(REPRISE DAS MATÉRIAS MAIS ACESSADAS)
09.09.15
HELIO FERNANDES
Publicada em 04.06.14
PARTE - I
O excelente repórter, Chico Otávio entrevistou o coronel Riscala
Corbage, que disse textualmente: “Torturei mais de 500 presos”. E como os
outros, principalmente o coronel Paulo Belham, (que foi logo silenciado), se
despediu com a afirmação: “Não tenho o menor peso na consciência”.
Chico Otávio encerrou com essa confissão, mas começou de maneira ainda
mais jornalística: “O cara urra de dor”. Belham também tinha sua frase de
bolso: “Não tenho remorso ou arrependimento”.
Só que os dois mentiam avidamente, por simples exibicionismo.
Acreditavam que confessando e exagerando, voltavam ao apogeu. Acima dos 70
anos, quase chegando aos 80, imaginavam (e Corbage ainda imagina) que nada
aconteceria a eles. Como todos os generais principalmente os que chegaram a
“presidentes”, morreram, não pensavam que surgisse essa expressão de duas
palavras: “crimes imprescritíveis”.
Confissões de mim mesmo
Esse capitão da Polícia Militar, Tenente coronel na reserva, torturou
muito e não se pode desmenti-lo: com o maior prazer. Só que mente em alta
velocidade, desabaladamente. O Exército sempre teve desprezo e desapreço pela
Polícia Militar. E esta, total ressentimento, por causa da hierarquia.
Os oficiais da Polícia Militar só chegavam a coronel, paravam por aí. E
os comandantes eram sempre Generais, lógico, do Exército. Lutaram dezenas e
dezenas de anos para mudar a situação. Foram conseguir quando se revoltaram
contra o general Fiuza de Castro. (O filho, o filho, o pai era ótima figura, a
genética não exerceu o seu poder).
E esse Fiuza de Castro foi um dos mais displicentes comandantes do
DOI-Codi. Não torturava pessoalmente e provavelmente não sabia de tudo o que
acontecia. Mas existiam centenas de oficiais do Exército servindo no DOI-Codi e
não deixariam que um Capitão PM exercesse tanto Poder para a tortura de “500
presos”.
Minha primeira ida ao DOI-Codi, seu comandante era precisamente Fiuza de
Castro. Saltei lá naquela entrada enorme, com cartazes do PIC, (Pelotão de
Investigação Criminal), uma figura fardada apontando um dedo para a frente,
como se fosse uma ameaça, devia ser mesmo.
Mais ou menos 11 da noite. O Exército não transportava presos, aqui no
Rio isso era feito pela polícia. Eles me diziam: “Ficamos assustados em trazer
alguém, sabemos o que acontece”. Me levaram para uma sala, um Major explicou:
“O general Fiuza já foi comunicado, está chegando”.
Esse local não era tão grande quanto parece. Éramos obrigados a ouvir
gritos de tortura, incessantes, assustadores, mortais. Um capitão até de boa
aparência, sussurrou: “São todos muito jovens, choram por qualquer coisa”. Não
sabia se ele era contra a tortura ou se depreciava a reação dos torturados.
O general Fiuza levou quase duas horas para chegar, não cumprimentou
ninguém, sentou numa cadeira distante. Vestia calça cinza e paletó de xadrez,
nenhum jogo de palavras. Inesperadamente olhou para mim, falou: “Gosto muito
quando o senhor escreve sobre futebol, por que tem que se meter na nossa
vida?”.
AMANHÃ – PARTE - II
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