Dilma dá posse a Lula como Ministro, fracassa como
estrategista, subtrai o amigo de possível prisão imediata
HELIO
FERNANDES
O dia de ontem
foi longo, turbulento, ansioso e ainda não conclusivo. Às 7 da manhã,em varias
capitais, movimentação das ruas, rigorosamente fora da normalidade. E já
convocadas manifestações pelo Brasil todo a partir das 7 da noite.
Jaques Wagner
disse que "o movimento de domingo foi produzido". È possível. Mas o
de quarta, e o de ontem, quinta, totalmente espontâneo. De insatisfação,
protesto legítimo. Começou assim que foram publicados os "diálogos"
entre Lula e Dilma, gravados com ordem judicial. Dilma e Lula foram
imprudentes, e insensatos. Como o Supremo examinava os "ritos do
impeachment", protestos velados de vários Ministros. (O mais violento e no
meio de um voto, foi o de Gilmar Mendes).
A posse
de Lula estava marcada para as 10, só foi iniciado com 45 minutos de atraso. O
auditório, lotado, perdão, lotadíssimo. Um tempo enorme para citar todos os presentes,
nenhum ego resistiria ao esquecimento, mesmo acidental. (Pouca gente com voto, prestigio
e influência. Custou a engrenar, ficou entre o supérfluo, o desinteressante e o
cansativo, habitual nela.
Primeira
afirmação, que precisa ser traduzida: "As circunstancias e oportunidades,
permitiram que eu trouxesse para o meu governo o maior líder político do país e
o melhor presidente da historia". Traduzindo: "As circunstancias e
oportunidades, permitiram que eu livrasse de uma prisão injusta, meu grande
amigo Lula". Lá fora protestos, resumidos em duas exigências.
"Renuncia, Dilma", ou "cadeia e não ministério para Lula".
O
discurso de Dilma foi demorado, mas é compreensível. Ela ao mesmo tempo
empossava um Ministro que já não tem mais o que fazer, mesmo depois do arranjo
com a presidentA. 1- Ficou mais do que evidente, que só pretendia fugir da prisão.
Revoltou o Congresso, deu munição para as ruas, desprezou os tribunais,
principalmente o Supremo, o maior e mais alto de todos. 2 - A presidentA gastou
muito tempo, ninguém reclamou, era o seu ultimo discurso oficial. Piedade e não
generosidade.
Com as trapalhadas de Lula e Dilma, pela primeira
vez, o impeachment é viável
De
fevereiro de 2015 até fevereiro de 2016, não tive a menor duvida: a suposta
oposição não obteria os 342 votos necessários e indispensáveis para retirar
Dilma do Planalto e entregá-lo ao "decorativo" Michel Temer. Agora
tudo é possível. Principalmente um assunto relevante como esse, comandado por
um presidente da Câmara, réu dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. (E
a mulher e a filha, sem foro privilegiado, são acusadas na Lava - Jato e
respondendo em Curitiba). Eduardo Cunha, é esse o nome do personagem, garante: "Em
45 dias teremos votado o impeachment e tirado Dona Dilma do poder". As
coisas estão mudando com tal velocidade, que é impossível uma analise lógica e
correta.
Às duas
da tarde, a Associação dos magistrados federais, divulga manifesto de total
apoio ao juiz Sergio Moro. Para maior importância, foi lido no Fórum Pedro
Lessa, o primeiro negro a ser Ministro do Supremo. Não foi presidente, morreu
antes de chegar a sua vez. Há essa hora as ruas de todo o país estão cheias de manifestantes.
Ontem revelei com exclusividade:amanhã, quinta, o juiz Sergio Moro manda para o
Procurador Geral e os 11 Ministros do Supremo, dezenas de caixotes, com tudo
que foi investigado sobre Lula. Ficou para segunda.
A situação estranha, extravagante e surpreendente
de Lula Ministro
Antes de
mais nada, uma constatação: ás 4 horas, quando escrevo esta nota, Lula não é Ministro.
Logo depois da sua posse, a oposição entrou com uma liminar em Brasília,
pedindo a suspensão da posse de Lula. O juiz Federal, Catta Preta, neto,
concedeu a medida. Juridicamente podia conceder. Mas não tem isenção. È freqüentador
das redes sociais, e se manifesta sempre contra o governo.
O
Planalto tomou conhecimento, José Eduardo Cardoso assumiu a direção da defesa,
pela competência pessoal e pelo cargo que ocupa. Estudaram varias hipóteses, decidiram
que era melhor entrar direto no Supremo. Eletronicamente foi sorteado relator,
o Ministro Gilmar Mendes, que recebeu a ação ás 3,25. Não tem prazo, mas
acredito que decida ainda hoje. Marco Aurélio já recusou outra liminar, entrou
mais uma, relator Teori Zavascki.
Sendo
confirmado, entra o que chamei de estranho e extravagante. Alem do fato de
querer fugir do juiz Moro (falta de ética e respeitabilidade), Lula tem a
incumbência fundamental: conseguir agregar ao governo, deputados e senadores.
Como executará essa missão? Chamará as pessoas ao seu gabinete no Planalto ou irá
encontrá-las no Congresso.
Os
parlamentares não gostarão de serem vistos entrando no Planalto. Então Lula
terá que procurá-los. O Ministro Chefe da Casa Civil diariamente, ou quase, no
Congresso. Alem do mais, todas as conversas, proveitosas ou não, serão
gravadas. Que constrangimento. E insucesso total, facílimo de prever.
Comissão do impeachment
Foi o
momento mais tenso e violento do dia. Se não existissem deputados mais
educados, cautelosos e vigilantes, teria havido confronto físico. Bobagem.
Todos queriam a formação. Tanto isso é verdade, que presentes 434 deputados,
433 votaram a favor. Já houve modificação nos representantes do PMDB. Um que
era contra o governo, pediu substituição. De acordo com o combinado, o líder
Picciani, indicou um a favor.
PS - Por
volta das cinco horas, Dilma comentou com 3 ou 4 pessoas que sobraram: "Entre
os que estão gritando, não ouço a voz das ruas". Está ouvindo mal. Se
conhecesse o grande jornalista J.E. de Macedo Soares, lembraria: "A voz
das ruas é representada pela patuléia vil e ignora".
PS2 - O
PMDB expulsou o deputado Mauro Lopes, que aceitou ser Ministro de Dona Dilma. A
expulsão era o único tumulo digno de um almirante batavo. Ou batavo.
PS3 - A
Petrobras fechou ontem a 11 reais. Ha meses que não chega a esse numero. Realidade
por causa do aumento do preço do barril em Nova Iorque. Especulação, o
"mercado" acha que é bom comprar em dia de crise.
PS4 - A
presidente e o vice, mentiram quase ao mesmo tempo. Dilma: "O Ministro
Jaques Wagner não está aqui, vem de avião comercial,atrasou". Faltou
com a verdade. Wagner estava em Brasília. Mas como ainda é Chefe da Casa Civil,
não podia assumir outro cargo. Temer: "Não fui á posse de Lula, o PMDB
sofreu desatenção, com a nomeação e posse de um peemedebista". Faltou com
a verdade.
O deputado
estava para ser Ministro desse mesmo cargo, ha mais de 3 meses. Temer ha muito
quer passar de "decorativo" a efetivo, não tinha nada para assistir
Lula virar Ministro.
O dia não acabou, a turbulência aumentou, o povo se
revoltou o governo desesperou
Lula não
é Ministro, ás 21 horas em ponto, a liminar do parcialíssimo juiz Catta Preta,
foi revogada, existem muitas outras ações no Brasil todo. Dilma fez apelo ao
Supremo para decidir e eliminar as discordâncias. A Comissão Especial do impeachment está formada,
mas ninguém se entende.
Na Avenida
Paulista o povo se reúne nas ruas, os empresários nos escritórios. Mas o tempo
se esvai, tudo é prorrogado. Não ha solução, é a maior crise desde a chamada
redemocratização. Hoje será mais um dia, esperemos que diferente desde novembro
de 2014.
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