Titular: Helio Fernandes

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

O marajá do mar e do ar de Mangaratiba

HELIO FERNANDES

Todos reconhecem, é serginho cabralzinho. Nasceu em Thomaz Coelho. Que apesar do nome de escritor que pertencia á Academia, não passava de um humilde bairro ferroviário da Linha Auxiliar. Nos tempos nada gloriosos dos trens "Maria Fumaça", que já maculavam e contaminavam o ambiente.

Fez o primário na escola publica, que naquele tempo era maravilhosa. Tão notável, que até os ricos e abastados queriam matricular os filhos. Não faziam pelo constrangimento de conviver com os pobres. (Eu e o Millor nascemos no Meyer, freqüentamos uma escola publica tão inesquecível, que o Millor mais tarde, transformou em universidade do Meyer).

Dizem que desde muito cedo, serginho cabralzinho era um revoltado contra a pobreza, o que é louvável, digno, grandioso. Mas não precisava exagerar. Ainda no meio do caminho, antes de ser senador e governador, apenas deputado estadual, dominando a Alerj (junto com o impune e intocável Jorge Picciani), já era proprietário de um condomínio de alto luxo, na bela praia de Mangaratiba. Com o indispensável iate e helicóptero. E não parou mais de combater a pobreza, atingindo níveis extraordinários de riqueza.

Esperando que as descobertas e revelações extraordinárias do jornalista Chico Otavio sejam impressas e distribuídas em escolas e até universidades, para conhecimento geral da comunidade. E saber de forma indelével, como enriquecem os homens públicos brasileiros. Assim vou direto para a quinta feira tenebrosa, com serginho preso, e começando publicamente novo capitulo de uma vida apenas pressentida.

Já senador e duas vezes governador, se revelou para toda a comunidade, como o "corrupto dos corruptos". Excluídas as empresas, ninguém enriqueceu como ele, com toques extravagantes, esdrúxulos, e reconheçamos, de originalidade e criatividade.

 Não comum nos que apenas roubam o cidadão. E apesar de tudo isso já existir a partir de 2014, ficou 2 anos e meio intocado, muitos acreditavam: cabralzinho acumulou fortuna, vai poder viver o resto de sua existência, sem cobrança, continuando a impunidade.

A prisão, e a nova realidade da vida

Quando na quinta feira (hoje se completa uma semana), a policia entrou na sua casa, levando preso, até ele ficou surpreendido. Pensou que estava tudo esquecido, ganhara o resto da vida, para uma vida inesquecível. Ficou o dia todo na Policia Federal do Rio, soube que estava sendo acusado e preso, por dois juízes. Marcelo Bretas, do Rio, e Sergio Moro, de Curitiba.

Tomou conhecimento também: o juiz do Rio tinha prioridade, por ser a sua moradia. E nessa mesma noite, seria levado para Bangu, sua "residência" por um longo tempo. A não ser que os juízes se entendam, e ele vá para Curitiba.

O que parece não se confirmar. Deverá ser julgado aqui, sofrerá uma condenação entre 19 e 23 anos, depois de um julgamento longo, com defesa e acusação em pleno funcionamento.

Irá então para o segundo julgamento, em Curitiba. As acusações mais volumosas, mas a condenação deve ser igual. Na primeira noite que passou em Bangu, um tremendo choque de realidade. Cabeça raspada, uniforme de presidiário, 56 metros quadrados, compartilhados com 5 ex-auxiliares.

Na lembrança, apenas na lembrança, os apartamentos maravilhosos onde morava. E os hotéis com todas as estrelas, nos hotéis sensacionais, onde ficava com os sócios e parceiros que o "entregaram".

Mas o choque ainda mais lancinante, surgiu no primeiro depoimento. Diante das perguntas sem resposta, sentiu que havia perdido tudo, nada o salvaria. Resolveu então perder também a memória, "não me lembro", "não me recordo", foram às respostas para a fortuna acumulada, para a lista de jóias caras, pagas com "dinheiro vivo".

Só "recuperou" a memória para acusar o Pezão. Diante das acusações do superfaturamento do Maracanã, falou: "Foi meu secretario de Obras, Pezão. Diante da ruína que é hoje o Compej, e outras obras, a resposta imediata, acusando o então secretario de Obras.

Luiz Fernando Pezão, hoje governador de um estado arruinado, não tem nada a ver com tanta corrupção. Nem imaginação. Mora até hoje, no quase desconhecido município onde nasceu e viveu. No desespero de saber que perdeu tudo, o dinheiro, a vida, a liberdade, o futuro, apelou para o que existe de mais sórdido: a DELAÇÃO. Principalmente a DELAÇÃO vazia, contra um amigo inocente.

Geddel Vieira Lima

O Ministro pode até não ser demitido, mas a insatisfação cresce visivelmente. E a confusão aumenta, e pode ter resultado inesperado. Quem comandou tudo, pessoal ou pelo telefone, foi o presidente indireto. Por isso, tudo recai em cima dele, agora ou depois.

A começar pelo circulo mais intimo com acesso ao Planalto, Jaburu, Alvorada. Os três considerados os mais poderosos: Geddel, Eliseu, Moreira Franco. Íntimos, mas disputando pedaços do governo. Assim que estourou o escândalo, Eliseu, interrogado pelos jornalistas sobre o destino do Ministro, respondeu: "Quem nomeia, é que fala em demissão".

Moreira Franco, antes de viajar, fez comentário critico, caustica, irônico sobre Geddel. Eliseu teve logo que se desmentir. “E Moreira Franco, em Paris, recebeu mensagem urgente, mudou de tom e de estilo: ”O presidente resolveu manter o Ministro, ninguém fala mais no assunto". Mas o caso continuou nas manchetes.

Os 23 "lideres" praticamente obrigados a assinarem manifesto de apoio ao Ministro, são os primeiros a reclamar. Alguns deputados chegam a dizer, sem estardalhaço: "O presidente podia ter demitido o Geddel, colocado outro, nenhuma diferença". 

E concluem: "Ele é intermediário, apenas traz a palavra do presidente, nós concordamos ou não". Se pudesse revelar nomes, que estrondo. Outros jornalistas sabem disso, mas os informantes pedem sigilo, tem que ser respeitado. 

Não ha nada resolvido. Um membro do Conselho de Ética pediu demissão, mais 2 estão em duvida. Resolveram dividir as "ponderações" do Ministro. Já apareceram parentes, "confessando", que tiveram "maior participação no episodio.

Mais tarde, o presidente da Comissão de Ética, veio a publico, explicou: "O Saraiva não pediu demissão, apenas pediu para não "analisar a questão". E complicou: "Estamos em consonância e sintonia sobre o problema".

Políticos destacados, consideram que houve grande desgaste para o governo. Apenas Renan e Rodrigo Maia acreditam que a situação está sob controle. Mas ambos têm enormes reivindicações.

Odebrecht: ontem, delação assinada

Foram horas e horas. São mais de 50 executivos. Pessoalmente ou representados por advogados. Na Procuradoria Geral. Continuará hoje e nos próximos dias. São centenas de documentos, aditivos sem conta. Impossível avaliar o numero de assinaturas, de uma negociação que levou entre 8 e 9 meses. 

Calculo que mais ou menos em 1 mês, tudo seja entregue ao Ministro Teori Zavascki, o baluarte da Lava-Jato no Supremo. (A comunidade deve lembrar sempre, o que a luta contra a corrupção deve a ele). Aí, o Ministro dará a ultima palavra. Homologando ou não a delação.

Como tudo era feito com o conhecimento do Ministro, é praticamente certo, que irá referendar o que foi concretizado. Quanto ao tempo, impossível dizer quando a delação começará sua trajetória oficial. Acredito que 2016 terminarão, e no inicio de 2017, se transformará numa realidade que assusta Brasília ha muito tempo.

Ou como disse o próprio Odebrecht, quando negociava com os Procuradores, as vantagens e imunidades que receberia: "Depois do meu depoimento e dos executivos da minha empresa, a Lava-Jato terá terminado seu trabalho". Os Procuradores estão satisfeitíssimos.

Geddel não convocado

 A Comissão Especial que examina a situação escabrosa do Ministro Geddel, se reuniu ontem, bem tarde da noite. Motivo: decidir se o (ainda) Ministro seria convocado para explicações sobre a sua escandalosa participação imobiliária. Num visível envolvimento, em uma questão de conflito de interesses.

 A oposição, que pediu a presença do Ministro, foi derrotada. A comissão, sem o menor constrangimento, decidiu: "O Ministro da Integração não praticou ato que precise de explicação". O Ministro Roberto Freire confidenciou a amigos: "O Ministério da Cultura seguirá a decisão do Ipham Nacional, que reduziu o gabarito do edificio em construção, de 31 para 13 andares". Não se espera ou se esperava outra coisa de um homem como o novo Ministro. 

INFLAÇÂO

O governo que não tem plano, projeto, compromisso de realizações, badalou ontem: a inflação caiu em outubro, 0,26. O menor registro desde 2007. Com isso, ficou em 7,64. Por que a badalação? Com Dona Dilma, vinha caindo, quando sofreu o impeachment, estava em 7,89.

Quase a mesma coisa. Todos queremos a queda da inflação, prometida e garantida por Temer e Meirelles. Como acreditar num governo, que é um deserto de homens
(demissíveis) e de idéias (vazias). A começar e terminar pelo próprio presidente indireto.

PS- Renan Calheiros joga toda a sobrevivência, no projeto que diz que é contra o "abuso de autoridade". Para a reunião do dia 1 de dezembro, convidou o juiz Sergio Moro. E o Ministro Gilmar Mendes.

PS2- O Juiz de Curitiba, aplausos gerais. O ministro do supremo, desperdício de tempo e de credibilidade.


PS3- O excelente diretor de teatro, Moacir Goes, também é apaixonado por cinema. Está terminando um documentário, sobre a vida de Fernando Gabeira. Com aspectos inéditos, e bastidores das campanhas para prefeito e para governador.

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