Para Dilma, a palavra é, "repactuação". Meu
reino por um cavalo, 600 cargos em troca de 172 votos, não renuncio nem quero
sofrer impeachment. Me ajudem a salvar o Brasil e o Lula
HELIO FERNANDES
A
presidente emendou o fim da terça, e o inicio da quarta. Lula saiu do Alvorada
depois da meia noite, os Ministros foram saindo, os últimos foram Eduardo
Cardoso e Jaques Wagner. O ex-presidente só queria falar no Supremo, Dona Dilma
se preocupava unicamente com os 172 votos. E chegava a provocar irritação no próprio
Lula, que perdeu a calma, e disse em voz alta, até com hostilidade: "Ninguém
liga para meus problemas. Estou certo que o Supremo me mandará para Curitiba,
não estarei aqui, para aconselhar vocês". Na verdade, cada um tratava do
individual, acreditando que isso é que salvaria o coletivo.
Dilma
dormiu pouco, ás 7 já estava fora da cama, pensando nas pedaladas (as duas, com
aspas ou sem elas). Não adiantou acordar tão cedo, os personagens, os partidos
e os tribunais, só passariam a existir a partir das 2 da tarde. Os
pensamentos se fixavam no PDT e nos seus 49 votos. Como conversar com o PDT, se
o partido não tem comando nem hierarquia? Sem pensar, gritou, assustando a
empregada que lhe dava o café: "Se o Brizola estivesse vivo". Pediu
desculpas.
A
salvação pela abstenção
Dona
Dilma chegou ao Planalto por volta das 11, Jaques Wagner disse a ela: "PresidentA,
estão aí três advogados da OAB, contra o impeachment, precisam falar com a
senhora". Recebeu-os, a conversa era sobre a votação do impeachment.
Primeiro a identificação: "Somos do grupo pró-democracia, contra os que
pretendem o impeachment, que só chamamos de "parceiros" do presidente
da Câmara". "Depois a proposta-revelação: "A senhora vai
conversar com os dirigentes dos outros partidos, que podem seguir o PMDB”.
Não
precisa pedir que não votem contra e sim a favor, basta que se abstenham. Podem
estar presentes, votar em branco, ou não comparecer. “Se 100 deputados desses
partidos, não votarem, os defensores do impeachment ficarão longe dos 342
votos".
Dona
Dilma ficou perplexa, Wagner e o ex-ministro da Justiça, que acabara de chegar,
também. Explicaram: "O governo não precisa de 172 votos, os que lutam a
favor do impeachment é que precisam de 342. Se tiverem 341, não ha impeachment,
desnecessário contar os votos do governo, logicamente contra a derrubada da
presidente". Saíram, os que ficaram, começaram os contatos, não apenas com
os partidos que têm 123 votos, mas também com outros, da base ou que já foram.
Petrobras, dólar, inflação
Enquanto
a luta pelos votos não começam, vejamos fatos importantíssimos. Da área econômica,
contaminados pela baixaria da política. As ações da Petrobras estão sendo
recomendadas por Fundos externos, com "prioridade". E aqui, o Itaú
BBA faz a mesma coisa. Motivo: segunda feira essas ações estavam a 9 reais,
ontem fecharam a mais de 11. O mercado não é confiável, mas a capacidade de
recuperação da Petrobras é mais do que visível. E uma parte enorme dessa
recuperação se deve á Lava-Jato.
O dólar
está a 3,60, mas o governo não sabe qual o patamar que prefere para a moeda.
Pelos lados do Banco Central, já se ouve: "Quando estava a 4, muito melhor
para a exportação". Ora, o país não vive apenas de exportação, embora seja
importante. E a inflação, continua girando entre 8 e 9, apesar do presidente do
BC e o Ministro da Fazenda insistirem em falar em 6,5 (o centro da meta) ou menos.
A propósito: a tristeza de Nelson Barbosa é impressionante. Quase não aparece,
não dá uma palavra, a impressão geral é esta: deve acreditar que o fim da guerra
do impeachment deve ser também o seu fim.
O conselho da falta de ética, examina mais uma
farsa criminosa
Horas e
horas para discutir, debater ou concordar com mais uma decisão em causa própria
do deputado Eduardo Cunha. A Mesa diretora da Câmara, presidida por ele,
resolveu: deputados que tenham mudado de partido, não importa o tempo, não
podem pertencer ao conselho. São três, terão que ser substituídos.
A Mesa da
Câmara, tem 8 membros, 3 titulares e 5 suplentes. O presidente do conselho,
José Carlos Araujo, disse textualmente: "Eduardo Cunha agiu na CALADA DA
NOITE, vergonhosamente".
Não acontece
nada, o presidente da Câmara, já réu por corrupção e lavagem de dinheiro
acelera o processo de impeachment. Retarda o seu protegido e garantido
pelo impoluto Michel Temer. Declaração repetida de Cunha: "Antes do fim do
fim do ano, minha cassação não será julgada". Pela primeira vez não está
mentindo.
O Supremo não tratou do Lula, mas examinou as "masmorras
medievais"
Ha 18
dias o país espera ansioso, a palavra do mais alto tribunal do país. Quer saber
se o ex-presidente pode ou não pode ser Ministro, se será julgado em Curitiba
ou em Brasília. Não por questões geográficas e sim de preferências pessoais. E
não deverá responder também hoje, quinta freira, parece que a presença de
Gilmar Mendes é indispensável.
Trataram
então de uma questão gravíssima: a situação das penitenciarias, que o Ministro
Marco Aurélio identificou muito bem como "masmorras medievais". O
presidente Lewandowski, que tem tratado do assunto, confirmou: "O Brasil
tem uma população carcerária de 720 mil pessoas, sendo que 240 mil nem foram
julgadas.
O
problema no Brasil é cruel, mas existe também no resto do mundo. Ha 80 anos,
Bernard Shaw escrevia: "Numa penitenciaria, o homem mais atormentado e
certamente mais assustado é o seu diretor".
A repactualização pluripartidária
Ontem,
primeiro dia depois da fuga do PMDB, o partido que entrava mais frenética e vorazmente
no mercado, era o próprio. Saíram da sessão relâmpago e foram todos para o
Jaburu, onde os áulicos saboreavam a vitoria, com o poderoso chefão, Michel
Temer. Ficaram até tarde, conversaram muito, e como são profissionais, foram se
convencendo de que a realidade era bastante diferente da que imaginavam. Examinaram
muito, esmiuçaram,ficaram apreensivos.
Primeiro
convencimento: os 600 cargos do primeiro, segundo e terceiro escalão, iriam
seduzir muita gente. O PMDB tinha experiência dos últimos 5 anos e de outros
carnavais. Acertaram e concordaram: o Planalto iria cumprir
"religiosamente" o que está no sistema, e oficializa o troca-troca,
como fizeram com eles o tempo todo ou até agora. Pela manhã de ontem os dois
grupos já se enfrentavam na compra de votos para o impeachment.
Foi fácil
de perceber: ninguém tem duvidas ou dificuldades em conversar. A questão é o
preço e a oportunidade. O governo leva uma vantagem: oferece os cargos e
entrega imediatamente. O PMDB de Temer faz negocio, mas só entrega a
mercadoria, depois de uma possível vitoria.Os partidos que têm um Ministério,
sentem logo a possibilidade de aumentar para dois, sem falar dos lugares no
segundo e terceiro escalão.
Todos
pedem tempo, deixa março terminar e começar abril. Frase muito repetida de
todos os lados: "Aceitamos outro ministério, de porteira fechada".
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