Titular: Helio Fernandes

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Herdeiro do conspiratório, Temer é presidente provisório e contraditório

HELIO FERNANDES

Com tanta coisa para fazer e sem saber de quanto tempo dispõe, se dá ao luxo do desperdício. E dá mais uma entrevista coletiva, baseada na hipocrisia e demagogia. Começa mistificando e se justificando demagogicamente. Que vergonha, mesmo para um presidente provisório: "O Executivo não fará nenhuma interferência na Lava - Jato". Ele e muitas outras pessoas sabem que teve que demitir, "a pedido", dois Ministros que criticaram a maior investigação da Historia do Brasil. Apenas falaram contra em gravações, logo perderam os cargos que não deveriam ocupar.

Pelo mesmo motivo, Renan Calheiros, hoje grande aliado, sofre pressão para deixar a presidência do Senado. Em troca ou como recompensa, não pediriam a cassação do seu mandato. (Como disse ontem, 2007,quando Renan enfrentou o mesmo problema,volta inesperadamente á sua vida).

Se isso acontecer, um desastre para Temer, ameaçando até mesmo a sua permanência como provisório. Ou a sua fixação como presidente com mandato espúrio, ilegítimo, sem credibilidade. Mas garantido pela farsa e mistificação da Câmara de Eduardo Cunha. E recebido lastimavelmente por senadores comprados e galhardeados com cargos.

Sem interromper a entrevista medíocre do provisório, examinemos a escolha, ontem do líder do governo no Senado. Admitia-se que o indicado fosse do PMDB, afinal, o seu partido. E uma compensação pelo fato de ter demitido depois de "licenciado", o próprio presidente da sigla, Romero Jucá. Não. Precisando de votos para o julgamento e o afastamento definitivo da presidente eleita, preteriu o PMDB, preferiu o PSDB. Nem se incomodou ou se aborreceu com as incongruências que se acumulavam com a indicação de Aloysio Nunes Ferreira para a liderança.

O próprio Aloysio não acreditou, quando o presidente do PSDB, o jovem presidenciável Aécio Neves lhe falou rindo: "O presidente Temer quer convidá-lo para líder do governo aqui no Senado". Surpreendido, Aloysio perguntou: "O que eu faço?". E Aécio rindo mais abertamente: "Aceita". Aceitou, não se lembrou de varias coisas. Foi candidato a vice - presidente em 2014, portanto derrotado por Temer. Mas ha mais e muito mais grave.

O senador Aloysio era ferrenho adversário do impeachment. Como presidente do partido, Aécio perguntou: "Por que tanta intransigência? "Textual de Aloysio: "Não quero ver o Temer como presidente". Agora vai vê-lo e falar com ele, diariamente. E sem constrangimento.

A escolha do vice da Câmara, teve lances ominosos e até criminosos. Nos bastidores foram exibidos "dossiês" comprometedores. E não eram apenas do deputado que pertence a um partido que elegeu unicamente 9 representantes. Reforçando a disparidade: 9 em 513. E nada a ver entre o deputado e o senador. Este não responde a nenhum processo. O deputado-líder por indicação e imposição de Eduardo Cunha, tem vários. Por irregularidade com dinheiros públicos. Até tentativa de homicídio. Não demora no cargo.

Temer não podia dar ilusões ou disseminar satisfações sem qualquer base. Sustentada (?) apenas pela vaga credibilidade de sua palavra. Como o que pretendeu transformar em realidade nesta frase: "É possível recuperar a economia".

 Evidente que é possível essa recuperação. Mas não por alguém como Michel Temer, e com o ministério de quinta categoria,que organizou, empossou e vai demitindo. Para fazer renascer a esperança e confirmar a recuperação, precisaria "inventar a pólvora" ou fazer coisa parecida.  Mas teria que se chamar Michel Nobel.

Petrobras

Já presidente, Pedro Parente fez a primeira declaração-afirmação: "O preço do petróleo, é decisão empresarial". Puxa, que clareza. A segunda declaração não demora e é obvia. Tem que explicar o que pretendeu esclarecer.

Aprovada e homologada a pré-delação da Odebrecht

Antes de mais nada, explicação sobre aprovação de um fato que acontece pela primeira vez no âmbito da Lava-Jato. Até agora são feitos acordos diretamente de delação. No caso do presidente da Odebrecht e diversos Executivos, houve uma negociação que levou meses.

O poderoso proprietário da empresa, considerou seu depoimento tão "devastador, revolucionário e esclarecedor para CENTENAS de acusados", que reivindicava impunidade e imunidade total.

A Polícia Federal, o Ministério Público e o Juiz Sergio Moro, examinaram exaustivamente a proposta da Odebrecht. Fato por fato foi levantado. Concluíram que deveria haver confiança total entre as partes. Se o empreiteiro achasse seu depoimento "revolucionário" e ele não fosse? Teriam perdido tempo e desperdiçado uma testemunha, que tinha tudo para ser relevante.

Surgiu então a ideia da PRÈ delação. As vantagens concedidas estariam na razão direta da importância das revelações. Levada a ele, foi aceita com tanta tranqüilidade, que houve a certeza e a segurança de que a Lava-Jato entrava na Historia.

José Sarney soube, e disse na gravação de Sergio Machado: "Odebrecht vai utilizar sua metralhadora de 100 disparos". Surpresa total em Curitiba. Queriam descobrir como Sarney soube. Ele é ex- presidente da Republica, senador de vários mandatos. Tem fontes, que como se diz, até Deus duvida. Poucos poderão dormir.

Depois de 219 dias, Eduardo Cunha é devassado e devastado por falta de decoro

Ontem eu dizia aqui: apesar do sigilo, posso informar que o voto do relator, pede a cassação do mandato do deputado Eduardo Cunha. Mas estava longe de acreditar ou admitir que fosse tão fulminante e indefensável. O relator Marcos Rogério merece aplausos, louvores, palavras de admiração. Resistiu a todas as pressões, manobras e ameaças do próprio acusado,através de interpostas pessoas e intermediários. Escreveu pessoalmente as 84 laudas, que leu em 3 horas e 17 minutos.

Mas não é ainda o momento de recuperação da dignidade e da credibilidade. O vice presidente da Câmara, no exercício interino da presidência, tenta de todas as formas, tumultuar o processo e impedir sua finalização. Normalmente, processos que saem da Comissão de Ética, são enviados diretamente para o plenário. Só a Comissão tem esse privilegio. Motivo: preservar a cassação por falta de decoro, o julgamento mais alto e a punição mais dura.

Agora, como as votações, por determinação do Supremo, são ABERTAS, ninguém terá coragem de se pronunciar a favor de Eduardo Cunha. Mas há movimento para que a decisão da Comissão não chegue ao plenário. Temos que esperar até a próxima terça, sem nenhuma certeza do que acontecerá.

Defesa previa de Dilma

Ontem, faltando 10 minutos para as 20 horas, José Eduardo Cardoso chegou ao Senado. Levava o documento de justificação e contestação da presidente afastada. São mais de 600 paginas. Base fundamental: a gravação do Ministro Romero Jucá, e suas tentativas de desmoralizar a Lava-Jato "O fato de ter sido demitido no mesmo dia”, reforça a argumentação.

Mais de 200 paginas são de condenação do processo, atribuído exclusivamente a Eduardo Cunha. O documento também condena o recebimento da denuncia e a votação daquele domingo tenebroso.

A conclusão é obvia e indiscutível. Como tudo que aconteceu na Câmara até á votação, é ilegítimo, ilegal e imoral, o processo já estava ou teria que estar contaminado. Portanto não poderia ter sido recebido pelo Senado. Apesar de completo, muito bem redigido e fundamentado, não "comoverá" nenhum senador. Os que garantiram de todas as formas o impeachment, para chegar ao poder, querem mantê-lo, haja o que houver.









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