem melhor aproveitou a transição-traição de Temer. Atirou no ponto mais alto,
bem no centro do alvo: o Ministério da Fazenda. Sabia que existiriam resistências.
Falaram "pode ir para a Saúde ou Educação". Publicamente ficou em
silencio. Nos bastidores fez saber, sem parecer exigência, mas deixando claro
que era: Fazenda ou Relações Exteriores. Venceu. E em matéria de cargos, muito
melhor. O Ministro da Fazenda pode ser cobrado quase que imediatamente, tem,
digamos, autonomia de vôo bastante limitada. No Exterior, com as novas
atribuições, roteiro de sucesso.
Lula está abandonando Dilma, o destino-futuro
dela, afastada do Poder
As
manifestações de sábado e domingo, contra o impeachment, fracasso retumbante. Por
muitos motivos. 1-Falta de publico. 2-Desinteresse evidente. 3-Os irritantes
discursos de Dona Dilma. 4- O mais
importante: a ausência de Lula. As pessoas iam chegando, perguntavam logo,
"e o Lula". A resposta "está rouco", não agradava a ninguém.
É lógico, qualquer um pode ficar rouco. Mas um ex-presidente com a sua arrogância
e pretensão, tinha que estar presente. Ninguém o ouviria. Nem precisava
explicar, veriam. Mas já existiam rumores de divergência, nada mais compreensível
.
O
instante é tormentoso, principalmente a partir de 11 ou 12 deste maio. Afastada
como será, (pode ser mais do que visível, acompanhando as sessões do Senado),
nada acontecerá como ela e alguns áulicos imaginam e até divulgam. A palavra
AFASTADA, abrangente, redundante e não precisa ser traduzida. È territorial, física,
administrativa, irrefutável. Tem que deixar o Alvorada imediatamente. E de
condução particular, não poderá usar transporte oficial. Pode morar onde
quiser, pagando a própria habitação. Tudo o que dizem, a respeito da oposição, miragem.
Se tiver
bons conselheiros, deixa Brasília no dia 10. Como tem apartamento no Rio Grande
do Sul, pode ir para lá. Usando o Aero - Lula, agora Aero - Dilma. Ficará
isolada até o julgamento final, em "até 180 dias". Não irá demorar
tanto. Se os que pretendem o impeachment não conseguirem 54 votos, ela volta.
Agora não
conseguiram os indispensáveis 54 votos. Mas os que lutam contra o impeachment,
também não chegaram a 28. Tudo o que escrevi, não é agradável ou satisfatório. Mas
é rigorosamente verdadeiro.
Irrealidade
A
presidente Dilma comunicou ao Legislativo, textualmente: "Esta semana
enviarei ao congresso, medida antecipando a eleição presidencial". Insensato.
Não ha clima para isso, e ela não tem tempo para coisa alguma. O Procurador
Geral da Republica, insiste em pedir ao supremo que investigue Eduardo Cunha.
Ele já é réu, dentro de alguns dias, será o "sucessor" do vice Temer.
Lógico, numa eventualidade que favoreça
á corrupção, que o Supremo já consolidou em decisão unânime.
Nesse
pedido, Janot incluiu Aécio Neves e o Ministro Edinho Silva. O presidente do
PSDB, tem foro privilegiado como senador. Edinho até á semana que vem
quando deixa de ser Ministro. Dizem que o plenário do Supremo se reúne amanhã e
decidirá vários processos pendentes. Não tenho muita
fé,mas gostaria.
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