Titular: Helio Fernandes

terça-feira, 26 de abril de 2016

Temer quer que o cidadão-contribuinte-eleitor, fique só como contribuinte. Ajudado por empresários

HELIO FERNANDES

Começou ontem, bem tarde, a divisão dos postos ostensivos, na Comissão que pretende consumar a deposição da presidente Dilma. O país, publicamente está dividido em três partes. Mas nesse Senado ululante, quem decidirá o primeiro tempo, será o grupo que se intitula arbitrariamente majoritário. E é mesmo, se levarmos em consideração apenas os números e não as maquinações, manobras e malabarismos de bastidores. 

E suas conseqüências imprevisíveis, mas rigorosamente calamitosas e possivelmente reversíveis. Naturalmente num prazo longo, que está na razão direta da incapacidade dos que se aproximam da vitoria agora.

O segundo grupo ou segunda parte, naturalmente é o de Dona Dilma, ilhada, isolada, quase destituída no Planalto-Alvorada. Errou mais do que era possível ou permitido. Incompetente, imprudente, inconsciente, paralisando o país, com a colaboração entusiasmada dos que se diziam oposição, mas eram e continuam sendo única e avidamente esperançosos de um governo sem voto, sem povo, sem urna.

Finalmente a terceira parte dos brasileiros, tão culpados quanto os outros, só que sem perceberem, se alienando voluntariamente do processo democrático. Contemplativos e complacentes, não se respeitam e não se engrandecem, assumindo o compromisso do silencio cúmplice e acumpliciado. 

Entre esses, personagens de relevância e importância. Se rompessem o silencio, suas vozes seriam estridentes o bastante para abafar até os gritos de satisfação e alegria dos que freqüentam os subterrâneos da politicalha destrutiva. Mas garantem que são os compreensíveis bastidores da política construtiva.

O presidente da FIESP, vai ao Jaburu, lembrar da recompensa

O Millor, encantado com o fim de tarde do Arpoador (o mais bonito e inebriante do mundo), escreveu Constituição com artigo único: "O pôr do sol é para quem o vê". Na mesma linha, e sem pagar royalties, o Millor está morto, querem implantar uma Constituição, também com artigo único: "O Poder é para quem o toma". Dizem que Michel Temer viu primeiro, naturalmente guiado, acolitado e encaminhado pelo presidente da Câmara.

Este, sem arma de fogo, apenas com o descaramento, sem constrangimento ou arrependimento, é o homem mais poderoso do país. Nem quero negar o fato, tenho paixão pelo rigor da verdade jornalística. (Desde que fiz meu primeiro trabalho importante, ha 71 anos, cobrindo a Constituinte de 1945 para a revista O Cruzeiro. Tinha 24 anos, já era jornalista, mas essa cobertura, inesquecível).

Sem Eduardo Cunha, seus 50 votos, sua coordenação, seu domínio inconstratavel, senadores não estariam disputando vagas para ver como derrubam um presidente eleito. Incompetente, mas legitimo. Só deixará de ser legitimo e constitucional com a intervenção do TSE. Mas aí, Michel Temer irá junto. O mesmo Michel Temer que trata vorazmente de formar um governo permanente, que inicial e facilmente será interino, quando a efetiva for afastada. 

Precisam apenas 21 votos, tranqüilidade. Mas para o afastamento definitivo, necessários 54, ainda não conseguiram. 

Apesar da luta agora ser no Senado, Eduardo Cunha trabalha muito. Um deputado conseguindo votos no Senado? Eu sei, parece inconcebível. Mas a vida política está dominada pelos servos, submissos e subservientes. O mesmo "sentimento" que domina o vice, quando age, simplesmente conversa ou desconversa. Garante que não nomeará 39 Ministros. Diz textualmente: "Não passarei de modo algum de 21".

Mas seus contatos deixam a impressão que todo governo só tem um ministério de verdade, o da Fazenda. Lógico, é importante, mas tem muitos coadjuvantes que igualmente precisam de titulares. Não cuida nem do Banco Central. Não se ouve uma palavra sobre desemprego, divida publica, inflação, dólar, juros elevadíssimos, e PIB ao contrario, reduzidíssimo. Alguns entram no Jaburu como o Presidente da FIESP, Paulo Skaf, não esperam muito, vão embora, mas falam aos jornalistas de plantão interno e eterno: "O Presidente Temer não a vai aumentar impostos". 

Ninguém falou nisso. Mas se os impostos caíssem de 36 por cento para 30, melhorando a vida de cada cidadão-contribuinte-eleitor, que maravilha viver. Mas esse empresariado brasileiro só pensa no irreal, é possível que não aumentem impostos. Mas esperar redução, quimera, exercício vago e vazio de futurologia. O que se esperava e se espera de empresários: investimento, eles mesmo serão beneficiados pelo crescimento e desenvolvimento. 

Ha mais de 40 anos, me refiro ao cidadão-contribunte-eleitor. Agora, com a aliança do ambicioso vice, coligado com empresários abastados, enriquecidos, mas pretendendo mais riquezas, o trabalhador cidadão -contribuinte-eleitor, perderá duas palavras, deixará de ser cidadão e eleitor, ficará apenas como contribuinte. Naturalmente obrigatório.

400 anos da morte de Shakespeare e Miguel de Cervantes 

Não se pode escrever diariamente apenas sobre impeachment, traição, Lava-Jato. Esquecendo raridades ou até fatos desconhecidos a respeito desses gênios. O primeiro nasceu em 1543, o segundo em 1547. Morreram em 1616 no mesmo dia. Acontece que naquele momento o Papa Gregório estava coordenando o "Calendário Gregoriano", que o mundo nem se lembra que deve a ele. Os países viviam na mais completa bagunça e confusão de dados e datas. Tudo isso foi unificado.

Mas o Papa precisava consultar os países, as respostas variavam, demoravam ou nem chegavam. A Espanha referendou o "Calendário" no mesmo dia. A Grã-Bretanha levou 17 dias. Dessa forma, a morte dos dois, pelo menos na historia,tem essa diferença, embora tenham morrido no mesmo dia. Sabe-se tudo sobre o criador do atualíssimo Dom Quixote. 

Apesar das biografias, quase nada se conhece do também citadíssimo e admiradíssimo Shakespeare. Quando Thomaz Jefferson escreveu o libelo de 4 de Julho de 1776, declarando a Independência dos EUA, intelectuais dos dois países, registraram: "É o que de melhor já se escreveu em língua inglesa, ressalvando naturalmente Shakespeare". 

O PSDB não sabe o que quer

Situação difícil para Michel Temer, que assumirá na certa, quando dona Dilma for "afastada" por até 180 dias. E precaríssima para o partido que é dominado apenas
por 3 donos: Serra, Alckmin e o "jovem presidenciável" Aécio Neves. Acontece que os três disputaram e perderam as 4 ultimas eleições presidenciais. Serra em 2002, Alckmin 2006, novamente Serra em 2010, Aécio em 2014. E os três almejam, pretendem, esperam outra candidatura, aparentemente em 2018. 

O domínio deles é tão estapafúrdio e incontestável, que a maior força eleitoral do Paraná, Alvaro Dias, reeleito para o Senado com 67 por cento dos votos, teve que ir para o PV.  

Agora, mais do que natural, têm posições diferentes e até conflitantes. Serra não ligará para o que o presidente Aécio pensa, será Ministro. Seu sonho era a Fazenda, afastado. Mas irá para a Educação ou para a Saúde, que já ocupou. O que Serra não quer é ficar na planície, longe do Planalto.

O governador de São Paulo, que tem acordo com o PSB para 2018, defende a não hostilidade. E Aécio, que tem 4 ações no TSE contra Dilma e Temer, tenta encontrar uma posição que não seja contraria. Ninguém imagina onde está a tão propalada "salvação nacional", pregada por Temer - Eduardo Cunha. Impossível não só imaginar, mas convencer alguém que são capazes de altruísmo, grandeza e desprendimento.

O senado elege Titulares e suplentes

Depois de mais de duas horas de "questões de ordens" impertinentes, tolas, desajustadas e fora da curva, escolheram os 42 senadores que formarão a Comissão Especial. Pretendiam que o senador Lira, indicado presidente da Comissão, realizasse naquele momento a eleição do presidente efetivo e o relator. Inacreditável tumulto, impossível qualquer reunião. O senador pediu a palavra, explicou:"Mandei preparar uma  sala especial para funcionamento da Comissão. Ficará pronta no final da noite, amanhã(hoje) ás 10 horas, estaremos elegendo presidente e relator".Eram mais de 7 da noite, decisão clara e de bom senso, ainda protestaram.

Foram horas de questionamento, das mais diversas partes e partidos. O senador Ronaldo Caiado falou 5 vezes, numa delas, afirmou: "O Ministro Marco Aurélio, do Supremo, já deu PARECER a favor do processo". Desculpe, senador, mas Ministro não dá parecer, Ministro VOTA". Caiado tem espalhado que será Ministro da Agricultura, representando o DEM. A seguir falou 3 vezes, o presidente do próprio DEM, José Agripino. Acredito que perdeu o cacife, depois de ter, por decisão do Ministro Teori Zavascki , o sigilo bancário dele e do filho, "quebrado".

Senador Anastasia em debate

Indicado para relator da Comissão Especial, seu nome discutido, debatido, negado, por mais de 3 horas. Ninguém fez restrições. Apesar da escolha ser apenas hoje ganhou fartos elogios e vetos do mesmo tamanho. Motivo:é do PSDB, foi vice de Aécio, depois governador. Deverá ser eleito, o governo não tem votos para recusá-lo. 

E é preciso não esquecer. O impeachment não tem o menor viés jurídico, é rigorosamente político, como transitou na Câmara. Os 367 que votaram, nem sabiam o que votavam. Receberam as ordens, (e não apenas ordens verbais) junto com a autorização para massacrar os milhões de brasileiros que estavam com a televisão ligada.  


PS-Não posso terminar sem registrar a derrota dupla de Eduardo Cunha.1-O Ministro Zavascki autorizou o delator Fernando Baiano, que fez acusações contra ele, a depor na Comissão de Ética. Reiterando o que já disse.Como presidente, afirmou, "a Câmara não pagará a passagem dele". 2-Embora seja questão menor, a Câmara pagou a passagem. Ficou furioso, mas não "passou recibo". 

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