Titular: Helio Fernandes

terça-feira, 29 de setembro de 2015

A BALA DE PRATA

FERNANDO CAMARA
28.09.15

Está semana promete ser talvez a mais importante para a presidente Dilma Rousseff. Isso porque ela estará jogando a reforma ministerial, o recomeço ( ou tentativa de começo?) de seu segundo mandato. A ideia de dar ao PMDB da Câmara o ministério da Saúde mostra que Dilma entendeu que não tem alternativa: O PMDB é o que lhe resta nesse ambiente político deteriorado. Ou ela governa em parceria com o partido ou vai pra casa. Ela prefere governar em parceria.

O problema é que para o PMDB se sentir parceiro, Dilma tem que agradar todas as alas. Da parte da Câmara, cansada de negociar tudo via Michel Temer e desconfiada das reais intenções do vice, Dilma abriu canal direto com o líder Leonardo Picciani, que virou uma espécie de articulador informal do governo. Ele inoculou na bancada o vírus governista e agora negocia os espaços de poder que caberão à bancada.

A ideia de Dilma de entregar a um deputado do PMDB uma pasta de infra-estrutura resultante da fusão de Aviação Civil e Portos não sobreviveu 72 horas e por um motivo político, nada a ver com a disparidade entre os dois setores. É que ou Dilma atendia o senador Jader Barbalho mantendo Helder Barbalho no governo ou ganharia um inimigo declarado disposto a expor o governo a perder votos no Senado e na Câmara, uma vez que tanto a mãe de Helder quanto a madrasta são deputadas.

Resultado: para manter Helder no governo e ao mesmo tempo cumprir a promessa de incorporar Pesca à Agricultura, Dilma manterá os dois ministérios e mais: dará Portos a Helder e o deputado domPMDB ficará com aviação civil. Assim, Dilma calcula ainda deixar o grupo de Michel Temer exposto, num momento em que nem a bancada da Câmara e nem a do Senado indicaram aliados do vice para ministro. E assim, a expectativa é a de que tanto Edinho Araújo, ministro de Portos, quanto Padilha, Aviação Civil, fiquem fora do primeiro escalão do governo.

Quanto aos portos, vale registrar que a média de permanência na Secretaria Especial dos Portos-SEP é de uma ano, e os últimos cinco ministros não tinham nenhuma intimidade, experiência ou sequer uma pequena convivência com o setor. Quando começavam a ter alguma intimidade saíam para outra função. Veremos quanto tempo ficará Helder, se for confirmado no cargo.

Cúpula do partido tentou se desvincular da guerra por cargos

Michel Temer, Renan Calheiros e Eduardo Cunha dispensaram o pedido de Dilma para indicar ministros. Mas, bastou Picciani passar ao papel de negociador para que cada um deles enviasse seus recados ao governo. Temer não quer perder Padilha. Renan, uma ajuda ao governo do filho. E Eduardo Cunha verbaliza que cargos não resolverão o problema do governo e sinaliza rejeição da CPMF --tudo para não perder o lastro na oposição, onde ancorou sua sustentabilidade depois de ter sido citado por delatores da Lava Jato.

O PT e o Pará à deriva...

O PT esfacelado teve que pegar carona com o PMDB de Jader e perdeu a sua identidade. O PMDB vem, ao logo dos anos, perdendo substância política e perdendo quadros importantes, e sem nacos de poder não consegue criar musculatura. Com todo o oxigênio sendo direcionado para o Barbalho não há renovação política. E com o ciclo político exaurido do PSDB, o espaço para grandes renovações está aberto no Pará.

Suspense total

 Por mais que Dilma resolva a situação política, algo pra lá de difícil, os movimentos feitos até agora não garantem a resolução das questões econômicas mais importantes e urgentes. As oscilações que a moeda americana sofreu na semana passada mostraram que a credibilidade na política econômica e na condução dos rumos políticos não são confiáveis. Simples assim. O BC só conseguiu algum fôlego quando garantiu que as reservas cambiais podem (e serão) usadas no controle da moeda. Em Nova Iorque, embora tenha resistido muito a falar sobre problemas brasileiros, a presidente disse estar muito preocupada com as empresas brasileiras que mantêm dívidas em dólar. Mesmo?

O que mais me preocupa

Diante de tantos problemas, o que mais assustou a todos foi a frase ouvida pior jornalistas de um importante ministro do governo, quando perguntado sobre um hipotético plano B: o ministro disse que a reforma e a recomposição do governo são a "bala de prata".

Votação de Vetos

O governo precisa recompor a base para evitar dois problemas: os vetos e o impeachment. Quanto aos vetos, o Congresso Nacional volta a se reunir na quarta-feira (30), às 11h30, para terminar a apreciação dos vetos presidenciais, iniciada na semana passada. Serão votados seis vetos cuja análise não foi concluída, e mais um veto novo.

 O item mais polêmico é o veto ao reajuste salarial do Poder Judiciário.  A presidente Dilma Rousseff rejeitou integralmente a proposta de aumento de até 78,56% para os servidores. Para manter os vetos, o Governo teve que gastar mais do que argumentar, liberando emendas ao Orçamento.

Ninguém tem maioria

Os vetos foram mantidos com o apoio dos parlamentares que não desejam uma situação econômica pior; não foi uma vitória do Governo. Houve quem quisesse  suspender a sessão, mas com o dólar a R$ 4,24 o Governo tinha que fazer qualquer coisa. Assim, Renan chamou a realização da sessão e todos ficaram expostos. A oposição, que bradava ter maus de 300 votos em plenário não conseguiu 180. Para completar, o PSDB, que sempre tenra se colocar como o responsável que não faz oposição ao país, saiu com a imagem arranhada ao votar pela derrubada de vetos que poderiam comprometer ainda mais as finanças do país.

Com a perspectiva de aumento das despesas se houvesse a derrubada dos vetos, Dilma foi para  o telefone. Conversou mais com políticos na última semana do que ao longo desses quase cinco anos de mandato. E chegou a ligar até para alguns parlamentares que nunca lhe deram bola, caso da senadora Ana Amélia Lemos, do PP gaúcho.

Baixou o desespero, viu o impeachment encostar no portão do Alvorada e, por isso, reassumiu de fato a coordenação política do governo e da forma que ela sabe, ou seja, atabalhoada, uma vez que não é do ramo. Ela ainda conta com a ajuda de Lula, mas não com tanto afinco quanto no passado.

E por falar em Lula...

Com base no pedido da Polícia Federal para ouvir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no âmbito das investigações da Operação Lava Jato, o PSDB protocolou uma petição no Supremo Tribunal Federal (STF) com pedido para que o ministro Teori Zavascki autorize uma investigação da presidente Dilma. O PSDB argumenta ao STF que, pela peça da Polícia Federal, "há elementos mais do que suficientes para dar início às investigações".
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, classificou o pedido de "factoide". "Do ponto de vista jurídico, isso não tem o menor significado", disse. Porém, não podemos deixar de registrar que será mais um elemento para desgastar a combalida imagem da presidente da República.

Programa do PMDB

O PMDB tentou inovar em seu programa que apresentou na rede de rádio e TV, semana passada. Usou estética austera, com ameaças veladas, talvez convincente para o eleitor  menos atento, nos primeiros três minutos. Depois, o programa perdeu substância, ao abrir espaço para as estrelas do partido, o mesmo discurso de sempre, com os mesmos chavões e propostas que não saem do papel há pelo menos duas décadas. O fundo escuro também não ajudou a parte estética.


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