A política engendrada por Renan,
contra a decisão magistral do Ministro Fux
HELIO FERNANDES
A estranha,
extravagante e quase surrealista decisão do Supremo, mutilando seus Poderes incontestáveis,
para transformar o aventureiro corrupto Renan Calheiros, num vencedor, teria
que ter conseqüências, que não demoraram a surgir. O próprio Renan, protagonista
do massacre das instituições, investiu logo duas vezes contra o próprio Supremo
que o protegera e blindara.
Menos de
uma semana depois, ridicularizou e desafiou o mais alto tribunal do país.
Depois de uma votação, proclamou: "Decisão do Supremo tem que ser
cumprida". Anteontem, tentou forjar nova submissão subserviência do plenário,
contra liminar magistral do Ministro Luiz Fux. Telefonou para a presidente
Carmen Lucia, não foi atendido.
Ele e
Rodrigo Maia, atravessaram a Praça dos Três Poderes, foram ao Supremo. Não
conseguiram ser recebidos pela presidente. E o próprio Fux se recusou a
"conversar". Voltaram ao Congresso, começaram a maquinar e mobilizar
recurso, na tentativa de um novo e humilhante 6 a 3, a favor deles e contra o
próprio plenário.
O
episodio do 6 a 3 não se repetirá, apesar dos esforços blandiciosos, que
palavra, de Gilmar Mendes. Que é cada vez mais, em nome de uma vaidade e de um
exibicionismo delirante, um ser estranho no Supremo. Uma espécie de asteróide
desambientado num planeta maior.
O
Legislativo tem a obrigação e a exclusividade de legislar, desde que não atinja
ou desrespeite a Constituição. Se esse desrespeito ocorrer, a intervenção do
Supremo é também obrigatória, sem que o Congresso tente se julgar desmoralizado,
destratado, diminuído, "esteja criando uma crise institucional, jogando um
Poder contra o outro".
O Supremo
é o "guardião da Constituição", isso está na própria Carta Magna. No
episodio contestado admirável e corajosamente pelo Ministro Fux, a violação
constitucional é mais do que visível, afrontosa, despudorada e num conflito
premeditado em defesa de interesses pessoais.
E mais
estarrecedor e ao mesmo tempo, esclarecedor: receberam um projeto popular
CONTRA a corrupção, deturparam e desprezaram o conteúdo. E aprovaram uma depravada
contradição, precisamente a FAVOR da corrupção. Um partido entrou com recurso,
o Ministro Fux foi sorteado, tomou conhecimento da inconstitucionalidade, se
manifestou.
Tentaram
atingi-lo contestando o fato de ter decidido através de liminar. Não havia como
esperar. Os fatos públicos e notórios, mostram que mais 24 horas e o que fora
juridicamente estuprado na Câmara, "na emenda da meia noite", teria o
mesmo destino escabroso no Senado.
Procurando
mostrar que o Ministro exorbitou, Renan e o agora seu acolito Rodrigo Maia,
mistificaram e enganaram a opinião publica, afirmando: "O Ministro decidiu
sobre um processo legislativo, que já havia terminado". Ora, tanto não
havia terminado, que assim que foi votado na Câmara, enviaram para o Senado,
onde terminaria.
Fux teve
tanto cuidado na sua decisão, que estabeleceu: "A Ficha Limpa, que também
surgiu de um projeto popular, continua intocável". E o autor da ideia
desse projeto excelente, que foi juiz durante 19 anos, aplaudiu, elogiou e
referendou a liminar do Ministro Fux.
Sem
querer estabelecer polemica sem sentido, ou alimentar baixaria, Fux explicou: "Em
fevereiro, quando terminar o recesso judiciário, o plenário examinará a
liminar". Perfeito. Deveria ser ratificada por unanimidade. De acordo com
as circunstancias, lamentáveis, o placar exibirá um novo 8 a 3, (talvez 9 a 2) que
fulminou Renan, antes daqueles 6 a 3 melancólicos. Imaginar outro resultado,
ofensa ou desafio, o Supremo não poderá aceitar.
Temer só
melhora a popularidade, fora do governo.
Cabral e
Cunha, quase presidentes.
O presidente
indireto acumula reprovação. Não apenas nas pesquisas de opinião, mais do que
esperadas. Aliás, repetidas por ele mesmo: "Não me importa ser impopular,o
que eu quero é salvar o país". Contradição mais do que evidente. Se
conseguisse salvar o Brasil, sua popularidade subiria sem limites.
Mas
ultrapassados 7 meses, e tendo confessado, "combaterei as delações com
realizações", tudo que tenta, cai no vazio. A respeito do pacote de
medidas, anunciadas como salvação, a Goldman não precisou de muito tempo. E
sintetizou: "Não passam de Possíveis propostas". Poderia ter
acrescentado: isso se o consumidor conseguir entender alguma coisa.
Agora
Temer tenta aparecer todos os dias, sobre os mais variados assuntos. Por
exemplo: "Temos que diminuir os desastres nas estradas, melhorando a
sinalização e a fiscalização". Só não apareceu no velório de Dom Evaristo
Arns, uma das maiores figuras de todos os tempos. Mandou uma coroa, fugiu da
multidão, povo mesmo, que idolatrava o Cardeal da Esperança, despreza os
aventureiros do Poder, como Temer.
O
presidente sem voto, sem urna, sem eleição, só melhora sua reputação, se sair
do governo, o mais rapidamente possível. Através de uma das quatro
possibilidades que resumi aqui, na quinta feira.
Por
enquanto é prisioneiro de sua própria indecisão. E a obsessão com vaias.
Condecorou os solidários colombianos. No Planalto. Distribuiu presentes para
alunos de uma escola primaria. No Planalto. Vai com batedores até em trajetos
curtos. Não no Planalto. Mas entre o Jaburu e o Alvorada. Ou vice versa. Que
Republica.
Sergio Cabral- Eduardo Cunha
Eram duas
potencias do PMDB do Estado do Rio. Mas jamais foram correligionários. E
percorreram caminhos diferentes, embora estejam presos, cada vez mais distantes
da liberdade. Cunha se lançou primeiro no plano federal, como deputado. Cabral preferiu
não sair do Rio, como deputado estadual. Acertou, 8 anos seguidos presidente da
Alerj, senador, governador eleito e reeleito. E admitindo que não era absurdo
pensar em ser Presidente. Não parecia mesmo.
Eduardo
Cunha também teve sucesso no planejamento da carreira política. Dominou
inteiramente a Câmara, para ser escolhido presidente poderoso, não demorou
muito. Em 2015, decidiu que podia ser presidente da Republica em 2022. Mas
precisava parar para reabastecimento como governador em 2018. Considerava que o
prefeito reeleito, Eduardo Paes, que parecia popularíssimo, seria adversário
praticamente invencível nesse obrigatório 2018.
O que não
lhe falta é imaginação. Lançou então o prefeito Paes, como candidato a
Presidente da Republica em 2018. O prefeito, e um grupo forte do PMDB,
"compraram "a ideia, entusiasmados. E ele se preparava para completar
o plano, com o adendo: depois de governador, a presidência da Republica em 2022.
Portanto,
no depredado e desmoralizado sistema político, 2 supostos candidatos a
presidente, ainda com Dona Dilma no primeiro ano da reeleição. Só que Cabral e
Cunha, não resistiram á tentação do enriquecimento ilícito, da fortuna
acumulada através da corrupção. Não recusavam nenhum corruptor.
Agora,
presos e perdendo todos os recursos, ainda acreditam no futuro. Eduardo Cunha,
acusado mas ainda livre, espalhava: "Na Segunda Turma do Supremo, tenho 2
votos, perto de 3". A presidente Carmen Lucia soube, marcou o julgamento
dele para 8 de fevereiro, no plenário.
Sergio
Cabral, REU pela segunda vez, não consegue ficar numa prisão. A primeira foi em
Bangu. Como foi 8 anos governador, tem amplas e naturais ligações. Que
produziram regalias. Foi mandado para Curitiba. E agora volta para Bangu.
Nesses
deslocamentos, poderiam proporcionar a Cabral, pelo menos uma semana em Mangaratiba.
Não teriam nem despesas, poderiam ficar no condomínio de luxo, que ele tem lá. Quase
presidente, depois de senador e governador duas vezes, completamente
abandonado.
Sergio
Cabral e Eduardo Cunha, foram competentes no planejamento político. Mas arruinaram
tudo, com a convicção: poderiam exercer o Poder, e ao mesmo tempo se transformarem
em potencias financeiras.
Terminou
a mais completa e contundente delação da Lava Jato. E a renuncia de Temer
2017 é o ano que
não quer começar. Mesmo com um 2016 marcado pela tragédia, a maior parte dos
personagens que dominam a vida publica, ainda sentirão saudades. 2017 não será
a ponte para o futuro 2018, cada vez mais longe, á medida que avança o calendário
gregoriano. Parece contradição, mas é apenas a realidade nacional.
Uma
realidade política, econômica, administrativa, que nem é inédita. Todas as
vezes que governos foram formados longe do povo, as ditaduras e as conseqüentes
e inevitáveis crises se instalaram durante muito tempo. Por causa disso, numa
Republica tão desejada e tão deformada, só fomos ter a primeira eleição direta,
em 1945. Ou seja, 56 anos depois.
E assim
mesmo, direta apenas simbolicamente. Na verdade, mais uma farsa. O general que
deu cobertura militar á ditadura por 8 anos, (1937-45) ficou mais 5,
"guardando" o lugar para a volta do ditador derrubado.
Inacreditavelmente,
127 anos depois da implantação (esqueçam a palavra Promulgação) da Republica, o
país inteiro discute se a solução para tanta incompetência, traição e deformação,
será a eleição direta ou a indireta. E tudo jogado para 2017, o ano que não quer
começar.
São
varias as ideias jogadas no xadrez (que palavra) das ambições desvairadas. Pelo
menos quatro. E apenas uma, a mais distante e remota, que favoreceria a volta
da eleição com povo, urna, e escolha popular. A única, radiosa dentro do possível,
imediata, e que poderia trazer benefícios reais, seria a RENUNCIA do presidente
indireto. Mas teria que ocorrer até o dia 31 deste dezembro. Se a renuncia
ocorresse No dia primeiro de janeiro, estaria finalmente começando o 2017. Com
eleição indireta.
Em 1954,
Vargas "saiu da vida para entrar na Historia". Temer estava com 13
anos, não se lembra nem conhece Historia. Mas agora, aos 75, tem na renuncia,
uma solução grandiosa e patriótica: sair do poder fraudulentamente conquistado,
para entrar na Historia.
A ASSUSTADORA ODEBRECHT
A maior
empreiteira roubalheira do país, terá importância e relevância, já nesse 2017
que não quer começar. Fez acordo de leniência financeiramente maravilhoso. Pagará
quase 7 BILHÕES, mas em 20 anos, sem juros ou correção. Foi chamado de
"maior acordo de indenização do mundo", o que prova que ainda tem
grande prestigio e capacidade de comunicação. Como já decodifiquei
minuciosamente, basta repetir. Devolverá 35 milhões, mensalmente, premio
absurdo e não punição.
O que o
país inteiro espera: que a delação política terminada agora, contribua
efetivamente para a recuperação do país. Hoje, segunda, o Supremo realiza sua
ultima reunião plenária, sem julgamento. Amanhã começa o recesso, e toda a formidável
documentação será entregue ao MinistroTeori Zavascki.
(Se isso
existe mesmo, o sorteio de Zavascki, para rever e homologar todos os acordos,
decisões e delações da Lava-Jato, foi uma determinação dos deuses. Imaginem se
tivesse ficado com Gilmar Mendes ou Dias Toffoli?).
Apesar do
que estão falando, da expectativa da revelação de tudo, rapidamente, antes de
março, dificilmente se conhecerá o conteúdo do que revelaram os 77
ex-Executivos. E principalmente, o que foi gravado nos 5 depoimentos do próprio
Marcelo (Odebrecht). Um de 10 horas seguidas, outro de 8, os outros 3, quase
com a mesma duração.
Por
enquanto, ninguém conhece nada. Apenas o volume colossal de documentos, de
gravações, do que sabiam e contaram os ex-executivos. O que pode ser feito:
comparação com o depoimento revelado integralmente pelo ex-diretor de
Comunicação e Negociação da empresa, Claudio Melo. Se ele sozinho estremeceu o
país, os palácios presidenciais, o Executivo e o Legislativo, imaginem o que
deverá constar desses depoimentos coletivos.
Para dar
a ênfase devida do que deverá surgir dessa delação rotulada como "fim do
mundo", uma lembrança: Claudio Melo, usando a primeira pessoa, afirmou: "Eu
não tratava de dinheiro, apenas sugeria QUEM deveria receber e QUANTO". E
concluía: "Quem concordava ou mandava pagar, era unicamente Marcelo".
Apenas
imaginação e experiência, numa rara oportunidade estou sem informação. Os
Procuradores devem ter usado o depoimento do ex-diretor, e interrogado o próprio
Odebrecht, para saber se a revelação era verdadeira. Se a pergunta foi feita,
imaginem a resposta. Marcelo está preso ha 2 anos e meio, tem um acordo de
delação e liberdade, por que perderia essa OPORTUNIDADE?
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