Exaustão de análise de conjuntura
FERNANDO CAMARA
Após vivenciarmos a maior
manifestação em número de participantes nas ruas, passamos a assistir, ler e
ouvir uma enxurrada de análises conjunturais, para todos os tipos e gostos. Mas
uma coisa é certa: O Impeachment não é líquido e certo, embora a margem de
manobra do governo seja cada vez menor. Dilma tem que reagir para o bem do país,
sair da clausura do Palácio, procurar bons articuladores políticos e buscar
soluções. Precisa, com a urgência que a situação exige, ajustar o discurso à
prática.
A temperatura da crise
vem aumentando há um ano, quando os manifestantes saíram às ruas em março de
2015 e os empresários pediram a adoção de medidas para a economia. As medidas
não chegaram. Sem solução, a Operação Lava Jato tornou-se o fio de esperança da
achatada classe média. Para os manifestantes, pró-impeachment, Sérgio Moro não
é uma pessoa, é um sentimento.
A esquerda está emitindo
um grito surdo, sem alcance, sem eco, desmoralizada pela prática política
imposta pelo PT, flagrado em delitos. Segue a CRISE sem lideranças, sem ideias
e sem saída. Sem respostas do governo para os problemas que afetam a sociedade
em todos os níveis. A esquerda, que sempre manteve o monopólio da vanguarda,
está acuada.
Os gritos de FORA PT estão longe de
ser a luz desse caminho,não configuram a solução e a oposição precisa ter
sabedoria para utilizar esse instrumento, porque o desejo de impeachment
expresso nas ruas não se concretizará na próxima semana nem no próximo mês, mas
as contas e os problemas sim. O país necessita de respostas e soluções e cabe à
oposição apresentá-las e articular a sua implementação.
O jantar dos senadores do PMDB
e do PSDB pareceu um sinal de desembarque do Governo, mas pode ser interpretado
como uma busca por respostas e saídas para a crise, com ou sem Dilma. Lula foi
um dos articuladores das conversas, sinal de que ele já permitiu que o Governo
participe da busca de soluções fora do espectro do PT.
O Brasil precisa de uma saída. Com
Dilma pode demorar; sem Dilma pode demorar muito!
Dilma incluiu o impeachment na agenda
presidencial e agora precisa dar uma resposta à sociedade. A nota
lacônica distribuída pelo Planalto ao fim das manifestações não esclarece o
papel que ela terá. A sociedade quer ação, atitude e reação. Dilma precisa
deixar a militância e assumir a presidência. Substituir o discurso pela
prática.
Pode até lamentar as ameaças à UNE,
mas igualmente condenar – também publicamente – a invasão de mulheres do MST
numa plantação de pinus, quando destruíram 1,2 milhão de mudas, provocando um
prejuízo de R$ 5 milhões. Sobre isso, nenhuma nota, nenhum apoio, nenhum sinal.
A pressão aumentará, inclusive sobre os políticos da base, porque a sociedade
deixou claro que não está acomodada.
O PMDB metade mussarela; metade
calabreza
O principal parceiro até aqui,
responde com um pé dentro e o outro fora do governo. O relacionamento PT-PMDB
há muito tempo não ia bem, prejudicado pelo estilo de governar do PT e de
Dilma. Soma-se a isso a baixíssima popularidade da presidente. Nenhum ministro,
nenhum dos Líderes na Câmara e no Senado defendeu o Governo nem a manutenção da
aliança. Temer pediu calma, mas, ainda assim, o partido forçou a porta.
A
decisão de não ocupar mais nenhum cargo nos próximos 30 dias sinalizou que o
deputado Mauro Lopes estará fora do sonhado ministério da Aviação Civil. Este é
mais um desafio para o Líder Leonardo Picciani administrar. O sincero ministro
Marcelo Castro declarou que não sairia do cargo, mesmo se o PMDB tivesse
deliberado pelo desembarque do Governo. Ou seja, o PMDB ficará onde sempre
esteve: no meio do caminho entre governo e oposição.
O imponderável que dita os movimentos
Sérgio Moro, o fator que instabiliza
ainda mais o quadro, ainda não pegou firme nos personagens do PMDB. Não pega
porque eles têm foro privilegiado, inclusive governadores e prefeitos. Pezão e
Eduardo Paes permanecem calados. Será que a Lava Jato, após as
Olimpíadas, chegará ao Rio de Janeiro?
Lula no Governo
Não vai porque não tem respostas, não
tem mais a mesma capacidade de aglutinação. Ele quer ir para ajudar ou para ser
ajudado?
Aguardamos respostas nesta semana.
1. Rito da eleição das
Comissões da Câmara dos Deputados, especialmente, a do impeachment.
2. Embargos de
Declaração, hoje aliás é o último dia para apresentação desses embargos ao rito
do impeachment.
3. Delação do Delcídio,
desde 3 de março, quando o relatório da delação veio a público, há um pânico na
política com nuvens pesadas sobre o governo e o PMDB. Se a delação for
homologada, certamente haverá problemas para PMDB e PT. Os peemedebistas, se
quiserem levar avante o impeachment terão que entregar algumas cabeças. Falta
combinar com aqueles que estão mais próximos do cadafalso.
4. Na Pauta, o
Parlamentarismo ou semi-presidencialismo. PMDB e PSDB conversaram sobre a
perspectiva de redução dos poderes de Dilma Rousseff, passando o dia-a-dia da
administração pública para um primeiro ministro a ser eleito pelo Congresso.
Enquanto a Lava Jato estiver dando as cartas, entretanto, será difícil
empreender qualquer iniciativa nesse sentido. O Brasil ainda está na fase de
viver a cada dia a sua aflição e a névoa ainda paira sobre o futuro. Vamos
acompanhar.
E a foto?
“Viralizou” nas redes sociais a foto
do diretor do Flamengo a caminho da manifestação na Visconde de Pirajá, com a
mulher e a babá dos filhos, que, de uniforme branco, empurrava o carrinho das
crianças. A imagem, na avaliação de muitos, marcou o perfil dos manifestantes:
classe média alta.
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