Dilma
mais atingida do que Lula. Ele no auge, ela isolada, abandonada, depreciada,
assustada
HELIO FERNANDES
Não sei
se a presidente percebeu, mas no episodio do depoimento obrigatório do Lula,
ele foi o grande vencedor, ela derrotada e atingida. Dilma tem um cargo que
pode perder, cercada e ameaçada por todos os lados. Incluindo os dois maiores
partidos da base, PT e PMDB, que deviam defendê-la e se ausentam
voluntariamente. Lula, que não tem cargo e luta para voltar, estava no mais
completo ostracismo, perdendo popularidade e credibilidade. E tendo que
responder ás mais variadas acusações, quase todas irrespondíveis.
(Para Lula foi sensacional. Com habilidade, estardalhaço e sem o menor
respeito pelos fatos e pela verdade, em poucas horas atingiu o apogeu, se
lançou candidato a presidente, já começou a campanha, e não escondeu: "Quem
quiser me ouvir, é só falar que correrei o Brasil inteiro").
Insistiu
que merecia mais respeito, "nunca um presidente ou ex-foi tratado dessa
maneira". Não devia ter entrado no terreno histórico, errou completamente.
No golpe de 30 (que pretendiam chamar de Revolução), prenderam o Presidente
Washington Luiz, que ainda tinha 42 dias de mandato. Da prisão foi asilado para
os EUA, junto com o vice Melo Viana e o Ministro do Exterior,
Otavio Mangabeira.
Em
1910 o general Hermes da Fonseca foi eleito presidente derrotando Rui Barbosa.
Cumpriu os 4 anos, saiu, foi presidir o histórico Clube Militar. Em 1922, já
sem qualquer cargo, ex- presidente, 2 coronéis bateram á sua porta de madrugada
para prendê-lo. Respondeu: "Sou Marechal, só posso ser preso por um
oficial da minha patente". Procuraram, encontraram o Marechal Botafogo. Hermes
recebeu-o, falou: "Com você eu vou”. Eram da mesma turma.
Em
1937, Vargas implantou o famigerado "Estado Novo", imediatamente
asilou para Portugal o ex-presidente Bernardes, que governou o país de 1922 a
1926. Já haviam se passado 11 anos. (Como não gostava do jornalista Julio
Mesquita, diretor do "Estado de SP", asilou-o também).
Lula
mostrou que como orador popularesco é eficiente, mas precisa tomar cuidado.
Perdeu tempo em dizer que a "Lava jato foi criada para persegui-lo e ao PT,
fato único na Historia". Lula, que se lançou afirmando, "as elites me
combatem e me detestam”. Agora defende as 5 maiores empreiteiras responsáveis
pelas ladroeiras ou roubalheiras da Petrobras. Mudou muito. Ou
segundo a PF e o MPF, recebe a "compensação" pelos lucros de bilhões que
permitiu ou proporcionou a elas. Em causa, no mínimo, no mínimo, 30 milhões em
dinheiro para ele e o instituto. Fora o triplex de Guarulhos, o sitio todo
luxuosamente reconstruído de Atibaia, e o resto ainda não descoberto.
Perguntinha
inútil: Lula afirma que ia ao "sitio porque pertencia a amigos de 35 anos”.
Para colaboradores e íntimos, seria permanente. O Presidente do Instituto Lula
tinha um sitio próprio, nessa disputada Atibaia. Por que a "coincidência"
da vizinhança? Okamoto foi encontrado lá, Moro não permitiu a prisão, só o depoimento.
Sergio Moro desmente aventureiros e intrigantes
Em
nota oficial, afirma, "o depoimento de Lula não representa antecipação de
culpa". O que não disse, mas é obvio: "Também não significa presunção
de inocência”. O que o repórter apurou com exclusividade. Acusaram que aproveitaram
a publicação de Delcídio na revista "IstoÈ". Bobagem. A operação
sobre Lula estava montada ha 14 dias, era gigantesca.
Mais
de 200 policiais, três estados, busca e apreensão. O próprio Moro não quis dar
publicidade á data, para que a militância não tumultuasse, como aconteceu com a
condução “coercitiva”. Nem se imaginava o episodio do senador, ex-líder do
PT.Uma operação como essa não se organiza de um dia para outro.
Outra exclusividade sobre a Lava-Jato
Desde
o inicio, Moro, o MPF e a PF, concordaram: "Não haveria algema para ninguém".
Foi considerado inútil, desnecessário e humilhante. Mas fizeram um acordo para
evitar exploração: os presos, em locais abertos, ficariam com as mãos para trás,
como se estivessem algemados. Na operação de anteontem, a recomendação,
resultado de uma convicção: "Nada de algema".
Dilma corteja Lula, ele agora, muito mais
importante do que ela
No
sábado, pegou um helicóptero, se mandou para São Bernardo. Companhia exclusiva
de Jaques Wagner. As televisões desse dia e os jornais de ontem, domingo, se
fartaram de mostrar desinformação e analise equivocada. Todos, num resumo
coletivo: "Dilma foi levar seu apoio e se solidarizar com o
ex-presidente". Vale uma gargalhada, das que chamam de estridente.
Dilma
não tem nada a oferecer a Lula. Quase soterrada desde o primeiro mês da
reeleição, está no volume morto da popularidade, do prestigio, da credibilidade,
não é respeitada por ninguém. Se tiver muita sorte, chega a 2018. Mas
completamente ignorada e sem ter o que fazer ou para onde ir. Só que agora o
impeachment, que era impossível, ficou viável. Depende de um acordo do PSDB com
Temer, que no caso assumiria. Temer desapareceu ,o PSDB, reticente. Temer
no poder agora, pode continuar mais 5 anos a partir de 2018 . O
"jovem presidenciável" Aécio, não resiste tanto tempo. Nem lembro de
Alckmin ou Serra.
A situação
de Lula inteiramente diferente, não esperava tirar a "sorte grande"
política, que pode se transformar em sorte grande eleitoral. Tem quase certeza
que a eleição será bem antes. Fala que está em campanha “para 2018, mas prefere
que seja agora, ainda em 2016. Por gentileza e generosidade com a antiga
parceira. Mas 9 em 10 políticos ou cidadãos, interrogados, respondem que estão
se preparando para votar neste amaldiçoado 2016.
Lula
satisfeito. Mas precisa explicar tudo, o sítio, o triplex, os 30 milhões das
conferencias que ninguém viu ou ouviu, "cobro mais caro do que o Bill
Clinton". Lula sabe que o discurso para militantes, não resiste mais 3
anos. Mesmo agora, pode "inflamar" uma parte dos "companheiros",
mas não é suficiente para chegar ao segundo turno, hoje ou amanhã. No momento,
Lula tem visibilidade, que precisa transformar em credibilidade.
O tumulto, as conseqüências a partir de hoje,
segunda feira imprevisível
Normalmente,
nos fins de semana, Brasília politicamente vazia, o que não aconteceu a partir
de sexta feira. Portanto, hoje, bem cedo, muita gente tentando desnudar a
esfinge ou decodificar a incógnita. Mistério completo, mas alguma coisa terá
que acontecer. Nos últimos 12 dias, três fatos ganharam preponderância total,
terão influencia sobre a continuidade da Presidente Dilma. Pode não ser
resolvido hoje, lógico, mas envolverão todos os personagens que se intitulam
governistas ou oposicionistas, não são uma coisa nem outra.
1-O
surpreendente, estarrecedor e inacreditável depoimento do casal de
marqueteiros. A confissão de Santana e o enquadramento de Dilma e da Odebrecht,
não acontecem todos os dias. Terminados os 5 dias da prisão temporária,
escrevi: "Será prorrogada e depois passará à preventiva, permanente".
Suas revelações exigiam isso. Será peça fundamental no que acontecerá.
PS2-A
entrevista-delação de Delcídio do Amaral, estarrecedora. Não houve
"vazamento", ele pessoalmente entregou o material á revista
"IstoÈ". Tentaram desacreditá-lo, Dona Dilma falou em "vingança
ou retaliação". O Ministro Eduardo Cardozo disse que "Delcídio é
desequilibrado e sem credibilidade". Esqueceram que foi líder do governo
no Senado, entrava e saía do Planalto e até do Alvorada. Não esquecerão a
entrevista, seus dados serão minuciosamente aproveitados.
PS3-
O espetáculo pirotécnico do Lula, examinado lá em cima, e que a partir de agora
fará parte do dossiê do dia-a-dia de Brasília. Com os mais diversos e
importantes personagens, presentes e participantes. Lula avisou que iria para a
capital, chegou ontem á noite.
Só
para lembrar ou não esquecer: tudo o que foi dito ou publicado sobre as
empreiteiras, ladroeiras, roubalheiras, foi ultrapassado ou minimizado. A
Odebrecht terá que confessar em vez de simplesmente explicar: porque doou quase
30 milhões a Santana para financiar campanhas em Angola, Panamá ou Republica
Dominicana. E todo o resto que transferiu para o ex-presidente. Ressaltou:
"A campanha de reeleição de Dilma, fiz de graça, tenho prazer”
Depois do
suicídio de Vargas, e a posse-farsa-renúncia de Janio, este é o momento mais
dramático dos nossos tempos. Ninguém sabe como terminará.t
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