Fugindo de explicações, presidente
provisório vai montando ministério de interinos
HELIO FERNANDES
Logo que
foi quebrado o sigilo da delação do ex-presidente da Transpetro, Michel Temer
mostrou inquietação. E confidencio que para dois auxiliares graduados: "Quase
todos estão fora da minha alçada. Os que estiverem, serão afastados". (Não
usa mais a palavra demitidos, contaminada).
Parou um
pouco e disse em tom de conclusão: "Quanto á citação do meu nome, darei
uma satisfação definitiva, não ao SENHOR (textual) Sergio Machado e sim á
opinião publica". Pouco depois pediu para convocar a imprensa, "vou
conceder uma coletiva". Precisa freqüentar dicionários, revisitar
palavras.
Quando
foi comunicado que os jornalistas estavam esperando, apareceu. Falou 7 minutos.
Não disse nada importante, nem permitiu perguntas. Sua idéia sobre coletiva, muito
mais perto de solilóquio do que de dialogo.
Se
tivesse permitido perguntas, na certa teria que explicar o que se continha
nesta afirmação: "Se eu tivesse recebido contribuições de propinas não
poderia ser presidente do Brasil". Usou alguns adjetivos pejorativos
contra o delator, se retirou ás pressas, deixando os jornalistas perplexos.
Nenhuma
proximidade com as acusações do SENHOR Machado. Não tentou mesmo de longe, contestar
o que se continha na delação. E quando o delator, imediatamente respondeu ao provisório,
comentou com auxiliares: "Não vou alimentar dialogo com um
criminoso". Mas poderia ter dado coletiva verdadeira. E deixado que
tentassem entender a frase, "eu não poderia ser presidente do
Brasil". Ora, não chegou à ocupante interino do País por méritos ou deméritos,
examinado, aprovado ou reprovado pela coletividade.
Sua
ascensão de vice a presidente, mesmo provisório, se deu em razão de uma
conspiração-traição, muito bem coordenada e orquestrada. E utilizando, sem
constrangimento, tudo o que hoje existe de pior no mundo e no submundo da política.
Melhor seria dizer, politicalha.
Não podia
conversar com jornalistas, conhecia as perguntas, mas não tinha respostas. Nesse
tortuoso e criminoso (royalties para ele mesmo) roteiro ou caminho das
propinas, ninguém podia ou pode lhe ensinar coisa alguma. Na matéria tem
mestrado em Harvard e doutorado em Oxford.
Em 2014, antes
da reeleição sem votos e a tiracolo de Dona Dilma, foi chamado ás pressas. Foram
rápidos e diretos: "Você precisa reassumir a presidência do PMDB, resolver
uma pendência de dezenas de milhões entre o PMDB da Câmara e o PMDB do Senado. Só
você pode conter a explosão". Sabia que era verdade, não podia nem queria
recusar, seu cacife ficaria elevado. Era um cacique sem votos, muitos ficariam
lhe devendo.
Aceitou
imediatamente. Sabia que precisava transformar a colisão em coalizão, era o que
esperavam da sua falta de convicções, identificada como habilidade. Tinha a informação:
o quase rompimento da cúpula do PMDB, origem numa doação perto de 50 milhões, gentileza
eleitoral da JBS, poderosa exportadora de carne, a maior empresa do país. Conversou
com o dono da empresa, ficou satisfeito de resolver o problema.
Mas saiu
de lá, estarrecido. Essa JBS destinara um pouco mais de 400 milhões para a
campanha eleitoral de 2014. Financiara o PT, PMDB, PSDB, os 3 maiores partidos
protagonistas. E mais uns 6 ou 7, coadjuvantes. Também gostou de conhecer o
presidente da holding da JBS,Henrique Meirelles.
Não
imaginava que 2 anos depois, ele seria seu Ministro da Fazenda. Desde que foi
vice sem votos, carregado pela candidata do PT, imaginou (nem uso a palavra pensou,
inimaginável para Temer), que poderia ser promovido, era só um degrau. Sonhou
com isso varas vezes, aconteceu neste 2016.
Escravizado
a Meirelles, deu a ele todos os poderes. Não só de nomeação dos auxiliares, mas
também das medidas que julgasse necessárias para a tão esperada promoção, de
provisório para efetivo. E se chegar a 2018, sem direito á reeleição, espera
que o carreirista Meirelles, lhe preste um novo favor ou serviço: vença Lula, Marina
e os 3 derrotados de sempre do PSDB: Serra em 2002 e 2010. Alckmin, 2006, Aécio,
2014.
Concretizada
a traição e a conspiração, Temer ficou com a organização do governo, f ora da
parte econômica. Cometeu as maiores estripulias, convocou personagens
inacreditáveis. Estava interessado apenas em quantidade e não em qualidade. Queria
numero e não imponência.
No Senado
precisava dos votos para se garantir. Na Câmara, para as votações. Já entregou
a liderança do governo, entregará a presidência, assim que Cunha for expulso.
Sabia que
teria grandes problemas. Mas não imaginava que fossem tão graves e urgentes. Exigissem
3 demissões de ministros, em pouco mais de 1 mês. Atingindo amigos e cúmplices
de longa data. Fora as que estão a caminho. Para facilitar a compreensão do
provisório, criei para ele, 3 categorias de demissões.
DEPRESSIVAS,
para identificar a saída de Ministros como Romero Jucá, poderoso tido e havido
como intocável. PREVENTIVAS, para Henrique Eduardo Alves, lealíssimo. Muita
gente acreditou que tivesse saído por causa da delação de Sergio Machado. Ilusão. Se fosse
por isso, o próprio provisório teria que sair. Tudo o que contei, é
rigorosamente verdadeiro. O Ministro do Turismo foi demitido pelo que ainda vão
contar.
E
finalmente as demissões OFENSIVAS. As que derrubam ministros com quem Temer não
tem maiores ligações. O primeiro foi o Advogado Geral da União. Existem outros
na fila, como o Ministro da Educação. Se for demitido, será um favor. Talvez a
"Pátria Educadora", ganhe um personagem com autoridade para fazer, coragem
e liberdade para impedir que cortem em primeiro lugar, as verbas necessárias e
indispensáveis. O presidente interino, vai montando um ministério de interinos .Faz
sentido.
Inflação e insatisfação
Assim que
foi empossado, o novo presidente do Banco Central fez a seguinte declaração: "Envidarei
todos os esforços para que a inflação fique no centro da meta, 4,5 por cento, em
2017”. A frase é una,mas precisa ser dividida em três, para ser compreensível. E
até mesmo cobrada, como se fosse um compromisso cartorial.
1- Utilizarei
"todos os esforços", é obrigação. Independe de afirmação. 2- Precisa competência
das maiores para reduzir a inflação a 4,5 por cento. É bem verdade que fechou
2015, acima de 11 por cento. Em abril de 2016, já estava entre 7 e 8 por cento.
3- Prometeu essa redução "para 2017".
Mas 2017
pura e simplesmente, é muito vago. Janeiro, fevereiro ou março, uma coisa. Junho,
julho, agosto, muito diferente. E novembro ou dezembro, já é praticamente 2018,
ninguém suporta. E haverá redução dos juros? 14, 25 é o mais alto do mundo. Dessa
forma não haverá confiança, investimento, esperança.
E o
desemprego, já batendo em 12 milhões. E com previsão de chegar a 14 milhões no
final do ano. Escrever sobre desemprego, é lancinante, deprimente, ultrajante. O
emprego é o único bem do cidadão. Presidente, Ministros, deputados, senadores e
as chamadas "altas autoridades", não deveriam receber enquanto o
desemprego estivesse nesse nível inacreditável.
PS- Quando
o mundo soube que o Rio entrara em estado de calamidade, espanto,
incompreensão, susto, pânico. Por três motivos principais. A palavra sempre foi
ligada a tragédia, catástrofe, resultado de tumultos ambientais destruidores. O
fato do Rio sediar a Olimpíada dentro de 50 dias. (Naquele momento). A
conclusão obvia, ha 18 meses, todas as noticias do Brasil eram inquietantes.
PS 2- Até
a Anistia Internacional, que não tinha nada a ver com o assunto, chamou a
atenção para as "conseqüências e efeitos colaterais”. (Textual) Se
tivessem colocado a palavra financeira, talvez não houvesse o estrondo e a repercussão. Na
quarta feira o governador interino procurou o presidente idem. Conversaram.
PS3- Por
causa da Olimpíada e o desgaste direto para o país, e indireto para o seu
desgoverno, Temer concordou em ajudar o Rio. Por questões legislativas e
constitucionais, o próprio Temer sugeriu o estado de calamidade. Até ideia
correta, podia liberar o dinheiro, se houvesse urgência. E só com urgência
poderia editar medida provisória. Surgiram então as duvidas e contradições.
PS4- No
sábado, em SP, em agenda oficial o presidente interino afirmou de forma
extravagante: "Ainda não tomei conhecimento do assunto". Duas horas
depois, Moreira Franco, porta voz mais autorizado, dizia na televisão: "O
presidente decidiu ajudar o Rio por causa da Olimpíada e dos salários
atrasados. Segunda feira se reunirá com outros governadores".
PS5- Segunda
feira é hoje. O encontro com os governadores está confirmado, a confusão também.
È possível que por causa da contradição, o Rio fique sem recursos. Mas com a
Olimpíada, preocupação internacional.
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