Dilma e Lula, não sabem escolher
amigos e inimigos, correligionários e adversários
HELIO FERNANDES
Lula comprometeu
o próprio passado e a liderança que firmou antes e depois dos 8 anos de
governo. Bastou um gesto e uma decisão: a escolha da insuficiente e
medíocre Dilma Roussef para sua sucessora. Acreditando na volta depois dos 4
anos do sucessor que escolhesse, não percebeu nada do que acontecia em volta
dele.
Convencido e
compenetrado de que o PT e o país, dependiam inteiramente da sua liderança, do
seu carisma e da sua competência, agiu com a arrogância de sempre. Muito tarde,
descobriu que no próprio Planalto se travava guerra pela presidência depois
dele. Mesmo apenas por 4 anos.
Começou a
cuidar do assunto, não imediatamente da substituição e sim de uma possível ou
provável prorrogação. Conversou com governadores, incluiu na lista Ministros de
tribunais superiores(sem falar com eles), considerou que obteria sucesso.
Encontrou resistências, recuou, reduziu a permanência por mais 2 anos, em nome
de uma "coincidência" de mandatos. Mais insucesso, voltou para a própria
sucessão.
Surpreendido,
descobriu que os candidatos eram muitos, alguns coordenando abertamente sem que
soubesse de nada. Foi avaliando nomes, procurando, deliberadamente, alguém que
seguisse integralmente o que foi rotulado de "volta, Lula". Como o
critério (falta dele) era a mediocridade e a incompetência, Dilma disparou na
preferência. E começou então, tudo isso que explodiu agora, com o depoimento de
Delcídio e o primarismo inacreditável de Mercadante.
(Interrompendo
o relato de memória, para mostrar a ignorância total, absurda e absoluta de
Mercadante e o desastre que ele sempre representou e representa. Ministro da
Educação, da Casa Civil, novamente Ministro da Educação, desconhece o poder e o
perigo do celular? O assessor de Delcídio explicou: "Surpreendido de ser
chamado ao Planalto, decidi gravar tudo”. Mercadante nem percebeu.
Outra
bobagem dele, na entrevista coletiva de terça feira: "Minha atuação foi
exclusivamente pessoal, movido pela solidariedade". Mercadante só tentaria
impedir a "delação" atrapalhando a investigação, por ordens de cima. E
não é solidário nem mesmo diante do espelho).
Voltando
á sucessão do próprio Lula. Ficou estarrecido com o numero de candidatos, alguns
que jamais considerara. Quando anunciou o nome de Dilma Roussef, não acreditou
quando lhe disseram que "Marta Suplicy era candidatissima e favorita no
Planalto". Soube depois, que Marta chorou quando Dilma foi escolhida, se
julgava muito mais credenciada e preparada. Alem de pertencer ao partido desde
o inicio.
(Marta
não esqueceu e na convenção de sábado do PMDB, o discurso mais violento e
implacável foi o dela. Sentada satisfatoriamente e satisfeitíssima, entre
Eduardo Cunha e Renan Calheiros, com Michel Temer "puxando" aplausos
para ela.
Terminando
essa memorização da sucessão de Lula, importantíssima agora que os dois se
juntaram depois de longo tempo de separação, o depoimento de Lula a um grande
amigo, ainda nas conversações de 2010: "Jamais pensei que a Marta fosse
candidata. Mesmo que eu soubesse, não escolheria o nome dela." O amigo perguntou
a razão de vetar o nome da ex-prefeita. Resposta de Lula: "Eu não vetei o
nome dela. Só que não poderia ter com ela as conversar que tive com a
Dilma".
O amigo
não perguntou mais nada, o que não poderia conversar com a Marta, era
fundamentalmente o compromisso que exigiu da sucessora que aceitou sem a menor resistência
ou protesto. O seguinte: "Dilma ficaria 4 anos e cumpriria integralmente o
compromisso, do "volta, Lula".
Dilma não
cumpriu, praticamente se afastaram e aconteceu toda a catástrofe econômica,
política, administrativa, e 204 milhões de brasileiros, estão sofrendo pela
ambição e pela incompetência dos dois.
Numa
conversa nem sempre amistosa, que começou ás 5 da tarde de terça, e
acabou a
1 e meia da madrugada já da quarta, ontem, Lula se transformou de ex-
presidente
em poderoso Chefe da Casa Civil.
Quando
registro que a conversa não foi totalmente amistosa, não quero insinuar que foi
conflitante e sim divergente. O tempo da duração, 8 horas meia, seguidas
, comprova a divergência. Fui o primeiro a falar no assunto. Semana passada,
tarde da noite, andando no corredor do Alvorada, Dilma tocou no assunto com
Lula. Escrevi, textualmente: "Num SUSSURRO, Dilma disse, você podia ser
Ministro do meu governo". No dia seguinte e nos outros, o SUSSURRO se
transformava num fato retumbante, que teve seu desfecho ontem, com o anuncio
oficial.
A longa
divergência tem uma explicação. Dilma queria um Ministro coordenador político
:"Você é o maior articulador do país, tem tudo para ajudar o meu
governo". Lula respondeu: "Quero ajudar, mas não posso conversar com
deputados e senadores ocupando um cargo sem importância". Queria a Casa
Civil, Dilma considerava que ficaria praticamente desaparecida.
Depois de
horas, Lula resolveu dar o xeque-mate: "Vou embora, é muito tarde, foi uma
tentativa, não deu certo outra vez". Lula estava se referindo a agosto do
ano passado, quando conversaram sobre o mesmo assunto. O ex fez o gesto de se
levantar, Dilma segurou seu braço: "Vamos terminar tudo hoje". E
terminaram mesmo, foi fácil, ele obtinha o que tinha como meta e objetivo: todos
os poderes, não apenas no campo político.
A suposta
oposição quer entrar na Justiça, impedindo a nomeação e posse de Lula. Tolice,
não conseguirão nada. “Mas poderão responsabilizar Dona Dilma justificando:"
Ela não é mais presidente, está usando indevidamente o Palácio Alvorada. Quem
devia residir lá, é o próprio Lula o palácio é residencial".
Há essa
hora Dilma foi dormir, Lula no seu hotel, não falaram com ninguém. Às 9 da
manhã do Planalto ligaram para o líder do PT na Câmara, comunicando o fato.
Lógico, ele divulgou logo. O repórter Gerson Camarotti soube, deu a noticia
pela Globonews, que é quase uma extensão da sua casa.
Pela
manhã tiveram que fazer modificação ás pressas mas obrigatória. Jaques Wagner,
Chefe da Casa Civil, foi transferido, e passa a ser chefe do Gabinete Pessoal
da Presidência. Se ficasse na Casa Civil, seria vice-ministro, o que só existe
no Parlamentarismo. Como o Congresso quer criar o semi-parlamentarismo,
poderiam divulgar que o Planalto está a favor.
Dilma deu
entrevista coletiva, não mais com "fala do trono".
A
presidente falou ás 4 da tarde, foi totalmente desmentida tentando defender o
ex-presidente. Rindo e dando a impressão de felicidade. “Usou 14 minutos,
explicando:” O ex-presidente Lula mostrou total desprendimento preferindo ser
julgado pelo mais alto Tribunal do país. Será Ministro na próxima terça feira,
mas continua sendo investigado."
As sete
já da noite surgiram noticias de que o ex-presidente poderia ser preso pela
Policia Federal, Dona Dilma, de acordo com o próprio Lula, tomou providencia estarrecedora.
Deu "posse"a Lula, e mandou publicar imediatamente no Diário Oficial
que sairia hoje, quinta feira. Só que o Diário Oficial saiu ontem, ás 19,15 com
a nomeação do ex-presidente Lula para Ministro. Portanto, a partir dessa hora,
já era Ministro, com foro privilegiado.
A
reação no Brasil todo foi de assombro, protesto, vergonha. E com a certeza de
que alguma coisa irá acontecer. Perguntei a um informante do primeiro
time:"Por que o Lula não tomou posse hoje, quarta-feira, resolveu esperar
quase uma semana?" .Resposta bastante sincera, o informante é do
bem:" Eles queriam fazer uma grande festa , para dar relevância ao
fato".Constrangido, encerrei.
Que país
é esse, deixou de ser uma pergunta, passou a ser uma constatação. Como represália,
pode acontecer o inimaginável, exemplo: o Supremo julgar com prioridade
absoluta o presidente Lula. O juiz Sergio Moro,ás 8 da noite já tinha
mandado encaixotar, toda a documentação sobre a investigação feita sobre
as acusações ao ex-presidente.
Hoje,
todo esse material estará com a Procuradoria Geral e com os 11 Ministros. Moro
cumpre rigosamente a Constituição. Como Lula já tem "foro
privilegiado", pode ser julgado pelo Supremo. Este é a única força capaz
de impedir a paralisação do país e uma possível volta do povo para as ruas.
Agora o Supremo, mais do que nunca é o guardião da Constituição e também das
Instituições. Este repórter sabe de "ciência própria”, o sofrimento de
defender a Democracia. Mas, sem constrangimento, sem ressentimento, sem
arrependimento, faria tudo de novo, sem olhar para a minha carteira de
identidade.
PS- Por 9
a 2 o Supremo recusou os embargos sobre rito do impeachment. Não devia ter
"conhecido” do recurso, foi feito por um réu, acusado de corrupção e
lavagem de dinheiro.
“PS2- Na
convenção do PMDB, Michel Temer determinou:” Durante 30 das, nenhum parlamentar
pode ser nomeado para cargo no governo ontem, quarta, o deputado Mauro Lopes
aceitou o cargo de Ministro da Aviação Civil. Resta saber se Dilma pode
nomear ou empossar alguém.
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