ANISTIA
AMPLA, GERAL E IRRESTRITA. GENERAIS TORTURADOS.
DEMOLIRAM A TRIBUNA.
DEMOLIRAM A TRIBUNA.
25.09.15
HELIO FERNANDES
*Matéria do arquivo.
A
"anistia ampla, geral e irrestrita" foi uma blasfêmia totalitária.
Isso e muito mais, na verdade muitíssimo. Inicialmente foi a tentativa de
livrar ou absolver Médici e Geisel os dois "presidentes" que ainda
estavam vivos. E mostrar ou demonstrar generosidade.
Não
consultaram ninguém, apenas alguns coronéis também torturadores, muito civis
que colaboraram com a ditadura, e principalmente o General Otávio Medeiros,
Chefe do SNI, e que aparece igualmente o 1º de maio de 1981. Fato que
comentarei, a seguir, respondendo a outro leitor, que esqueceu de assinar, (ou
não quis, se quiser pode fazê-lo agora, o assunto é importantíssimo).
Os que
combateram a ditadura de armas nas mãos (apenas 60, chamados de
"guerrilheiros" e muitos outros assassinados nos subterrâneos da
ditadura) não podiam se beneficiar. Os que estavam no exterior, asilados ou
exilados, puderam voltar, "grande benefício".
Os
generais (e coronéis ainda não promovidos) queriam se livrar de punições,
tinham pânico de morrer na cadeia como aconteceu na Argentina e no Chile.
Conseguiram a auto-absolvição e a proclamação da inocência avaliada pelos
civis, tão culpados quanto eles.
Bastam
dois exemplos para mostrar qual a intenção deles. Dois anos depois dessa
"anistia" demoliram a Tribuna da Imprensa. Pura vingança por tudo o
que o jornal representou na luta contra eles. E o fato do repórter não ter
saído do país nos 21 anos em que torturaram, assassinaram, perseguiram, fiquei
agressivamente combatendo.
E um
episódio que não esqueceram: o fato de logo em 1979, vários advogados famosos
entrarem com pedido de indenização (com minha autorização) não contra a União,
mas pessoalmente responsabilizando Médici e Geisel. Tiveram contratempos, foram
incomodados, precisaram se defender no então Tribunal Federal de Recursos (que
acabou com a Constituição de 88) e no Supremo Tribunal Federal. Este teve a
covardia de declarar: "Geisel e Médici não tem nada com isso, responsável
é a União".
Ainda bem
que nenhum dos ministros de hoje integrava a tribunal de 1979/80. Os ministros
de 1979/80, se comparam aos ministros do Supremo da Era Vargas, Estado Novo,
mas com o Supremo funcionando que autorizaram o ditador a entregar Olga Benário
aos nazistas. (Ela nunca foi Prestes).
Esse general
Chefe do SNI, poderosos, pedia a prorrogação da ditadura, pois era
candidatíssimo a "presidente" em 1985. Foi o autor e realizador em
comando de tudo o que aconteceu cm a Tribuna em 1981. Fui então depor na CPI do
Terror que funcionava no Congresso. O relator Franco Montoro (depois seria
governador de São Paulo) veio ao Rio me convidar, fui depor, construí um libelo
nominal que durou 6 horas.
Esse
libelo desapareceu completamente. Tempos depois precisei consulta-lo, (falo
sempre de improviso), não conseguiram encontra-lo. Ninguém sabia do 1º de maio,
desse mesmo 1981, nova tentativa de prorrogação da permanência dos generais, no
caso o mesmo Otávio Medeiros.
Foram
incompetentes, a bomba era para explodir em outro lugar e não no carro, matando
militares. Para os autores, um desastre. Era preciso fazer inquérito, a
repercussão foi enorme. Garantiram a transição com a "eleição
indireta" de 1985, monitorada por eles, chamada de "transição".
E o inquérito?
O chefe
do SNI providenciou tudo. Conhecia um coronel negro (já morto) que não seria
promovido a general, chamou-o e determinou: "Você vai assinar o inquérito
sobre o "Atentado do Rio Centro". Não terá nenhum trabalho, é só
assinar. E será promovido a general".
Não podia
recusar, se o fizesse seria preso, teria um fim de carreira injusto. O
inquérito foi o mais incompreensível, logo arquivado. Mas os generais
torturadores continuaram mandando. Eleição direta só em 1989. Com tanto tempo
sem povo, sem voto, sem urnas, surgiram oito candidatos.
O general
Otavio Medeiros morreu 5 anos depois completamente desconhecido. Continuou
morando em Brasília, ia ao supermercado sem segurança alguma, não era
incomodado, ninguém sabia quem era.
Fardado,
parecia gigante. A paisana era um pigmeu.
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