Titular: Helio Fernandes

quarta-feira, 22 de julho de 2015


A ESCALADA DA CRISE

FERNANDO CAMARA
22.07.15

Lava Jato nos políticos e pedaladas no governo

Com o Congresso em recesso branco, a semana será marcada pela entrega da defesa do governo a respeito das pedaladas fiscais ao Tribunal de Contas da União-TCU, e também pelo veto da presidente Dilma Rousseff aos 78,56% do reajuste do Judiciário. Ou seja, o protagonismo ficará com o governo, que continua sob forte pressão e deve se preparar para más notícias com a pesquisa da CNI sobre avaliação do Poder Executivo a ser divulgada amanhã, terça-feira.

Pedaladas

De todos os eventos, o de maior potencial explosivo é a análise das pedaladas pelo TCU. Ontem a coluna Brasília DF, do Correio Braziliense, trouxe a seguinte informação, em sua nota de abertura: "Se a equipe de Dilma Rousseff justificar as pedaladas fiscais com a simples menção de que se trata de um artifício usado por vários gestores no passado vai cair da bicicleta. É predominante entre os ministros do Tribunal de Contas da União (TCU) o seguinte raciocínio: não é porque alguns escaparam ilesos de cometer crimes anteriormente que ninguém mais deve ser punido. A ala ainda afinada com o governo Dilma, entretanto, tenta dourar a pílula.

Há quem defenda um texto  do tipo, "o balanço apresentado não é compatível  com a posição das contas nacionais", deixando a interpretação final para o Congresso. A contar pelo que os ministros do tribunal ouviram até agora de técnicos do governo, não haverá condições de aprovação com ressalvas".

Judiciário, a rua reforçada

Quanto ao reajuste do Judiciário, visto sempre como uma categoria de privilegiados, o veto não mexe com o humor da população, mas leva os servidores, espalhados por todo o país, a engrossarem os movimentos de rua que prometem ganhar musculatura a partir de agosto. O primeiro está previsto para 16 de agosto, um domingo.

Enquanto isso, na política...

A situação vai se complicando dia a dia. O Presidente da Câmara, Eduardo Cunha,  pareceu atordoado. Acusou o Governo de desejar envolvê-lo no rol dos denunciados, mas não convenceu até agora que é inocente. O momento é de aguardar o desenrolar das investigações e, nesse ínterim, certamente a temperatura da política será imprevisível. O presidente da Câmara começou a sexta-feira atirando, mas, no fim de semana, baixou meio ponto a sua fúria; a tendência é que passe a dosar a sua oposição. 

Há cinco anos ninguém sequer mencionava a possibilidade de Cunha poder disputar a presidência da Câmara, pairava como um obscuro deputado que trabalhava nos bastidores para nomear e ocupar postos chaves em Furnas, da mesma forma que fez em empresas estatais no seu Estado (RJ). Livrou-se, com habilidade, de todos os processos e escândalos neste período, foi cassado pelos repórteres “Pit Bull” cariocas e nada, nenhuma denúncia teve consequências.

Sem o incômodo de ver algo comprovado contra ele, Eduardo Cunha subiu. Ocupou o espaço de líder do PMDB. Ali, mostrou-se um trabalhador incansável, criou a fama de cumpridor de acordos e de duro negociador. Reuniu em torno de si dezenas de parlamentares, e venceu em primeiro turno a presidência da Casa.
Fez a Campanha de Dilma. 

Não tem o controle do PMDB na província do Rio de Janeiro, mas tem o respeito como sendo um dos caciques locais, mesmo sem disputar espaços. Jorge Picciani, o presidente no estado do Rio, fez campanha ferrenha para o Aécio, e Eduardo Cunha manteve o acordo nacional e seguiu com Dilma, sem, entretanto, entrar de corpo e alma na disputa de votos presidenciais. Ou seja, cuidou da própria campanha.

Agora, o teste

Muito se disse sobre o risco de isolamento de Eduardo Cunha por esses dias. No momento, ele não está isolado. A fotografia de hoje, desta semana, mostra que nesse momento quem perdeu foi o Governo. Perdeu mais um aliado, trabalhador e que detém parcela significativa de Poder. A política tem como objetivo deter o Poder de transformar; é jogada num tabuleiro de xadrez onde as peças são de várias cores que se alinham em uma direção; Dilma perdeu mais um grupo inteirinho de soldados.

E o que está posto agora é a possibilidade de Eduardo Cunha vir a ocupar as ações de oposição ao Governo, uma vez que a oposição oficial não tem dado as necessárias respostas à avalanche de crises. Aliás, a oposição oficial, nem poderia, dado seu reduzido número de parlamentares. 
Agora, entretanto se vê reforçada pelo grupo de Cunha.

Os aliados do presidente da Câmara, entretanto, não estão todos dispostos a segui-lo, caso o destino dele seja o cadafalso. Há o temor de que surjam novos indícios que o coloque na situação, de  se ver obrigado a deixar a Presidência da Casa. Ou seja, ninguém está confortável, seja no apoio, seja na oposição a Cunha. A política entrou em compasso de espera, e da luta pela sobrevivência.
STF, a fronteira.

Todos, entretanto, se limitam a criticar o Ministério Público. Ninguém critica o STF. Três são os ministros do STF que assinaram os mandados, Teori Zavascki, Ricardo Lewandowski e Celso de Mello. Nenhuma ação de busca e apreensão foi realizada de forma voluntariosa pela Polícia Federal ou pelo Ministério Público. 

E onde está o problema? 


Todas as Crises que vivemos hoje é resultado da Crise de Confiança e de Liderança. Não há confiança e não há liderança. O próprio Eduardo Cunha atirou no “Rompimento pessoal, não institucional.”  Ou seja, não tem liderança suficiente para levar o partido a ser oposição, assim como a presidente Dilma não tem liderança para levar toda a base a ser governo.

No caso de Eduardo Cunha na oposição, somado ao fato de a presidente ser hoje alguém sem popularidade, tem-se como resultante a tendência do  Governo penar mais quando se fizer necessário ter número de votos para aprovar PLs, ou para não derrubar vetos.   A análise do afastamento de EC do Governo deve ser política, e constatar quanto ele fará falta para a governabilidade de Dilma.

Quanto ás investigações....

O DPF fez operação na Câmara, após delação, pegou e constatou que parlamentares usavam da prerrogativa de fazer requerimentos que de fato fiscalizavam contratos com indícios de irregularidades, mas não pela nobreza da fiscalização em si. A delação de Júlio Camargo indica que requerimentos eram feitos com o intuito de intimidar e ameaçar empresários, agora, apenas uma investigação aprofundada irá dizer se isso era fato. 

A alguns, entretanto, fica difícil  dizer que não terão problemas à frente. Fernando Collor, por exemplo, desnorteado na Tribuna, se fez de vítima e partiu para o ataque contra a PF e contra o Rodrigo Janot. Ignorou os ministros do STF. Por quê? Não deseja atacá-los. Para completar, a Polícia Legislativa do Senado descobriu nesta semana que o senador Collor tem duas residências em Brasília... 

Todas as ações que têm como alvo a BR Distribuidora apontam para que as próximas prisões sejam dos ex-diretores José Zonis, Luís Claudio Caseira Sanches, e do ex-ministro Pedro Paulo Leoni Ramos, ligado a Collor. 

E as delações premiadas?

Entre os colegas de trabalho,  Rogério Araújo e Jorge Zelada são considerados frouxos.  Nove em dez, apostam que irão falar e chorar muito.

Pedido de investigação ao Lula

As questões que envolvem esses personagens terminam em segundo plano quando aparece uma investigação sobre o ex-presidente Lula. Embora o PT tenha sido rápido em dizer que se trata de uma perseguição política, o fato de Lula estar sob suspeita enfraquece ainda mais o combalido PT. 

E a economia patina...

O maior trabalho hoje para os petistas é explicar os índices de desemprego. São 115 mil postos de trabalhos fechados, e para os petistas, isso, somado aos valores estratosféricos devidos pelos operadores da Lava Jato, passa a ideia de que o partido vivia às custas do $$ público, sem dar a mínima para o proletariado.

O governo hoje conta mais com aqueles que sempre desprezou, ou seja, o agronegócio. A Agropecuária continua sendo a fonte de esperança de retomada da economia, embora continue sem o prometido financiamento para dar início ao preparo do plantio da Safra.

Enquanto isso, no Congresso...


A Primeira metade do ano terminou, o recesso parlamentar chegou, sem aprovar o Ajuste Fiscal proposto pelo ministro Levy, que aparentemente, perdeu a confiança e a liderança. E a LDO continua sem acordo que possibilite prever quando será votada. Ou seja, nada entrou nos eixos. A impressão que se tem é a de que o segundo governo Dilma não começou. E talvez termine antes de começar. Aguardemos, porque novidades virão.

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