Titular: Helio Fernandes

sexta-feira, 18 de março de 2016

Dilma dá posse a Lula como Ministro, fracassa como estrategista, subtrai o amigo de possível prisão imediata

HELIO FERNANDES

O dia de ontem foi longo, turbulento, ansioso e ainda não conclusivo. Às 7 da manhã,em varias capitais, movimentação das ruas, rigorosamente fora da normalidade. E já convocadas manifestações pelo Brasil todo a partir das 7 da noite.

Jaques Wagner disse que "o movimento de domingo foi produzido". È possível. Mas o de quarta, e o de ontem, quinta, totalmente espontâneo. De insatisfação, protesto legítimo. Começou assim que foram publicados os "diálogos" entre Lula e Dilma, gravados com ordem judicial. Dilma e Lula foram imprudentes, e insensatos. Como o Supremo examinava os "ritos do impeachment", protestos velados de vários Ministros. (O mais violento e no meio de um voto, foi o de Gilmar Mendes).

A posse de Lula estava marcada para as 10, só foi iniciado com 45 minutos de atraso. O auditório, lotado, perdão, lotadíssimo. Um tempo enorme para citar todos os presentes, nenhum ego resistiria ao esquecimento, mesmo acidental. (Pouca gente com voto, prestigio e influência. Custou a engrenar, ficou entre o supérfluo, o desinteressante e o cansativo, habitual nela.

Primeira afirmação, que precisa ser traduzida: "As circunstancias e oportunidades, permitiram que eu trouxesse para o meu governo o maior líder político do país e o melhor presidente da historia". Traduzindo: "As circunstancias e oportunidades, permitiram que eu livrasse de uma prisão injusta, meu grande amigo Lula". Lá fora protestos, resumidos em duas exigências. "Renuncia, Dilma", ou "cadeia e não ministério para Lula".

O discurso de Dilma foi demorado, mas é compreensível. Ela ao mesmo tempo empossava um Ministro que já não tem mais o que fazer, mesmo depois do arranjo com a presidentA. 1- Ficou mais do que evidente, que só pretendia fugir da prisão. Revoltou o Congresso, deu munição para as ruas, desprezou os tribunais, principalmente o Supremo, o maior e mais alto de todos. 2 - A presidentA gastou muito tempo, ninguém reclamou, era o seu ultimo discurso oficial. Piedade e não generosidade.

Com as trapalhadas de Lula e Dilma, pela primeira vez, o impeachment é viável

De fevereiro de 2015 até fevereiro de 2016, não tive a menor duvida: a suposta oposição não obteria os 342 votos necessários e indispensáveis para retirar Dilma do Planalto e entregá-lo ao "decorativo" Michel Temer. Agora tudo é possível. Principalmente um assunto relevante como esse, comandado por um presidente da Câmara, réu dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. (E a mulher e a filha, sem foro privilegiado, são acusadas na Lava - Jato e respondendo em Curitiba). Eduardo Cunha, é esse o nome do personagem, garante: "Em 45 dias teremos votado o impeachment e tirado Dona Dilma do poder". As coisas estão mudando com tal velocidade, que é impossível uma analise lógica e correta.

Às duas da tarde, a Associação dos magistrados federais, divulga manifesto de total apoio ao juiz Sergio Moro. Para maior importância, foi lido no Fórum Pedro Lessa, o primeiro negro a ser Ministro do Supremo. Não foi presidente, morreu antes de chegar a sua vez. Há essa hora as ruas de todo o país estão cheias de manifestantes. Ontem revelei com exclusividade:amanhã, quinta, o juiz Sergio Moro manda para o Procurador Geral e os 11 Ministros do Supremo, dezenas de caixotes, com tudo que foi investigado sobre Lula. Ficou para segunda.

A situação estranha, extravagante e surpreendente de Lula Ministro

Antes de mais nada, uma constatação: ás 4 horas, quando escrevo esta nota, Lula não é Ministro. Logo depois da sua posse, a oposição entrou com uma liminar em Brasília, pedindo a suspensão da posse de Lula. O juiz Federal, Catta Preta, neto, concedeu a medida. Juridicamente podia conceder. Mas não tem isenção. È freqüentador das redes sociais, e se manifesta sempre contra o governo.

O Planalto tomou conhecimento, José Eduardo Cardoso assumiu a direção da defesa, pela competência pessoal e pelo cargo que ocupa. Estudaram varias hipóteses, decidiram que era melhor entrar direto no Supremo. Eletronicamente foi sorteado relator, o Ministro Gilmar Mendes, que recebeu a ação ás 3,25. Não tem prazo, mas acredito que decida ainda hoje. Marco Aurélio já recusou outra liminar, entrou mais uma, relator Teori Zavascki.

Sendo confirmado, entra o que chamei de estranho e extravagante. Alem do fato de querer fugir do juiz Moro (falta de ética e respeitabilidade), Lula tem a incumbência fundamental: conseguir agregar ao governo, deputados e senadores. Como executará essa missão? Chamará as pessoas ao seu gabinete no Planalto ou irá encontrá-las no Congresso.

Os parlamentares não gostarão de serem vistos entrando no Planalto. Então Lula terá que procurá-los. O Ministro Chefe da Casa Civil diariamente, ou quase, no Congresso. Alem do mais, todas as conversas, proveitosas ou não, serão gravadas. Que constrangimento. E insucesso total, facílimo de prever.

Comissão do impeachment

Foi o momento mais tenso e violento do dia. Se não existissem deputados mais educados, cautelosos e vigilantes, teria havido confronto físico. Bobagem. Todos queriam a formação. Tanto isso é verdade, que presentes 434 deputados, 433 votaram a favor. Já houve modificação nos representantes do PMDB. Um que era contra o governo, pediu substituição. De acordo com o combinado, o líder Picciani, indicou um a favor.

PS - Por volta das cinco horas, Dilma comentou com 3 ou 4 pessoas que sobraram: "Entre os que estão gritando, não ouço a voz das ruas". Está ouvindo mal. Se conhecesse o grande jornalista J.E. de Macedo Soares, lembraria: "A voz das ruas é representada pela patuléia vil e ignora".

PS2 - O PMDB expulsou o deputado Mauro Lopes, que aceitou ser Ministro de Dona Dilma. A expulsão era o único tumulo digno de um almirante batavo. Ou batavo.

PS3 - A Petrobras fechou ontem a 11 reais. Ha meses que não chega a esse numero. Realidade por causa do aumento do preço do barril em Nova Iorque. Especulação, o "mercado" acha que é bom comprar em dia de crise.

PS4 - A presidente e o vice, mentiram quase ao mesmo tempo. Dilma: "O Ministro Jaques Wagner não  está aqui, vem de avião comercial,atrasou". Faltou com a verdade. Wagner estava em Brasília. Mas como ainda é Chefe da Casa Civil, não podia assumir outro cargo. Temer: "Não fui á posse de Lula, o PMDB sofreu desatenção, com a nomeação e posse de um peemedebista". Faltou com a verdade.

O deputado estava para ser Ministro desse mesmo cargo, ha mais de 3 meses. Temer ha muito quer passar de "decorativo" a efetivo, não tinha nada para assistir Lula virar Ministro.

O dia não acabou, a turbulência aumentou, o povo se revoltou o governo desesperou

Lula não é Ministro, ás 21 horas em ponto, a liminar do parcialíssimo juiz Catta Preta, foi revogada, existem muitas outras ações no Brasil todo. Dilma fez apelo ao Supremo para decidir e eliminar as discordâncias.  A Comissão Especial do impeachment está formada, mas ninguém se entende.

Na Avenida Paulista o povo se reúne nas ruas, os empresários nos escritórios. Mas o tempo se esvai, tudo é prorrogado. Não ha solução, é a maior crise desde a chamada redemocratização. Hoje será mais um dia, esperemos que diferente desde novembro de 2014. 
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