A
comparação entre o impedimento de Dilma, ontem pela Câmara com o drama de Café
Filho, em 1955, impedido pelo Supremo
HELIO FERNANDES
Nada
melhor para uma analise de fatos semelhantes, do que juntar passado, presente e
futuro. O que está acontecendo hoje,aconteceu em 1955.Os personagens no
passado, eram o vice Café Filho, que assumiu com a morte de Vargas e o
governador de Minas, Juscelino Kubitschek, que era candidato á sucessão.Agora,
Dilma, presidente ,Temer vice, que deseja e conspira para "herdar" o
cargo dela.
Em
janeiro de 1955, JK pediu audiência, disse ao presidente: "Vim lhe
comunicar que serei candidato á sua sucessão". Resposta: "Agradeço a
consideração, ficarei neutro". No melhor estilo Café Filho, lançou
imediatamente a candidatura de Juarez Távora, Chefe da Casa Militar.
Tudo foi
difícil na campanha de JK, da qual participei intensamente. Quando me convidou
para dirigir a parte de comunicação, me disse: "Antes da tua resposta,
quero dizer que não ha dinheiro para nada. No Comitê, só você e o Embaixador
Negrão de Lima". Aceitei na hora, dizendo: "Participar de uma
campanha, correr o Brasil varias vezes, isso é melhor do que qualquer
coisa".
Eu havia
conhecido Juscelino na Constituinte de 1945, mocissimo, meu primeiro trabalho
importante para a revista O Cruzeiro. Estavam lá, todos os personagens que
seriam relevantes. Incluindo o jornalista Carlos Lacerda, que cobria para o
Correio da Manhã. (Eram 17 jornalistas).
Lançada
a candidatura JK, o primeiro ataque frontal veio de Lacerda: "Juscelino
não será candidato, se for, não ganha, se ganhar, não toma posse, se tomar posse,
não governa”. Vencidas todas as etapas, declarado eleito pela Justiça
Eleitoral, tentaram impedir sua posse. No dia 11 de novembro de 1955,
dois golpes de generais. Um para impedir sua posse, outro para garanti-la.
Durou o dia todo, varou a madrugada.
Numa
ultima reunião no Palácio do Exercito, os Marechais Lott e Denys consolidaram a
posse de JK, fomos todos para o Congresso. Chuva devastadora, chegamos a 1 da
madrugada. Começou a articulação política.
O País
estava sem presidente. Carlos Luz, presidente da Câmara, não quis assumir,
preferiu a conspiração. Foram todos para São Paulo no Tamandaré, pedir ao
governador Janio Quadros para chefiar a não posse de JK. Estavam Lacerda,
Brigadeiro Eduardo Gomes, Almirante Pena Botto. Lógico, Janio conversou, e não
resolveu nada.
No
Congresso, decidiram: quem devia assumir era o presidente do Senado, Nereu
Ramos. Mas como ficou decidido, que Nereu seria eleito presidente efetivo até
31 de Janeiro, e não interino, quem tomou posse ás 2 da madrugada, foi o
Primeiro vice da Câmara, Flores da Cunha. (Ninguém conhece esse fato).Ficou
como presidente interino, até ás 6, quando Nereu foi eleito e empossado.
Imediatamente
os advogados de Café entraram com recurso no Supremo, pedindo sua volta ao
poder. Café estava no hospital, um dos seus truques. O Supremo aceitou, não
podia recusar, o relator, Ministro Nelson Hungria. Sessão marcada para o dia 21
ás 13 horas, no belíssimo Supremo da Avenida Rio Branco, em frente ao Monroe,
sede do Senado. (Que 20 anos depois o "presidente" Geisel,
criminosamente mandaria derrubar). O Supremo lotado, este repórter na primeira
fila, entre dois notáveis, Dario de Almeida Magalhães e Milton Campos.
De pé, magnífico,
magistral, Hungria não deu 1 voto, construiu um libelo sobre e contra Café
Filho. Mostrou seu passado de conspirador, resumiu: "Se garantirmos a
posse de Nereu Ramos, teremos a certeza de tranqüilidade até o dia 31 de
janeiro, quando passará o cargo, na certa, ao presidente eleito. Se votarmos
pela volta do conspirador (fez questão de repetir) Café Filho, não teremos um
instante de tranqüilidade".
Votação
unânime, aplaudido de pé, como se estivéssemos numa opera. O senador Milton
Campos falou para mim e o doutor Dario: "Se eu fosse o relator, diria, nego
porque pediu. Como pretender que um poder desarmado como é o Supremo, enfrente
generais, que alem do mais, defendem a democracia".
JK tomou
posse, governou os 5 anos. Sofreu muito depois, perseguido e cassado pelo golpe
de 64. (Isso já é outra historia). Dilma perdeu ontem, na Câmara, o primeiro
episodio de um possível e definitivo afastamento pelo Senado. O processo,domingo,naturalmente
político.
E Dilma
perdeu por uma única e conclusiva constatação: não teve os indispensáveis 172
votos. Com isso, difícil ganhar alguma coisa. O Senado aceitará a abertura. Quórum
de 41 senadores, precisa apenas 21 a favor. Não tem nem líder para conversar. É
dramática, indefensável, quase irrevogável a situação da presidentA.
54 votos
para derrubar Dilma, antes impossível, agora, examinável. O Advogado Geral da
União, disse ontem, ao meio dia: "A presidentA está aberta ao
dialogo". Também estava na Câmara, ninguém apareceu ou se ofereceu. Ela
nem sabe se pode conversar com Renan. A Constituição determina até
6 meses, não irá durar tanto. Mas qualquer analise, no momento, é arriscada.
O fracasso das manifestações de rua
Que
decepção. Esperavam recorde em todos os estados, principalmente Brasília, Rio, São
Paulo. Na capital estimavam 300 mil pessoas, a maior concentração anterior, de
150 mil, contestada.Pois domingo,apenas 79 mil, contra e a favor somados.
Na capital paulista, tão pouca gente, que até a PM se surpreendeu. No Rio dava
para você passear entre os grupos. As televisões nem se interessaram.Geralmente
dão uma "janelinha", domingo nem isso.Um "especialista" me
explicou: "A divisão, como foi feita em Brasília, constrangimento
geral". Concluiu: "Ouvi de gente", "não somos
marginais, queremos apenas participar, é a nossa obrigação". Faz
sentido.
Impeachment: Câmara e Senado
Eduardo
Cunha entregou o relatório da votação de domingo. Foi ao senado, com um bando
de deputados. Tudo agora, com o Senado. O presidente da Câmara desaparece, quem
ganha predominância é Renan Calheiros. Que já aproveitou, esteve com a presidente
Dilma. E mais tarde com o Presidente do Supremo, Ministro Lewandowski, que
preside o julgamento no Senado. (O Ministro Sidney Sanches em 1992, presidiu o
julgamento de Collor).
A luta,
agora, é para formar a Comissão especial, igual á da Câmara. A diferença, é que
o impoluto Eduardo Cunha, sem oposição, indicou o presidente e o relator. O que
não acontecerá no Senado, Renan, pressionadissimo.
O senador
Eunício de Oliveira, quer ser o relator da Comissão. Temer foi para São Paulo
"conspirar” com empresários que financiaram tudo. Querem garantir a
recompensa. Entregou o controle a Romero Jucá, que foi líder de FHC, Lula,
Dilma. Que isenção. Não vetam Eunício, mas é lógico, querem alguém menos
importante e mais submisso. Hoje deve haver reunião de lideres, perdão de
"lideres". Surgiram nomes mais maleáveis, a batalha começa hoje.
Dilma: a chatíssima fala quase fora do trono
Foram 18
minutos desperdiçados, se dizendo "injustiçada e abandonada". Falou
varias vezes em democracia, repetiu imoderadamente: "Tenho animo, força e
coragem para enfrentar a luta". Não parecia. Insistiu: "Fui condenada
e injustiçada, repetiu, pelas coisas que todos fizeram antes”. Eram as
"pedaladas".Não percebeu até agora, que dos 367 que votaram contra
ela, nem 20 ou 30 sabiam o que era isso, nem queriam saber.Aparentemente ninguém
lhe disse: "PresidentA, com mais 25 votos, teríamos derrotados todos, o
processo era e é político". Continuou respondendo a perguntas, uma espécie
evidentemente negativa, da sonata e fuga de Bach. Desliguei.
O Ministro Eduardo Braga
È do
PMDB, recebeu recado da cúpula: "Tem que entregar o Ministério das Minas e
Energia".Talvez entregasse logo, é senador. Mas tem um grande problema: a
mulher é a suplente, está no exercício, e gostando muito. Em 2014
disputou o governo do Amazonas, franco favorito, foi derrotado. Se tivesse sido
eleito, a mulher efetivada, nenhuma dificuldade. Pediram pressa.
*ESTE COLUNISTA VAI COBRIR O IMPEACHMENT NO SENADO...
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