Titular: Helio Fernandes

terça-feira, 15 de março de 2016

Projetado pelas ruas, protesto impulsiona saída da presidente Dilma

HELIO FERNANDES

Consagração completa, reconhecida por unanimidade, a maior da Historia, superando até mesmo as "diretas, já". A manifestação de domingo, empolgante. Com duas faces. A primeira, exaltação total a Sergio Moro e á Lava-Jato. (Positiva e necessária). A segunda, aval para que o Congresso mais desmoralizado da Historia, aprove o impeachment. (Positiva num sentido, aviltante no outro, quando fortalece Eduardo Cunha, Renan, e quase uma centena de parlamentares enquadrados na Lava-Jato). A manifestação se fortaleceu ainda mais, quando vaiou e repudiou Alckmin e Aécio, muito justamente. 
  
 A realidade, agora aparentemente insuperável, teve e continuará tendo repercussão quase exigência pela saída de Dilma. Mas não precisa ser obrigatoriamente pelo Congresso e através do Impeachment. A manifestação das ruas foi clara: saída de Dilma, sem o fortalecimento de Eduardo Cunha, Temer, Renan e dezenas e dezenas de outros, incluindo Ministros desonestos dos mais variados partidos, principalmente PMDB e PT. È lógico que a partir de hoje, o Congresso irá se considerar mandatário das ruas, tudo comandado pelo execrável, desprezível e encurralado Eduardo Cunha. Réu pelo Supremo (unanimidade), acusado de corrupção e lavagem de dinheiro, naturalmente fora o resto.

A multidão não pediu uma só vez o impeachment. A palavra de ordem, sempre repetida com entusiasmo, satisfação e convicção: "Fora, Dilma". Se quiserem repercutir a voz das ruas, o melhor que pode acontecer neste momento tem que vir do TSE, e a cassação da chapa Dilma -Temer. Nas circunstancias, a verdadeira solução. Eleição em 90 dias, com a "ultrapassagem" condenação do presidente da Câmara e do senado. Presidida pelo presidente do Supremo, com o afastamento de Dilma e dos cúmplices ocultos ou impunes pelos altos cargos que ocupam. Limpeza e eleição, com possível renovação sem traumas. 

A "delação" de Delcídio.

Depois do aparato da inesquecível manifestação de anteontem, nenhum ato ou fato obteve maior repercussão do que o depoimento - entrevista-delação do senador. È uma novela, em vez de diária, semanal. A cada capítulo, os mesmos personagens, tratados de forma diferente. E atores de enorme audiência, como Lula, Dilma, FHC, Michel Temer. Os dois primeiros conhecidos pelas grandes atuações de sempre. O ex-presidente e o atual vice, citados - acusados pela chamada "operação etanol", estranhíssima. O depoimento do repórter.

Ainda na Tribuna impressa, comentei o que se falava nos corredores da empresa. A Petrobras comprava quantidades enormes de etanol pagando o dobro do preço do mercado. E logo revendia todo o produto para empreiteiras. Pela metade do preço do mercado.  Não citei nomes como faz agora o senador, era impossível localizar. Mas, líder do governo no Senado, diretor da Petrobras, intimissimo dos bastidores de Lula e Dilma, acumulou esse material espantoso, que assusta e apavora a atual presidente e o ex. Amanhã o Ministro Zavascki deve homologar a "delação". Se quiser pode mandar para o plenário, ou demorar mais alguns dias.                                                                                              
De qualquer maneira, aumenta a ansiedade e a angustia. Principalmente de FHC e Temer. Ninguém acredita que Delcídio navegasse por mares nunca dantes navegados, se não estivesse a bordo de um contra - torpedeiro de alta segurança.  Tudo o que tem sido publicado voluntariamente, tem o tom indisfarçável da comprovação. Impossível "inventar" tanta coisa, semanalmente. A única pergunta ainda não respondida, talvez por não ter sido colocada. Qual a razão que levou Delcídio a tomar essa decisão? Qual o objetivo ou vantagem que obterá? Lógico que tudo será conhecido. Manifestação contraditória, a respeito de São Paulo.

Os cálculos a respeito de eleições ou de levantamento sobre concentrações de rua, sempre divergem. È natural quando a diferença é pequena. Mas os números disparatados dos protestos de São Paulo, exigiriam explicação. Datafolha: 500 mil. Organizadores: 2 milhões e 500 mil. Policia Militar: 1 milhão e 400 mil. A diferença entre o calculo menor e o maior, absurdo. Fico com a PM. Desde1945, quando Prestes saiu da prisão e fez um surpreendente comício no estádio do Vasco, eles acertam, mesmo quando não havia tecnologia.

O Datafolha, especializado em pesquisa, não podia se expor dessa maneira. A mesma coisa que aconteceu na Argentina. Garantiram que o candidato da presidente Kirchner, venceria no primeiro turno. Perdeu mas foi para o segundo turno. Insistiram que venceria. O candidato que desprezaram e "derrotaram" duas vezes, governa ha meses.

Lula e Dilma deveriam ter ficado em silencio

A presidente repetiu na segunda, ontem, o que disse no domingo: "A manifestação ocorreu de forma tranqüila. Os protestos foram contra a classe política, que é impopular". Suas falas são sempre trôpegas, desajustadas e desorientadas. Se o governo e o PT, convocassem manifestação digamos para domingo. Talvez obtivessem 20 por cento do total que estava nas ruas. O protesto foi coletivamente contra o governo, atingindo individual e deliberadamente, Dilma e Lula. O protesto foi contra o governo, coletivamente, atingindo, deliberada e individualmente Dilma e Lula.

O ex-presidente também falou, só que tem apenas um assunto ou objetivo: ele mesmo. Não deve ter visto as manifestações, nem ligou a televisão. Garantiu: "Já disse á Policia Federal, que serei candidato a presidente em 2018. E todos terão que me pedir desculpas”. Como acredita que não acontecerá nada, é quase uma confissão ou antecipação: será ministro, coordenará um grande projeto de recuperação e realização da presidente Dilma. Tudo que disse dela, nos últimos e longos tempos, esquecido. O relacionamento entre eles, começa, ou recomeça a partir da “detenção coercitiva”.

Assim que acabou seu discurso para os militantes, (chatíssimo e com o auditório meio cheio) Lula, surpreendido recebeu a noticia. A juíza Federal de São Paulo, resolveu não julgar o pedido de prisão preventiva do ex- presidente, se deu por incompetente. (È um direito jurídico dos magistrados, nenhuma confissão verbal). Mandou o processo para a Lava - Jato. Sergio Moro, o grande herói da manifestação de domingo, Lula grande vilão, nenhuma conexão ou influencia.

 Os dois lados fazendo contas sobre o impeachment

A partir de agora, é o grande assunto, apesar da situação política e econômica ser tão contraditória e tormentosa, que muda a cada momento. Prioridade: tempo de duração das preliminares, até chegar á votação. A contagem começa, quando o Supremo decidir o rito do julgamento. O Supremo informou que amanhã, quarta, divulgará o acórdão. Confirmado, a contagem começa na sexta feira.

Eduardo Cunha tem dito a íntimos, perdão, apaniguados, que no máximo em 45 dias, a Câmara estará fazendo a votação. Quer dizer: se a oposição obtém os badalados 342 votos e derruba a presidente. Ou ela consegue os 172 e impede a oposição de chegar ao seu numero chave. Praticamente decidido que Lula assumirá o Ministério da coordenação política, isso será inegavelmente um reforço para o governo. Ele é ex-presidente, e muita gente se sentirá satisfeita e honrada, de conversar com ele.

Lula poderá ser fundamental para evitar a debandada dos diversos partidos, se o PMDB resolver deixar a base aliada. E deixará na certa, se os levantamentos e as pesquisas derem vantagem para a aprovação do impeachment, e a posse imediata de Temer. È a ética do partido e do vice. Lula está na iminência de assumir extraordinária projeção no processo do impeachment.

PS- O Procurador Lima e Silva, confirmou: deixou de ser Ministro sem nunca ter sido. Quando o Supremo decidiu que só poderia ser confirmados no cargo, abandonando a carreira, dei uma nota, comparando a sua situação com a novela famosa de Dias Gomes. Não adivinhei nada como gostava de dizer Carlos Lacerda. Como acreditar que ele ficasse num cargo que pode durar 4 meses trocado por outro que vai durar para sempre, é a sua carreira.
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