O desagradável e comprometido
comportamento de Dias Toffoli
HELIO FERNANDES
Comentaristas
agregados e políticos amedrontados garantem: "Renan vai recorrer ao próprio
Supremo, e reverterá a decisão do Ministro Marco Aurélio". Excesso de
primarismo e desconhecimento da realidade. O Ministro que afastou Renan da sua
fortaleza bizarra, (agora) se baseou precisamente no julgamento dos 6 Ministros
que já votaram contra REU figurar na linha sucessória presidencial.
Tudo que
Marco Aurélio quer, é que o afastado presidente do Senado recorra. Só pode ser
ao plenário do próprio Supremo. “Deputados e senadores órfãos de Renan,
exclamam sem memória: "Mas o plenário do Supremo tem que decidir imediatamente,
não pode protelar".
Esquecem
que o problema de Renan se agravou, precisamente pelo fato do Ministro Dias
Toffoli ter paralisado o julgamento, que já estava 5 a 0, CONTRA Renan
continuar na linha sucessória. Pediu "vista", o decano Celso de
Mello insatisfeito, votou e o julgamento ficou 6 a 0. O voto do decano, foi um
protesto silencioso, que teve enorme repercussão.
Antes,
queriam morosidade. Agora, pretendem velocidade. Vejam este fato: ontem, antes
das 11 da manhã, o departamento jurídico do Senado, entrava com recurso no
Supremo pedindo a revogação da liminar que afastou Renan. È o novo culto á
velocidade. Contradição completa.
E mais
grave e insensato: o Senado não foi atingido, não está em causa, não é parte,
não pode recorrer. Quem tem que recorrer, todo o direito, é o próprio Renan.
Um simples departamento, mesmo jurídico, não pode contestar o Supremo e
indicar qual presidente pode ser afastado ou deve ser mantido.
Renan
Calheiros sabe disso, afinal, foi Ministro da Justiça de FHC. Em tempos de
bonança com Michel Temer, os dois eram deputados, trabalhou para que ele fosse
presidente da Câmara. No cargo, o atual presidente indireto arquivou 6
processos de impeachment para afastar FHC do Planalto. Como recompensa, nomeou
Renan Ministro da Justiça.
REU E AFASTADO, RENAN COMANDA TUDO
Ontem,
terça, escrevi que os fatos estão mudando de instantes a instantes. O que
provocou existirem 3 presidentes num só dia. E no mesmo ano, perderem o cargo
um presidente da Republica, um presidente da Câmara, e agora um presidente do
Senado. Que resiste, planeja enfrentar o próprio Supremo. Para facilitar o
leitor a acompanhar o que acontece, usemos o recurso cronológico.
Segunda
feira, 19,25. O Ministro Marco Aurelio atende pedido da Rede de Dona Marina,
afasta Renan Calheiros. Manda um oficial de Justiça do Supremo, intimar e
comunicar a Renan, a sua decisão. 21 horas. O oficial de Justiça, que tem fé
publica, não é recebido por Renan, que já planejava o movimento da permanencia.
ÀS 22,15 o funcionario vai embora.
Terça, 14
horas, Marco Aurélio pede à presidente que coloque em votação no plenário, a
sua liminar. Carmen Lucia, que no café da manhã, já conversara com 4 Ministros,
presente Jorge Viana, vice do Senado, convoca reunião de urgência, não publica,
que continua.
Terça,
15,13 horas a Mesa do Senado, decide coletivamente não cumprir a liminar do Ministro.
Todos assinam, Inclusive Jorge Viana, que abrira a sessão e iria fechá-la em
seguida.15,27. Renan aparece para uma entrevista coletiva, senta na cadeira do
presidente, para caracterizar que o Senado está com duplo comando. Fala por 4
minutos e sai correndo, sem permitir perguntas. Ultima frase: "Triste
democracia, mesmo no Brasil, que não merece uma decisão como essa"
Terça,
16,11, tendência e não fato todos esperam a decisão da presidente do Supremo. È
bem possível que seja marcada reunião extraordinária do plenário, na quarta
feira. Fato que precisa ser citado: nas duas reuniões no gabinete da presidente
Carmen Lucia, estava presente o Ministro Dias Toffoli, que sem qualquer duvida,
criou e deu característica de grande acontecimento, á condição de reu para Renan.
Ele perdia por 6 a 0, mas nada pode ser oficializado por causa do pedido de
vista do próprio Toffoli.
Terça,
16,43. Enquanto o país inteiro está mergulhado na incerteza, na preocupação e
na apreensão, o Juiz Marcelo Bretas, do Rio, determina a prisão de Adriana
Ancelmo, mulher do ex-governador Sergio Cabral. Prisão preventiva, que não tem
prazo. O marido resistiu 2 anos e meio, ela pouco mais de 1 mês. A ligação
obvia entre o caso Renan, a prisão de Cabral e da mulher, se define e se
completa com a palavra: CORRUPÇÃO.
Terça.17,42.
Orador Jorge Viana é que está na presidência
Às 17 horas, ninguém sabe de nada, até o fim da
noite.
Nesse
momento, o senador Ronaldo Caiado, líder do DEM, afirma publicamente: "O
vice Jorge Viana, já assumiu a presidência, cabe a ele ditar o rumo dos
trabalhos". O presidente Temer ouviu, não gostou, telefonou imediatamente
para o senador Aloizio Nunes Ferreira, líder do governo. Sua grande
preocupação, que transferiu para o senador: "A votação da PEC dos gastos,
marcada para o dia 13, será mantida e confirmada?".
Terça, 18
horas. O líder telefonou para o presidente, tranquilizando-o. Conversou com
Ronaldo Caiado e outros senadores, todos com a mesma convicção. "Mesmo que
Renan fique fora da presidência, a pauta de votações não será alterada".
Temer agradeceu, ficou satisfeito. A ultima coisa que ele imagina, é a votação
da PEC dos gastos ficar para o ano que vem.
Terça,
18,10. Aécio Neves, presidente do PSDB, telefona para Carmen Lucia, presidente
do Supremo. Pede desculpas, diz que quer fazer um relatório. Autorizado, começa
a falar, diz que está preocupadíssimo. E sintetiza: “Sò quero que o Supremo,
amanhã, no plenário, resolva essa questão. Nem quero saber se o Supremo votará
contra ou a favor da liminar, o importante é decidir, o Senado está
completamente paralisado".
Terça,
até o fim da noite. Muita boataria, rumores os mais disparatados, mas pouco
consistentes. Renan continua na majestosa residência oficial, mas o movimento é
bastante menor do que na segunda. Muitos intimisimos telefonam, mas não
comparecem. Falam que Renan está "fragilizado", é a palavra que todos
utilizam.
Terça, 19
horas. Pelo menos, um fato, rigorosamente verdadeiro. Assusta muita gente, mas
não pode ser contestado. A Ministra Carmen Lucia comunica oficialmente, que
amanhã, quarta feira, na pauta do Supremo, está à apreciação da liminar do
Ministro Marco Aurelio.
Conversações
de todo tipo, mas nenhuma conclusão. Falou-se muito numa "formula salomônica"
(textual), mas Renan não deixou caminho ou espaço. Um aventureiro no poder, é
altamente perigoso. Mais grave ainda, um aventureiro corrupto como Renan.
Quarta
feira, 14 horas. Carmem Lucia abre a sessão do Supremo. Dois itens para serem discutidos.
O primeiro: apreciação e votação da liminar que afastou o presidente do Senado.
Apesar de tudo que se disse, comentou ou avaliou, nenhuma dificuldade, pode até
haver unanimidade ou perto disso.
O Supremo
não pode se render ou se entregar, aceitar a contestação, agora feita pelo
colegiado completo. Se desse ou der ganho de causa a Renan, não fará outra
coisa a não ser julgar os que contestarão o Supremo. Até hoje todos dizem: "Decisão
do Supremo, cumpre-se e depois se recorre".
Quarta
feira, depois do primeiro item. O plenário vota o segundo: se alem de ter
perdido a presidência, Renan Calheiros cometeu crime ou ofendeu o judiciário,
com seu comportamento. Aí, existe espaço para compreensão e até compaixão. È a tendência,
o Supremo não precisa se vingar, pode compreender. È o que acontecerá.
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