Temer quer que o
cidadão-contribuinte-eleitor, fique só como contribuinte. Ajudado por empresários
HELIO
FERNANDES
Começou ontem, bem tarde, a
divisão dos postos ostensivos, na Comissão que pretende consumar a deposição da
presidente Dilma. O país, publicamente está dividido em três partes. Mas nesse
Senado ululante, quem decidirá o primeiro tempo, será o grupo que se intitula arbitrariamente
majoritário. E é mesmo, se levarmos em consideração apenas os números e não as
maquinações, manobras e malabarismos de bastidores.
E suas conseqüências
imprevisíveis, mas rigorosamente calamitosas e possivelmente reversíveis. Naturalmente
num prazo longo, que está na razão direta da incapacidade dos que se aproximam
da vitoria agora.
O segundo grupo ou segunda parte,
naturalmente é o de Dona Dilma, ilhada, isolada, quase destituída no
Planalto-Alvorada. Errou mais do que era possível ou permitido. Incompetente,
imprudente, inconsciente, paralisando o país, com a colaboração entusiasmada
dos que se diziam oposição, mas eram e continuam sendo única e avidamente
esperançosos de um governo sem voto, sem povo, sem urna.
Finalmente a terceira parte dos
brasileiros, tão culpados quanto os outros, só que sem perceberem, se alienando
voluntariamente do processo democrático. Contemplativos e complacentes, não se
respeitam e não se engrandecem, assumindo o compromisso do silencio cúmplice e
acumpliciado.
Entre esses, personagens de relevância e importância. Se
rompessem o silencio, suas vozes seriam estridentes o bastante para abafar até
os gritos de satisfação e alegria dos que freqüentam os subterrâneos da
politicalha destrutiva. Mas garantem que são os compreensíveis bastidores da
política construtiva.
O presidente da FIESP, vai ao Jaburu, lembrar da
recompensa
O Millor, encantado com o fim de
tarde do Arpoador (o mais bonito e inebriante do mundo), escreveu Constituição
com artigo único: "O pôr do sol é para quem o vê". Na mesma linha, e
sem pagar royalties, o Millor está morto, querem implantar uma Constituição,
também com artigo único: "O Poder é para quem o toma". Dizem que
Michel Temer viu primeiro, naturalmente guiado, acolitado e encaminhado pelo
presidente da Câmara.
Este, sem arma de fogo, apenas
com o descaramento, sem constrangimento ou arrependimento, é o homem mais
poderoso do país. Nem quero negar o fato, tenho paixão pelo rigor da verdade
jornalística. (Desde que fiz meu primeiro trabalho importante, ha 71 anos,
cobrindo a Constituinte de 1945 para a revista O Cruzeiro. Tinha 24 anos, já
era jornalista, mas essa cobertura, inesquecível).
Sem Eduardo Cunha, seus 50 votos,
sua coordenação, seu domínio inconstratavel, senadores não estariam disputando
vagas para ver como derrubam um presidente eleito. Incompetente, mas legitimo.
Só deixará de ser legitimo e constitucional com a intervenção do TSE. Mas aí,
Michel Temer irá junto. O mesmo Michel Temer que trata vorazmente de formar um
governo permanente, que inicial e facilmente será interino, quando a efetiva
for afastada.
Precisam apenas 21 votos, tranqüilidade. Mas para o afastamento
definitivo, necessários 54, ainda não conseguiram.
Apesar da luta agora ser no
Senado, Eduardo Cunha trabalha muito. Um deputado conseguindo votos no Senado?
Eu sei, parece inconcebível. Mas a vida política está dominada pelos servos,
submissos e subservientes. O mesmo "sentimento" que domina o vice, quando
age, simplesmente conversa ou desconversa. Garante que não nomeará 39
Ministros. Diz textualmente: "Não passarei de modo algum de 21".
Mas seus contatos deixam a
impressão que todo governo só tem um ministério de verdade, o da Fazenda. Lógico,
é importante, mas tem muitos coadjuvantes que igualmente precisam de titulares.
Não cuida nem do Banco Central. Não se ouve uma palavra sobre desemprego,
divida publica, inflação, dólar, juros elevadíssimos, e PIB ao contrario,
reduzidíssimo. Alguns entram no Jaburu como o Presidente da FIESP, Paulo Skaf,
não esperam muito, vão embora, mas falam aos jornalistas de plantão interno e
eterno: "O Presidente Temer não a vai aumentar impostos".
Ninguém falou nisso. Mas se os
impostos caíssem de 36 por cento para 30, melhorando a vida de cada
cidadão-contribuinte-eleitor, que maravilha viver. Mas esse empresariado
brasileiro só pensa no irreal, é possível que não aumentem impostos. Mas
esperar redução, quimera, exercício vago e vazio de futurologia. O que se
esperava e se espera de empresários: investimento, eles mesmo serão
beneficiados pelo crescimento e desenvolvimento.
Ha mais de 40 anos, me refiro ao
cidadão-contribunte-eleitor. Agora, com a aliança do ambicioso vice, coligado
com empresários abastados, enriquecidos, mas pretendendo mais riquezas, o
trabalhador cidadão -contribuinte-eleitor, perderá duas palavras, deixará de
ser cidadão e eleitor, ficará apenas como contribuinte. Naturalmente obrigatório.
400 anos
da morte de Shakespeare e Miguel de Cervantes
Não se pode escrever diariamente
apenas sobre impeachment, traição, Lava-Jato. Esquecendo raridades ou até fatos
desconhecidos a respeito desses gênios. O primeiro nasceu em 1543, o segundo em
1547. Morreram em 1616 no mesmo dia. Acontece que naquele momento o Papa Gregório
estava coordenando o "Calendário Gregoriano", que o mundo nem se
lembra que deve a ele. Os países viviam na mais completa bagunça e confusão de
dados e datas. Tudo isso foi unificado.
Mas o Papa precisava consultar os
países, as respostas variavam, demoravam ou nem chegavam. A Espanha referendou
o "Calendário" no mesmo dia. A Grã-Bretanha levou 17 dias. Dessa
forma, a morte dos dois, pelo menos na historia,tem essa diferença, embora
tenham morrido no mesmo dia. Sabe-se tudo sobre o criador do atualíssimo Dom
Quixote.
Apesar das biografias, quase nada se conhece do também citadíssimo e
admiradíssimo Shakespeare. Quando Thomaz Jefferson escreveu o libelo de 4 de Julho
de 1776, declarando a Independência dos EUA, intelectuais dos dois países,
registraram: "É o que de melhor já se escreveu em língua inglesa,
ressalvando naturalmente Shakespeare".
O PSDB
não sabe o que quer
Situação difícil para Michel
Temer, que assumirá na certa, quando dona Dilma for "afastada" por
até 180 dias. E precaríssima para o partido que é dominado apenas
por 3 donos: Serra, Alckmin e o
"jovem presidenciável" Aécio Neves. Acontece que os três disputaram e
perderam as 4 ultimas eleições presidenciais. Serra em 2002, Alckmin 2006,
novamente Serra em 2010, Aécio em 2014. E os três almejam, pretendem, esperam
outra candidatura, aparentemente em 2018.
O domínio deles é tão estapafúrdio e
incontestável, que a maior força eleitoral do Paraná, Alvaro Dias, reeleito
para o Senado com 67 por cento dos votos, teve que ir para o PV.
Agora, mais do que natural, têm
posições diferentes e até conflitantes. Serra não ligará para o que o
presidente Aécio pensa, será Ministro. Seu sonho era a Fazenda, afastado. Mas irá
para a Educação ou para a Saúde, que já ocupou. O que Serra não quer é ficar na
planície, longe do Planalto.
O governador de São Paulo, que
tem acordo com o PSB para 2018, defende a não hostilidade. E Aécio, que tem 4
ações no TSE contra Dilma e Temer, tenta encontrar uma posição que não seja
contraria. Ninguém imagina onde está a tão propalada "salvação
nacional", pregada por Temer - Eduardo Cunha. Impossível não só imaginar,
mas convencer alguém que são capazes de altruísmo, grandeza e desprendimento.
O senado
elege Titulares e suplentes
Depois de mais de duas horas de
"questões de ordens" impertinentes, tolas, desajustadas e fora da
curva, escolheram os 42 senadores que formarão a Comissão Especial. Pretendiam
que o senador Lira, indicado presidente da Comissão, realizasse naquele momento
a eleição do presidente efetivo e o relator. Inacreditável tumulto, impossível
qualquer reunião. O senador pediu a palavra, explicou:"Mandei preparar uma
sala especial para funcionamento da Comissão. Ficará pronta no final da
noite, amanhã(hoje) ás 10 horas, estaremos elegendo presidente e
relator".Eram mais de 7 da noite, decisão clara e de bom senso, ainda
protestaram.
Foram horas de questionamento,
das mais diversas partes e partidos. O senador Ronaldo Caiado falou 5 vezes,
numa delas, afirmou: "O Ministro Marco Aurélio, do Supremo, já deu PARECER
a favor do processo". Desculpe, senador, mas Ministro não dá parecer,
Ministro VOTA". Caiado tem espalhado que será Ministro da Agricultura,
representando o DEM. A seguir falou 3 vezes, o presidente do próprio DEM, José
Agripino. Acredito que perdeu o cacife, depois de ter, por decisão do Ministro
Teori Zavascki , o sigilo bancário dele e do filho, "quebrado".
Senador
Anastasia em debate
Indicado para relator da Comissão
Especial, seu nome discutido, debatido, negado, por mais de 3 horas. Ninguém
fez restrições. Apesar da escolha ser apenas hoje ganhou fartos elogios e vetos
do mesmo tamanho. Motivo:é do PSDB, foi vice de Aécio, depois governador. Deverá
ser eleito, o governo não tem votos para recusá-lo.
E é preciso não esquecer. O
impeachment não tem o menor viés jurídico, é rigorosamente político, como
transitou na Câmara. Os 367 que votaram, nem sabiam o que votavam. Receberam as
ordens, (e não apenas ordens verbais) junto com a autorização para massacrar os
milhões de brasileiros que estavam com a televisão ligada.
PS-Não posso terminar sem registrar a derrota dupla
de Eduardo Cunha.1-O Ministro Zavascki autorizou o delator Fernando Baiano, que
fez acusações contra ele, a depor na Comissão de Ética. Reiterando o que já
disse.Como presidente, afirmou, "a Câmara não pagará a passagem
dele". 2-Embora seja questão menor, a Câmara pagou a passagem. Ficou furioso,
mas não "passou recibo".
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