Temer: ilegítimo, interino,
provisório, incerto e sem comando, trocou os notáveis pela patuléia do
Congresso, não consegue nem escolher os lideres
HELIO FERNANDES
Ninguém
duvidava: o governo (?) Temer seria difícil, teria que enfrentar terríveis
problemas .Gerado e surgido das catacumbas e dos subterrâneos da conspiração e
da traição, teria vida insólita e insolúvel no Planalto. Mas mesmo os que foram
derrubados não acreditavam que os obstáculos fossem dessa maneira intransponíveis.
E que
surgissem com tal velocidade. O agravamento, culpa e responsabilidade do próprio
presidente entre aspas.
Logo no
inicio foi delegando poderes, principalmente no setor mais importante e
fundamental, o econômico. Chamou Meirelles para conversar, afirmou que não
acontecera mais do que isso. Mas o economista carreirista, saiu do Jaburu como
Ministro da Fazenda ungido, sagrado e sacramentado. Interino e provisório,
Temer, antes mesmo da posse, já estava ultrapassado.
Tudo que
passou a acontecer a seguir, consequencia. Ruinosa, dramática, ultrajante em
matéria de liderança,mas consequencia. Decidiu que os problemas da
presidente Dilma surgiram e se complicaram pela falta de maioria no Congresso, "mas
comigo não se repetirão", como insistiu e não desistiu.
Resolveu fazer modificação, que ele mesmo considerou genial.
Usou a
rotina do parlamentarismo, fez os acordos com os lideres dos partidos e não com
deputados e senadores. E estes então eram indicados, ele tem um ministério de desconhecidos,
não só para o publico, mas até para ele mesmo.
Reservou
4 ou 5 cargos para serem preenchidos pessoalmente, os problemas começaram por
aí. Não poderia nomear Ministro da Justiça o violento Alexandre de Moraes, teve
que execrá-lo e desmenti-lo publicamente. O Ministro da Saúde, surgido ninguém
sabe de onde, afirmou que iria reduzir o SUS, "é muito grande".
Todos
sabem que o SUS precisa ser aumentado, é imprescindível. Nova reprimenda
publica, deveria ser demissão irreversível, talvez retomasse alguma autoridade.
Não seguramente, falta liderança, sobra empáfia e a avidez por elogios.
Mas o
mais grave dos erros,equívocos e exagero da "carta branca" que
recebeu, veio do Ministro da Fazenda. Na televisão, exagerou, mas comunicou:
"Se for necessário aumentaremos os tributos". Fez a ressalva, “eu sei
que a tributação está alta". E continuou, dando o nome a essa providencia:
"Será a recriação da CPMF". È carreirista ambicioso, pode ser
economista experiente, mas é provadamente imprevidente, inconsciente e
imprudente.
Falar em
CPMF, demonstração de que não sabe nada de coisa alguma. (A não ser o que
acumulou no Banco de Boston, aplicou no Conselho de Administração do JBS, utilizou
na presidência do Banco Integral da Internet. Nada a ver com o Ministério da
Fazenda de um país em frangalhos, que precisou substituir um presidente eleito
por outro. Apenas vice, que se julgava, acho que não se julga mais, a
inesquecível "salvação nacional").
A
volta da CPMF, exclusividade de Meirelles, provocou protestos irritados de dois
setores fundamentais. 1- O telefonema do presidente da FIESP para Temer, "CPMF,
nem imaginar". Publicado aqui com exclusividade, um susto de longe para o
presidente interino. 2- Depois, por causa da mesma afirmação infeliz de
Meirelles, outro susto, este de perto,quando foi conhecer ministros-deputados,
que nomeou sem conhecer. “Apertavam as mãos e todos repetiam com a mesma
ênfase: ”A CPMF não passa na Câmara de jeito algum".
Depois de
se julgar vitorioso com a posse no Planalto, mas sem o Alvorada, Michel Temer
acumula derrotas. Transferiu a Previdência para o Ministério da Fazenda, mas
está negociando com o Paulinho da Força. Como compreender ou comentar uma
concessão como essa?
Haja o que houver, não haverá vitoria. Em matéria de projetos, os mais
acelerados, se forem aprovados, entrarão em vigor a partir de janeiro. Pela
modificação da legislação, o Tribunal de Contas tem 6 meses para examiná-los. Ainda
bem, são todos de "redução do Estado". Leia-se: privatizações-
doações.
Alem
do mais, ninguém sabe onde estará, decorridos 6 meses, o presidente interino-
provisório. Mesmo que tenha sido efetivado pelo julgamento do Senado, nada
surpreendente, nenhuma alegria para o sofrido povo brasileiro. Cada vez que me
aprofundo nos meandros e igarapés do TSE, mais me decepciono. È visível,
publica e notória a minha crença e confiança no julgamento dessa alta corte
eleitoral. Vai se esvaindo. Que tristeza.
Não lembro de ninguém que tenha traído tanto
o destino e o futuro quanto José Dirceu
Acabara
de se formar em direito, começou a resistência contra a ditadura dos generais. Preso
infantilmente, foi salvo pelo seqüestro genial do embaixador dos EUA. Os
generais acreditavam que podiam tudo, mas tiveram que libertar e conceder passaporte
a muitos presos, entre eles Dirceu.
Cometeu
erro tremendo indo para Cuba, se formar em guerrilha. Devia ter ido para a
Europa ou EUA, aprimorar sua formação. Em 1979, com a farsa da "anistia
ampla, geral e irrestrita", voltou para o Brasil, se juntou a Lula, seria
o que pretendesse.
Participou
com destaque das quatro campanhas presidenciais. Três derrotas, e finalmente a
vitoria, seria o que quisesse. Escolheu Ministro Chefe da Casa Civil, o
mais
importante e poderoso. Não havia duvida, seria presidente da Republica,
sucessor de Lula. Mas ainda no primeiro mandato, se meteu no mensalão,
condenação dura. Já estava em prisão domiciliar, enquadrado na Lava-Jato,
preso, investigado, denunciado.
E
ontem condenado a 23 anos de prisão em regime fechado. Cabe recurso, perderá. Com
a nova determinação do Supremo, ficará o resto da vida preso. Inacreditável.
Que desperdício. Poderia ter entrado para a Historia. Cumprido até o que se
esperava dele. Trocou o símbolo e a resistência por uma conta bancaria mais
suculenta.
Eduardo Cunha indica o líder do governo
interino de Michel Temer
Todos
já sabiam que André Moura, do PSC de Sergipe, seria o líder do governo na Câmara.
Aparentemente havia disputa entre Rodrigo Maia, candidato de Michel Temer e
André Moura, apoiado pelo antigo presidente da Câmara, A escolha estava marcada
para ontem, 17 horas. Mas ás 13 horas, o ainda candidato, no plenário da própria
Câmara, anunciou: “Sou o líder do governo, fui convidado pessoalmente pelo
presidente Temer".
È
impossível desmoralização maior. Temer é presidente interino e provisório,
consequencia de uma conspiração arquitetada por ele e como único beneficiário.Mas
os que acreditam nisso, completamente enganados. Eduardo Cunha, corrupto,
expulso da presidência da Câmara por decisão do Supremo, manda mais do que
antes. Os casos são inúmeros. Só que derrotar o presidente da Republica, mesmo
provisório, não é para qualquer um.
André
Moura responde a processo no Supremo. E é acusado por tentativa de homicídio.
Nada que impeça qualquer nomeação. No "Vestido de Noiva", a primeira
e a grande peça teatral de Nelson Rodrigues, existe um notável personagem,
identificado como "homem inatual". Neste momento da vida política e
partidária do país, nomear alguém sem qualquer imputação ou acusação criminal,
só pagando royalties ao nosso maior dramaturgo. Estarão revivendo o "homem
inatual".
Mas Eduardo
Cunha, ontem não ficou só nessa vitoria. Manteve Waldir Maranhão como
presidente da Câmara, mesmo provisório. Por que Cunha iria abandoná-lo, se foi
ele que o elegeu vice presidente da Câmara? Quem acredita que Maranhão resiste
sozinho, que distancia da realidade.
O
imprudente e conivente defensor de Cunha, o deputado Pauverley Avelino, não fez
por menos. Advertiu: "Cunha está se arriscando com toda essa
movimentação". Não falou, mas o Supremo pode mandar prendê-lo pelas
atividades indevidas e proibidas que exerce.
Ministério da Cultura
Renan
contou ontem, publicamente: "Procurei o presidente Temer para propor a
recriação do Ministério da Cultura”. Não falou mais nada, fui apurar.Realmente
houve conversa entre os dois,como contou o presidente do Senado.Temer
perguntou como se faria.Resposta de Renan: "Você manda Medida Provisória,
garanto aprovação imediata". Temer com aquele ar entre presunçoso e displicente,
respondeu: "Não dá mais tempo". Logo que surgiu a noticia desastrosa,
apareceu o nome de Adriana Rattes. Do setor, já foi secretaria, Diretora do
Teatro Municipal. Competente, dedicada, apaixonada por cultura. Não aceitaram.
Eletrobrás
As ações
da empresa tiveram os negócios suspensos ontem, em Wall Street. Motivo:
irregularidades e dividas de bilhões. Negociáveis, no capitalismo tudo é negociável.
O presidente da Eletrobrás telefonou para o Secretario do Tesouro, pedindo
ajuda. Resposta: "Tenho que pedir autorização ao presidenteTemer, o
Tesouro é subordinado diretamente a ele". Voltou, informou: "o
presidente nem quis conversar".
O
que Temer não disse a ele: a Eletrobrás é uma das empresas incluída no pacote
de "redução do tamanho do Estado". Faltou também o balanço auditado. Por
que a recusa da auditoria? Prejuízos enormes com a Lava-Jato.
PS1-
O Supremo devia cuidar da sua reputação. Ha dois meses revelei: o Ministro
Gilmar Mendes em maio, será presidente do TSE. E a Ministra Rosa Weber passará
a fazer parte do mais alto tribunal eleitoral do país.
PS2-
O TSE tem sempre 3 membros do Supremo. Ontem, o presidente Lewandowski mandou
distribuir cédulas, "vamos eleger o ministro que representará o
Supremo no TSE".
PS3-
Recolhidas as cédulas, o presidente comunicou: "Meus parabéns, foi eleita
a Ministra Rosa Weber". Ora, se eu publiquei a sua escolha ha 2 meses,
como pode ter sido "eleita" ontem. Todas as escolhas no Supremo,
ocorrem por rodízio.
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