Getúlio
Vargas por Helio Fernandes
17.09.15
HELIO FERNANDES
Publicado em 05.04. 2004
PARTE
- I
Getúlio
Vargas foi sempre um homem marcado pelos golpes e pelas datas. Nasceu em 1883,
pouco antes do primeiro golpe, em 1889, que implantou a República. Morreu em
1954, levando com ele essa mesma República que ajudou a desestruturar, a
desequilibrar e a desacreditar.
Teve
um início inesperado, de simples deputado sem expressão a Ministro da Fazenda e
governador do Rio Grande do Sul, escolhido, prestigiado e garantido pelo
presidente Washintong Luiz, que ele mesmo ajudaria a derrubar em 1930. Morreu
aos 71 anos, depois de 15 anos de governo ditatorial, cruel e selvagem, mas com
um final genial e dramático, como numa tragédia grega.
Tendo
ficado 15 anos no Poder (que ele chamaria gozadoramente de “meu curto período
de governo”), jamais se entendeu com a democracia, não tinha admiração por ela,
nem mesmo o reconhecimento da eleição pelo voto em 1950, a primeira vez que
isso acontecia na sua vida.
Mas
não sabia governar de forma democrática, não sabia antes, desaprendeu o que não
sabia, nos longos anos da ditadura, matou-se de forma simples e genial, levando
com ele os inimigos de sempre e até os adversários ocasionais.
Só
que, enquanto Vargas recebia uma lápide que parecia esculpida pelo Aleijadinho
ou projetada por Oscar Niemeyer, os outros eram sepultados como indigentes. E
obteve tudo isso apenas com um tiro, não precisou mais do que isso. Atingiu os
céus e a grandeza, mas não se reconciliou com a democracia. Pois Vargas foi
sempre um ditador convicto.
É
evidente que Getúlio Vargas é parte da enorme História brasileira. Ficou 19
anos no Poder, 15 como ditador satisfeito, 4 como presidente contrafeito. Como
ditador mandava em tudo, como presidente não sabia de nada.
A
curiosidade que a História terá que desvendar: por que nos dois regimes Getúlio
lutou tanto contra Osvaldo Aranha que o ajudou sempre. Uma das maiores figuras
do seu tempo? E por que esse mesmo Vargas, também nos dois regimes, se entregou
tanto a Lourival Fontes, talento puro e insuperável, canalha com a mais
profunda convicção, só comparável à do padre Olimpio de Mello, que o próprio
Vargas nomeou prefeito do então Distrito Federal?
É
evidente que Vargas fez muita coisa, é isso que seus admiradores proclamam.
Como não fazer em 15 anos de Ditadura, num governo no qual só existia ele e sua
vontade inabalável? E quando falo em 15 anos, omito deliberadamente os outros
4, quando Vargas foi presidente apenas nominal, não chegou a empossar ou se
apossar do Poder.
Está
se completando agora 50 anos de sua morte. Portanto, os que estão atingindo os
60 anos não conheceram Vargas e seus governos, o que sabem dele é de ler ou
ouvir, não é de viver, de presenciar, de se estarrecer, de se horrorizar, de se
surpreender. Pois durante os governos, compreensível, e antes ou depois deles,
incompreensível, teve a maior cobertura dos órgãos de comunicação.
MANHÃ
PARTE FINAL
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