(REPRISE DAS MATÉRIAS MAIS ACESSADAS)
HELIO FERNANDES
Publicada em 14.04.14
Lacerda só pensava na presidência
PARTE FINAL
Sempre acreditou nisso. Mas 1966,
67 e 68, foram tempos da ditadura contra ele. Quando em 13 de dezembro o
locutor Alberto Cury começou a ler na televisão, às 8 e meia, o AI-5 miserável
e vergonhoso, comecei a me vestir. Não era horário de sair sozinho, Rosinha
perguntou onde eu ia, respondi: “Para o jornal”.
Naquela época não havia nem
remota indicação de celular, na porta de saída da minha casa, um telefone.
Tocou, Rosinha atendeu, passou para mim, “é o Carlos”. Atendi, disse pra ele,
“estou saindo, vou ser preso imediatamente, você talvez seja a única pessoa que
eu atendesse”.
Ele: “E eu?”. Respondi, “você vai
ser preso e será cassado”. Do outro lado, um berro: “Você está acostumado a
adivinhar, não serei preso nem cassado”.
Desliguei, fui para o jornal,
logo preso. Levado para o Caetano de Farias. Pensei que fosse o primeiro, já
encontrei Osvaldo Peralva, editor do Correio da Manhã, grande amigo, passamos a
noite conversando.
Pela manhã, às 9 horas chega
Lacerda. Me abraça, diz: “Está bem fui preso, você adivinhou uma parte, mas não
serei cassado”.
Isso era 15 de dezembro. No dia
30 Lacerda foi cassado, já não estava mais preso. Eu, Peralva e Mario Lago
ficamos até 6 de janeiro, Dia de Reis. Os generais são perseguidores, mas
também muito católicos.
No dia 2 de janeiro de 1969,
Lacerda viajou para a Europa, teve a gentileza de ir se despedir de nós. Não
podia deixar de falar: “Não interessa discutir com você, a não ser que não
valha adivinhação”. Ficou 3 anos na Europa, mais de 1 ano em Milão.
A volta e a morte com 63 anos
Chegou ao Brasil, ficou
enclausurado na Nova Fronteira, Editora que fundara quando vendeu a Tribuna a
Nascimento Brito, por 26 milhões de dólares.
A morte fulminante e silenciosa
Num dia de maio de 1977, a uma da
tarde, sentiu dor no coração a família levou-o para o hospital. Por volta das
seis foram liberados para irem embora, informaram: “O governador dormirá aqui,
para observação”. É obrigatório.
Quando Letícia e os filhos
chegaram em casa, já havia recado para voltarem com urgência. Voltaram, já
estava morto.
Tudo o que se “engendrou” depois
sobre sua morte, a de JK e a de Jango, fantasia. Não que os generais não quisessem
se livrar dos três. Mas não tiveram oportunidade de interferir.
Lacerda que tanto quis a
presidência, morreu com 63 anos, sem nunca ter estado doente. Dois anos depois,
viria a mistificação que chamaram e chamam até hoje de ANISTIA. Que só ANISTIOU
os generais.
FIM
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