Dívida externa. Do Prudente (de
Moraes) ao imprudente (FHC). Chegando ao censurado (Meirelles). E a impossibilidade
de pagar
HELIO FERNANDES
Em 120 anos de
1896 a 2016, passou de divida externa para divida publica. Mudou também de
irrelevante, para degradante, aviltante, humilhante. E responsável por todas as
crises brasileiras, sem que os governantes e adjacentes, percebessem. Agora dá
para perceber, mas com uma conclusão lancinante: não ha possibilidade de pagar.
Ou melhor: amortizar os juros, fazendo crescer assustadoramente a divida
propriamente dita.
Os
"emprestadores" de dinheiro,como se dizia antigamente, investem muito
pouco, no inicio. Mas rapidamente recuperam o investimento, passam a emprestar
e reimprestar os juros. Vão acumulando lucros, que reinvestem, naturalmente
garantindo parte substancial para compra de imóveis e obras de arte, por prazer
e exibicionismo. O volume de dinheiro é tão grande, que sempre existe margem de
negociação sem execução.
Prudente
assumiu em 1894, com uma divida que parecia irrisória, mas fora agigantada
pelos gastos da espantosa, estranha e extravagante Guerra do Paraguai. E pela
inflação dos últimos 20 anos, insuflada pelos gastos nababescos, que palavra,
da Monarquia. Rui Barbosa, o primeiro Ministro da Fazenda da Republica, sempre
se queixava. Em 1896, um dos Rotschilds, pediu audiência a Prudente, para falar
sobre a divida. Mas foi tão imprudente e inábil, que em 10 minutos, Prudente
tocou a campainha, apareceu um continuo, recebeu a ordem: "Acompanhe o
senhor Rotschild até á porta, ele está de saída".
O
sucessor foi Campos Salles, inteiramente diferente. Aceitou convite do mesmo
Rotschild, foi a Londres. Andou de carro aberto pela Old Bond Street. (O centro
financeiro da capital). Renegociou a divida de forma vergonhosa. Essas
renegociações foram aumentando durante toda a "republica velha", a
ditadura do Partido Republicano, 1889 a 1930. Sucedida pelo golpe que tentaram
transformar em Revolução. Que redundou na ditadura Vargas, até 1945.
De 1937 a
1945, a dívida não cresceu por causa da pré-guerra e da guerra propriamente
dita. Com o mundo inteiro voltado para a fabricação de armamentos, o Brasil se
transformou num grande vendedor.
Não
recebia, acumulava saldos, "para serem liquidados depois". Dutra
assumiu com um saldo formidável, que esbanjou desastradamente. Os americanos, mestres
em vender matéria plástica como se fosse ouro, e comprar ouro pagando como se
fosse matéria plástica, devoraram tudo.
10 anos
depois, em 1955, Juscelino se elegeu, assumiu com uma divida já acumulada. No
ultimo ano do governo inicio de 1960, chamou Roberto Campos, presidente do BNDE
(não tinha o S de social, hoje tem o S mas sem se preocupar com o social) pediu
para ele "consolidar" a divida. Estava em 180 milhões de dólares, foi
"consolidada" em 200 milhões. Daí foi crescendo desmesuradamente, por
causa dos juros e a falta de pagamento. Ou amortização. Mas atingiu o apogeu
nos governos FHC, "o retrocesso de 80 anos em 8". (Como chamei, com
ele no poder).
Foi inacreditável,
incompreensível, inaceitável, mas o país aceitou. Os juros chegaram a 40
por cento ao ano. O que significa o seguinte: uma divida de 1 bilhão, em 1 ano
passa a 1 bilhão e 400 milhões. No ano seguinte vai para o limite de quase 2
bilhões. E assim incontrolavelmente; (Os juros são verdadeiros, o total de 1 bilhão,
singelo e simbólico, apenas para o calculo.
FHC foi
tentando reduzir os juros, mas entregou a Lula com 25 por cento ao ano. Juro
calamitoso para uma divida estratosférico).
Lula
criou o que se chamou de "superávit primário". Chegou a amortizar 90
bilhões no primeiro ano, depois não deu mais No entanto, reduziu os juros de 25
para 11 por cento.
Dona
Dilma trouxe para 7 por cento. Mas não demorou a devastação, os juros foram
crescendo, até os inimagináveis 14,25 de hoje. "Justificados" pela
alta da inflação, que continuou subindo, até ultrapassar os dois dígitos. E a
divida publica, chegou ao limite de hoje: 2 TRILHÕES e 900 BILHÕES.
A media
dos juros é de 10 por cento ao ano, uma combinação entre a Selic, o contratado
e o cobrado. Daria então 290 bilhões, rigorosamente IMPAGAVEL. Só que no vernáculo,
essa palavra tem duas leituras. È o que não pode ser pago. Ou o que provoca
enorme gargalhada. Que não é o caso da divida brasileira. No primeiro dia
depois de ser convidado para Ministro da Fazenda, Meirelles, por conhecimento e
relacionamento, falou sobre a tragédia da divida publica. Assustado quando
soube do total, de dentro para fora, comentou sobre a forma de equacionar a
divida. Ha muito tempo não se falava nisso.
Imediatamente
foi chamado por Temer. Que naquele estilo entre o dúbio e o melifuo comentou:
"Gostaria que você não falasse mais nessa questão da divida". Lógico,
Meirelles atendeu, não quer surrupiar suas imagináveis chances presidenciais,
seja quando for. Pode ou deveria ser dentro de 60 dias, se o TSE, assumir ou
compreender sua enorme responsabilidade. Ou esperar que um notável
documentarista como Silvio Tendler, faça um documentário, que teria o titulo obrigatório:
“A divida impagável e censurada".
A Comissão de impeachment do Senado, certa e
apressada
As
sessões são repetitivas e com um único objetivo: acabar com o processo, o mais
rapidamente possível. Para isso liquidam as próprias testemunhas, desistem
delas. Mesmo as que estavam presentes ontem, não foram ouvidas. Como tudo é político,
o governo não quer esclarecimento e sim voto. O senador Cássio Cunha Lima, afirmou
ontem, como já havia feito semana passada: "O país, que nos assiste
sempre, quer que afastemos definitivamente a presidente Dilma, Para que possamos
salvar o Brasil". Sem o menor constrangimento.
Mas de
contradição em contradição, agem como se precisassem de votos. Querem indicar
para líder do governo, um senador. Mas reticentes e desinformados, examinam
minuciosamente, não admitem perder 1 voto. Assim, só irão convidar um que ainda
não esteja definitivamente "fechado" com o governo. Admitem que quinta ou sexta, já tenham esse líder.
Quem tem medo de Eduardo Cunha
Para
hoje, terça, está marcada nova sessão da Comissão (da falta) de Ética. Mas o
que acontece é um terremoto de boatos, nenhuma noticia de fato. O suplente
Carlos Marun, intransigente e tumultuado defensor de Cunha, espalhou: "Estou
tentando convencer o deputado a renunciar á presidência da Câmara, para que
possamos salvar seu mandato". Essa seria a nova "estratégia", que
não teria o apoio ou o aceito do próprio Cunha.
O
deputado abastado, perdão, afastado da presidência, tem respondido da mesma
forma que registrei aqui na quinta feira: "Estou perto de reassumir a presidência".
Nos bastidores explicam que ele manobra para ganhar tempo.
Sua
grande jogada, dizem, é para sair da Câmara, sem ser cassado ou preso. Para
isso, estaria engendrando uma solução definitiva. Como sabe que sua carreira política
desapareceu, se salvaria e á mulher, Iria viver confortavelmente no exterior. Dizem
que só precisa de tempo. Por isso, a mistificação de que voltaria á presidência
da Câmara.
PS-
O espetáculo, ontem, na Comissão do impeachment, foi à doutora Janaina
Paschoal. Jurista com vocação e convicção de lutadora de jiu-jítsu. Fala com os
braços, as mãos, grita. Não ganha à luta mas mantém a expectativa. Sucesso de
critica e de bilheteria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário