Titular: Helio Fernandes

segunda-feira, 7 de março de 2016

Dilma mais atingida do que Lula. Ele no auge, ela isolada, abandonada, depreciada, assustada

HELIO FERNANDES

Não sei se a presidente percebeu, mas no episodio do depoimento obrigatório do Lula, ele foi o grande vencedor, ela derrotada e atingida. Dilma tem um cargo que pode perder, cercada e ameaçada por todos os lados. Incluindo os dois maiores partidos da base, PT e PMDB, que deviam defendê-la e se ausentam voluntariamente. Lula, que não tem cargo e luta para voltar, estava no mais completo ostracismo, perdendo popularidade e credibilidade. E tendo que responder ás mais variadas acusações, quase todas irrespondíveis.

(Para Lula foi sensacional. Com habilidade, estardalhaço e sem o menor respeito pelos fatos e pela verdade, em poucas horas atingiu o apogeu, se lançou candidato a presidente, já começou a campanha, e não escondeu: "Quem quiser me ouvir, é só falar que correrei o Brasil inteiro").

Insistiu que merecia mais respeito, "nunca um presidente ou ex-foi tratado dessa maneira". Não devia ter entrado no terreno histórico, errou completamente. No golpe de 30 (que pretendiam chamar de Revolução), prenderam o Presidente Washington Luiz, que ainda tinha 42 dias de mandato. Da prisão foi asilado para os EUA, junto com o vice Melo Viana e o Ministro do Exterior, Otavio Mangabeira.                              

Em 1910 o general Hermes da Fonseca foi eleito presidente derrotando Rui Barbosa. Cumpriu os 4 anos, saiu, foi presidir o histórico Clube Militar. Em 1922, já sem qualquer cargo, ex- presidente, 2 coronéis bateram á sua porta de madrugada para prendê-lo. Respondeu: "Sou Marechal, só posso ser preso por um oficial da minha patente". Procuraram, encontraram o Marechal Botafogo. Hermes recebeu-o, falou: "Com você eu vou”. Eram da mesma turma.  

Em 1937, Vargas implantou o famigerado "Estado Novo", imediatamente asilou para Portugal o ex-presidente Bernardes, que governou o país de 1922 a 1926. Já haviam se passado 11 anos. (Como não gostava do jornalista Julio Mesquita, diretor do "Estado de SP", asilou-o também).

Lula mostrou que como orador popularesco é eficiente, mas precisa tomar cuidado. Perdeu tempo em dizer que a "Lava jato foi criada para persegui-lo e ao PT, fato único na Historia". Lula, que se lançou afirmando, "as elites me combatem e me detestam”. Agora defende as 5 maiores empreiteiras responsáveis pelas ladroeiras  ou roubalheiras  da Petrobras. Mudou muito. Ou segundo a PF e o MPF, recebe a "compensação" pelos lucros de bilhões que permitiu ou proporcionou a elas. Em causa, no mínimo, no mínimo, 30 milhões em dinheiro para ele e o instituto. Fora o triplex de Guarulhos, o sitio todo luxuosamente reconstruído de Atibaia, e o resto ainda não descoberto.
Perguntinha inútil: Lula afirma que ia ao "sitio porque pertencia a amigos de 35 anos”. Para colaboradores e íntimos, seria permanente. O Presidente do Instituto Lula tinha um sitio próprio, nessa disputada Atibaia. Por que a "coincidência" da vizinhança? Okamoto foi encontrado lá, Moro não permitiu a prisão, só o depoimento. 

Sergio Moro desmente aventureiros e intrigantes   

Em nota oficial, afirma, "o depoimento de Lula não representa antecipação de culpa". O que não disse, mas é obvio: "Também não significa presunção de inocência”. O que o repórter apurou com exclusividade. Acusaram que aproveitaram a publicação de Delcídio na revista "IstoÈ". Bobagem. A operação sobre Lula estava montada ha 14 dias, era gigantesca.

Mais de 200 policiais, três estados, busca e apreensão. O próprio Moro não quis dar publicidade á data, para que a militância não tumultuasse, como aconteceu com a condução “coercitiva”. Nem se imaginava o episodio do senador, ex-líder do PT.Uma operação como essa não se organiza de um dia para outro.

Outra exclusividade sobre a Lava-Jato   

Desde o inicio, Moro, o MPF e a PF, concordaram: "Não haveria algema para ninguém". Foi considerado inútil, desnecessário e humilhante. Mas fizeram um acordo para evitar exploração: os presos, em locais abertos, ficariam com as mãos para trás, como se estivessem algemados. Na operação de anteontem, a recomendação, resultado de uma convicção: "Nada de algema".

Dilma corteja Lula, ele agora, muito mais importante do que ela

No sábado, pegou um helicóptero, se mandou para São Bernardo. Companhia exclusiva de Jaques Wagner. As televisões desse dia e os jornais de ontem, domingo, se fartaram de mostrar desinformação e analise equivocada. Todos, num resumo coletivo: "Dilma foi levar seu apoio e se solidarizar com o ex-presidente". Vale uma gargalhada, das que chamam de estridente.

Dilma não tem nada a oferecer a Lula. Quase soterrada desde o primeiro mês da reeleição, está no volume morto da popularidade, do prestigio, da credibilidade, não é respeitada por ninguém. Se tiver muita sorte, chega a 2018. Mas completamente ignorada e sem ter o que fazer ou para onde ir. Só que agora o impeachment, que era impossível, ficou viável. Depende de um acordo do PSDB com Temer, que no caso assumiria. Temer desapareceu ,o PSDB, reticente.  Temer no poder agora, pode continuar mais 5 anos a partir  de 2018 . O "jovem presidenciável" Aécio, não resiste tanto tempo. Nem lembro de Alckmin ou Serra.

A situação de Lula inteiramente diferente, não esperava tirar a "sorte grande" política, que pode se transformar em sorte grande eleitoral. Tem quase certeza que a eleição será bem antes. Fala que está em campanha “para 2018, mas prefere que seja agora, ainda em 2016. Por gentileza e generosidade com a antiga parceira. Mas 9 em 10 políticos ou cidadãos, interrogados, respondem que estão se preparando para votar neste amaldiçoado 2016.

Lula satisfeito. Mas precisa explicar tudo, o sítio, o triplex, os 30 milhões das conferencias que ninguém viu ou ouviu, "cobro mais caro do que o Bill Clinton". Lula sabe que o discurso para militantes, não resiste mais 3 anos. Mesmo agora, pode "inflamar" uma parte dos "companheiros", mas não é suficiente para chegar ao segundo turno, hoje ou amanhã. No momento, Lula tem visibilidade, que precisa transformar em credibilidade.

 O tumulto, as conseqüências a partir de hoje, segunda feira imprevisível          

Normalmente, nos fins de semana, Brasília politicamente vazia, o que não aconteceu a partir de sexta feira. Portanto, hoje, bem cedo, muita gente tentando desnudar a esfinge ou decodificar a incógnita. Mistério completo, mas alguma coisa terá que acontecer. Nos últimos 12 dias, três fatos ganharam preponderância total, terão influencia sobre a continuidade da Presidente Dilma. Pode não ser resolvido hoje, lógico, mas envolverão todos os personagens que se intitulam governistas ou oposicionistas, não são uma coisa nem outra.

1-O surpreendente, estarrecedor e inacreditável depoimento do casal de marqueteiros. A confissão de Santana e o enquadramento de Dilma e da Odebrecht, não acontecem todos os dias. Terminados os 5 dias da prisão temporária, escrevi: "Será prorrogada e depois passará à preventiva, permanente". Suas revelações exigiam isso. Será peça fundamental no que acontecerá.

PS2-A entrevista-delação de Delcídio do Amaral, estarrecedora. Não houve "vazamento", ele pessoalmente entregou o material á revista "IstoÈ". Tentaram desacreditá-lo, Dona Dilma falou em "vingança ou retaliação". O Ministro Eduardo Cardozo disse que "Delcídio é desequilibrado e sem credibilidade". Esqueceram que foi líder do governo no Senado, entrava e saía do Planalto e até do Alvorada. Não esquecerão a entrevista, seus dados serão minuciosamente aproveitados.

PS3- O espetáculo pirotécnico do Lula, examinado lá em cima, e que a partir de agora fará parte do dossiê do dia-a-dia de Brasília. Com os mais diversos e importantes personagens, presentes e participantes. Lula avisou que iria para a capital, chegou ontem á noite.

Só para lembrar ou não esquecer: tudo o que foi dito ou publicado sobre as empreiteiras, ladroeiras, roubalheiras, foi ultrapassado ou minimizado. A Odebrecht terá que confessar em vez de simplesmente explicar: porque doou quase 30 milhões a Santana para financiar campanhas em Angola, Panamá ou Republica Dominicana. E todo o resto que transferiu para o ex-presidente. Ressaltou: "A campanha de reeleição de Dilma, fiz de graça, tenho prazer”

Depois do suicídio de Vargas, e a posse-farsa-renúncia de Janio, este é o momento mais dramático dos nossos tempos. Ninguém sabe como terminará.t
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