Eduardo Cunha
é um retrato enxovalhado e estraçalhado, intimida, mas não assusta
HELIO FERNANDES
Ha 50
anos, o genial Barão de Itararé, fez uma frase, que define o Eduardo Cunha de
hoje: "Quem com ferro fere, com ferro será conferido". Conferido,
abandonado, cassado. A sessão definitiva foi surpreendente, inusitada, estranha,
inesperada. Para os dois lados. Nada do que estava previsto, aconteceu. E o
imprevisto prevaleceu, não premeditado, mas rigorosamente verdadeiro.
Marcaram a
sessão para as 7 da noite, inédito. Mas era o receio da falta de quórum, que
assustava a todos. E levou Rodrigo Maia á declaração e decisão: "Só
abrirei a sessão com a presença de 400 deputados". Abriu com menos. E logo
suspendeu. O numero longe dos 400, provocou intranqüilidade.
As
televisões, e seus comentaristas auto-proclamados medalhas de ouro, confundiram
e complicaram tudo. Não acertaram uma. Na véspera e no próprio dia, com grande
audiência, transformaram boatos em fatos, sem que milhões, em casa, entendessem
alguma coisa. Arrogantes, prepotentes e suficientes, colocaram como chave para
compreender o que aconteceria, a palavra RENUNCIA. Não foi pronunciada uma vez
sequer.
A segunda
insistência durante o dia todo, e até mesmo no transcorrer da sessão: a possível
votação elevada a FAVOR de Cunha, o que levou Maia a contradições. Isso foi
dissipado e destruído, com um simples olhar para o painel eletrônico. Ninguém
esperava ou imaginava, que aparecesse aquele total, rigorosamente impensável e
desproporcional: 450 a 10. Apenas 9 abstenções. Normal. E dos 513, compareceram
470. Ausentes apenas 8 por cento, mais do que compreensível.
Insistiam
também, que Eduardo Cunha poderia ser beneficiado pelo fatiamento,
que
favoreceu Dona Dilma. Durante uma semana isso foi discutido. Até este repórter,
considerou que haveria debate sobre o assunto. Sem sucesso.
Nem o incansável
e inefável Marun, tocou no assunto. Por tres vezes tentou conseguir punição
"mais branda'". Para isso, lia artigos do regimento interno. Que
Cunha ia passando para ele. E recebia sempre a resposta do presidente Maia:
"A questão está superada".
A
sessão foi encerrada exatamente á meia noite. Com a cassação anunciada 6
minutos antes. E o resultado foi tão destruidor, que a calma (aparente) dominou
o espetáculo. A perda dos Direitos Políticos, que normalmente seria de 8 anos,
foi fixada em 10 anos, até 2027.
(Na
ditadura, todos os cassados perdiam os direitos por 10 anos. Este repórter,
cassado em 1966, deveria terminar em 1976. Em 1977, o MDB lançou minha
candidatura a senador em 1978. O Ministro da Justiça, Gama e Silva não
autorizou o registro, com a explicação: "As cassações agora são para
sempre". E isso ficou valendo. Não só para mim, atingindo todos os
cassados).
Incertezas e inconseqüências, da cassação e perda
dos Direitos
O
ex-presidente da Câmara não tem mais poder. Por enquanto, está no caminho de
Curitiba, mas vai lutar o mais que puder para não chegar lá. Anteontem, eu
disse aqui, que o primeiro recurso que o Supremo presidido por Carmen Lucia
terá que examinar, deverá ser de Eduardo Cunha. Ontem, já se reuniu com
advogados, para identificar o tipo de recurso. Contra a cassação ou para
permanecer com os direitos políticos.
No discurso
durante a cassação, acusou o "PT, de ter contribuído, para a aglutinação
dos votos contra mim". Tolice. O PT, PC do B, e PDT, têm 80 deputados,
todos compareceram e votaram. Estavam obrigados a isso. Se ficassem ausentes,
como se explicariam?
Não
esquecer: Cunha é réu duas vezes no Supremo. Como não tem mais fôro
privilegiado, nada mais compreensível, que esses processos sejam enviados ao
juiz Moro. Por determinação do Ministro Zavascki. Ou pedido expresso do
Procurador Geral da Republica. Mesmo sendo cassado, e encurralado de muitas
maneiras, o Planalto se preocupa com ele.
Cunha tem
confidenciado a amigos: "As ruas têm gritado três palavras de ordem. Duas
já foram completadas. Falta à terceira". Como não entendessem, explicou
com naturalidade: "È o FORA, DILMA, seguido do FORA, CUNHA, e agora, o
FORA, TEMER. Os dois primeiros, conseguiram. Tentarão o terceiro,com a minha
ajuda direta". Seu alvo principal, hoje, é o presidente indireto. Deixou
claro esse
propósito,
no dia 12. Temer sabe disso.
Reforma política, tímida e lenta
A
Comissão de Constituição e Justiça, aprovou ontem, duas medidas defendidas por
este repórter ha 20 anos. E por todos que almejam por um país governável. O fim
das coligações partidárias, mais conhecidas como "voto proporcional".
E o fim do escabroso e tenebroso Fundo Partidário. Que carrega com ele, a
publicidade "gratuita" de radio e televisão.
Este
sofreu restrições. O primeiro começará a valer, depois da eleição de 2018. Com
tanto tempo, terão esquecido. Ou anulado. A reforma política, é prioridade total
e absoluta. Mas como tem que ser feita pelo Congresso, percam as esperanças.
Presidencialismo-Parlamentarismo, só no Brasil.
Bloomberg: livro de Cunha
O
ex-presidente foi personagem do famoso canal de noticias. Do conhecido
ex-prefeito de Nova Iorque, por 12 anos. Ontem, noticiava: "Livro de Cunha
tem potencial, para provocar danos a muitos políticos". Não revelou quando
o livro estará á disposição do publico. E lógico, dos mais interessados e
citados.
Cassação: o mercado parece que não gostou
A Bovespa
caiu mais de 3 por cento. Petrobras sozinha teve queda de quase 7 por cento. E
não foi por influencia dos preços de Londres ou Nova Iorque. Ficaram inalterados.
O dólar também subiu. Profissionais, ganharam muito dinheiro. Sem o menor
risco.
Debate irônico (?), Cunha - Renan
O
presidente do Senado, vibrou e não escondeu, com a cassação do ex-presidente da
Câmara.Mas não quis falar. Pressionado pelos jornalistas, respondeu: "Não
sou especialista em Eduardo Cunha. E muito menos amigo". O ex-presidente
cassado soube e respondeu: "Espero que os ventos que vão soprar contra Renan,
não sejam tempestade".
PS- Já
publiquei e registrei: os Procuradores da Lava-Jato, não estão interessados
numa suposta delação de Cunha. E acrescentaram: aceitaríamos um depoimento da
mulher, Claudia Cruz.
PS2- Ontem
voltaram a falar no assunto. Não consegui confirmação. Mas continuo não
acreditando. Cunha tem tantos processos, acusações e processos, que para obter
um resultado razoável, terá que depor vários anos. Não necessariamente em
liberdade.
PS3- Textual
de Cunha, no depoimento de anteontem: "Recebi 53 pedidos de impeachment,
contra a ex-presidente. Só abri um, apesar de dizerem que eu era um
perseguidor". Ele acredita que os brasileiros são idiotas. E que se entendesse,
poderia iniciar 53 processos de impeachment.
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