A
arma mais poderosa dos opressores é o desânimo e a apatia dos oprimidos. Tudo
será feito para desmobilizar a população. Se o nível de indignação popular
diminuir, a busca por justiça ameniza na vontade popular até se esgotar.
“O problema do Brasil é a falta de indignação!”
(Ruy Barbosa)
*ALVARO
COSTA
A 1ª Turma do STF aceitou recurso da PGR,
interposto contra o arquivamento de processos que pedem a reparação de
prejuízos relativos à ajuda do BC para bancos no tempo do governo FHC. Haverá a
retomada de duas ações de reparação de danos por improbidade administrativa
contra os ex-ministros do governo de Fernando Henrique Cardoso, do PSDB: Pedro
Malan (Fazenda), José Serra (Planejamento, Orçamento e Gestão), Pedro Parente
(Casa Civil), além de ex-presidentes e diretores do Banco Central.
O recurso questionava a assistência financeira de
R$ 2,97 bilhões do Banco Central dada, no governo FHC, aos bancos Econômico e
Bamerindus, em 1994, dentro do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao
Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer), que socorreu bancos em
dificuldades. “Afundar um banco é muito mais rentável que roubar um banco”
(Bertold Brecht). Gilmar Mendes tinha arquivado tudo. Os ministros da 1ª Turma
reverteram esse entendimento.
“Nada de novo acontece que não se fale aqui na mesa
do bar”. As castas intocáveis (políticos e empresários envolvidos com a
corrupção e as pilhagens do país) vão contra-atacar com todas as suas forças.
Há planilhas e delações contra todos. A Lava Jato deixou de ser interessante
para as castas poderosas que querem continuar desfrutando dos seus privilégios
seculares. Todos os deslizes legais da Lava Jato serão duramente apontados por
todos os políticos e empresários acusados de corrupção, pouco importa o
partido.
A Justiça, com tantas delações e provas, busca
fechar o cerco contra grande parte das castas dominantes de todos os partidos.
Mas os contra-ataques já estão começando. Essa foi a tática usada na operação
“Mãos Limpas” na Itália que acabou sufocada (http://www.conjur.com.br/2016-mar-27/operacao-maos-limpas-nao-diminuiu-corrupcao-dizem-juizes-italianos):
O diabo também veste toga, a Justiça criminal é impotente para mudar o cenário
da corrupção, quando esta é difusa na sociedade.
Corrupto é o outro. O brasileiro sempre quer tirar
vantagem: sonegar nota fiscal; subornar o guarda; falsificar carteira de
estudante; furar fila; comprar produtos falsificados; bater ponto para o
colega; colar na prova da escola; fazer “gato” de luz, de água, na TV paga;
passar pelo acostamento; fura fila; não devolver o troco. Defendemos uma
sociedade sem corrupção, mas, nos falta ética nessas pequenas coisas. Vale para
o brasileiro a vantagem, levar a melhor, a “lei de Gérson”.
As castas destruirão a imagem dos juízes,
procuradores e policiais; proporão leis de anistia, favorecendo Eduardo Cunha,
Renan, Lula, várias lideranças do PSDB, e todos os demais partidos políticos;
buscam preservar mandatos dos processados enfatizando que a corrupção é
generalizada no país; protelarão as investigações favorecidos pela morosidade
do STF. Se não houver intensa mobilização da sociedade, as castas intocáveis
vencerão mais esta luta, em que pese perderem alguns soldados.
Gigante pela própria natureza, o Brasil não tem
sido capaz de dominar suas castas influentes e governantes, que se julgam
intocáveis a ditar as regras da ordem social, garantindo sua própria
impunidade. Se essa questão não for alterada, perderemos mais um século, XXI,
em que nosso sistema socioeconômico e cultural suicida: prevalecerá: as castas
querem mais poder para fazer mais dinheiro, e mais dinheiro para conquistar mais
poder, e mais poder ainda para ter mais dinheiro e assim vai moto contínuo.
O império das castas intocáveis contra-ataca com
suas instituições engajadas escaladas para cumprir o papel de combatente
mediante técnicas repetitivas: “a corrução é generalizada; todos praticamente
somos corruptos; quem nunca pecou que jogue a primeira pedra”. A arma mais
poderosa dos opressores é o desânimo e a apatia dos oprimidos. Tudo será feito
para desmobilizar a população. Se o nível de indignação popular diminuir, a
busca por justiça ameniza na vontade popular até se esgotar.
A indignação é nosso dever, lançar todas as
críticas do mundo contra os corruptos é nossa obrigação, mas devemos criar
vergonha na cara, e mudar hábitos arraigados constitui um bom começo, em oposição
ao cinismo hipócrita, que em cada eleição repete o voto subserviente, pois, sem
educação de qualidade para todos, conjugado às mudanças culturais profundas
teremos o mesmo destino da Itália: continuaremos um país sistematicamente
corrupto, longe da observância da lei e da Justiça para todos.
*Alvaro Costa é advogado
Constitucionalista.
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