O marajá
do mar e do ar de Mangaratiba
HELIO FERNANDES
Todos
reconhecem, é serginho cabralzinho. Nasceu em Thomaz Coelho. Que apesar do nome
de escritor que pertencia á Academia, não passava de um humilde bairro ferroviário
da Linha Auxiliar. Nos tempos nada gloriosos dos trens "Maria
Fumaça", que já maculavam e contaminavam o ambiente.
Fez o primário
na escola publica, que naquele tempo era maravilhosa. Tão notável, que até os
ricos e abastados queriam matricular os filhos. Não faziam pelo constrangimento
de conviver com os pobres. (Eu e o Millor nascemos no Meyer, freqüentamos uma
escola publica tão inesquecível, que o Millor mais tarde, transformou em
universidade do Meyer).
Dizem que
desde muito cedo, serginho cabralzinho era um revoltado contra a pobreza, o que
é louvável, digno, grandioso. Mas não precisava exagerar. Ainda no meio do
caminho, antes de ser senador e governador, apenas deputado estadual, dominando
a Alerj (junto com o impune e intocável Jorge Picciani), já era proprietário de
um condomínio de alto luxo, na bela praia de Mangaratiba. Com o indispensável
iate e helicóptero. E não parou mais de combater a pobreza, atingindo níveis extraordinários
de riqueza.
Esperando
que as descobertas e revelações extraordinárias do jornalista Chico Otavio
sejam impressas e distribuídas em escolas e até universidades, para
conhecimento geral da comunidade. E saber de forma indelével, como enriquecem
os homens públicos brasileiros. Assim vou direto para a quinta feira tenebrosa,
com serginho preso, e começando publicamente novo capitulo de uma vida apenas pressentida.
Já
senador e duas vezes governador, se revelou para toda a comunidade, como o
"corrupto dos corruptos". Excluídas as empresas, ninguém enriqueceu
como ele, com toques extravagantes, esdrúxulos, e reconheçamos, de
originalidade e criatividade.
Não
comum nos que apenas roubam o cidadão. E apesar de tudo isso já existir a
partir de 2014, ficou 2 anos e meio intocado, muitos acreditavam: cabralzinho
acumulou fortuna, vai poder viver o resto de sua existência, sem cobrança,
continuando a impunidade.
A prisão, e a nova realidade da vida
Quando na
quinta feira (hoje se completa uma semana), a policia entrou na sua casa, levando
preso, até ele ficou surpreendido. Pensou que estava tudo esquecido, ganhara o
resto da vida, para uma vida inesquecível. Ficou o dia todo na Policia Federal
do Rio, soube que estava sendo acusado e preso, por dois juízes. Marcelo
Bretas, do Rio, e Sergio Moro, de Curitiba.
Tomou
conhecimento também: o juiz do Rio tinha prioridade, por ser a sua moradia. E
nessa mesma noite, seria levado para Bangu, sua "residência" por um
longo tempo. A não ser que os juízes se entendam, e ele vá para Curitiba.
O que
parece não se confirmar. Deverá ser julgado aqui, sofrerá uma condenação entre
19 e 23 anos, depois de um julgamento longo, com defesa e acusação em pleno
funcionamento.
Irá então
para o segundo julgamento, em Curitiba. As acusações mais volumosas, mas a
condenação deve ser igual. Na primeira noite que passou em Bangu, um tremendo
choque de realidade. Cabeça raspada, uniforme de presidiário, 56 metros
quadrados, compartilhados com 5 ex-auxiliares.
Na
lembrança, apenas na lembrança, os apartamentos maravilhosos onde morava. E os hotéis
com todas as estrelas, nos hotéis sensacionais, onde ficava com os sócios e
parceiros que o "entregaram".
Mas o
choque ainda mais lancinante, surgiu no primeiro depoimento. Diante das perguntas
sem resposta, sentiu que havia perdido tudo, nada o salvaria. Resolveu então
perder também a memória, "não me lembro", "não me recordo",
foram às respostas para a fortuna acumulada, para a lista de jóias caras, pagas
com "dinheiro vivo".
Só
"recuperou" a memória para acusar o Pezão. Diante das acusações do superfaturamento
do Maracanã, falou: "Foi meu secretario de Obras, Pezão. Diante da ruína
que é hoje o Compej, e outras obras, a resposta imediata, acusando o então
secretario de Obras.
Luiz
Fernando Pezão, hoje governador de um estado arruinado, não tem nada a ver com
tanta corrupção. Nem imaginação. Mora até hoje, no quase desconhecido município
onde nasceu e viveu. No desespero de saber que perdeu tudo, o dinheiro, a vida,
a liberdade, o futuro, apelou para o que existe de mais sórdido: a DELAÇÃO.
Principalmente a DELAÇÃO vazia, contra um amigo inocente.
Geddel
Vieira Lima
O Ministro pode
até não ser demitido, mas a insatisfação cresce visivelmente. E a confusão
aumenta, e pode ter resultado inesperado. Quem comandou tudo, pessoal ou pelo
telefone, foi o presidente indireto. Por isso, tudo recai em cima dele, agora
ou depois.
A começar
pelo circulo mais intimo com acesso ao Planalto, Jaburu, Alvorada. Os três
considerados os mais poderosos: Geddel, Eliseu, Moreira Franco. Íntimos, mas
disputando pedaços do governo. Assim que estourou o escândalo, Eliseu,
interrogado pelos jornalistas sobre o destino do Ministro, respondeu: "Quem
nomeia, é que fala em demissão".
Moreira Franco,
antes de viajar, fez comentário critico, caustica, irônico sobre Geddel. Eliseu
teve logo que se desmentir. “E Moreira Franco, em Paris, recebeu mensagem
urgente, mudou de tom e de estilo: ”O presidente resolveu manter o Ministro, ninguém
fala mais no assunto". Mas o caso continuou nas manchetes.
Os 23
"lideres" praticamente obrigados a assinarem manifesto de apoio ao
Ministro, são os primeiros a reclamar. Alguns deputados chegam a dizer, sem
estardalhaço: "O presidente podia ter demitido o Geddel, colocado outro, nenhuma
diferença".
E
concluem: "Ele é intermediário, apenas traz a palavra do presidente, nós
concordamos ou não". Se pudesse revelar nomes, que estrondo. Outros
jornalistas sabem disso, mas os informantes pedem sigilo, tem que ser
respeitado.
Não ha
nada resolvido. Um membro do Conselho de Ética pediu demissão, mais 2 estão em
duvida. Resolveram dividir as "ponderações" do Ministro. Já
apareceram parentes, "confessando", que tiveram "maior
participação no episodio.
Mais
tarde, o presidente da Comissão de Ética, veio a publico, explicou: "O
Saraiva não pediu demissão, apenas pediu para não "analisar a
questão". E complicou: "Estamos em consonância e sintonia sobre o
problema".
Políticos
destacados, consideram que houve grande desgaste para o governo. Apenas Renan e
Rodrigo Maia acreditam que a situação está sob controle. Mas ambos têm enormes
reivindicações.
Odebrecht: ontem, delação assinada
Foram
horas e horas. São mais de 50 executivos. Pessoalmente ou representados por
advogados. Na Procuradoria Geral. Continuará hoje e nos próximos dias. São
centenas de documentos, aditivos sem conta. Impossível avaliar o numero de
assinaturas, de uma negociação que levou entre 8 e 9 meses.
Calculo
que mais ou menos em 1 mês, tudo seja entregue ao Ministro Teori Zavascki, o
baluarte da Lava-Jato no Supremo. (A comunidade deve lembrar sempre, o que a
luta contra a corrupção deve a ele). Aí, o Ministro dará a ultima palavra.
Homologando ou não a delação.
Como tudo
era feito com o conhecimento do Ministro, é praticamente certo, que irá
referendar o que foi concretizado. Quanto ao tempo, impossível dizer quando a
delação começará sua trajetória oficial. Acredito que 2016 terminarão, e no
inicio de 2017, se transformará numa realidade que assusta Brasília ha muito
tempo.
Ou como
disse o próprio Odebrecht, quando negociava com os Procuradores, as vantagens e
imunidades que receberia: "Depois do meu depoimento e dos executivos da
minha empresa, a Lava-Jato terá terminado seu trabalho". Os Procuradores
estão satisfeitíssimos.
Geddel não convocado
A
Comissão Especial que examina a situação escabrosa do Ministro Geddel, se
reuniu ontem, bem tarde da noite. Motivo: decidir se o (ainda) Ministro seria
convocado para explicações sobre a sua escandalosa participação imobiliária.
Num visível envolvimento, em uma questão de conflito de interesses.
A
oposição, que pediu a presença do Ministro, foi derrotada. A comissão, sem o menor
constrangimento, decidiu: "O Ministro da Integração não praticou ato que
precise de explicação". O Ministro Roberto Freire confidenciou a amigos:
"O Ministério da Cultura seguirá a decisão do Ipham Nacional, que reduziu
o gabarito do edificio em construção, de 31 para 13 andares". Não se espera
ou se esperava outra coisa de um homem como o novo Ministro.
INFLAÇÂO
O governo
que não tem plano, projeto, compromisso de realizações, badalou ontem: a
inflação caiu em outubro, 0,26. O menor registro desde 2007. Com isso, ficou em
7,64. Por que a badalação? Com Dona Dilma, vinha caindo, quando sofreu o
impeachment, estava em 7,89.
Quase a
mesma coisa. Todos queremos a queda da inflação, prometida e garantida por
Temer e Meirelles. Como acreditar num governo, que é um deserto de homens
(demissíveis)
e de idéias (vazias). A começar e terminar pelo próprio presidente indireto.
PS- Renan
Calheiros joga toda a sobrevivência, no projeto que diz que é contra o
"abuso de autoridade". Para a reunião do dia 1 de dezembro, convidou
o juiz Sergio Moro. E o Ministro Gilmar Mendes.
PS2- O
Juiz de Curitiba, aplausos gerais. O ministro do supremo, desperdício de tempo
e de credibilidade.
PS3- O
excelente diretor de teatro, Moacir Goes, também é apaixonado por cinema. Está
terminando um documentário, sobre a vida de Fernando Gabeira. Com aspectos inéditos,
e bastidores das campanhas para prefeito e para governador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário