Herdeiro do conspiratório, Temer
é presidente provisório e contraditório
HELIO FERNANDES
Com tanta
coisa para fazer e sem saber de quanto tempo dispõe, se dá ao luxo do desperdício.
E dá mais uma entrevista coletiva, baseada na hipocrisia e demagogia. Começa
mistificando e se justificando demagogicamente. Que vergonha, mesmo para um
presidente provisório: "O Executivo não fará nenhuma interferência na Lava
- Jato". Ele e muitas outras pessoas sabem que teve que demitir, "a
pedido", dois Ministros que criticaram a maior investigação da Historia do
Brasil. Apenas falaram contra em gravações, logo perderam os cargos que não
deveriam ocupar.
Pelo
mesmo motivo, Renan Calheiros, hoje grande aliado, sofre pressão para deixar a
presidência do Senado. Em troca ou como recompensa, não pediriam a cassação do
seu mandato. (Como disse ontem, 2007,quando Renan enfrentou o mesmo
problema,volta inesperadamente á sua vida).
Se isso
acontecer, um desastre para Temer, ameaçando até mesmo a sua permanência como
provisório. Ou a sua fixação como presidente com mandato espúrio, ilegítimo, sem
credibilidade. Mas garantido pela farsa e mistificação da Câmara de Eduardo
Cunha. E recebido lastimavelmente por senadores comprados e galhardeados com
cargos.
Sem
interromper a entrevista medíocre do provisório, examinemos a escolha, ontem do
líder do governo no Senado. Admitia-se que o indicado fosse do PMDB, afinal, o
seu partido. E uma compensação pelo fato de ter demitido depois de
"licenciado", o próprio presidente da sigla, Romero Jucá. Não. Precisando
de votos para o julgamento e o afastamento definitivo da presidente eleita, preteriu
o PMDB, preferiu o PSDB. Nem se incomodou ou se aborreceu com as incongruências
que se acumulavam com a indicação de Aloysio Nunes Ferreira para a liderança.
O próprio
Aloysio não acreditou, quando o presidente do PSDB, o jovem presidenciável Aécio
Neves lhe falou rindo: "O presidente Temer quer convidá-lo para líder do
governo aqui no Senado". Surpreendido, Aloysio perguntou: "O que eu
faço?". E Aécio rindo mais abertamente: "Aceita". Aceitou, não
se lembrou de varias coisas. Foi candidato a vice - presidente em 2014,
portanto derrotado por Temer. Mas ha mais e muito mais grave.
O senador
Aloysio era ferrenho adversário do impeachment. Como presidente do partido, Aécio
perguntou: "Por que tanta intransigência? "Textual de Aloysio: "Não
quero ver o Temer como presidente". Agora vai vê-lo e falar com ele,
diariamente. E sem constrangimento.
A escolha
do vice da Câmara, teve lances ominosos e até criminosos. Nos bastidores foram
exibidos "dossiês" comprometedores. E não eram apenas do deputado que
pertence a um partido que elegeu unicamente 9 representantes. Reforçando a
disparidade: 9 em 513. E nada a ver entre o deputado e o senador. Este não
responde a nenhum processo. O deputado-líder por indicação e imposição de
Eduardo Cunha, tem vários. Por irregularidade com dinheiros públicos. Até
tentativa de homicídio. Não demora no cargo.
Temer não
podia dar ilusões ou disseminar satisfações sem qualquer base. Sustentada (?) apenas
pela vaga credibilidade de sua palavra. Como o que pretendeu transformar em
realidade nesta frase: "É possível recuperar a economia".
Evidente
que é possível essa recuperação. Mas não por alguém como Michel Temer, e com o
ministério de quinta categoria,que organizou, empossou e vai demitindo. Para
fazer renascer a esperança e confirmar a recuperação, precisaria "inventar
a pólvora" ou fazer coisa parecida. Mas teria que se chamar Michel Nobel.
Petrobras
Já
presidente, Pedro Parente fez a primeira declaração-afirmação: "O preço do
petróleo, é decisão empresarial". Puxa, que clareza. A segunda declaração
não demora e é obvia. Tem que explicar o que pretendeu esclarecer.
Aprovada e homologada a pré-delação
da Odebrecht
Antes de
mais nada, explicação sobre aprovação de um fato que acontece pela primeira vez
no âmbito da Lava-Jato. Até agora são feitos acordos diretamente de delação. No
caso do presidente da Odebrecht e diversos Executivos, houve uma negociação que
levou meses.
O
poderoso proprietário da empresa, considerou seu depoimento tão
"devastador, revolucionário e esclarecedor para CENTENAS de acusados",
que reivindicava impunidade e imunidade total.
A Polícia
Federal, o Ministério Público e o Juiz Sergio Moro, examinaram exaustivamente a
proposta da Odebrecht. Fato por fato foi levantado. Concluíram que deveria
haver confiança total entre as partes. Se o empreiteiro achasse seu depoimento
"revolucionário" e ele não fosse? Teriam perdido tempo e desperdiçado
uma testemunha, que tinha tudo para ser relevante.
Surgiu
então a ideia da PRÈ delação. As vantagens concedidas estariam na razão direta
da importância das revelações. Levada a ele, foi aceita com tanta tranqüilidade,
que houve a certeza e a segurança de que a Lava-Jato entrava na Historia.
José
Sarney soube, e disse na gravação de Sergio Machado: "Odebrecht vai
utilizar sua metralhadora de 100 disparos". Surpresa total em Curitiba. Queriam
descobrir como Sarney soube. Ele é ex- presidente da Republica, senador de vários
mandatos. Tem fontes, que como se diz, até Deus duvida. Poucos poderão dormir.
Depois de 219 dias, Eduardo
Cunha é devassado e devastado por falta de decoro
Ontem eu
dizia aqui: apesar do sigilo, posso informar que o voto do relator, pede a
cassação do mandato do deputado Eduardo Cunha. Mas estava longe de acreditar ou
admitir que fosse tão fulminante e indefensável. O relator Marcos Rogério
merece aplausos, louvores, palavras de admiração. Resistiu a todas as pressões,
manobras e ameaças do próprio acusado,através de interpostas pessoas e
intermediários. Escreveu pessoalmente as 84 laudas, que leu em 3 horas e 17
minutos.
Mas não é
ainda o momento de recuperação da dignidade e da credibilidade. O vice
presidente da Câmara, no exercício interino da presidência, tenta de todas as
formas, tumultuar o processo e impedir sua finalização. Normalmente, processos
que saem da Comissão de Ética, são enviados diretamente para o plenário. Só a
Comissão tem esse privilegio. Motivo: preservar a cassação por falta de decoro,
o julgamento mais alto e a punição mais dura.
Agora, como
as votações, por determinação do Supremo, são ABERTAS, ninguém terá coragem de
se pronunciar a favor de Eduardo Cunha. Mas há movimento para que a decisão da
Comissão não chegue ao plenário. Temos que esperar até a próxima terça, sem
nenhuma certeza do que acontecerá.
Defesa previa de Dilma
Ontem,
faltando 10 minutos para as 20 horas, José Eduardo Cardoso chegou ao Senado.
Levava o documento de justificação e contestação da presidente afastada. São
mais de 600 paginas. Base fundamental: a gravação do Ministro Romero Jucá, e
suas tentativas de desmoralizar a Lava-Jato "O fato de ter sido demitido
no mesmo dia”, reforça a argumentação.
Mais de
200 paginas são de condenação do processo, atribuído exclusivamente a Eduardo
Cunha. O documento também condena o recebimento da denuncia e a votação daquele
domingo tenebroso.
A conclusão
é obvia e indiscutível. Como tudo que aconteceu na Câmara até á votação, é
ilegítimo, ilegal e imoral, o processo já estava ou teria que estar
contaminado. Portanto não poderia ter sido recebido pelo Senado. Apesar de
completo, muito bem redigido e fundamentado, não "comoverá" nenhum
senador. Os que garantiram de todas as formas o impeachment, para chegar ao
poder, querem mantê-lo, haja o que houver.
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