A política, condenada e
desmoralizada por ela mesma
HELIO
FERNANDES
Os grandes filósofos
gregos se fartaram de ensinar: "A política é a arte de governar os
povos". Não aprendemos. Gostaria de dizer, "desaprendemos", ficaria
implícito que houve um tempo, em que plantamos e colhemos afirmativamente. Nem
isso é possível, seria inverdade. Começamos desastradamente, implantando a tão
desejada Republica, longe do povo, desprezando-o, abandonando-o, ignorando-o. E
permitimos que a Republica nascesse militar, militarista e militarizada.
Alem da
vergonha e da falta de credibilidade, o futuro pautado por esse roteiro que
logo se constataria desastroso, ruinoso, até chegar onde estamos criminosos. Inicialmente
destruímos uma geração maravilhosa, dividida em duas conquistas que foram
destruídas, e historicamente não se recuperaram. Os "Abolicionistas",
que foram traídos e derrotados, pela "Lei do Ventre Livre", uma
prorrogação da escravidão, imposta pelos empresários escravagistas.
Esses lúcidos,
atuantes e combativos lutadores contra a escravidão, foram derrotados em 1888, precisamente
quando se julgavam vitoriosos. E uma parte favorável á escravidão, e a outra
defendendo o preconceito, dominadores até hoje. E não se sabe até quando.
A outra parte
dessa pátria combativa, intitulada de "Propagandistas da Republica",
iniciou a luta em 1860, pelo sonho que não se concretizaria, Liderados pelo
notável Saldanha Marinho, lançaram o jornal diário, "A Republica". A
população era mínima, mas o jornal resistiu impavidamente, por 29 anos. Até a
madrugada inconseqüente, trágica e contraditória de 15 de novembro de 1889.
Histórica, mas que todos gostariam que tivesse outro roteiro, e lógico, outro
destino.
Essa República,
como disse o próprio Saldanha Marinho, da tribuna do Senado, antes de ser preso
pelos arrivistas que tomaram o poder: "Esta não é a Republica dos nossos
sonhos". E estendeu as mãos para que fosse algemado. O que aconteceu, diante
de um Senado estarrecido. Mesmo que fossem partidários dos generais (depois
marechais) Deodoro e Floriano.
56 anos longe do povo, sem voto, eleição, tudo
indireto
Foi inacreditável.
Deodoro e Floriano se revezaram no poder, até que o primeiro desfechasse um
golpe que durou 23 dias. E fosse derrubado pelo segundo, que não cumpriu o que
estava determinado na Constituição de 1891, escrita e defendida
Por Rui
Barbosa. Devia convocar eleição direta em 30 dias. Floriano, que se julgava
eterno e insubstituível, não cumpriu.
Rui
protestou, teve que se exilar para não ser preso. Só voltou em 1895, quando
assumiu o primeiro civil, Prudente de Moraes. Um presidente correto, mas sem
força para modificar o sistema indireto, que permaneceria até 1945. E que com
raras interrupções quase sem autenticidade, duraria até agora. È a glorificação
do nada, com um presidente tão indireto quanto os outros. Sem contar as duas ditaduras,
uma de 15 anos, outra de 21.
Essa
eleição de 1945, a primeira intitulada de direta, não passou de farsa e
mistificação. Derrubada a ditadura, afastado o ditador, marcaram logo a data, 33
dias depois. Houve uma previa interna, para saber quem seria o candidato,
antecipadamente vitorioso. Apenas 2 nomes: Dutra e Goes Monteiro. O Ministro da
Guerra por 8 anos. E o Chefe do Estado Maior do Exercito pelo mesmo período.
O manual
não escrito das ditaduras, estabelece: o Ministro da Guerra mantém o presidente
no poder. Mas o substitui, obrigatoriamente. Assim, Dutra chegou ao poder, com
o apoio do próprio Vargas.
Dutra fez
um péssimo governo. Não roubou, da forma como se rouba espalhafatosamente,
partir do mensalão e do petrolão. Fez muito pior. Como a guerra envolveu praticamente
o mundo inteiro, o Brasil era o grande vendedor, acumulando fortunas para serem
pagas depois.
Pela
primeira vez na Republica o país, não devia nada. E tinha saldos maravilhosos,
para serem recebidos quando acabasse a guerra, o que aconteceu em 1946, com
Dutra como Presidente.
Insensato,
imprudente, imprevidente, despreparado, arruinou o país. E desinformado, negociou
desastradamente com os americanos. Mestres em vender matéria plástica a peso de
ouro. E a comprar ouro, pagando preço de matéria plástica. Voltamos a ter
divida externa, que agora, de tão alta e servindo para cobrir todos os gastos desnecessários
e até necessários, passou a se chamar divida publica. E que em 1988, quando a
divida acelerou em alta velocidade, em pleno desgoverno FHC, passei a
identificar como IMPAGAVEL. Os dois sentidos da palavra, contraditórios.
Agora, a única
saída é a reforma política, seria, profunda, autentica, lúcida e debatida. Não
podemos parar a luta contra a corrupção. Mas não podemos acreditar num
congresso criminalizado como está, com a politicalha se sobrepondo á política. Temos
que voltar ao domínio da Constituição, com "Três Poderes harmônicos e
independentes entre si". O que acabou ha muito, por culpa precisamente
desses Três Poderes.
Temos que
recuperar a confiança na definição sabia e simples de Roosevelt, sobre os Três
Poderes: "O Legislativo, legisla. O Executivo, executa. E o Judiciário
interpreta, que se o que foi legislado e executado, é constitucional". Se
quisermos que existam sempre, apenas dois vencedores, o país e sua comunidade
de 204 milhões de habitantes, lembrem do Millor: "Livre pensar é só
pensar".
FHC e Lula
Os dois
são ex-presidentes. Lula conquistou a vitoria, sem títulos universitários, mas
com uma liderança e uma obstinação inimaginável. FHC, na contramão de tudo, com
títulos universitários, mas sem liderança, começou a carreira, através de uma suplência
de senador, o que é rigorosamente antidemocrático. E ainda mais reprovável,
pois "concorreu" em 1978, em plena ditadura.
FHC
jamais teria sido presidente, se não tivesse havido o impeachment de Collor. Em
1993, seu mandato de senador, terminando, sabia que não se reelegeria. Presidente
então, nem passava pela sua cabeça arrogante. Seu partido, o PSDB, não tinha
cacife. Tanto isso é verdade, que mesmo no poder, não conseguiu eleger Serra, apesar
da maquina. E nas outras 3 disputas presidenciais, o PSDB sempre massacrado. Serra
novamente, Alckmin, Aécio.
Com
Itamar no poder, sem reeleição, o vice de Collor resolveu fazer o sucessor, jogou
tudo favorecendo FHC. Ministro do Exterior, depois acumulando com a Fazenda, e
a maquina acelerada, ei-lo no Planalto. Mas para seu ego monumental, 4 anos era
pouco, comprou mais 4. Com vários pedidos de impeachment, foi salvo pelo
presidente da Câmara, Michel Temer. Ou seja: o Eduardo Cunha da época, relação
e relacionamento que sempre houve.
FHC se
esmerou na comparação com Lula, sempre se colocando em posição destacada. O que
não correspondia á realidade. Quarta feira, quando Lula foi atacado dura e
desabridamente, FHC foi imediatamente para a televisão: "Lamento
profundamente, que o ex-presidente esteja passando por essas dificuldades, que
atingem sua biografia".
Ele
sabe muito bem: haja o que houver a biografia de Lula não será atingida. Enquanto
a de FHC, antes, durante e depois de ser presidente, foi construída diante do
espelho.
Temer em Nova Iorque
PS-
Ontem, segunda, falou fora da ONU. Discurso sobre os refugiados. Com certa veemência,
fora do seu estilo, defendeu que os Estados Unidos e os membros da União Européia,
"recebam o maior numero deles". Falou em 1 milhão, para vários países,
sem citar nenhum.
PS2- Também
fugiu do fundamental: a guerra da Síria. Teria marcado uma posição, se
responsabilizasse a Rússia, principalmente, e os Estados Unidos, conseqüentemente,
pelo fato dessa guerra não acabar.
PS3- È
uma tragédia sem comparação, em termos de guerra localizada. Não total, como a
primeira mundial, e muito mais devastadora, a segunda.
PS4-Hoje,
de acordo com a tradição, o representante do Brasil, abre a Assembléia Geral
com um discurso. Inédito na Historia da ONU, a abertura, com discurso de um
Presidente do Brasil, não eleito. Também, ninguém espera nada grandioso.
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