Titular: Helio Fernandes

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Fugindo de explicações, presidente provisório vai montando ministério de interinos

HELIO FERNANDES
Logo que foi quebrado o sigilo da delação do ex-presidente da Transpetro, Michel Temer mostrou inquietação. E confidencio que para dois auxiliares graduados: "Quase todos estão fora da minha alçada. Os que estiverem, serão afastados". (Não usa mais a palavra demitidos, contaminada).

Parou um pouco e disse em tom de conclusão: "Quanto á citação do meu nome, darei uma satisfação definitiva, não ao SENHOR (textual) Sergio Machado e sim á opinião publica". Pouco depois pediu para convocar a imprensa, "vou conceder uma coletiva". Precisa freqüentar dicionários, revisitar palavras.

Quando foi comunicado que os jornalistas estavam esperando, apareceu. Falou 7 minutos. Não disse nada importante, nem permitiu perguntas. Sua idéia sobre coletiva, muito mais perto de solilóquio do que de dialogo.

Se tivesse permitido perguntas, na certa teria que explicar o que se continha nesta afirmação: "Se eu tivesse recebido contribuições de propinas não poderia ser presidente do Brasil". Usou alguns adjetivos pejorativos contra o delator, se retirou ás pressas, deixando os jornalistas perplexos.

Nenhuma proximidade com as acusações do SENHOR Machado. Não tentou mesmo de longe, contestar o que se continha na delação. E quando o delator, imediatamente respondeu ao provisório, comentou com auxiliares: "Não vou alimentar dialogo com um criminoso". Mas poderia ter dado coletiva verdadeira. E deixado que tentassem entender a frase, "eu não poderia ser presidente do Brasil". Ora, não chegou à ocupante interino do País por méritos ou deméritos, examinado, aprovado ou reprovado pela coletividade.

Sua ascensão de vice a presidente, mesmo provisório, se deu em razão de uma conspiração-traição, muito bem coordenada e orquestrada. E utilizando, sem constrangimento, tudo o que hoje existe de pior no mundo e no submundo da política. Melhor seria dizer, politicalha.

Não podia conversar com jornalistas, conhecia as perguntas, mas não tinha respostas. Nesse tortuoso e criminoso (royalties para ele mesmo) roteiro ou caminho das propinas, ninguém podia ou pode lhe ensinar coisa alguma. Na matéria tem mestrado em Harvard e doutorado em Oxford.

Em 2014, antes da reeleição sem votos e a tiracolo de Dona Dilma, foi chamado ás pressas. Foram rápidos e diretos: "Você precisa reassumir a presidência do PMDB, resolver uma pendência de dezenas de milhões entre o PMDB da Câmara e o PMDB do Senado. Só você pode conter a explosão". Sabia que era verdade, não podia nem queria recusar, seu cacife ficaria elevado. Era um cacique sem votos, muitos ficariam lhe devendo.

 Aceitou imediatamente. Sabia que precisava transformar a colisão em coalizão, era o que esperavam da sua falta de convicções, identificada como habilidade. Tinha a informação: o quase rompimento da cúpula do PMDB, origem numa doação perto de 50 milhões, gentileza eleitoral da JBS, poderosa exportadora de carne, a maior empresa do país. Conversou com o dono da empresa, ficou satisfeito de resolver o problema.

Mas saiu de lá, estarrecido. Essa JBS destinara um pouco mais de 400 milhões para a campanha eleitoral de 2014. Financiara o PT, PMDB, PSDB, os 3 maiores partidos protagonistas. E mais uns 6 ou 7, coadjuvantes. Também gostou de conhecer o presidente da holding da JBS,Henrique Meirelles.

Não imaginava que 2 anos depois, ele seria seu Ministro da Fazenda. Desde que foi vice sem votos, carregado pela candidata do PT, imaginou (nem uso a palavra pensou, inimaginável para Temer), que poderia ser promovido, era só um degrau. Sonhou com isso varas vezes, aconteceu neste 2016.

Escravizado a Meirelles, deu a ele todos os poderes. Não só de nomeação dos auxiliares, mas também das medidas que julgasse necessárias para a tão esperada promoção, de provisório para efetivo. E se chegar a 2018, sem direito á reeleição, espera que o carreirista Meirelles, lhe preste um novo favor ou serviço: vença Lula, Marina e os 3 derrotados de sempre do PSDB: Serra em 2002 e 2010. Alckmin, 2006, Aécio, 2014.

Concretizada a traição e a conspiração, Temer ficou com a organização do governo, f ora da parte econômica. Cometeu as maiores estripulias, convocou personagens inacreditáveis. Estava interessado apenas em quantidade e não em qualidade. Queria numero e não imponência.

No Senado precisava dos votos para se garantir. Na Câmara, para as votações. Já entregou a liderança do governo, entregará a presidência, assim que Cunha for expulso.

Sabia que teria grandes problemas. Mas não imaginava que fossem tão graves e urgentes. Exigissem 3 demissões de ministros, em pouco mais de 1 mês. Atingindo amigos e cúmplices de longa data. Fora as que estão a caminho. Para facilitar a compreensão do provisório, criei para ele, 3 categorias de demissões. 

DEPRESSIVAS, para identificar a saída de Ministros como Romero Jucá, poderoso tido e havido como intocável. PREVENTIVAS, para Henrique Eduardo Alves, lealíssimo. Muita gente acreditou que tivesse saído por causa da delação de Sergio Machado. Ilusão. Se fosse por isso, o próprio provisório teria que sair. Tudo o que contei, é rigorosamente verdadeiro. O Ministro do Turismo foi demitido pelo que ainda vão contar.

E finalmente as demissões OFENSIVAS. As que derrubam ministros com quem Temer não tem maiores ligações. O primeiro foi o Advogado Geral da União. Existem outros na fila, como o Ministro da Educação. Se for demitido, será um favor. Talvez a "Pátria Educadora", ganhe um personagem com autoridade para fazer, coragem e liberdade para impedir que cortem em primeiro lugar, as verbas necessárias e indispensáveis. O presidente interino, vai montando um ministério de interinos .Faz sentido.

Inflação e insatisfação

Assim que foi empossado, o novo presidente do Banco Central fez a seguinte declaração: "Envidarei todos os esforços para que a inflação fique no centro da meta, 4,5 por cento, em 2017”. A frase é una,mas precisa ser dividida em três, para ser compreensível. E até mesmo cobrada, como se fosse um compromisso cartorial.

1- Utilizarei "todos os esforços", é obrigação. Independe de afirmação. 2- Precisa competência das maiores para reduzir a inflação a 4,5 por cento. É bem verdade que fechou 2015, acima de 11 por cento. Em abril de 2016, já estava entre 7 e 8 por cento. 3- Prometeu essa redução "para 2017".

Mas 2017 pura e simplesmente, é muito vago. Janeiro, fevereiro ou março, uma coisa. Junho, julho, agosto, muito diferente. E novembro ou dezembro, já é praticamente 2018, ninguém suporta. E haverá redução dos juros? 14, 25 é o mais alto do mundo. Dessa forma não haverá confiança, investimento, esperança.

E o desemprego, já batendo em 12 milhões. E com previsão de chegar a 14 milhões no final do ano. Escrever sobre desemprego, é lancinante, deprimente, ultrajante. O emprego é o único bem do cidadão. Presidente, Ministros, deputados, senadores e as chamadas "altas autoridades", não deveriam receber enquanto o desemprego estivesse nesse nível inacreditável.

PS- Quando o mundo soube que o Rio entrara em estado de calamidade, espanto, incompreensão, susto, pânico. Por três motivos principais. A palavra sempre foi ligada a tragédia, catástrofe, resultado de tumultos ambientais destruidores. O fato do Rio sediar a Olimpíada dentro de 50 dias. (Naquele momento). A conclusão obvia, ha 18 meses, todas as noticias do Brasil eram inquietantes.

PS 2- Até a Anistia Internacional, que não tinha nada a ver com o assunto, chamou a atenção para as "conseqüências e efeitos colaterais”. (Textual) Se tivessem colocado a palavra financeira, talvez não houvesse o estrondo e a repercussão. Na quarta feira o governador interino procurou o presidente idem. Conversaram.

PS3- Por causa da Olimpíada e o desgaste direto para o país, e indireto para o seu desgoverno, Temer concordou em ajudar o Rio. Por questões legislativas e constitucionais, o próprio Temer sugeriu o estado de calamidade. Até ideia correta, podia liberar o dinheiro, se houvesse urgência. E só com urgência poderia editar medida provisória. Surgiram então as duvidas e contradições.

PS4- No sábado, em SP, em agenda oficial o presidente interino afirmou de forma extravagante: "Ainda não tomei conhecimento do assunto". Duas horas depois, Moreira Franco, porta voz mais autorizado, dizia na televisão: "O presidente decidiu ajudar o Rio por causa da Olimpíada e dos salários atrasados. Segunda feira se reunirá com outros governadores".

PS5- Segunda feira é hoje. O encontro com os governadores está confirmado, a confusão também. È possível que por causa da contradição, o Rio fique sem recursos. Mas com a Olimpíada, preocupação internacional.


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