Titular: Helio Fernandes

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Dilma foi afastada com 80 por cento de impopularidade, Temer assume com 8 por cento de credibilidade

HELIO FERNANDES

A partir de 6,34 da manhã de quinta feira, ontem, até ás 18 horas da tarde-noite da mesma quinta feira, o país foi mergulhado num terrível despenhadeiro. Em 12 horas, passou de uma omissão culposa para a participação criminosa e enganadora. Depois de 20 horas de uma reunião no plenário do Senado,implantou-se o que vinha sendo tramado, conspirado, oficializado.

A possibilidade de impeachment começou a ser discutida no começo de fevereiro de 2015. O jurista Gandra Martins, respeitado e solicitado, entregou um parecer contratado e fez a publicação em jornais. Surgiram debates, discussões, consultas.Mas não houve apoio suficiente, o assunto  desapareceu. Por algum tempo.

Quase 1 ano depois o impeachment reapareceu, ganhou manchetes de jornais, espaço nas televisões, reuniu políticos de diversos partidos. Dois personagens com grande atuação. Eduardo Cunha, presidente da Câmara, ostensivamente. E o vice da Republica, veladamente, esperando à hora de aparecer publicamente. Preparando terreno para escapar ou fugir de acusações futuras.

A primeira providencia, se declarar vice "decorativo". Quem confessa que é decorativo, não pode ser acusado de nada. Depois revela o manifesto, "Ponte para o futuro”, completa com a afirmação: "O pais precisa de um líder para a UNIFICAÇÃO" Assumiu a conspiração-traição, concretizada agora. Com a presidente AFASTADA e ele mesmo EMPOSSADO.

O país vive um clima de incerteza, desilusões, desespero, desesperança, sem expectativa ou perspectiva positiva. Deixamos um período reconhecidamente negativo. Entramos em outro duvidosamente positivo ou animador. Os dois discursos, melancólicos, lamentáveis, medíocres do principio ao fim. O da presidente, mostrava o acerto da sua saída, mesmo que não definitivamente. O do vice, que não podia ser promovido à presidente, nas condições que foi, e também como interino, mostra que a ineficiência e a incompetência, continuarão no Planalto. E no caso de Temer, pode ser acrescentada a palavra imprudência.

No plenário do Senado, em 20 horas, nenhum desencontro, desacerto, desentendimento. Até o resultado foi o previsto. Única duvida sobe o placar. Os que defendiam o impeachment, não sabiam se conseguiriam os 54 votos. Não necessários agora, mas indispensáveis no julgamento final. 

Obtiveram com sobras, os recursos que deram a vitoria na Câmara, sobraram para confirmar a maioria no Senado. Em relação aos governistas, todos acertaram. Este repórter e os mais diversos e diferentes comentaristas, fecharam: não terão mais do que 22 votos. Acertamos no alvo.

O ministério duvidoso e reticente, lembra a contribuição e a recompensa

Formar equipe é naturalmente difícil, até mesmo para um presidente eleito. Imaginem os problemas e os obstáculos para um presidente que veio das catacumbas, sem credibilidade e sem prazo de duração. “Michel Temer não pode escapar ou se livrar de uma realidade que não tem nada de impossível: receber um oficial de Justiça do TSE, comunicando: "O senhor foi cassado por falsidade na declaração dos gastos na campanha eleitoral". Para um homem que só pensa nele mesmo, a satisfação: Dona Dilma, AFASTADA, passará como ele, á condição de CASSADA.

Houve muita incompatibilidade, recuos, mais vetos do que se imagina. Começou com a Agricultura. O senador Caiado falou que seria o titular. Revolta no Jaburu,lotado de áulicos, chamados de "braços direitos" de Temer. Vetado, o DEM (e x-PFL), lançou outros nomes, houve resistência. Finalmente um acordo, logicamente contra o país. Entregaram a um ex-governador sem visão e sem cacife, o Ministério da Educação. A "pátria educadora", negociada dessa forma. Mas não ficou por aí.

Eduardo Braga, acertado para a Integração Nacional, pedido de Renan a Temer. Desinformados, os "donos" do Jaburu vetaram seu nome, alegando: "Ele não foi votar, apesar de ser senador”. Vejam que irresponsabilidade. Braga está licenciado, quem ocupa a vaga, suplente é sua mulher, que votou a favor do impeachment. Isso dividiu o PMDB. Quase na hora da posse, Renan concordou, o filho de Jader Barbalho já é o Ministro. Ia esquecendo: para ser Ministro da Agricultura, o riquíssimo dono de muitas fazendas, Blairo Maggi, teve que mudar de partido.

Mas ha mais e muito mais grave, alem de irresponsável. Para a Saúde, no instante terrível que atingiu o país, alem de todos os problemas do SUS, foi escolhido um deputado. Outro deputado, cujo nome ninguém sabia, se transformou em Ministro por ter pronunciado o voto de numero 342, naquele domingo inesquecível em matéria de baixaria. 

Isso significa, se esse voto 342 tivesse cabido a uma mulher, o primeiro Ministério Temer, não seria exclusivamente masculino. O PSB, que acredita mesmo que é socialista, afirmou que iria apoiar Temer sem reivindicar cargos. Não resistiu, pediu, ganhou o de Minas e Energia.

Para terminar essa questionável escolha de Ministros, um fato, exclusivo, que ia tumultuando gravemente as coisas. Os generais estão atentos, nada contra, mas pelo menos silenciosos. Só se movimentaram, quando foi anunciado o nome do Ministro da Defesa,Newton Cardoso Jr. Trazia no nome, as razões para a insatisfação. O pai foi governador de Minas, acusado, na época, de irregularidades de mais de 3 bilhões. Acusado, não aconteceu nada, Ficou imune e impune.

Revelado o nome do possível ministro, foi trocado pelo suplente Raul Jungiam. Pertenceu  a uma Comissão da Câmara,que tratava de assuntos militares, foi bem aceito. Se este repórter tivesse sabido, poderia contar um episodio, simples mas elucidativo. Sempre que estava em Paris, ia invariavelmente almoçar no Bar de Teatre, agradabilíssimo, frequentado por jornalistas, escritores, artistas. 

Em 1998 estava indo para lá, a pé, com um grande empresário brasileiro, defensor do interesse nacional. Passamos  por um edifício altamente luxuoso. Ele me parou, e falou: "Quem tem apartamento nesse edifício, é o governador de Minas, Newton Cardoso".

O presente e o futuro de Dona Dilma

Já foi noticiado: ela continuará recebendo salário integral e terá direito a segurança 24 horas por dia, como todos os ex-presidentes. É da lei. Achei pouca informação. Tentei saber mais. Consegui alguma coisa,mas não tudo.Por exemplo: não pode dar entrevista nem a impresso nem a tecnológico. Comício nem pensar. Não pode compartilhar nada nas redes sociais. Pode viajar pelo Brasil ou para o exterior, em avião comercial, passagem paga por ela.

Uma pergunta que ninguém soube esclarecer: ela continuará morando no Alvorada?  Se puder, terá direito a convidar alguém? Tentaram comparar com o impeachment de Collor, inteiramente diferente. Ele morava na "Casa da Dinda" que era também a sede do governo. Continuou morando lá, a sede do governo mudou automaticamente. Isso é importante. Oficialmente o presidente, mesmo interino, despacha no Planalto e a residência é no Alvorada. Quando a Capital era no Rio, ninguém tinha casa, o luxo é exclusividade da riquíssima Brasília.

PS- Temer gastou 32 minutos, para o chamado "discurso de posse". Inócuo, inútil, inoperante, dominado por lugares comuns. “Enquanto falava na “recuperação de investimentos do exterior”, a Moods publicava nota especial: "O impeachment não significa recuperação da economia".

PS2- Dilma fez dois discursos. Um no Planalto, Lula não estava. O segundo na rua, para mais ou menos mil pessoas. Lula estava atrás dela, abatido, o tempo todo sem falar com ninguém, não tirou a mão do queixo. Ao lado do presidente do PT, Ruy Falcão.

PS3- A Firjan fez anuncio de pagina inteira, no Rio, são Paulo e Brasília. Não quer ser esquecida. A FIESP, que manda mais, já protestou diretamente: não estão gostando de alguns pronunciamentos no setor econômico.

PS4- Nas referencias falou; "Quero agradecer ao povo brasileiro", ora essa. O povo nunca foi consultado por ele. Continuando: "Quero agradecer á minha equipe, aos congressistas, aos que se transformaram em ministros".

PS5- Nas referencias e agradecimentos, nem a mais remota menção á família. Nem a Eduardo Cunha, a quem deve quase tudo.Mas trabalha para que ele não seja cassado, e volte á presidência. Explica: "Ele foi apenas afastado e continua deputado". Inacreditável, que um personagem como esse, chegue á presidência da Republica, mesmo interino.

E-mails:

Helio

Você foi esplêndido, triunfante, conotativo e deu um show de informações no passo a passo do impeachment. E mais um parabéns pela demonstração, embora impiedoso, isento de partidarismo. É muito bom ser brasileiro, tendo você como compatriota.

Marcio Telles
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Jornalista Helio Fernandes.

De onde você tira essa energia toda, para escrever lucidamente?

Abraços do seu leitor desde a Tribuna de papel

Onofre Tardino e Soares
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Helio,
Saudações...

Sua criticas, ultrapassaram o limite do conhecimento, foi alem. Espero que dos seus 94 anos, Deus te dê em dobro, para continuar seu trabalho péla democracia do jornalismo no país.

Cristiane Borba
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Tribuna online-Helio

É com enorme satisfação que compartilho seu textos para os meu clientes através do meu site. Para o senhor ter idéia do seu valor, uma vez deixei de enviar por problemas de internet, meu telefone não parava de tocar.

É gratificante te-lo nos meus preferidos

Abraços
Romualdo Pires Phill de Brito
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Sr. Helio Fernandes

Gostaria que o estimado jornalista, falasse a respeito do silêncio das Forças Armadas.

O silêncio dos quartéis me inquieta...
Cordialmente
Seu leitor

Manoel Carvalho e Ribas
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Helio Fernandes

Tenho lido atentamente suas matérias aqui no blog. Não consegui até o momento identificar, um dos personagens do impeachment que você daria cartão verde. Os vermelhos eu sei de cor e salteado.


Almir Velásquez

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