OS PERSONAGENS MAIS IMPORTANTES DO GOLPE DE 64,
FORAM JOÃO GOULART E OS GENERAIS. JANGO QUERIA FICAR NO PODER, OS GENERAIS QUERIAM TOMAR O PODER.
HELIO
FERNANDES
Matéria
reprise - Parte II
Tenta atingir Lacerda.
Em março desse 1963, manda Mensagem ao
Congresso, decretando Intervenção na Guanabara. O objetivo nítido e visível é
tirar Carlos Lacerda do governo da Guanabara. O Congresso reage assombrado, não
concorda, nem mesmo os partidos que o apoiam.
Os líderes Waldir Pires (PSD) e Doutel
d Andrade (PTB) vão ao palácio Laranjeiras, (Jango quase não ia a Brasília)
dizem a ele, “não há clima para a intervenção”. Jango imediatamente retira a
Mensagem.
Chega a vez deste repórter.
Em 21 de julho, recebo de um
extraordinário informante, cópia autentica de uma circular que o Ministro da
Guerra, Jair Dantas Ribeiro mandara a 12 generais. (no total eram 36). Nos dois
carimbos: “Sigiloso e confidencial”.
Lógico, publico no mesmo dia, assim que
a Tribuna sai, Jango telefona para o Ministro, e deu a ordem: “mande prender o
jornalista AUDACIOSO, e enquadre na Lei de segurança”.
Fui preso no mesmo dia, no Batalhão de Polícia, na Barão de Mesquita,
onde anos depois se abrigaria o Doi-Codi, comandado inicialmente pelo general
Orlando Geisel, mais tarde Ministro da Guerra. Na hora do banho de sol, pude
constatar a tremenda divisão do Exército.
Alguns oficiais cruzavam comigo, diziam, "resista, Hélio, estamos com você". Outros me olhavam com ar feroz, se pudessem me fuzilavam. Enquanto isso, meus advogados, Sobral Pinto, Prado Kelly, Adauto Cardoso e Prudente de Moraes, neto, entravam com Habeas-Corpus no Supremo.
O bravo presidente, Ministro Ribeiro da Costa mandou ouvir o Ministro para "saber quem mandara me prender". O general confirmou, aí o Supremo teve que julgar. Desconfiando de que havia alguma coisa fora da curva. O ministro ficou como relator, o que o regimento interno permite. Aceleraram o julgamento, para que terminasse em julho mesmo, os poderosos são supersticiosos, têm pânico do mês de agosto.
Ganhei de 5 a 4, surpresa para o presidente Jango e seu Ministro da
Guerra. Tudo estava preparado para que me condenassem a 15 anos de prisão.
Vou numerar os quesitos para facilitar a compreensão.
1- "Em março de 63 foi feita pesquisa, Jango aparece com 70% de
aprovação. 86 na classe pobre, 62 na A e B". Desculpe, Navarro não houve
nenhuma pesquisa oficial. Se tivesse havido, Jango não teria obtido 62% nas
classes A e B.
2- Outra suposta pesquisa, perguntava. "se Jango pudesse ser
candidato, o que aconteceria?". Não houve mais essa "pesquisa",
a reeleição era impossível.
3- Folha e Estadão não tinham censores nas redações. Os censores só
foram impostos para alguns jornais, a partir de 1968, pouco antes do macabro
AI-5. A situação do Estadão, sempre foi a mesma, desde 1932, quando surgiu a
"Revolução Constitucionalista de 32", comandada pelo Doutor Julio
Mesquita. Em 1937 ele foi exilado em Portugal, junto com o ex-presidente
Bernardes.
Em 64 apoiou o golpe, não demorou muito foi dos maiores combatentes. Da
ditadura. Doutor Julio era assim, gostava do que considerava o bom combate. Não
tinha interesse, acima de tudo convicções. Diferente de quase todos os outros.
4- Depois foi sempre contra o golpe, a tortura, a perseguição, não
transigia. O jornal foi sempre independente, contra ou a favor. 5- Juscelino
era franco favorito para 1965. Pouco antes de terminar seu mandato, fez
sondagens sobre uma possível reeleição, confessou, "não havia clima,
desisti". Mas lançou seu nome para 65, não perderia.
6- Jango nem era considerado, jamais ganhou eleição, a não ser a fraude
da vice montada por Jango em 1960. 7- Os candidatos para disputaren contra JK,
se não tivesse havido o golpe, seriam Ademar de Barros pelo PPS, e Lacerda pela
UDN. Este sempre admitiu que "sua grande meta era a presidência".
Final: vi, vivi, convivi. Tudo aqui é fato. Conclusão é outra coisa,
cabe a cada um. Os jornalões enriqueceram com o golpe, ganharam canais de
radio, televisão (que nem havia na época), hoje explicam o passado:
"Apoiar a ditadura foi equivoco jornalístico".
Enriquecidos mas não arrependidos. Só que sabem que nada é esquecido,
precisa ser explicado.
* A COLUNA VOLTARÁ CIRCULAR EM 4 DE JANEIRO DE 2020.
VOTOS DE FELIZ NATAL E ANO NOVO, AOS AMIGOS LEITORES E FAMILIARES