Gilmar Mendes carimba o
passaporte de Lula para Curitiba, o ex-presidente tenta não entrar no avião,
sabe que o piloto é o juiz Sergio Moro
HELIO FERNANDES
Só os incrédulos,
desinformados, desatentos e desinteressados, poderiam acreditar que haveria um
Gilmar Mendes da quarta feira e outro, inteiramente diferente na sexta. Os dois
eram rigorosamente iguais, o cenário ligeiramente modificado. Se o Gilmar da
sexta contestasse ou negasse o da quarta, teria que se aposentar, não haveria
possibilidade de enfrentar os colegas, ou construir uma explicação para ele
mesmo.
Rememorando
ligeiramente para os que não assistiram à sessão do Supremo ou não tomaram
conhecimento do fato. Votavam os ritos para o impeachment. Gilmar Mendes com a
palavra, seus votos normalmente longos e fundamentados. Inesperadamente
interrompe, passa a um assunto inteiramente diferente, mas da sua prevalência:
Luiz Inácio Lula da Silva.
Exibe então
um conhecimento extraordinário sobre o ex-presidente. Com esse conhecimento
monta um libelo de 4 minutos, que deixa a todos, silenciosos, assombrados e
surpreendidos. Mas reconhecem: é o Gilmar Mendes de sempre.
48 horas
depois, Lula toma posse como Ministro, perdão, visivelmente para fugir de Moro,
e cair de para quedas no território de Brasília que julga mais favorável a ele.
Com a posse, começam a surgir protestos e ações do Brasil inteiro. O Advogado
Geral da União pede ao Supremo para unificar todas, é feito o sorteio eletrônico,
o relator é Gilmar Mendes. Não fica satisfeito ou aborrecido, se considera um homem
de missão, começa a cumprir a sua.
Comunica-se
com seu gabinete, diz que ficará em casa, pede duas coisas: que alguém fique de
plantão, e mandem o voto de quarta-feira. Com a reconhecida capacidade de
trabalho, vai redigindo seu voto de relator. O tempo corre, todos esperam, não
acreditam que se manifeste nessa sexta feira. Por volta de 7 da noite, dá por
terminado, transformou os 4 minutos anteriores, nas 34 laudas que tanta
repercussão provocaria.
Faz uma
revisão altamente demorada, quase ás 9 da noite manda para o gabinete, com a ordem,
"publiquem imediatamente”. Às 9,08 estava na internet e no gabinete de
todos os Ministros. O presidente Lewandowski recebeu sua copia em Manaus, ficou
impressionadíssimo. O ministro Teori leu a sua em Ribeirão Preto, não comentou.
Acabara
de fazer um discurso, no qual ressaltava: "Cabe aos juízes resolver problemas
e não criá-los ou aumentá-los". Dá a impressão de que não aplaude decisões
do juiz Moro.Gilmar sempre disse:"Não voto preocupado com o povo,quando
voto não penso nele". Na sexta, quando construía sua delação "despremiada",
usava esse receituário, mais parecido com um doping jurídico intelectual.
Sexta feira, ás 5 da tarde o Ministro da Fazenda
estava na Avenida Paulista, mas para conversar com empresários da FIESP
Alguns
que viram Nelson Barbosa acreditavam, que participaria da manifestação. Nada
disso, tinha encontro marcado antecipadamente com gente importante da cúpula da
indústria e do comercio. Recebido pelo Presidente Paulo Skaf conversaram por
mais de 3 horas. Leu longo "projeto de recuperação econômica", até
aplaudido. Ao ir embora, falou: "È preciso que a política ajude a
economia". Skaf comentou: "Defendemos isso com o maior
entusiasmo". Por enquanto é apenas teoria, distante da pratica.
O Ministro da Justiça ameaça e tenta intimidar a
Policia Federal
Já estava
previsto e premeditado. O titular do mais antigo ministério da Republica, só
tinha um objetivo: embargar e impedir a ação da Policia Federal, atingindo
assim a Lava - Jato. Em entrevista á Folha, afirmou sem o menor
constrangimento: "Demitirei imediatamente toda a equipe, sem qualquer
investigação se SENTIR O CHEIRO de vazamento ilegal".
Foi mais
longe: "Nenhum membro da equipe tem seu lugar assegurado". Os
delegados reagiram profissional e corajosamente, defendendo suas posições. A
operação Lava-Jato entra na historia como parte de uma investigação extraordinária,
que envaidece e orgulha o povo brasileiro. A Lava-Jato tem um tríplice
merecimento sem hierarquia: Policia Federal-Ministério Público-Juiz Sergio
Moro.
Já o
Ministro não tem historia nem tempo de permanência no cargo. Se a presidente
Dilma sofrer impeachment, ele terá ficado apenas 1 mês no cargo.Sem Dilma
ou com Dilma, com Temer ou sem Temer.
A OAB aplaude o impeachment
È um reforço,
o órgão sempre teve grande importância. Posso citar dez presidentes da OAB, de
enorme destaque na Historia do Brasil. Mas pode estar favorecendo Dona Dilma.
Se comunicar á Câmara que enviará novo projeto, terá que haver modificação
completa. Se incorporar seu projeto ao que está sendo encaminhado, a
presidente ganhará mais tempo de defesa. Inacreditável e vergonhosamente, a última
palavra será de Eduardo Cunha, réu no Supremo por corrupção e lavagem de
dinheiro. Naturalmente fora o resto.
Dilma devia ficar sempre em silencio
Pode se
aplicar a ela, o que já foi dito e repetido sobre Pelé: "Em silencio é um
poeta. Falando é um desastre". A presidentA passou a semana insistindo na tolice:
"Em qualquer país, quem gravar um presidente, vai logo preso". Acontece
que ela não foi gravada, entrou de cúmplice, no interceptado legalmente, Luiz
Inácio Lula da Silva. Pelo menos aprendeu. Na sexta feira, depois da lamentável
e audaciosa entrevista do Ministro da Justiça, queria que ele soubesse que
gostara.
Ia telefonar
cumprimentando-o, foi alertada por dois assessores-ministros: "Telefone,
não". Aceitou o conselho, pediu a Jaques Wagner que fosse pessoalmente
abraçá-lo. O ainda Chefe da Casa Civil foi, atravessou a Esplanada dos Ministérios,
deu o recado. Aragão vibrou, servo, submisso e subserviente está pronto para outra.
Basta o Planalto considerar que é necessário ou indispensável. (De viva voz,
não por telefone).
O mistério de Dona Marina
Tem uma
vida pessoal inatingível, mas não traduz isso para a militância presidencial,
que parece ser sua única atividade ou objetivo. Senadora e Ministra pelo PT,
deixou o partido sem ser lembrada, destacada ou não.Surpreendentemente aparece
como candidata a presidente, e ainda mais inesperadamente surge com 20 milhões
de votos.Não especializada em transição, desaparece novamente.Volta 4 anos
depois, lastreada por um partido que chama de Rede. Não consegue registro, se
recolhe.
1 ano depois,
faz um acordo com o candidato Arraes, esperavam que fosse vice dele, apesar de
aparecer melhor do que ele nas pesquisas. A discussão se prolonga, até que
acontece o fato inesperado mas indiscutível: Arraes morre num incrível desastre
de avião, eis a candidatura. Perde com outros 20 milhões de votos, some
novamente. Não participa dos acontecimentos que mergulham o país nesta crise
que dura desde a reeleição, até hoje, a tentativa de derrubada.
Não dá
uma palavra, uma entrevista, não quebra o silencio. Num país com entrevistas
diárias de televisão, não é entrevistada por ninguém. No momento em que surgem
pesquisas sobre o distante e talvez inatingível 2018, Dona Marina surge misteriosamente.
Fica entre os três mais votados Os outros dois. Lula, que não consegue ser Ministro.
E o "jovem presidenciável" Aécio Neves, agora personagem do senador
Delcídio.
Temer acredita que está perto da vitoria, como
gosta: sem povo, sem voto, sem urna
O
impeachment está longe de ser decidido. Mas ninguém pode negar que houve uma
grande mudança no quadro. Desde que começou a batalha que virou guerra, a
suposta oposição não tinha a menor chance. Tanto que abandonaram a
movimentação, o PSDB se concentrou na cassação pelo TSE, era o que servia ao
partido e aos três candidatos. Houve a reviravolta alimentada pelos próprios
malabaristas da incompetência, Lula e Dilma.
Aí, a
derrubada de Dilma, imediata para não se atropelada pelo TSE, ganhou força. E
agora só desaparece depois do resultado. Para o país, o menos pior seria a
cassação dupla, e a eleição em 90 dias. Lamentemos. Mas teremos que agüentar a
continuação de Dilma, ou suportar a substituição por Temer. Este, convencido do
resultado, abandonou a confissão de que como vice é "decorativo",
passou a afanoso e trabalhoso.
Como
candidato é dadivoso, não discute nem reduz as promessas. Fui o único a
analisar, o fato de não haver reeleição para Itamar, promete tudo nesse setor: "Não
serei candidato á reeleição”. Quem acredita nele? Tomando posse agora, em 2018
será candidatíssimo. Se houver resistência e cobrarem as promessas, dirá sem
constrangimento: "O PMDB não abre mão de ter candidato. E como já estou no
Planalto, minha reeleição serve a todos".
Obama em cuba: a ratificação da reconciliação
O
presidente dos EUA chegou ontem a Cuba, ás 4,42. Estava combinado que só
encontraria com Raul, hoje, segunda. Foi com a mulher, as duas filhas, e o
avião lotado de empresários que pretendem negociar. O povo não tem dinheiro,
mas as possibilidades são grandes. Antes do rompimento, Cuba vendia muito açúcar
para os EUA, é uma troca que pode voltar.
A visita
é muito importante. Para Obama pessoalmente. Por 10,20 ou 30 anos será
lembrada. Para o futuro, a consolidação contra uma possível vitoria dos
republicanos. (Remota) Se chegarem á Casa Branca, o isolamento voltará certamente.
Historicamente importantíssimo.
Lula: o perigo ronda o espetáculo
Depois do
Ministro Gilmar Mendes, impedir a posse do ex-presidente e devolver o processo
para Curitiba, tudo pode acontecer. Nesta semana santa, o plenário não funciona.
Primeira reunião em 30 de março. Até lá o juiz Sergio Moro pode determinar a prisão
preventiva. Não acredito que o faça. Se fizer e o Supremo autorizar a posse de
Lula, o risco e o descrédito terão sido grande, sem necessidade.
Alem do
mais, do ponto de vista ético e moral, Lula não pode ser mais nada. Sua
desmoralização é completa.Mas se um presidente considera que ele é
indispensável para o seu governo, isso é um erro de avaliação e de analise,mas
não ilegalidade ou irregularidade.
PS- O
Presidente da Venezuela mandou mensagem para Dona Dilma: "Você está
sofrendo um golpe da mídia e da Justiça". Depois foi para Cuba, sem
explicação, 24 horas antes da chegada do presidente dos EUA. A Venezuela
merecia um presidente mais maduro e menos Maduro.
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