Titular: Helio Fernandes

quarta-feira, 15 de julho de 2015


TEMER, AÉCIO, CUNHA, SE JULGAM HERDEIROS DA CASSAÇÃO DE DILMA. RENAN, ULTRAPASSADO, PODE NEGOCIAR PARA AJUDAR A SOBREVIDA DA PRESIDENTE.

HELIO FERNANDES
15.07.15

Chegou a vez de examinar as posições e o envolvimento dos políticos chamados do "primeiro time". Pelos cargos importantes que ocupam, como a vice-presidência da República, a Presidência da Câmara e do Senado. Como os três (Temer, Cunha e Renan) pertencem ao PMDB, é ou deveria ser indiscutível a força controladora desse partido.

Só que um deles redigiu o próprio roteiro, que sumarizava suas ambições mas não tinha nada a ver com o estatuto do partido. Os três só combinavam, mesmo de longe ou nos bastidores com uma conclusão: o Tribunal de Contas estava ultrapassado, o impeachment pelo menos no momento perdera força, mesmo com o reforço dos discursos desequilibrados da própria presidente.

Restou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com prioridade total e absoluta. Os três então colocaram esse tribunal (e o Supremo) nas suas agendas de pressões e objetivos.

O TSE, colocado inesperadamente no centro dos acontecimentos, pode tomar três decisões. 1 – Reconhecer que as “doações” da campanha presidencial foram legítimas, o dinheiro “jamais passara pela corrupção da Petrobras”. Assim, absolvê-la, mantê-la com o mandato até o final.

2 – Concluir exatamente o contrário, reconhecer que pelo depoimento do “chefe do cartel da corrupção”, Ricardo Pessoa, a “doação” era dinheiro de propina. Assim não pode fazer outra coisa: cassar o mandato da presidente. Mas pode inocentar o vice Michel Temer, que assim assume a presidência.

3 – E finalmente também na competência e suas atribuições, o Tribunal pode considerar, que embora com “prestação de contas”, Temer também é responsável, e tem que ter o mandato cassado. Cada uma dessas decisões do TSE, produz ou constrói um final diferente para os ansiosos personagens.

Michel Temer, mestre ardiloso e silencioso da “eleição sem voto”, (“quase” deputado, último ou penúltimo, assumia por malabarismo eclético, duas vezes vice sem voto e tudo isso continuando como presidente do partido) já tem a preferência: cassação exclusiva da presidente, ele inocentado e assumido.

Já fez sua opção pública, sem radicalização: uma declaração á imprensa “de apoio a Dilma” e outra também esclarecedora e nem exige um bom analista: “Precisamos de uma União Nacional, pensando no futuro do Brasil”. Só falta esperar a decisão do TSE.

Aécio Neves, que numa reunião com o PPS e PSB, “desembarcou” do impeachment, concorda com a cassação de Dona Dilma. Mas tem a própria definição a partir daí. Considera que ele é que deve assumir, foi o segundo colocado. É o que chama de “reversão”, e pretende defender no Supremo.

Eduardo Cunha, já revelei, está desinteressado do impeachment, mas não da presidência circunstancial e anormal: cassados Dilma e Temer, considera, quem tem que assumir é ele. Mas inova na apreciação. Não assume para convocar eleição em 90 dias e sim “ficar até o fim do mandato, janeiro de 2019”. Também pretende defender o que chama. “meu direito”, no Supremo.

Renan Calheiros, sem vez nessas hipóteses todas, completamente ultrapassado, e com larga experiência em impeachment, pode negociar e ajudar Dona Dilma. Existe um grupo grande no PMDB, no PSB, e até no PT, que não quer a cassação de Dona Dilma.

Para não serem chamados de adesistas, se refugiam numa espécie de metáfora: “Queremos que a presidente fique até o fim”. Ou então, praticamente na mesma linha, com outro conteúdo: “Ninguém sabe o que virá depois do vazio das cassações. Só piorar, melhorar de modo algum”.

Lula, perplexo, não sabe o que fazer. Sem diálogo com Dilma, tem recebido informes do Planalto das duras criticas que sofre. Não vai basear seus pronunciamentos sem data, em fatos fugazes e influenciados. Não está fora dos acontecimentos, apenas espera o momento certo de reentra em cena, jamais saiu.

Ontem eu disse aqui, com nomes, que o julgamento, por simples gravitação, ficaria em 2 a 2. Confirmo plenamente, como também confirmo que outros dois continuam indefinidos. Desse jeito, o mais perto da realidade, é um resultado de 4 a 3.

Não se surpreendam, como o repórter não surpreendeu: 4 a 3 a FAVOR ou CONTRA a cassação.

PS- Não por acaso, mas inesperadamente, Lula esteve ontem ontem no Planalto. Conversou com a presidente durante quatro horas. Fizeram “maquiagem” enorme para fingir que o encontro era amigável. Poucos acreditaram.

Resposta.

Raquel pergunta onde pode encontra “a Tribuna da Imprensa com a matéria de capa sobre a morte do marechal Castelo Branco”. O que saiu ocupando toda a primeira página, foi um artigo deste repórter, contrariando a hipocrisia nacional sobre os mortos.

Como eu já escrevera claramente sobre ele, o Mas poderoso “presidente”, quando esteve no poder, arbitrário, autoritário, atrabiliario, não tive dúvidas em me manifestar novamente. Será difícil encontrar, pois o jornal com seu arquivo histórico está fechado desde dezembro de 2008. Talvez na Biblioteca Nacional.

Raquel também quer saber se fui preso por causa do artigo. Preso e desterrado para Fernando de Noronha, que ha 48 anos era apenas o que sobrara de uma Penitenciária para criminosos perigosos. Em 1967 ainda não havia censura, que só começaria violentíssima em 10 de julho de 1968, no mesmo ano do monstruoso e terrorista AI-5.

Não havia censura, mas o poder dos generais torturadores era total. Sem que ninguém soubesse me mandaram para a delegacia “desativada”. Passei três dias, com três noites alucinadas, com “visitas” que tentavam me assustar (e me assustavam mesmo) o mínimo que dizia: “Você não sairá daqui com vida”.

Os golpistas no poder, decidiam o que “fazer comigo”. Lógico, sabiam onde eu estava, mas quando tomaram conhecimento do que aconteceria, ficaram apavorados. Por sugestão do coronel Passarinho, resolveram me mandar para Fernando de |Noronha.

Fiquei já 30 dias, vim com um livro pronto, “Recordações de um Desterrado em Fernando de Noronha”. Editoras disputavam a publicação, o governo proibiu todos, inclusive o editor Carlos Lacerda, que me visitou na Ilha, viu o livro, falou: “Esse livro é meu”. Não foi de ninguém. 20 anos depois achei muito trade.
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