A
anunciada presença publica de Lula.
HELIO FERNANDES
Começou
muito atrasada num hotel de São Paulo. Mas o ex-presidente não se incomodou.
Não foi entrevista, como muitos esperavam, e que não deveria ser de maneira
alguma. Falou de improviso, como sempre, mas consultava um papel, onde estavam
anotados os pontos principais. Que não poderia esquecer. Grandes oradores fazem
isso.
(Não esqueço
o discurso da extraordinária figura e notável orador que foi Afonso Arinos de
Melo Franco. No dia 22 de agosto de 1954, no Palácio Tiradentes. Foi dos seus
maiores discursos, com números e falas, assinalados. 48 horas antes do suicídio
de Vargas, que ele logicamente não imaginava que iria acontecer. Quando
aconteceu, veio o arrependimento que o fez sofrer terrivelmente, durante anos).
Lula
premeditou tudo. Se concedesse entrevista, perderia o controle, teria que responder
as perguntas. Que naturalmente não seriam agradáveis. A fala de ontem pode
merecer três definições. Pronunciamento inicial. Depoimento como conseqüência. E
finalmente, reminiscências de fatos que gostaria que fossem relembrados, e
tomou a iniciativa.
Fora
disso, mais nada. Nem ataque nem defesa. Deixava visível, que não deve
explicação a ninguém. Os outros, todos, é que devem reverenciá-lo pelo que fez
pelo Brasil. Se apresentou como "um cidadão indignado", tranqüilo, e
a citação entre aspas: "Vocês não ouvirão um ex-presidente zangado, de mau
humor, se defendendo de perseguições". E não se afastou desse roteiro.
Falou
apenas para companheiros, presentes e ausentes. Assinalou: "Espero que a
minha fala tenha a mesma cobertura e espaço, que deram aos meus
acusadores". Era uma reivindicação e não acusação. Não esqueceu de elevar
a voz, quando exaltava suas realizações. "Criei o maior partido de
esquerda da America Latina. E não será preciso reconstruí-lo"
Os
maiores aplausos apareceram com esta declaração: "Tenho 70 anos, espero
viver mais 20, fazendo e repetindo tudo que fiz até hoje". Era a certeza
de que não abandonaria a vida política, e conseqüentemente, 2018 continua como
um dos objetivos. Abraços gerais, sentiram que o líder do PT estava presente, e
disposto a lutar novamente pelo Poder.
Reminiscências
pessoais que gosta sempre de colocar. Como esta: "Sinto imenso orgulho, de
ter sido o único presidente brasileiro, a produzir à maior "ascensão
social da Historia". Decidiu então fazer uma lembrança, aparentemente
negativa contra ele mesmo: "Não admitiam que um trabalhador que não tinha
nenhum curso, e que falava "MENAS laranjas (risos gerais), poderia chegar
a Presidente da Republica, e ser um sucesso completo".
Olhou o
papel, era hora de mostrar o que aconteceu, a partir da posse como Presidente: "Tinha
certeza de que faria um grande governo. Me lembrava de um outro trabalhador, da
indústria de estaleiros, e que foi um fracasso completo". Logo falou o
nome desse trabalhador, Waleska.
Que
segundo o próprio Lula falou pela primeira vez: "Foi presidente da Polônia,
jogou tudo fora". E confidenciou, abaixando a voz: "Eu não serei como
ele, serei o maior presidente da historia do Brasil'. Parou um pouco, concluiu
o capitulo: "E fui, têm medo que eu volte".
Falou
57 minutos diretos, deu por encerrado, mas lembrou de alguma coisa, retomou.
Foram
mais 6 minutos, dirigidos principalmente a deputados e senadores, que fizeram a
defesa dele e da presidentA Dilma, "a grande injustiçada". Foi a única
citação, não podia lembrar, que começaram a brigar durante anos. A partir do
momento em que ela não quis devolver o poder a ele em 2014, descumprindo o acordo.
Se ele voltasse em 2014,nada teria acontecido.
Terminou,
foi para a rua, não tocou nem de longe, na acusação
da Força Tarefa de Curitiba. Não estava no roteiro, e não queria permitir a
treplica do procurador Dartagnoll. Como estratégia, perfeito. Mas o poder de
encerrar a denuncia, não está em suas mãos. A ultima palavra caberá ao juiz
Sergio Moro.
Ele está
em Nova Iorque. Nem recebeu o relatório de 149 laudas. Também, é publico, não
gosta de decidir apressadamente. Tudo isso vai longe. Alguns esperam que Lula
participe da eleição de São Paulo, ajudando a reeleição de Haddad. Que aliás
ficou lá o tempo todo. E saiu com Lula.
Lula: "Não ha, no mundo, ninguém mais honesto
do que eu"
A frase
já deteriorada pelo uso indevido e pela falta de comprovação, sofreu pela
primeira vez, um ataque frontal. E com a contundência escrita e falada, do
Procurador Deltan Dalagnoll, estarreceu e assombrou o país. E como é habitual
hoje, imediatamente repercutiu no mundo inteiro.
Ontem
mesmo, achei estranho que o Ministério Publico de Curitiba, obtivesse a
cobertura espantosa que obteve. Não apenas no momento do estrondo, na TV da
quarta, mas nos jornais impressos de quinta. Com direito a discordância
editorial entre todos. Intransigente defensor da Lava-jato, tenho que
reconhecer que houve exagero na denuncia, influenciando naturalmente a repercussão.
Mas a importância
e a relevância do personagem, excitou até os normalmente mais calmos e
reflexivos. 62 anos depois do assombro e do estarrecimento, com a fúria da
oposição levando Getulio Vargas a "deixar a vida para entrar na
Historia", um ex-presidente, com enorme popularidade e liderança, é
levado, de forma retumbante ás manchetes, acusado de corrupção.
È impossível
deixar de reconhecer a importância que Lula ainda exerce na vida política do
país. Mas da mesma forma, não se pode ignorar a força que ele mesmo fez, para desperdiçar
esse capital, trocando-o por um outro capital mais especulativo e no seu
entendimento, mais vantajoso. Foi um erro clamoroso, que agora é cobrado nos
tribunais competentes.
A
denuncia pode ser contestada, mas só por ele. E não por advogados sem
criatividade e sem repercussão. Que receberam também enorme espaço na TV, mas
desperdiçaram de forma medíocre.
A
denuncia estrepitosa provocou as mais contraditórias reações. Quase todas
movidas por interesses políticos e principalmente eleitorais. Que na
interpretação de tantos, vai da eleição municipal de agora, até á distante e imprevisível
campanha presidencial de 2018.
Não
existe nenhuma possibilidade de negar a participação e o interesse
desequilibrado, dos mais diversos grupos políticos. Não na influencia sobre a
lava-Jato. Mas inegavelmente na manipulação despropositada da denuncia. Que
continua nos mais diversos órgãos de comunicação.
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