Estarrecido, o Brasil fica imprensado na batalha
campal entre a alta cúpula da corrupção e a revolucionaria Lava-Jato
HELIO FERNANDES
O pedido de prisão de Renan e Sarney, e o conseqüente vazamento deliberado
mas por enquanto incógnito, é o apogeu. Mas a guerra que está sendo perdida
pelos sempre vitoriosos donatários, beneficiários e provisórios da corrupção, vem
de longe. Não citei Romero Jucá e Eduardo Cunha, também com prisão pedida, por
um motivo relevante. Os dois são desonestos por vocação e convicção, sempre
agiram por conta própria.
As citações e acusações vêem de longe, individualmente. Só se alistaram
no exercito coletivo, que luta por uma corrupção organizada, institucionalizada,
intocável e poderosa, porque sentiram que assim seriam altamente favorecidos. Estão
sendo derrotados. Individualmente, porque o "todo", surpreendente e
inesperadamente, passou a enfrentar uma força inexistente. Mas agora popularíssima,
chamada de Lava-Jato.
Começou
como expressão do inconformismo partidário, era a tentativa de reversão da
derrota eleitoral. Por causa disso, os dois primeiros movimentos tinham base e
iniciativa do PSDB. O inicio ocorreu logo depois da vitoria de Dilma no segundo
turno. Não esperaram nem a posse. Está completando 18 meses, com varias faces e
fases. Mas só nos últimos 8 meses ganhou característica de conspiração. De
tomada do poder por qualquer meio. Como forma de liquidar a Lava-Jato.
As duas
primeiras providencias podiam até ser compreensivas e justificadas. Utilizaram
pesquisa encomendada pelo PSDB. E conseguiram um resultado, multiplicado pela
repercussão da publicação. O que divulgaram, atingindo duramente a presidente
reeleita: "76 por cento dos ouvidos, disseram que a candidata MENTIU na campanha”.
Individualmente destroçaram a presidente,mas não se aproximaram do poder.Mudaram
então de técnica e de tática, não desistiram.
No dia 12
de fevereiro de 2015, alguém foi ao escritório do jurista Ives Gandra Martins,
se identificou assim: "Sou advogado do ex-presidente FHC. Queria que o
senhor redigisse um parecer a favor do impeachment". Conversaram, depois
do contato veio o contrato. O jurista não levou muito tempo, entregou o
trabalho. E falou: "Vou publicar, o parecer, algum obstáculo? "O
contratante disse que não, f ez um pedido: "Quero que o senhor esclareça
que quem pagou fui eu, advogado do ex-presidente FHC". O parecer foi
publicado na Folha, com o esclarecimento sobre o contratante.
Novamente
o PSDB, pois seria inacreditável que o contratante utilizasse o nome do
ex-presidente, sem ele saber. Ao contrario da pesquisa sobre a "mentira da
campanha", um sucesso, o impeachment ficou ignorado. Só voltaram a falar
nesse recurso, em setembro de 2015. Mas aí sem nominá-lo. O PSDB continuava na
obsessão de chegar ao poder sem eleição. Tinham razão. Depois de FHC, o partido
teve 4 presidenciáveis, (2002, 2006, 2010, 2014) não elegeu nenhum. Entrou no
TSE com 4 ações pedindo a cassação da chapa Dilma -Temer.
(Se o TSE
tivesse cumprido seu dever, teria convocado eleição em 60 dias, nada do que
aconteceu,está acontecendo,vai acontecer, teria existido. Durante meses defendi
a cassação determinada pelo TSE, e a conseqüente eleição, como a "inclusão
do povo no processo". Mas uma parte do TSE já estava seduzido pelo
colossal esquema de "trocar o ocupante do poder, para destruir a
Lava-jato". A contribuição do TSE, inicialmente era a OMISSÃO).
A partir
de outubro de 2015, já estava formalizado e institucionalizado, o maior esquema
já formado no Brasil. Para colocar "um dos nossos no poder, e acabar a
sangria (textual) da Lava-Jato". Esta já intimidara e aterrorizara os mais
poderosos senhores da corrupção, se transformara num poder invencível e
irrevogável.
Personagens
sempre tidos e havidos como intocáveis, imunes e sempre impunes, estavam
ameaçados ou já atingidos. Aí partiram para a conspiração aberta. Com o apoio
do vice Temer, e a exigência: "Derrubaremos a presidente, mas o substituto
serei eu, que sou vice". (Tudo sem a menor participação ou apoio militar,
fato inédito na Historia da Republica).
Nenhuma
restrição. O presidente do PSDB, Aécio Neves, aderiu imediatamente, ficando
numa posição extravagante. No TSE, pede a cassação de Temer. Na conspiração que
passou a integrar, um dos objetivos é derrubar a presidente eleita e colocar no
seu lugar, o vice Temer. Não liga para a contradição. O pânico que se apossou
dele, se chama Lava-jato. E se transformou numa potencia reverenciada pelo
povo, e completamente inatingível.
No fim de
2015, Temer já está em plena atividade, para completar as duas funções. Desgastar
a presidente. E ao mesmo tempo mostrar que não tem nada a ver com ela ou com o
governo. Para que não possa, mais tarde, ser identificado como traidor. O que
não conseguiu, o esquema era grandioso demais, para inocentá-lo.
Começou
por enviar á presidente a carta se identificando como "decorativo". Para
um homem como ele, presunçoso e pretensioso, foi um sofrimento. E alem do mais
teve que entregar a carta no mesmo dia a um jornalista, que fez o que estava
obrigado a fazer: publicou. Temer, imediatamente, "acusou o Planalto de
vazamento". Era o plano em desenvolvimento, preparação da parte publica, agora
sem qualquer constrangimento, identificada como impeachment. E tida como
"salvação nacional".
Meses
antes da votação do impeachment Eduardo Cunha já presidente da Câmara, teve
participação inesquecível. E como precisavam incorporar "a base partidária"
da presidente, era indispensável financiamento. Na época revelei aqui: "Os
mesmos empresários generosos que bancaram a reeleição de FHC (praticamente 1
bilhão), compareceram na campanha do impeachment. Estão sendo recompensados,
mas não esperavam tanto fracasso, incerteza. Na verdade, nada de novo. Equivoco
em cima de equivoco. Demissão "a pedido", até de íntimos que não
conseguiu proteger, como Jucá.
Eduardo
Cunha tem preservado até aqui. Mas sabe que apesar da quadrilha ou esquadrilha
que colocou no ar, não atingiu a Lava-jato.Todos eles se estarrecem com o poder
da Lava-Jato. Se perguntam dia, mais dia: "De onde vem todo esse poder, que
não conseguimos destruir?". Se fossem mais inteligentes, e tivessem mais
conhecimento, responderiam: "Do povo, estúpido".
Toda a
análise e reflexão, exclusiva do repórter. Baseada em fatos rigorosamente
verdadeiros. Nominados desde o primeiro ato, a partir da reeleição. O ato que
começou anteontem, com o pedido de prisão e o vazamento insensato que está
sendo lamentado pelos que abasteceram o jornal e a televisão, inconcluso. Terá
repercussão, qualquer que seja ela. Deverão surgir fatos novos. Em horas ou
dias. Retumbantes. Mas não atingirão a Lava-Jato. De jeito algum.
A falsa euforia do governo
provisório
Meirelles
ontem: "O crescimento da economia pode surpreender". Por que
surpreenderia? Com estagnação? E por que o condicional, PODE? Ontem comentários
e satisfação, no Planalto, com o fato das ações da Petrobras terem fechado em
alta de 9 por cento. Nenhuma referencia á alta do petróleo em Nova Iorque e Londres.
Fechamento batendo em 52 dólares o barril. Semana passada revelei previsões do
Irã, Rússia e Arábia Saudita: "2016 pode acabar com o barril a 80 dólares".
A Petrobras pode acelerar a produção do
pré sal.
PS - Como
funcionavam ontem, ás 17 horas, os três Poderes. “O Supremo decidia uma
pendência entre a Eletropaulo e a sociedade amigos do bairro City Boaçava”. Imaginem
se a Suprema Corte dos EUA, fosse votar questões como essa.
PS2-A Câmara, sem o presidente, afastado, e o vice, desaparecido, votava muitas matérias. Portanto, a inutilidade dos dois, provada e comprovada.
PS3- O
Senado, nas manchetes do país e do mundo, também discutia e votava. Sob a
presidência de Renan Calheiros. Que exibia impressionante tranqüilidade. E
cumprimentadissimo.
Eleição nos EUA, Peru e Brasil
Hillary
Clinton ultrapassa o numero de delegados para ser candidata pelos Democratas. È
cumprimentada pelo Presidente Obama. Uma mulher sucedendo um negro. No Peru, a
filha de um corrupto, preso por corrupção e crimes contra a humanidade, é
derrotada pela segunda vez. O irmão mais moço não votou nela, afirmando
publicamente: "Você é derrotada pela segunda vez, na próxima o candidato
serei eu". E o povo, sabe disso?
No
Brasil, não se sabe quando haverá eleição. Adianta saber? Depois de uma eleição e reeleição, um golpista
chefiando uma conspiração, assumiu o cargo. Que Republica. A presidente que foi
"saída", e o golpista que foi "entrado", não se preocupavam
com esta realidade. A cada 11 minutos, uma mulher é estuprada. A cada 22 minutos, um negro é assassinado.
Eduardo
Cunha: mesmo sem credibilidade, mais uma semana de impunidade e
leviandade. Demonstrou que domina a Câmara e o governo provisório. A sessão
final da Comissão de Ética era terça, passou para quarta, agora ficou para a
semana que v em. Não se sabe o dia. È preciso resolver o voto da deputada Tia
Eron, que decidirá a questão. Como ela pertence ao PRB, Temer deu ordem ao
Chefe da Casa Civil para encerrar o assunto.
Eliseu
Padilha foi informado: o presidente do PRB, é o senador Marcelo Cri vela,
candidato a prefeito do Rio. Telefonou, pediu para ir ao Planalto. Eliseu
Padilha pediu para ele conversar com a deputada da Bahia. Resposta: "Vocês
têm um intermediário melhor. È o advogado Geral da União. Ele é o presidente do
partido, licenciado quando assumiu o cargo". E foi embora fazer campanha.
Eliseu não sabe o que diz ao presidente provisório.
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