A resposta sutil para o judiciário moroso
(...) “O ministro Gilmar
Mendes criticou (para uma platéia de juízes perplexos) o apreço dos magistrados
à cultura do litígio – o que impede, segundo ele, um olhar mais generoso para
as práticas da mediação e conciliação.
ROBERTO
MONTEIRO PINHO
Recente o Poder Judiciário e o
Ministério Público se declaram ameaçados pelo Congresso Nacional e o governo
federal. O argumento é de que tentam fragilizar a independência da magistratura
e dos promotores, desvalorizando suas carreiras. Para se opor a essa apontada
retaliação, juízes, promotores e procuradores de justiça realizaram no dia 5 de
outubro um ato público para expor a situação e pedir apoio da sociedade.
Os organizadores do ato público apontam
como ameaça a existência de projetos danosos às suas ações e carreiras e
boicote legislativo de matérias de seu interesse pelo Congresso e Executivo.
Citam entre outros o PL nº 280/2016 (do abuso de autoridade), que tenta “acabar com a liberdade de investigar e
aplicar a lei”.
O projeto prevê perda de cargo e
de indenização aos agentes alcançados pela lei. A reação tem a chancela da
organização, Frente Associativa da Magistratura e do Ministério Público
(Frentas). Entre as medidas criticadas estão a PEC nº 241/2016, que limita os
gastos públicos por pelo menos 20 anos.
Sem afagos e meias palavras a
comunidade brasileira tem manifestado indignação com a morosidade e o trato do
judiciário com a advocacia e os demandantes. O cerne da questão é a morosidade,
e o excesso de vantagens auferidas aos magistrados e a liberdade nas ações de
juízes, quando tomam decisões que criam lesão a uma das partes do processo.
Há quem entenda (e não são
poucos), os atores que sem possibilidade de punir, os erros e abusos vão
continuar ocorrendo. Eu particularmente compartilho ipisis litteris deste pensamento. No dia
30 de setembro, o Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT) aprovou por
unanimidade, a resolução que vai normatizar a política de conciliação e
mediação na Justiça do Trabalho.
A medida limita a atuação dos conciliadores e
mediadores aos quadros da Justiça do Trabalho. Prevê também a supervisão
(tuteladora e desapropriada) dos magistrados às sessões de conciliação e
mediação, bem como a limitação de que os conciliadores e mediadores não sejam
pessoas externas do Poder Judiciário.
Presente na Conferência o ministro e presidente do TST Ives
Gandra Martins disse para muitos ouvidos, que 2 milhões entraram até o mês de
agosto. E que ao todo, tramitam 9 milhões de processos na JT. Quanto ao total é
provável que chegue a 3 milhões neste ano, mas o número de processos é bem
superior ao apontado pelo ministro, provável (sem contar as execuções fiscais)
esteja em torno de 15 milhões.
Por outro lado, vale ressaltar, que o
Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes defendeu de forma
veemente durante a abertura da 2ª Conferência Nacional de Mediação e
Conciliação, realizada no dia 5 de agosto em Brasília, que sejam retomadas as
Comissões de Conciliação Prévia e estimulou o uso da arbitragem para os
conflitos trabalhistas. A proposta estava no projeto que reformou a Lei de
Arbitragem, mas foi (obviamente pela toga vetusta) vetada.
Gilmar foi mais alem e falou: “A guerra entre
empregador e empregado. Há algo de errado nesse modelo. Deixamos a solução
judicial como que solução única”. O ministro do STF falou ainda sobre a
importância de se repensar a cultura do litígio e mostrou preocupação com a
falta de mecanismos para a resolução de conflitos. “Uma sociedade que se
organiza exclusivamente para organizar seus conflitos com base no judiciário
certamente não é uma sociedade devidamente organizada dentro dos padrões
civilizatórios”.
De fato os juízes só pensam na
judicialização, estão contaminados por um poder que sufoca e oprime a
sociedade. Na pratica paira na relação uma atemorizante ameaça a liberdade de
expressão do cidadão.
O ministro Gilmar Mendes criticou (para uma
platéia de juízes perplexos) o apreço dos magistrados à cultura do litígio – o
que impede, segundo ele, um olhar mais generoso para as práticas da mediação e
conciliação. “O velho Marx, e eu não sou de citar Marx, dizia eu cada um tem o
seu ofício por verdadeiro, então a gente passa a achar que precisa dessas
demandas para se legitimar”. “Obviamente os tribunais têm tarefas muito mais
magnas do que essa de ficar resolvendo as questões no varejo”.
Resolver grandes questões, dramáticas, é o
que se espera dos tribunais. Se não foram poucas as palavras do ministro, teve
gente que balbuciou, “os juízes querem ficar isolados nesta justiça, ainda vou
descobrir o que leva a isso”.
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