Desejamos aos nossos seguidores, amigos e familiares um, ANO NOVO, repleto
de saúde, paz, alegria e prosperidade.
A todos um ano de luz e harmonia, Salve 2015!
*Blog oficial do jornalista Helio Fernandes que durante 46 anos foi
diretor do jornal Tribuna da Imprensa. Agora com suas matérias exclusivas,
e a participação de colunistas especialmente convidados. (NR).
*PUBLICADA EM MARÇO/13.
HELIO FERNANDES
30.12.14
Hoje e amanhã,
31 de março e 1º de abril, trato do golpe de 64 com lembranças do passado, e
análises lúcidas de personagens de hoje. Começo citando como está no título, a
afirmação do general Leônidas. Quando ele diz que o “Exército nunca foi
INTRUSO”, quer dizer que sempre esteve no primeiro plano de tudo, raramente
deixou de ser participante e dominante.
Acontece que
escrevo isso há mais de 30 ou 40 anos, citando a participação do Exército na
República. Sempre estabeleci a diferença entre duas palavras: PROMULGAÇÃO e
IMPLANTAÇÃO da República. A primeira palavra define ou definiria o movimento
histórico dos “ABOLICIONISTAS”, e os “PROPAGANDISTAS da República”.
A segunda,
intromissão de dois marechais, que entraram na História através de um golpe, (o
primeiro da República), e tomaram o Poder. Cambaleando e quase sem conseguir
subir num cavalo.
Não vou
relembrar a História do Brasil, apenas confirmar o general
Deodoro e
Floriano, dois coronéis que vieram brigados da estranha guerra do Paraguai, na
madrugada de 15 de novembro, já marechais, se reconciliaram e “expulsaram” os
civis da conquista da República. República que com esses dois Marechais, se
transformou numa quartelada. Eu sei, o general Leônidas não havia nascido.
E também não era
torturador. Mas numa entrevista ao repórter Geneton Moraes Neto, tentou
convencê-lo de que “comandou o DOI-CODI”. Ora, o general Leônidas nem sabia
onde ficava a Rua Barão de Mesquita. Adido Militar na Colômbia, se perdia no
Rio.
O Exército ou
generais sempre arrogantes
Logo depois da
República, massacraram e assassinaram toda a população de Canudos. Em 1896
usaram três quartas partes do efetivo militar, usando até canhões. Assassinaram
toda a população, não escapou nem o “santo” Antônio Conselheiro.
Como “Tenentes”
tumultuaram o país desde 1922, tomaram o poder em 1930. Garantiram a tremenda
ditadura do Estado Novo. Ainda tiveram “fôlego” para derrubar João Goulart, que
como eu já disse há anos, não tinha nada a ver com os comunistas. Queria o
“poder total” e mais nada.
Tenho todo o
direito de situar Jango na sua exata posição, pois em 1963, fui o único preso
por ordem direta dele. Pediram 15 anos de prisão para mim, estavam certos de
que me condenariam. Pois foi na minha casa que nasceu a “Frente Ampla”. Na
minha casa e da minha cabeça.
Depoimentos
históricos
Anteontem, na
mesma página, matérias de agora, altamente elucidativas, competentes
inesquecíveis. Numa entrevista ao repórter Bernardo Mello Franco, Daniel Aarão
Reis, lúcido e participante, com a visão do torturado agora Historiador,
interpreta o golpe dos dois lados. E em com total isenção ou não poderia ser
chamado de Historiador.
Aarão Reis, que
começou na guerrilha com 23 anos, freqüentou os subterrâneos da ditadura. Foi
torturadíssimo até ser trocado pelo embaixador alemão, seqüestrado precisamente
para haver a negociação. E a ditadura dos generais torturadores, mostrou mais
uma vez a covardia inata e assumida.
Cumpriram as
ordens dos EUA
Assim que o
embaixador americano foi seqüestrado, (decisão, planejamento e execução
perfeita), começaram as conversas. Primeiro exigiram a leitura, nas televisões,
do manifesto dos seqüestradores. Veio a ordem: “Publiquem imediatamente”.
Publicaram, lógico.
A seguir a
exigência da troca do embaixador por alguns presos. Os combatentes ainda não
tinham consciência da própria força, “trocaram” por poucos. Mais tarde, com o
seqüestro do insignificante embaixador alemão. 39 presos foram soltos ou
embarcados para o exterior.
O final da
entrevista de Aarão Reis, dois pontos magistrais. 1 – “Faltou povo na
guerrilha”. É verdade. Mas como 60 guerrilheiros poderiam passar por cima de 60
mil militares? Que recebiam ordens de alguns generais ambiciosos?
2 – Deixa à
mostra a “contradição” de alguns generais e não do Exército: “Até hoje esses
generais se omitem, condenam e falsificam a história”.
E de forma
irresponsável: “Fui preso, torturado, anistiado pelo Ministério da Justiça. E
quem me torturou diz que não houve tortura no Brasil”. E ele mesmo termina: “É
uma coisa esquizofrênica”.
Demétrio Magnoli
não tinha idade para combater, tem para analisar
Sociólogo,
Geógrafo, com vocação de historiador, conta e interpreta fatos importantes.
Contesta os “memorialistas das conveniências”, e corajosamente penetra num
círculo que tantos querem esquecer. Círculo da contradição, digo eu.
“O golpe de 64
não nos salvou da ameaça comunista que não existia”. E depois: “Isso foi urdido
por um fascismo puramente imaginário”. O artigo de Demétrio vai assim até o
final, é um dos dois pontos mais completos e para ser aplaudido.
O segundo é a
coragem e o discernimento de entrar na interpretação de um dos fatos mais
importantes do golpe. Os dois editoriais do Correio da Manhã, intitulados
“Basta” e “Fora”. Até hoje se discute, se nega e se confirma a autoria dos
manifestos.
Demétrio dá o
nome de sete autores, desculpe, foram oito. Hoje todos negando a autoria, com
exceção de quatro que já morreram. Esses dois artigos explicitam e elucidam um
período torpe, covarde e farsante da História do Brasil.
O primeiro golpe
militar foi o da República. Dois marechais que eram inimigos, se reconciliaram,
derrotaram a brilhante geração dos “abolicionistas” e dos “propagandistas da
República”. Os charmosos “Tenentes de 1922”, combateram até 1930, quando se
beneficiaram de tudo.
O Estado Novo,
garantido pelos generais
Em 1937, Vargas
“implantou” ditadura, que chamou de “Estado Novo”. Garantido pelo general
Dutra, que nos oito anos, foi chamado de “condestável do Estado Novo”.
Derrubada a ditadura, lógico foi presidente, garantindo a volta de Vargas.
O golpe de 64,
teve remanescentes
Alguns mais
longevos, que palavra, garantiram o Estado Novo, voltaram em 64. Que
capacidade. Concluiu, dizendo: “Vamos olhar para o futuro, esquecendo o
passado”. Que farsa, Ministro. Era melhor ficar em silêncio. A Comissão da
Verdade deveria ter sido criada 33 anos antes e não agora.
Mas sem
interpretar e examinar o passado, não podemos acreditar no futuro. O passado,
qualquer que seja ele, tem que ser lembrado, mesmo para ser contestado. Quando
assinaram em 1979 a extravagante “anistia ampla, geral e irrestrita”, estavam
tentando sepultar esse passado.
Os próprios
militares que deram o golpe de hoje, estavam apavorados e achavam que com esse
“ato” que só beneficiou os vencedores, não valia nada, sendo assinado apenas
pelos representantes de um lado. E que estavam absolvendo a eles mesmos.
PS – Fatos desse
31 que completa 50 anos e não mais interpretação. A indecisão e a certeza eram
totais. Carlos Lacerda, “ilhado” no Guanabara, com centenas de pessoas, recebeu
a informação ou informe.
PS2 – O Almirante
Aragão “iria invadir o palácio”. Não sabia o que fazer. Tentou falar com
Castelo Branco, dos chefes golpistas, o único que estava no Rio, mas não tinha
a menor idéia de onde.
PS3 – Deu uma
sorte. Um amigo médico, soube do seu problema, telefonou para o governador: “O
general está na minha casa em Copacabana, emprestei para ele. Está com o
general Ademar de Queiroz, teu amigo. O telefone da minha casa é 42-6178”. (Na
época só seis números).
PS4 – Lacerda
ligou, o general Ademar ficou perplexo do governador ter localizado Castelo.
Mas não podia deixar de passar o telefone para o chefe do golpe.
PS5 – Lacerda
contou o que temia, a invasão do Almirante, recebeu a seguinte resposta:
“Governador, não posso fazer nada pelo senhor. A tropa que veio de Minas e a do
Rio estão a um ponto do confronto, quero evitar isso” e desligou.
PS6 – Lacerda
telefonou imediatamente para o presidente da Comlurb: “Mande os maiores
caminhões da empresa, bloqueiem todas as ruas que chegam ao Guanabara. Não pode
passar nenhum veículo, civil ou militar”.
PS7 – Apesar de
ser o civil de maior penetração nos círculos militares, Lacerda não sabia de
coisa alguma. O movimento golpista foi organizado, comandado e empossado por
militares, perdão, generais.
PS8 – Abertamente
não houve mais nada nesse 31 de março. A ocupação final do poder ficou para o
dia seguinte, 1º de abril. Mas como é o chamado “Dia da mentira”, comemorado
popularmente, proibiram de forma terminante, qualquer que seja a citação nesse
dia.
PS9 – Para os
generais, o golpe, desculpem, farsantes até o fim, falavam em Revolução. E
comemoravam, como agora, no dia 31.
- Estaremos retornando com as
matérias no dia 05 de janeiro de 2015.