Hilary-Trump, o maior debate, depois de Nixon-Kennedy
HELIO FERNANDES
Em matéria de expectativa, nunca
houve nada igual. Mais de 100 milhões de pessoas, pararam literalmente os EUA. As
televisões faturaram como acontece nas grandes finais esportivas, transmitidas
para todo o país, e até o exterior. A curiosidade principal do debate de hoje, segunda
atravessando para a terça, é a diferença, verdadeira disparidade, da
personalidade dos dois personagens.
È o
primeiro dos 3 debates. Entre a primeira mulher com possibilidade real de ser
presidente do país mais importante do mundo. E um bilionário truculento,
raivoso, se contradizendo a cada momento, mas com um conhecimento notável de
como se comportar na televisão. Já dirigiu e participou durante muito tempo, de
um "reality show".
Não tem o
mínimo de convicção, é repudiado como "vergonha nacional", mas é
aplaudido quando diz que vai levantar muros, expulsar imigrantes, mesmo legítimos.
E outros pontos radicais, seguidos por multidões de insensatos. Como ele.
O
ex-secretario de estado, Collin Powel também quase candidato a Presidente pelo
Partido Republicano, declarou com grande repercussão: "Trump é uma
desgraça nacional". Com tudo isso, começaram o debate, empatados tecnicamente.
Ela 46 pontos, ele, 44.
Mas haja
o que houver neste debate em desenvolvimento, não é nem de longe o maior e o que
penetra mais entusiasmadamente na historia do país. Ainda insuperável, o debate
Nixon-Kennedy, em 1960. O jornalista Ted Wite, que cobriu a campanha dos dois
candidatos, escreveu um livro admirável e elucidativo, com o titulo, "Como
se faz um presidente".
Calculou
que a audiência foi de 60 milhões, o que proporcionalmente, é maior do que os
100 milhões esperados para hoje, e ainda não divulgados. Nixon era franco
favorito, a população muito menor, a televisão ainda se projetava. Mas
Nixon era vice presidente da Republica desde 1952(o presidente era o general
Eisenhower), Kennedy, senador.
Havia
rivalidade, Nixon conservador, Kennedy progressista, apesar do pai ter feito
fortuna enorme, contrabandeando bebidas, para a Europa. Mas era politizado,
dirigiu e financiou a primeira campanha vitoriosa de Roosevelt a presidente, em
1932. Vitoria que repetiria por mais 3 vezes. Não houve baixaria, os
debatedores se respeitaram. Comentaristas importantes, deram a vitoria para
Kennedy na TV, e para Nixon no radio, que na época tinha grande audiência.
Explicavam
a diferença nos órgãos de comunicação. Kennedy era tido como sedutor, bem apessoado,
ótimo para o eleitorado feminino. No radio, pessoalmente invisível, Nixon
levava vantagem, pois não era tão destacado fisicamente. Foram para a eleição,
com Nixon ainda favorito. Só que Kennedy se elegeu por uma vantagem mínima, mas
irrefutável. Votaram 60 milhões de eleitores. Kennedy venceu pela diferença de
120 mil votos, "um quinto de 1 por cento". Inesquecível.
Os EUA divididos, mas seduzidos pelo debate
Às 22 e
5, os sonhos e confiantes candidatos entram no palco, se cumprimentam, apertam
as mãos até se abraçam, risonhos e confiantes. Por sorteio, a primeira pergunta
cabe a Hilary. Cada pergunta tem 15 minutos para ser respondida. Serão 90
minutos ininterruptos, sem intervenção de ninguém. A não ser o coordenador,
jornalista da NBC.
Os
primeiros 30 minutos são utilizados para a "garantia de que criarão
milhões de empregos". O coordenador que tem poderes totais, quer saber
como farão isso. Cada um responde como quer, sem nenhuma base na realidade.
Hilary
diz que pode aumentar a divida em até 1 trilhão de dólares, que serão
recuperados pelo investimento. Trump diz,"isso é coisa de político,
que atrapalha tudo". De forma surpreendente, o coordenador diz a Trump, "o
senhor não apresentou declaração de imposto de renda". Resposta: Estou
respondendo a uma grande auditoria. Quando acabar, apresentarei". Levaram
tempo discutindo o assunto. ele tenta atingi-la da mesma forma, acusando a adversária
de ter pago menos imposto do que devia.
Entrando
na bravata, Trump garante, "está na hora dos EUA, ter um presidente que
entende de administração. Não quero me gabar, mas esse homem sou eu". Hilary
interrompe, dizendo,"o senhor já faliu 6 vezes". Trump não responde,
mas tenta trazer Obama para o debate: "Gastamos 6 trilhões de dólares em
guerras inúteis. Isso é uma vergonha".
O debate
decepciona, 45 minutos decorridos, nenhuma emoção. O publico tenta se
manifestar, o coordenador pede silencio, proibido protesto ou aplauso, como
explicou no inicio. Continua, ela mais "programática", ele mais
"provocador". Como um dos três temas únicos do debate, é segurança, têm
que tratar do tão discutido assunto da venda indiscriminada de armas.
Hilary
condena o sistema, diz, “a venda de armas tem que ser mais controlada e
fiscalizada". Trump, tranquilamente comenta:"Nisso concordo
inteiramente com a senhora".
O
coordenador, possivelmente com um objetivo, pergunta a Trump: "O senhor
acusou o presidente Obama de não ser americano, e depois recuou. Qual a
razão?".
Trump não
fugiu do assunto: "Prestei um grande serviço ao país, que agora sabe que
ele é realmente americano". O mesmo que diz na campanha.
Passam um
tempo divagando, até que surge o Estado Islâmico, exigindo resposta. Ele
responde, culpando o terrorismo, e acusa o governo Obama de apoiar não abertamente,
o Estado Islâmico.
“Hilary
afirma que vai usar serviços de Inteligência e Comunicação". Ele
interrompe, tenta ser irônico, "ela é a queridinha da mídia". E
acrescenta, "Sou muito melhor de temperamento do que a senhora, muitos
pensam erradamente a mesma coisa".
O
coordenador avisa, que começará a ultima pergunta, sobre a guerra atômica, e a possibilidade
disso acontecer. Dá a palavra a Trump, que começa a responder imediatamente:
"A China precisa intervir logo na Coréia do Norte, são ligadíssimos".
Continuando no assunto, acusa Obama de “gastar fortunas com um país riquíssimo
como a Arábia Saudita”.
Chega ao
fim na hora exata, o coordenador, diz que "um dos dois será derrotado",
Hilary responde o obvio, "isso é a democracia americana”. O coordenador
agradece, convida para o segundo debate, no dia 9 de outubro. Sobre o debate
propriamente dito, regras não permitem o nocaute. Podemos ficar num
empate por pontos, ou ligeiríssima vantagem para ela. Mas como em 1960,
entre Nixon-Kennedy, nada foi decidido. O eleitor manteve suas duvidas, e ao
mesmo tempo, o poder de decidir.
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