JT possui 66% de ações abaixo de R$ 10
mil
(...) “Questiona-se com razão o fato de que 2 mil juízes
trabalhistas perdem enorme tempo julgando questões de valores que podem ter
outro meio alternativo de solução. O problema é que esses magistrados na magnitude
de sua soberba, e não admitem nenhum outro instituto para suprir essa demanda”.
ROBERTO MONTEIRO PINHO
O
funcionamento da máquina judiciária brasileira movimentou, em 2014, R$ 68,4
bilhões. Esse montante representa um crescimento de 4,3% em relação ao ano
anterior. Corresponde, também, a 1,2% do PIB e a 2,3% do total dos
gastos públicos do país. Dividindo pelo número de brasileiros, temos que o
Judiciário custou R$ 337 para cada um em 2014.
Na média,
cada processo em tramitação teve um custo de R$ 686. Numa atividade de uso
de mão de obra intensiva não causa admiração que 89,5% das despesas (R$ 61
bilhões) sejam consumidos com pessoal. Desse total, 20,8% foi para a folha de
pagamento de servidores da Justiça do Trabalho. Vale lembrar que o grande
litigante do país é o poder público.
Um
levantamento (oficial) do programa Justiça
em Números - do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) mostra que 15% dentre
23,7 milhões de ações que ingressaram na Justiça se referem à matéria tributária,
previdenciária ou de Direito Público, todas as áreas que envolvem a
administração pública em seus diferentes níveis - federal, estadual e
municipal.
Ocorre
que no momento em que esta notícia estiver sendo lida, o volume de processos em
tramitação na Justiça brasileira já terá ultrapassado a cifra dos 105 milhões.
Segundo os dados do levantamento anual Justiça em Números, feito pelo Conselho
Nacional de Justiça e divulgado nesta terça-feira (15/9), em 2014 passaram pela
jurisdição dos 90 tribunais brasileiros, 99,7 milhões de processos.
Os
números do CNJ são o resultado da soma de 70,8 milhões de processos pendentes e
28,9 milhões de casos novos registrados no ano passado.
Mantida a
média de crescimento anual de 3,4%, registrada nos últimos cinco anos, vão
tramitar em 2015, 103,1 milhões de processos judiciais no país. Na média,
significa um processo para cada dois brasileiros. Como em cada processo, atuam
pelo menos duas partes, pode-se dizer que há processos para toda a população
brasileira participar.
Hoje por conta do
estoque de 105 milhões de processos, temos um custo não oficialmente declarado
de R$ 1,720/ por cada processo, e um orçamento estimado em 120 bilhões para o
judiciário funcionar em 2017. A pergunta é: de onde tirar esse dinheiro, diante
da crise que assola o país? Outro segmento que estuda o judiciário indica que
dos 14,5 milhões de processos que tramitam na Justiça do Trabalho, 66% são de
valores inferiores a R$ 10 mil.
Questiona-se com razão o fato de
que 2 mil juízes trabalhistas perdem enorme tempo julgando questões de valores
que podem ter outro meio alternativo de solução. O problema é que esses
magistrados na magnitude de sua soberba, e não admitem nenhum outro instituto
para suprir essa demanda. Um dos grandes complicadores do desempenho da
primeira instância são os processos de execução.
Embora tenha capacidade para
julgar praticamente o número de casos novos que chegam às varas e juizados
(cerca de 6 milhões), os juízes têm de enfrentar um acervo cerca de seis vezes
maior. São 35,9 milhões de processos à espera de uma solução muitas vezes
impossível, diante da dificuldade de localizar os devedores ou seus bens para
dar andamento à demanda.
Para a cientista político Luciano Ros, da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS), o resultado, com o grande número de servidores é um alto
custo de manutenção.
O Brasil
tem um dos mais altos custos de decisão judicial: R$ 2,2 mil. Na Itália, custa
cerca de R$ 1,6 mil, e R$ 2 mil em Portugal. O Brasil tem a maior relação de
servidores da Justiça por cada 100 mil habitantes. Supera inclusive, países
como a Alemanha e a Inglaterra. Outro estudo acrescenta que a Justiça
brasileira é uma das mais sobrecarregadas do mundo.
A maior
parte das despesas do Poder Judiciário no Brasil refere-se ao gasto com
pessoal: 89% do orçamento.
Entre os
países europeus, esse percentual é, em média, de 70%. A maior parte do custo é
para pagar mais de 412 mil servidores da Justiça, o equivalente a 205 para cada
100 mil habitantes, a maior relação entre os países considerados na pesquisa da
UFRGS.
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