HELIO FERNANDES
*publicada em
25.08.14
Ainda me lembro, eu era pequeno e o mar bramia, como dizia o poeta. Nem se falava em petróleo no Brasil, a não ser para negá-lo. Éramos uma displicente e imprevidente colônia dos EUA, eles dominavam tudo. Impuseram e consagraram uma frase: “Não há petróleo no Brasil”. E aceitamos como se fosse irrefutável.
Menos Monteiro Lobato, que combatia as multinacionais e se voltou para a luta que parecia insensata de mostrar e provar que existia petróleo no Brasil. Foi preso, solto, um dia publicou num jornal um mapa da América do Sul, em que todos os países que tinham limites com o Brasil estavam cheios de petróleo, menos o Brasil. E a explicação dele, arcaica na época, não se mostrou verdadeira depois: “Quando Deus criou o mundo, determinou: todos esses países terão petróleo, menos o Brasil”.
Teve que se
exilar, morou lá mesmo nos EUA. Em 1860, nos EUA, o coronel Drake, na
Pensilvania, não aguentava aquele mau cheiro que parecia vir do fundo da terra.
Contratou algumas pessoas, foi furado o primeiro poço de petróleo do mundo,
ninguém imaginava o poder que teria.
Quase 100 anos
depois, surgia no Brasil uma campanha civil militar com o slogan empolgante,
patriótico e aparentemente libertador: “O petróleo é nosso”. A partir de 1950,
surgiu no Brasil o movimento de libertação, mas o petróleo mesmo só apareceria
muito mais tarde. E como tudo no Brasil, devorado pela corrupção. Criaram o
Ministério de Minas e Energia, logo depois a Petrobras.
Na época
importávamos mais de 20 bilhões de cruzeiros de combustível, total que foi
aumentando. O petróleo bruto, arrancado da terra, significava pouco. Depois de
extraído, precisa ser refinado, transportado, distribuído, transformado na
realidade mais visível e utilizável, que é o combustível.
Fomos nos
convencendo da realidade de uma economia baseada no petróleo. Mas por
interesses puramente pessoais e políticos, agigantaram e encareceram de tal
maneira a Petrobras, que cada barril arrancado da terra custava pelo menos duas
vezes o preço do mercado. Essa é a herança que ficou para a Petrobras de hoje,
praticamente desde 1950/60 e que agora se transformou em tragédia, catástrofe
se continuar assim.
Em 1979, o
general Geisel (então “presidente”) nomeou para a Petrobras um japonesinho
audacioso e ambicionado, que tinha sido seu ministro das Minas e Energia. Há
mais de 20 anos, é o homem mais rico do Texas, tem mais poços de petróleo do
que a família Bush, que nasceu lá.
Shigeaki Ueki
mora no Texas com os filhos, precavidos, nem aparecem no Brasil. Não foram só
eles que enriqueceram, foram milhares, só quem empobreceu foi o povo
brasileiro, apesar das descobertas de petróleo irem se multiplicando, até
chegar ao maravilhoso (?) pré-sal.
O petróleo
entrou definitivamente na realidade dos aspirantes do Poder. E na divisão dos
cargos, a Petrobras era mais cobiçada e ambicionada do que muitos ministérios.
A Petrobras “de porteira fechada” (como se diz hoje) tem cargos portentosos e
prodigiosos. Esses cargos tão concentradores administrativamente, são ainda
mais concentradores em matéria de fortunas.
FHC: A ERA DA
TRAIÇÃO
O “sociólogo”
foi um raio de destruição que caiu sobre o Brasil. Desestatizou tudo, as
maiores empresas estatais foram “trocadas” por ações de empresas falidas, que
não valiam nada. Há anos e anos (com FHC no Poder) este repórter pediu uma CPI
para apurar a fortuna dos membros dessa Desestatização, e seus apaniguados. Não
consegui nada.
FHC queria doar
a Petrobras, não teve coragem, esse é o traço principal do seu caráter. Criou então
o que se chamou de L-I-C-I-T-A-Ç-Ã-O, assim mesmo, sincopado. Que existe até
hoje, ninguém foi preso ou cassado por causa disso. LICITAVAM, de preferência,
poços com petróleo já descoberto e comprovado. É de dar vergonha, tanta
traição.
O SUPREMO NÃO
DEIXOU ACABAR ESSAS LICITAÇÕES
Terminou a
traição FHC, veio Lula. Dona Dilma, que já estava escalada para o Ministério de
Minas e Energia, se reuniu com líderes da AEPET (Associação dos Engenheiros da
Petrobras), que fizeram história, mas não se mantiveram. Dona Dilma queria
acabar logo com as licitações, ninguém sabia como. A AEPET aconselhou: “Essa
licitação de agora não tem maior importância, espera a senhora assumir”.
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