7 de Setembro: Independência ou
Temer. E a proteção imoral do presidente indireto a Cunha
HELIO FERNANDES
Sem a menor
hesitação, o povo de Brasília manifestou a sua convicção: vaiou o presidente indireto,
assim que ele chegou. (O mesmo aconteceu em quase todos os estados, mesmo com
Temer a quilômetros de distancia). Repudiado de corpo presente, praticou o
recuo, como faz habitualmente. Sua marca inviolável, nesses quase 4 meses em
que está no governo. Primeiro como presidente provisório. Agora como presidente
indireto e impopular.
Mas
apesar de tudo, já tentando se transformar em presidente direto. O que ele
pretende que aconteça em 2018. Aos 78 anos e na primeira eleição direta da sua vida.
Para que isso se transforme em realidade,vai mudando sem constrangimento. Tomando
a forma do vaso que o contém, qualquer que seja o tamanho.
Com sua
chegada, ontem, as vaias começaram e não pararam. Imediatamente
"apoiou" os protestos, desmentindo os comentários disparatados e desnecessários
que fez na China. De lá, condenou as manifestações, "inexpressivas e
predadoras". Ontem, com aquele mesmo sorriso melífluo de sempre, falou: "Protestos
fazem parte da democracia, têm que ser aceitos, não podem ser reprimidos".
Quer dizer:
seguiu a orientação do Ministro Meirelles, que disse exatamente isso na
televisão. E ganhando raros parabéns deste repórter. Temer recebeu mais vaias, teve
que "desfilar" em carro fechado. Humilhação e constatação da
impopularidade. Covardia, nada a ver com credibilidade.
Mas essa
mudança de rota, serve para as mais diversas instancias ou circunstancias. Na véspera,
mal desembarcado da China, recebeu a imposição do poderoso aliado PSDB: "Queremos
que o projeto de reforma da Previdência, seja enviado ao Congresso e discutido
antes das eleições".
Não
discutiu, discordou, aceitou. Chamou o ministro-secretario que trata dessas
coisas no Congresso, deu as ordens, que ele logo sintetizou publicamente: "O
projeto da Previdência está praticamente pronto, vamos enviá-lo até o fim do
mês". Tudo farsa ou jogo de cena.
Setembro
acaba dia 30, a eleição se realiza alguns dias depois. Logo no inicio de
outubro. Alem do mais, na questão da Previdência, só existe um
'"projetinho''. redigido por áulicos e apaniguados, que se intitulam de
assessores. Sofre oposição violenta de todos os lados. E mais e irrefutável. Antes
da eleição municipal só existe uma sessão que obrigatoriamente terá que ser
votada. Com quórum ou sem quórum.
(A do dia
12, dentro de 72 horas, tratarei separadamente. Espero apenas alguns dados. Os
513 deputados estão envolvidos. Incluindo o deputado Eduardo Cunha, o principal
personagem de tudo. Sem esquecer o próprio presidente indireto, cada vez mais
preocupado com o calendário de setembro. No momento, tudo pode acontecer na próxima
segunda feira. O único fato irrefutável: 90 por cento da comunidade quer a
cassação do corrupto. Com a perda dos direitos. e o fim da sua permanência na
vida publica).
Temer: incongruências, inapetências, incompetências.
Pensava (?)
que chegar ao poder sem voto e sem credenciais, fosse mais fácil. Assumiu provisório,
passou a indireto. Promete muito, não cumpre, mesmo em raras oportunidades. Completa
4 meses da conquista da traição conspiração, nenhuma realização.
Garantiu
um ministério de "notáveis". Por falta de conhecimento ou
relacionamento, teve que governar com esse que está aí. Sabe que precisa mudar,
e muito. Mas os obstáculos são enormes. Romero Jucá, ministro todo poderoso,
nomeado como potencia,foi demitido como um ignorado e desprezado morador de
rua. Quer voltar. Temer não sabe o que fazer. Impossível renomea-lo. Mas como
resistir ás suas exigências?
Praticamente
prisioneiro do PSDB, gostaria de se livrar da sua colaboração. Acreditava
que os ministros do partido, num rompimento ostensivo, se manteriam no governo.
Foi informado que não é bem assim. E o problema com a maioria do PMDB, um
tormento. Renan ainda tem 5 meses como presidente do senado, tem que aturá-lo.
Rodrigo Maia: "O PSDB votará em massa com o
governo".
E depois
na "vala comum" do plenário, como Renan se comportará? Eunicio de Oliveira, novo presidente em
janeiro-fevereiro, indefinido e indefinível. Votou contra o
"fatiamento", a favor de Dona Dilma. Mas pode ser uma jogada entre os
dois. São hábeis e não suicidas.
A propósito
da reforma ministerial, nova e enorme decepção: a equipe econômica. Intocável
por determinação dele mesmo, fracasso em cima de fracasso. Tem que manter o
Ministro da Fazenda e o Presidente do Banco Central, afinal a "equipe econômica"
se resume e se esgota com os dois. Não pode nem imaginar substituí-los. E por quem?
Numa
escala de zero a 10, a equipe econômica, por esses 4 meses, mereceria menos zero.
Não houve progresso algum. Com Dilma a inflação estava em 7,9 por cento. Com as
fanfarronices e as bazofias, está em 7,4. E não têm nenhuma certeza ou
segurança, basta ver os juros. Com Dona Dilma, estavam em 14,25, altíssimo. Defendi
que já deviam estar em 10 por cento. Nem ela nem o provisório, agora indireto, tocaram
no assunto. Prometem.
A indústria
automobilística, na comparação agosto 2015, agosto 2016, teve uma queda na
produção e venda, 18 por cento mais baixa. Dos 12 milhões de desem-
pregados,
uma parte grande é desse setor. E na comparação, 4 meses pertencem á equipe de
Temer. Ele assumiu com 11 milhões e 300 mil sem trabalho. Portanto, com ele, mais
700 mil não têm como viver.
Desumanidade e desigualdade
Inglaterra
e França, gastaram fabulas de dinheiro, para construir uma ligação
subterrânea
entre os dois países. Segura e confortável. Foi considerada a obra do século em
matéria de transporte. Ricos e poderosos de vários países, podiam se deslocar
com a maior tranqüilidade.
Agora, a
mesma Inglaterra e a mesma França, estão construindo um muro. O objetivo é
exatamente o contrario da construção anterior. Pretendem impedir que dezenas ou
até centenas de milhares de fugitivos, se refugiem nos dois países.
90 por
cento, tiveram que abandonar seu pais, a Síria, por causa da guerra civil. 11
milhões vagam de forma alucinada e desesperada, enquanto o ditador da Síria é
mantido no poder. Ele é um grande cliente, principalmente dos fabricantes
de
armamentos.
O custo
do bombardeio dos dois lados, durante uma semana, daria para sustentar 40 mil
famílias, durante 20 anos. Dados oficiais. Outro dado monstruoso, revelado ontem,
pela UNICEF: 50 milhões de crianças vivem fora de casa, isoladas, abandonadas, por
causa da guerra nos seus países. Quantas escolas e universidades poderiam ser
construídas, em vez de penitenciarias, com esse dinheiro amaldiçoado e sangrando.
A extraordinária abertura da Paralimpiada
Deslumbrante,
emocionante, maravilhosa. Como o espetáculo se inicia com a bandeira sendo
hasteada, na Olimpíada, o violão mágico de Paulinho da Viola. Ontem, Paralimpiada
o piano insuperável do maestro João Carlos Martins. Que aos 76 anos, superou
tudo, parou por muitos anos. Não desistiu. Empolgante.
O
deslumbramento das cores, a sincronização, e o desfile inicial com os
porta-bandeiras em cadeiras de rodas, mostrando a satisfação de estarem ali. E
o que isso representa como conquista. Não ha como descrever 300 competidores, na
véspera da disputa, se apresentarem em cadeiras de rodas, como participantes
que se julgavam ultrapassados do esporte.
Muitos
artistas e criadores que estavam num trabalho notável na Olimpíada, também colaboraram
no de ontem, a Paralimpiada. Mas rigorosamente obrigatória quero fazer uma
citação especial ao diretor geral do espetáculo, o escritor e também atingido por
um desastre, Marcelo Rubens Paiva. Ele mesmo disse: "Fiz tudo com o.
coração e com humanidade". Esse é o Marcelo, antes e depois do desastre. Que
conheço ha 50 anos.
Filho do
meu grande amigo Rubens Paiva, que em 1971, exatamente ha 45 anos, era
triturado, torturado e morto, no centro de massacre humano da Aeronáutica e do DOI-CODI.
Antes dessa tragédia, com 11 ou 12 anos ia habitualmente ao Maracanã, comigo,
meus filhos Bruno e Rodolfo, e Marquinhos Gasparian (filho de outro resistente
e combatente, Fernando Gasparian), todos da mesma idade.
Só um
homem com a sensibilidade, o sofrimento, e a humanidade que acumulou dentro dele,
como Marcelo, poderia colocar tudo a serviço de uma credibilidade de milhões de
pessoas no mundo inteiro. Marcelo Rubens Paiva merece.
PS-O
Supremo tem milhares de questões para julgar, importantíssimas. Algumas que
podem movimentar ou substituir personagens que ocuparam a presidência da Câmara
e até da presidência da Republica. O ex-presidente da Câmara é réu duas vezes
no próprio Supremo. E com a omissão, pode ser beneficiado na próxima segunda feira,
dia 12.
PS2- Não
quer julgar a questão do impeachment, pode atingir o ministro Lewandowski.
Que nesse julgamento, tomou decisão, que no mesmo dia, chamei de "esdrúxula
e extravagante". E que o falastrão Ministro Gilmar Mendes, 48 horas
depois, rotulou de "bizarra".
PS3- No
julgamento logo depois, o Supremo colocou em pauta, e JULGOU, uma divergência
entre o Conselho Federal da OAB e a seção do Paraná, do mesmo Conselho.
Acredito que a questão e a suposta divergência, deve ser decidida pela Justiça.
Mas não por uma instancia tão relevante.
PS4- Aproveitando,
os senhores ministros, pararam a semana inteira. Também, concordo, não deviam
trabalhar na comemoração da "independência”, tão duvidosa quanto a
Republica. Mas não precisavam, indiretamente, facilitar a vida do corrupto
Eduardo Cunha.
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