Titular: Helio Fernandes

quarta-feira, 30 de março de 2016

As instituições começam a vacilar com a palavra dúbia do comandante do Exercito
HELIO FERNANDES

Sempre fui considerado especialista em assuntos militares. Desde a traição dos dois marechais em 1889. Implantaram a Republica militar, militarista e militarizada, dominaram o poder. (Lógico, eu não era nascido, mas depois me aprofundei no assunto, e não parei de denunciar Deodoro e Floriano). Eram coronéis na estranha Guerra do Paraguai, voltaram brigados para o Brasil, se reconciliaram para assassinar a nascente Republica. Floriano tinha o poder militar, derrubou Deodoro, se manteve sozinho. Pensou que ia ficar para sempre, foi substituído por um civil, Prudente, mas não passou o cargo.

Sempre tive o cuidado de separar o Exercito, nacionalista e desenvolvimentista, dos Generais, que gostavam (e gostam) de generalizar em proveito próprio. Dominaram até 1930, através dos bravos Tenentes de 1922, 1924 e 1926. Em 1930 apoiaram o golpe de Vargas, (que implantaria a ditadura de 15 anos) criaram e dominaram as novas "capitanias hereditárias", cada um assumiu o domínio de um estado. Ficaram até o fim da carreira, aposentados como Generais, Almirantes, Brigadeiros. (Em volume de cargos, os mais variados, em toda a Historia são o General Juracy Magalhães e o almirante Amaral Peixoto).

Minha primeira exclusividade de "furo" militar ocorreu em 1950. Getulio voltou ao poder, dificuldades na posse, por causa da oposição de Eduardo Gomes, Golbery e Carlos Lacerda. Surpreendi a todos escrevendo: "Vargas vai tomar posse nomeando Ministro da Guerra o General Stilac Leal”. Era a maior liderança do Exercito, acabara de se eleger presidente do Clube Militar, derrotando  o importante General Cordeiro de Farias. O fato se confirmou, perplexidade geral.

Fui preso duas vezes depois do suicídio de Vargas, mas a mais importante foi em 1963. Antes do golpe, mas já na preparação dele. Publiquei uma circular “sigilosa e confidencial", assinada pelo general Jair Dantas Ribeiro, Ministro da Guerra. Preso no mesmo dia, fui levado para a Policia do Exercito, ainda não havia o DOI-CODI. Na hora do banho de sol, centenas de oficiais no mesmo exercício. Uma parte me dizia,"resista, Helio, estamos com você". A outra parte me fuzilava com os olhos. Veio o golpe de 64, centenas de oficiais foram expulsos ou passados para a reserva, não concordavam. Era a divisão do Exercito, que sempre existiu.

Continuei dando "furos" militares, dos mais simples aos mais importantes. Sempre contra  os Generais golpistas. Quando os "11 do Pasquim", foram presos na Vila Militar, as famílias ficaram em contato comigo, já cassado, mas continuando bem informado. Estavam no Batalhão Pára-quedista, o comandante, duas vezes por semana ficava á noite no quartel, convidava dois dos presos para jantar com ele. Rotina  tranqüila de 60 dias. Quando Geisel tomou posse, todos queriam saber quem seria o general Chefe da Casa Militar. Revelei: "Será o general Hugo Abreu". Confirmado, perguntaram como eu podia saber. Resposta do próprio General: "È coisa "desse" (assim mesmo, tentando ser depreciativo) jornalista. Não falou nada sobre a noticia que antecipava um fato confirmado.

Quase no fim do governo Geisel, dois fatos importantíssimos que se esperava com ansiedade. 1- havia uma vaga de General de Exercito (4 Estrelas), o numero 1 e 2 para promoção, eram Hugo Abreu e João Figueiredo. 2- O "presidente" iria revelar o nome do sucessor. Antecipei: o general Hugo Abreu será "caroneado",  promovido o   general Figueiredo, logo anunciado como futuro "presidente". Os militares todos se perguntavam como eu podia saber. Garantiam, "só pode ter sido o presidente, ele gosta dessas surpresas". Podia até gostar, mas jamais falei com ele ou estive perto dele.

Por tudo isso fiquei preocupado quando tomei conhecimento da declaração do General Villas Boas, tido como Chefe do Exercito. Textual: "Estamos acompanhando os fatos atentamente. Não interviremos,a não ser que nos peçam". P R E O C U P A N T E. 

PMDB traiu por aclamação, para evitar constrangimento

È inacreditável citar essa ultima palavra ligada ao partido, que usufruiu de todos os governos, mas pelo voto direto não ganhou nenhum. Durou apenas 15 minutos. Tudo combinado, nem discurso nem voto, para que não fossem revelados os números. (Dos 69 deputados do PMDB, 55 estavam lá, 14 não foram têm até o dia12 para se decidirem). Se os 3 ou 4 partidos que somam 130 votos, seguirem a conspiração de Temer, o governo Dilma acabou oficialmente, já tendo acabado por omissão e incompetência. 

No momento, Dilma tem 125 votos, precisa de mais 47 para não sofrer o impeachment. Mesmo com o leilão apregoado não conseguirá. E o inesperado para ela e os áulicos: o Senado, que parecia uma fortaleza, também desapareceu. Teria que conseguir 41 votos no senado, por enquanto está com 15 ou 16. Como vivemos uma fase tremendamente surrealista, vejam só este fato, até agora inédito: Dilma tem viagem marcada para dia 2, próximo sábado, aos EUA. Se não desmarcar, o conspirador maior da sua deposição, Michel Temer, assumirá. Só mesmo neste tenebroso Brasil de Dilma, Lula e Temer.

(Continuo esperando que aconteça um fato, ate agora irrealizável. Dilma não sofra o impeachment, continue no cargo. A chapa então seria cassada pelo TSE, que marcaria eleição direta para dentro de 90 dias.  Pelo menos isso, não poderia ser pior do que Dilma continuando ou Temer assumindo, vago e vazio).

PS- Acabava de redigir estas notas, recebi a noticia: Dilma cancelou a viagem. E dizia para José Eduardo Cardoso e Jaques Wagner: "Temer no Planalto, nem temporariamente. Não vou renunciar, nem sofrer impeachment". Dilma não percebeu que seu dilema é o suicídio ou esperar que algum mais piedoso desligue os aparelhos. Logo depois os três se dirigiam para o Alvorada, eram esperados por Lula.

PS2- Conversaram até tarde, chegaram outros ministros. Assuntos óbvios: a saída do PMDB, (que Lula fez força para depreciar) e a reunião de hoje, quarta, do Supremo. Ai,o ex-presidente estava preocupado. E comentou o parecer do Procurador geral: ele pode ser Ministro, mas seu processo continua com o juiz Sergio Moro. Grande possibilidade desse parecer ganhar aprovação da maioria. 

PS3- Quase na madrugada desta sexta feira, o Brasil acumulou mais uma derrota. Nenhuma surpresa. A defesa não defende, o meio de campo não arma nem desarma, o ataque não incomoda a defesa adversária. Estamos em sétimo lugar, isso não é a eliminação. Ainda faltam 13 jogos, nem enfrentamos a Venezuela e a Bolívia. 

PS5- No finalzinho o Brasil empatou, ficou quase a mesma coisa. Precisávamos de 3 pontos, marcamos 1. Uma excelente noticia para o Dunga, péssimo para o torcedor: a seleção só volta a jogar em setembro. Por causa da Eurocopa, as eliminatórias de todos os continentes são jogadas nos mesmos dias.
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