Eduardo Cunha volta ás manchetes,
mas não á liberdade
HELIO FERNANDES
Está outra vez
no noticiário, não como imaginava ou pretendia. Cassado, intimidou e se
refugiou no livro, que passou a assustar muita gente, rotineiramente chamado de
"documento bomba". Enfrentou muitos problemas e dificuldades, até que
revelei: “O livro não sairá este ano, procura um jornalista ou escritor que o
ajude". Apesar das propostas financeiramente generosas, não
encontrou. Ficou para 2017.
Sabia que
ia ser preso, mas não tão rápido. Passou a mandar recados para os que podiam
salva-lo ou sepultá-lo. Manteve contato com Temer, algumas eminências do
governo são indicações dele. Também tentou contato com membros da equipe da
Lava-Jato, insucesso total. Eu já havia revelado: "Delação de Cunha,
nenhuma chance, a não ser que faça revelações milagrosas"
Preso,
conheceu o isolamento. Foi tratado como um desconhecido. Até agora não viu nem de
longe algum personagem da equipe de Curitiba. Pediu papel, queria retomar a
continuação do livro tão temido, não recebeu nem resposta. Visitado duas vezes
pela mulher, em 3 horas de conversas, só noticias desagradáveis. E a
comunicação de que "as visitas não poderiam ser tão assíduas".
Contatos
mesmo, só com advogados, nada mais do que perda de tempo. Até que o próprio
ex-presidente da Câmara determinou: "Vamos esperar algum tempo. Se não
acontecer nada, mudaremos de tática e de estratégia". Como não aconteceu
nada, chamou os advogados de volta, deu as instruções.
Cunha retoma a ofensiva.
Estava
tudo escrito, eram varias paginas, separadas. Foi entregando a eles. A primeira
continha instruções para os advogados executarem. Todas reivindicações para juízes
ou tribunais colegiados. Sempre com a insistência: suspensão dos processos,
arquivamento de denuncias, libertação imediata.
Os
advogados constataram logo: todos os pedidos seriam imediatamente
recusados. Comentaram: "Nenhum pedido será aceito. Nesse caso, o que
fazemos?". Cunha passou a eles outra folha, onde estava o complemento, já
redigido: "Se nenhum dos meus pedidos for aceito, quero apresentar minhas
testemunhas de defesa, é um direito meu".
Entregou
então aos advogados, a ultima folha de papel. Uma lista com 22 nomes. O
primeiro, Michel Temer. O segundo Lula, o terceiro, o ex-senador cassado,
Delcidio Amaral. Assim até o fim da lista, que os advogados encaminharam, da
forma como o prisioneiro determinou. E que surpreendeu toda Brasília política.
Muitos, assustados. Outros sem entenderem nada. Mas na verdade, em cada nome,
um objetivo determinado, logicamente não esclarecido.
Porque Lula, porque Temer
A
primeira perplexidade geral. Qual a razão da inclusão do nome do ex-presidente?
Na verdade Cunha não espera muito do depoimento dele. Acredita mesmo que ele
fará tudo para não comparecer, não ficaria decepcionado, passaria a imagem de
um homem sem rancor, distante do espírito ou sentimento de vingança. Se Lula
for depor, não pode prejudicá-lo, é inimigo notório.
A chave
de tudo, é a testemunha Michel Temer. Não importa que ele deponha por escrito,
prerrogativa que "conquistou" com o trabalho dele, Cunha. O
ex-presidente da Câmara, sabe que criou um problema praticamente insolúvel para
o presidente indireto.
Não pode negar
a intimidade conhecidíssima entre os dois. Principalmente em todas as fases da
conspiração parlamentar. Na noite em que foi cassado, trombeteou da tribuna: "Sem
a minha participação não teria havido o impeachment". Era desabafo, mas também
recado para o futuro. Para Cunha e também para Temer, o futuro é agora.
O
presidente indireto, altamente preocupado. Naturalmente compreensível. Tem
conversado muito com Moreira Franco, por três motivos. Confia na sua lealdade.
Respeita sua competência intelectual e política. Quer saber por que o único
nome citado por Cunha para intimidá-lo, é o de Moreira Franco.
O
ex-presidente da Câmara ficará muito tempo na prisão. Sabe disso. Mas não
pretende ser esquecido. Nem esquecer ninguém.
Supremo fulmina Renan Calheiros
Não tendo
conseguido adiar a sessão. Nem encontrado um Ministro que pedisse vista protelatória,
houve o julgamento. E havendo, o resultado teria que ser o que foi. O relator,
Marco Aurelio Mello, num voto magistral, não deixou margem à contestação.
Apesar da decisão ser subjetiva, faltam apenas 3 meses para acabar seu mandato.
Portanto, ele jamais assumirá.
Aconteceram
coisas estranhas. Gilmar Mendes e Lewandowski não compareceram. O Ministro
Barroso comunicou, "não votarei, por questões pessoais". Na vez de
votar, com o placar em 5 a 0 contra, chegou à vez de Dias Toffoli .
Atrasadíssimo,
pediu vista, favorecendo Renan. Só que o decano Celso de Mello, votou depois do
pedido de vista. E a sessão foi suspensa em 6 a 0. O presidente indireto e
alguns áulicos, festejaram o que não era para festejar. Pois quando a sessão
continuar, estará em 6 a 0, e não se modificará.
Impossível
deixar de registrar: a "coincidência" de Renan e o Planalto
precisarem de um ministro que suspendesse o julgamento. E Dias Toffoli estar á
disposição.
PS- O mais alto tribunal
britânico, (Câmara dos Lordes) tomou decisão contraditória e arbitraria.
Decidiu que o Parlamento (Câmara dos Comuns) tem que se manifestar na questão
da saída da União Européia (UE).
PS2- Isso
é um absurdo completo. Foi convocado o referendo. Marcada a data. Realizado e
apurado o resultado. Agora vem um tribunal aristocrata, e diz que a decisão do
povo não vale. Felizmente a Câmara dos Comuns contestou. E afirmou: "O que
vale é o que foi decidido pelo povo".
PS3- O ex-ministro
Palocci, da Fazenda e da Casa Civil, agora é réu. A decisão é de ontem, do Juiz
Sergio Moro. E não é pelo fato de pertencer ao PT. E sim pela falta de escrúpulos.
Dignidade. Credibilidade. È outro que ficará longamente na prisão.
PS4- Renan,
sempre falastrão, ontem fugia dos jornalistas. Motivo: não queria explicar a
razão do Ministro Dias Toffoli ter sido tão solicito ao pedir vista, adiando um
processo que tanto lhe interessava.
PS5-
Durante toda a semana, disse que não acreditava que um Ministro pedisse vista.
Esqueci de Toffoli e de Gilmar Mendes, que não compareceu.
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