14.09.15
HELIO FERNANDES
Publicada em
04.08.14
PARTE - I
Em 1963, fui
preso e levado para a Barão de Mesquita, ainda não havia o Doi-Codi. Só em
1968, 5 anos depois seria criado, comandado, tornado símbolo da crueldade e da
tortura, tendo como maior autoridade, o general Orlando Geisel. Como a comissão
da Verdade está provando e desvendando, esses generais não torturavam pessoalmente
tinham subalternos que “cumpriam ordens”. Iam assassinando, sendo promovidos,
passados para a reserva, vinham outros.
Essa comissão da
Verdade só foi criada e instalada com mais de 30 anos de atraso, todos os
generais de 3 ou 4 estrelas, responsabilíssimos, já haviam morrido. Na
Argentina e no Chile, os mandantes e não os coadjuvantes, morreram na cadeia,
numa cela, sem o menor conforto, embora não tenham sofrido tortura física.
O primarismo do
SNI
Criado junto com
o golpe de 64, o equipamento tinha pelo menos 100 anos de atraso. E os que
tentavam gravar “todas as conversas” eram de incompetência colossal. A começar
pelo major, depois Tenente-Coronel Golbery do Couto e Silva que se julgava um
gênio. Seu último cargo foi esse que citei, mas como existia a imoralidade de
receber duas promoções ao passar para a reserva, se transformou General.
Comandou o SNI
desde a sua criação, mais tarde acumulou a chefia do SNI com a presidência da
Dow Chemical, a maior fabricante de napalm do mundo, responsável por milhões de
assassinatos nas mais diversas “guerras localizadas” como a do Vietnã. Nada lhe
aconteceu, morreu fétido de responsabilidade, embora se julgasse a própria
santidade de impunidade e da indignidade.
Minha primeira
prisão, julgamento no Supremo
Hoje não existe
mais nenhum sigilo, tudo de sabe na hora, ou até antes de acontecer. Qualquer
pessoa na maior inocência ou ingenuidade, pode estar conversando com alguém, e
tudo sendo gravado, com um celular no bolso do outro.
Há algum tempo
fui falar para centenas de aluno da PUC de São Paulo. Eles iam chegando,
colocavam ou jogavam o celular em cima da mesa horizontal. Quando se
satisfaziam e iam embora, era só apanhar o aparelho, estava tudo ali. Não havia
mais trabalheira e a complicação da preparação, microfones.
No dia 22 de
julho de 1963, antes do golpe todos conspiravam. Generais, governadores,
membros do governo. Recebi envelope com uma circular assinada pelo ministro da
Guerra, general Jair Dantas Ribeiro. A fonte, excelente, me entregou ainda no
envelope original, com o carimbo: “Sigiloso e confidencial”.
Publiquei,
claro. Fui preso no mesmo dia. Também no mesmo dia Millôr escreveu: “Não quero
defender o Hélio por ser meu irmão mas um jornalista que recebe circular
sigilosa e confidencial, assinada por um general ministro da guerra, e não
publica, é melhor que abra um supermercado.”
Publiquei,
claro. Fui preso no mesmo dia. Também no mesmo dia o Millôr escreveu: “Não
quero defender Helio por ser meu irmão. Mas um jornalista que recebe circular
sigilosa e confidencial, assinada por um general ministro da Guerra, e não
publica, é melhor que abra um supermercado”.
AMANHÃ PARTE –
II
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