NOVO
GOVERNO:
Desorientado, desconcertado, desalentado, Meirelles
desacredita no futuro tão almejado, erra até nas prioridades
HELIO FERNANDES
Sem poder algum, no quase inexistente governo provisório ou interino, Temer
transferiu todos os poderes para Meirelles. Já circula no Jaburu, pelo menos
quando Temer não está, um bordão-brincadeira: "Fala com o Meirelles".
O Ministro da Fazenda acreditou, “começou a agir como se fosse mesmo”. Tendo
levado uma semana para anunciar a equipe econômica formada á sua revelia ou até
conhecimento, esbarrou com a realidade.
O presidente do Banco Central tinha que ser do Itaú. Temer deixou
escapar, "que poderia ser dos seus quadros", se agarraram a essa
felicidade. O fato foi consumado para desespero silencioso do próprio
Meirelles. Este só conseguiu retardar a indicação, não eliminá-la.
Ia
acontecendo à mesma coisa no segundo governo Dilma. A presidente queria para
Ministro da Fazenda, o Trabuco do Bradesco. Ele também estava ansioso para dar
o SIM, como nos casamentos antigos. Surpreendentemente, a cúpula chamou
Trabuco, e sem hostilidade, colocou o dilema: "O banco ou o Ministério da
Fazenda. Os dois, não é possível".
Publiquei
na época e como agora, não encontrei explicação para o veto do Bradesco. A
decisão do candidato, altamente compreensível. Com juros de 400 por
cento,a felicidade do Bradesco é para sempre, o ministério todos viram quanto
durou. O caso do Itaú, vice-versa.
Aparentemente,
o Ministro da Fazenda "com todos os poderes", se descontrolou. Vem
cometendo erros primários,comprometendo o governo interino de Temer, e
obstruindo o seu,que como carreirista compenetrado,pretende permanente.
Logo no
primeiro discurso, anunciou duas medidas, correlatas e repudiadas pelo país
inteiro: aumento de impostos e criação ou recriação da famigerada CPMF. Ontem
publiquei com exclusividade a reação do Presidente da FIESP, que financiou
generosamente o afastamento de Dilma e a ascensão de Temer.
Como "não
queria pagar o pato", gastou e financiou. A CPMF está morta e será
enterrada da mesmo forma como aconteceu no governo Dilma. O Legislativo (?)
satisfeitíssimo, teria que vetar ou recusar essa sigla amaldiçoada. O dilema do
interino na presidência: não mandar a mensagem para a Câmara ou mandá-la, ser
derrotado e obrigado a reforma ministerial. Não adianta ter constituído como no
parlamentarismo, os presidentes de partidos, "indicando" os nomes.
Com impostos de 35 por cento por pessoa, quem quer votar mais impostos e para
complicar, na véspera de eleição municipal.
Mais equívocos
de Meirelles, na televisão, não sai de lá. Anunciou as prioridades do governo: "Redução
do desemprego, aumento da arrecadação, elevação do consumo”. Tudo errado, dos
pontos principais, importantes e inadiáveis,"esqueceu" os que são
rigorosamente inadiáveis e verdadeiramente prioritários: investimento,
investimento, investimento.
Isso
trará desenvolvimento, crescimento, voltará à desaparecida confiança. A partir
daí é que reaparece o emprego e o consumo, crescerão os serviços, a industria
atingirá novamente o auge.
Ninguém
fala em investimento, os industriais reclamam mas não cumprem a sua parte. Voltamos
aos tempos de Rui Barbosa tomando posse no Ministério da Fazenda, na Republica,
em 1889: "A Revolução Industrial da Inglaterra já completou 100 anos e
estamos longe da industrialização". Seus protestos tinham outras
justificativas, mas valem para hoje.
Ou mudam
a mentalidade e os objetivos, ou não adianta Meirelles ir para a televisão
e mistificar: "A economia começa devagar e não custa a acelerar". Com
esse ministério de inutilidades, a economia em baixa, continua a retroceder.
Conversando
Onofre
Tardino e Soares, minha energia foi recolhida desde sempre, a partir dos 11 anos,
órfão de pai e mãe. Acabava a escola primaria, passei a trabalhar durante o dia
e estudar á noite. Nunca me queixei nem reclamei. Olhando minha carteira de
identidade me dá vontade de dizer como Pablo Neruda na sua biografia: "Confesso
que vivi".
Almir Velásquez,
agradeço a tua sensibilidade. Mas concordamos: nenhum personagem desse
impeachment, vale o desperdício de um cartão verde. Talvez pudesse
repetir Bernard Shaw, quando foi a primeira vez a Nova Iorque. Levado a visitar
a Estatua da Liberdade, perguntaram o que achara. Resposta: "Meu gosto
pela ironia não vai tão longe".
Romualdo
Pires Phill de Brito - Quero ressaltar o teu valor, Helio. Tenho clientes e
repasso para eles,diariamente,o que você escreve. Uma vez, com problemas na
Internet, ficaram sem receber. O meu telefone não parou de tocar o dia todo. Um
abraço para os teus atentos clientes.
NOVO
GOVERNO – II
Eduardo Cunha, o homem mais
poderoso do país, sem escrúpulos, sem caráter, sem constrangimento, sem
mandato, ainda acaba presidente da Republica
HELIO FERNANDES
Tudo é
possível ou imaginável, em se tratando desse personagem. Sem ele não teria
havido de jeito algum, o impeachment da presidente Dilma. Isso é conhecido e
reconhecido por tantos, que parte enorme da Câmara manteve o deputado como
presidente da Câmara. Ninguém ousava desmentir o mínimo possível. As acusações
e constatações culposas contra e sobre ele, eram de tal ordem, que ninguém
ousava defendê-lo.
Mas sua
audácia e desfaçatez eram tão amplas, que todos temiam contestá-lo. Alem do
mais, precisavam dele para a abertura e o prosseguimento do impeachment. Não
podiam afastá-lo, a não ser depois de ganha a batalha. Em 1965, a ditadura
resolveu lançar o senhor Negrão de Lima, candidato a governador da Guanabara.
Precisavam
do seu nome, por ser declarada e abertamente, inimigo pessoal de Carlos
Lacerda, que terminava o mandato. Mas tinham que tomar duas providencias fora
da curva. Primeiro, afastar o Marechal Lott, que já era candidato oficial.
Nenhum problema para o poderoso, criativo e imaginativo General Golbery. Como o
Marechal candidato morava em Teresópolis, criaram o "domicilio
eleitoral". Apesar de ser marechal e lógico, ligadíssimo ao regime, teve
que desistir da candidatura.
O segundo
problema, resolvido com a mesma facilidade e tranquilidade. Era indispensável o
apoio dos comunistas, relativamente fortes na antiga capital. Mas os comunistas
estavam sempre precisando de dinheiro.(Como aconteceu em 1945 em SP,na eleição
para o senado. Portinari estava disparado na frente, os comunistas "venderam"
a vaga para o empresário milionário, Roberto
Simonsen.
Eu e Portinari conversávamos muito num café perto da
sua casa, ele me disse: "Não me aborreci, o partido sempre precisa de dinheiro,
eu não tinha nada a fazer no Senado".
Os comunistas "fecharam" com
Golbery. Mas os que tinham convicções e lutavam, recusaram apoiar Negrão. Veio
a ordem da cúpula: "Votem em Negrão com um lenço no nariz, mas
votem". Votaram, Negrão foi eleito.
Com outras nuances mas as mesmas justificativas, repetiram agora,o episodio de
1965.Só que tiveram que agir em duas frentes.
Não tira-lo da presidência da Câmara, era fundamental.
E não deixar a Comissão de Ética aprovar a "admissibilidade" para
que o plenário cassasse o seu mandato. Deputados arrogantes e presunçosos, com
lenço no nariz e horrorizados, mantiveram Eduardo Cunha.
Agora estamos diante da realidade, criada pelos
interesses escusos, dos representantes dos partidos ditos mais importantes. Não
sabem o que fazer com um deputado afastado da presidência da Câmara e suspenso
da função parlamentar. Em pânico, reconhecem, ele está mais forte do que
antes. Contribuiu poderosamente para o afastamento de um presidente.
E como consequencia, aprisionou o substituto. È
impossível negar sua participação nos dois episódios. O afastamento de um
presidente, fato. A submissão do substituto, beneficiado pela sua atuação, mais
do que visível, constatável, incontestável.
Por que
um Presidente da Republica, mesmo interino, cometeria esse ato criminoso,
vergonhoso, acintoso, de indicar para líder do governo na Câmara, um deputado
que faz questão de proclamar: "Sou o maior amigo de Eduardo Cunha". Isso
já seria inimaginável. Mas ha mais e gravíssimo. O novo líder de Temer, pertence
a um partido que elegeu 9 deputados em 513.
Percentualmente,
menos de 2 por cento. Responde a diversos processos no
Supremo. Mais 3 por desvio de dinheiro. E outro por tentativa de homicídio. Cunha
tem preenchido diversos cargos, por indicação feita diretamente ao presidente
interino. Entra no Jaburu sem pedir passagem, prefere o encontro
particular a ir ao Planalto, e eventualmente ter que esperar.
Ontem foi
depor na Comissão de Ética. Era a sessão de numero 199. Mais de 6 meses, a
media é de 20 ou 25 dias. Mais de 8 horas de depoimento, mentindo do
principio ao fim. Sem a menor alteração na fisionomia, sem modificar o tom de
voz, certo e garantido da impunidade. Disse que não é RÉU em processo
algum, num desafio insultante ao Supremo.
Pela
centésima vez tentou convencer que "não tenho patrimônio, passei tudo para
um truste". Ficou inflexível, não respondeu, mesmo quando afirmava idiota
mas audaciosamente:"Se eu declarasse ao Imposto de Renda, um patrimônio
que já NÂO TENHO, aí sim, estaria praticando irregularidade, assumindo propriedade
e patrimônio que não me pertence".
Para
terminar este assunto tenebroso, criminoso, vergonhoso, que parece retirado de
um tratado sobre a relevância do lixo sobre o luxo, uma revelação, na qual me
recuso a acreditar, mas que é rigorosamente verdadeira. Eduardo Cunha trabalha
intensa e incessantemente para VOLTAR À PRESIDENCIA DA CAMARA. Já tem os
acordos e apoios necessários, principalmente do presidente interino. Do qual
ninguém pode duvidar, depois da nomeação do líder na Câmara.
A estratégia
de Cunha e apaniguados, começou no exato momento do seu afastamento da
presidência. Está mantendo no cargo, o Primeiro Vice, Waldir Maranhão, que não
tem cacife pra coisa alguma. Resiste por interferência e comando de Eduardo
Cunha.
Quando
este admitir a conclusão de que "chegou o momento", então Maranhão
renuncia. E o ex volta vitorioso, a primeira grande demonstração de força do
"centrão". Concordo: é impensável. Mas neste Brasil em que vivemos,
pode ser inimaginável. Mas não impensável. O resto Cunha obterá por simples
gravitação.
Moreira Franco toma a palavra
Sem
convicção, como já disse, diplomata, mas também sem fugir da luta, usou seu
poder e sua intimidade com Michel Temer, para tentar eliminar as visíveis desavenças
que ocorrem na frágil equipe de poder. Ontem, sem veemência ou exaltação,
proclamou: "O gado se acalma quando chega no curral". Não conhecia
essa vocação rural do ex-governador. E também o momento não foi apropriado. Não
acabou com as desavenças. Que representam manifestações de voracidade. E estão
se voltando contra ele.
O PT preocupado com Lula
No dia em
que a presidente afastada falou ao sair do Planalto, Lula não subiu. Na rua,
repetiu o discurso, o ex-presidente estava atrás dela.Registrei: Lula parecia
desatento, distraído, sem prestar atenção. Agora a preocupação se
espalhou,
principalmente
entre os mais íntimos. Não tem ido ao
Instituto, praticamente sem sair de casa. Pelo visto, acredita que o futuro
deverá ser muito pior do que o passado,
A propósito:
um grupo de deputados, entrou com ação no Supremo contra a presidente afastada.
Motivo: querem punição para ela, por ter dito que "sofreu um golpe". A
relatora, por sorteio, Ministra Rosa Weber, não devia ter recebido a ação. Não
só Dilma, mas qualquer cidadão tem direito á opinião. Se fosse nos EUA, a
Suprema Corte, nem tomaria conhecimento. A Primeira Emenda, defende, garante e
sustenta, tudo que se refere à Comunicação.
Estratégia preventiva
do governo interino de Michel Temer
Ha um visível
afobamento para elevar discricionariamente o déficit publico. Inicialmente, o
calculo era de 96 bilhões. Sem maiores dados, foram elevando o numero. Agora, Jucá
vem ás ruas e garante: "O déficit é de 200 bilhões, no mínimo".
Trata-se de um movimento de autopreservação ou autolouvação. Se as coisas não
derem certo o notável líder imposto por Eduardo Cunha, poderá dizer: "Também
com o déficit que herdamos, só com milagre". Se acertarem, o mesmo
porta-voz transmitirá, eufórico: "Puxa, com a massa falida que recebemos,
nem nós acreditávamos".
O novo presidente da Petrobras
começa mal
Pedro
Parente, quase 15 anos depois de deixar a Casa Civil
de FHC, volta a um cargo publico. E surpreendentemente, para presidir a
Petrobras. Não consegui saber quem lembrou o nome dele. Mas não foi uma boa
lembrança.
E pela entrevista que deu ontem, terminando
exatamente ás 8 da noite, teremos que esperar muito. Falou 9 vezes o nome
Michel Temer, um certo exagero.
Mais grave e quase inacreditável: no momento ocupa
o cargo de presidente do Conselho de Administração da Ibovespa. Pediu ao presidente
interino, "gostaria de acumular os dois cargos". Temer respondeu: "Não
vejo inconveniente”. Não sei quem está mais deslocado no cargo.
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