Uma presidente em apuros
FERNANDO CAMARA
O governo
Dilma precisa de 171 votos para barrar o impeachment na Câmara dos Deputados.
Num cenário mais confortável, já teve 199 votos favoráveis, mas não tinha a
pressão das ruas e nem a exposição dos áudios de conversas de Lula com seus
aliados, ou com a própria presidente da República.
O cenário
se deteriora num ritmo frenético cada vez que o governo tenta uma reação.
A
credibilidade da presidente está se diluindo na medida em que ela tenta,
desesperadamente, se agarrar a uma tábua de salvação, ainda que essa tábua
seja, na verdade, uma canoa com um buraco fenomenal. As dúvidas sobre sua
capacidade em conduzir o país para um porto seguro são cada vez maiores, e vêm
dos mais diferentes setores da sociedade. Assim, cresceram as probabilidades
pelo impeachment.
O
Datafolha mostrou no fim de semana que 68% da população apoiam a saída de Dilma
do governo. O PMDB, por sua vez, vai discretamente se aglutinando em torno de
um futuro governo Michel Temer e nem a voz das ruas da última sexta-feira fez
refluir esse movimento.
Pressão
Sob
pressão, a Câmara acelera o ritmo para produzir respostas. Em 1º de abril,
termina o prazo de defesa da presidente Dilma Rousseff na Comissão do
Impeachment, que hoje tem seu primeiro dia trabalho. Passado esse prazo,
abre-se o período de 5 sessões para discussão e análise das provas. A previsão
dos parlamentares é levar ao plenário da Câmara antes de 15 de abril. Se
aprovado, segue para o Senado.
OAB E
FIESP: Ensaio
O
movimento pró-impeachment vem num crescente e a expectativa é a de que, quando
o processo chegar ao Senado, se chegar (e tudo indica que chegará) Dilma
dificilmente conseguirá sobreviver politicamente. Depois de um período em cima
do muro, a OAB se juntou à marcha pelo afastamento dela. A FIESP se transformou
no ícone dos empresários no movimento e muitas outras entidades vem seguindo o
mesmo caminho, se manifestando em favor da celeridade do processo. A CACB
divulgou nota em favor da serenidade e da apuração dos fatos.
Agenda do
Impeachment
A agenda
do impeachment foi construída em vários meses e por vários movimentos políticos
e de comunicação.
1.
Pedaladas
fiscais e contas públicas
2.
Lava
Jato, delações premiadas, em especial a do Líder do Governo Delcídio do Amaral.
3.
O
Governo não foi convincente ao apresentar alternativas para a crise da
economia, sem propostas para uma saída factível.
Do ponto
de vista jurídico, pode gerar dúvidas, porém vale lembrar que no Parlamento o
julgamento é político.
TSE, o
técnico
O
julgamento técnico virá mesmo do Tribunal Superior Eleitoral, que, lentamente,
avalia as ações contra a chapa vitoriosa em 2014. A impressão que fica é a de
que o TSE desacelera, se esconde, parece preferir que não tenha que julgar as
contas de campanha e espera que a luta política ofereça o veredicto final
no ambiente parlamentar.
E Lula
foi pro brejo
No
Congresso, a aposta de Dilma era a ação de Lula. E aí, veio a dúvida: foi para
o ministério para fugir da Lava Jato ou para se entregar? Lula até agora trouxe
mais polêmica do que soluções para o governo. E ainda salvou o WC - Wellington
César, de ser chamado de " O Breve " no papel de ministro da Justiça.
A
expectativa seria que Lula tomasse a iniciativa de paz entre Dilma e o PT, mas o planejado tomou outro
rumo em virtude da soberba e do excesso de confiança e… Da Lava Jato.. Sérgio
Moro, o implacável, ao ver o ex-presidente escorrer-lhe pelas mãos, jogou com
os pés: a divulgação dos diálogos telefônicos incendiou o país. Pode ter sido
ilegal, mas o fato é que o estrago político está feito.
As
ruas...
Nas ruas
existem manifestações pró impeachment, mas também há contra ele. É preciso
atenção e bom senso para que os ânimos não se acirrem ainda mais. Alguém
precisa dar atenção ao cumprimento das regras e não é com entrevistas
beligerantes e ameaçadoras que o cenário pode se acalmar. Atenção ao espírito
de fraternidade de paz. Ocorre que não se vê esse ânimo da população.
Não vai
ter Golpe!
A
turbulência institucional é um fato. Vivemos tempos de tensão institucional, de
crise institucional, não.
Não há o
"Fator Militar", essa
é a constatação de que é possível a recuperação, da volta à normalidade, com
todos os setores desempenhando as suas obrigações constitucionais, inclusive as
Força Armadas.
A política
querendo o poder da Toga, a Toga fazendo política.
O
ideal seria que o STF fizesse sessão extra nesta semana, para acabar com as
dúvidas sobre se o Lula pode ou não exercer o ministério. Os apelos do PT são
nesse sentido.
Enquanto
Lula e Dilma vociferam sobre o que o Poder Judiciário deve fazer, os
meritíssimos vêm fazendo política por meio da imprensa, ou motivados pela
escuta dos grampos aprenderam também a fazer manifestações públicas.
Gilmar
parece partidarizado, mas
apenas responde, em público, o que está escrito na Constituição. Porém, depois
do almoço com José Serra, há quem diga que Gilmar deveria se declarar suspeito
para qualquer julgamento relativo ao ex-presidente Lula ou Dilma Rousseff.
Enquanto
isso, Sérgio Moro faz palestras, e os Procuradores promovem atos públicos.
Depois, os magistrados reclamam quando parte dos políticos diz que Moro começa
a deixar de ser juiz para virar justiceiro.
Os
grampos
Ok, que
muitos grampos divulgados não têm relevância para a investigação, mas, como foi
dito acima, o estrago político está feito.
Lula: Em um telefonema deu pau em todo mundo
Dilma: Mostrou-se uma garotinha amável e solícita ao
"Sr. Presidente".
Mercadante: Revelou, de novo, a sua "solidariedade"
aloprada.
Eduardo
Paes: mostrou e confirmou que é um
produto mal acabado mas bem embalado do pior que o marketing pode produzir.
Debocha de pobres, não teve nenhuma solidariedade ao povo de Maricá, que
atualmente amarga as consequências de uma grave enchente.
Sigmaringa
Seixas: mostrou que sabe falar ao
telefone e que na sua profissão o melhor é peticionar. Abusou dos monossílabos:
"Tá", "não", "é".
Janot: " Eu só tenho a agradecer à minha família.
"
Lulinha
paz e amor : Migrou, no discurso, do
ambiente venenoso da "Jararaca", para o do "Paz e Amor".
Faltam as atitudes. Tentou recuar, mas perdeu o timing e esgotou a paciência
das Excelências.
STF
– Sinal
Celso de
Melo respondeu: "Insulto ao Poder Judiciário, reação torpe e indigna,
típica de mentes autocráticas e arrogantes."
Sinal
que acabará a tradicional prática do STF de conciliar a interpretação da lei
com a vontade das soluções políticas do Poder Executivo.
A Globo
escolheu, mudou de lado
As
Organizações Globo escancararam na atividade jornalística, estão mostrando
tudo! Até a editoria de esporte fala da crise no país.
João
Santana está fazendo falta
Por que a
presidente insistiu no assunto do grampo, em comício público em ocasião de
entrega de casas populares?
"Grampeia
o presidente dos EUA e vê o que acontece lá". Ela mostrou que conhece
tanto de história como de economia. Ou seu estado de abatimento a impediu de
lembrar-se de Nixon, por exemplo.
Para que
aquela manifestação, em tom tão beligerante? Algum mutuário tem intenção ou
realizou algum grampo? Soou como agressão.
A
presidente ataca todo o Poder Judiciário da Primeira Estância, repetindo
argumentos totalmente desconexos.
Com qual
objetivo?
Delcídio,
“o profeta do caos”.
Foi assim
que ele se declarou na semana passada. Virou uma esperança de passar o país a
limpo. É o que o José Dirceu deveria ter feito.
Na
revista Veja detalhou o mapa de quem sabia, e citou 74 pessoas. Esta
semana estará no Conselho de Ética.
E a
economia? Foi para o brejo e o governo tenta acenar com outro pacote.
Eugênio
Aragão fora da curva e da ética
O sujeito
é um procurador, sabe que o objetivo da ocupação dele é de procurar as não
conformidades do Estado, sabe que os constituintes se debruçaram para deliberar
em favor da ética e da independência dos Poderes, e delimitaram que ser
Procurador e ocupar função no Estado são incompatíveis. Ele sabe. Porém, o
doutor está amparado pela lei, pois foi constituído na função antes da
promulgação da Constituição Cidadã.
Sobral
Pinto ou Barbosa Lima Sobrinho aceitariam se submeter a uma situação desta?
"Se
tiver cheiro de vazamento, troco a equipe toda! ", diz o ministro da
Justiça sobre a PF. Para quem está chegando para gerir uma pasta dessa
magnitude, seu tom, em três oitavas acima, foi desnecessariamente belicoso e
ameaçador.
É tudo
que essa República não precisa nesse momento.
.Que a
Páscoa traga serenidade.
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